sábado, 4 de fevereiro de 2012

Rússia e China vetam resolução da ONU contra a Síria


A Rússia e a China vetaram na tarde deste sábado a resolução que vinha sendo preparada por países dentro do Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) com base em um plano de paz da Liga Árabe e que pediria a renúncia do presidente da Síria, Bashar al-Assad, como uma medida para cessar a crise e os confrontos que, há 10 meses, deixaram milhares de mortos na Síria.

A reunião do CS era aguardada com grande expectativa pela comunidade internacional, à medida que se mantinham na Síria os relatos de repressão das forças de segurança da Damasco contra os críticos do regime, apesar da passagem de uma missão de observadores árabes no país.

Entre ontem e hoje, ainda, a revolta na Síria teve um de seus episódios mais sangrentos na cidade de Homs, onde, de acordo com organismos de oposição e de defesa dos direitos humanos, mais de 200 pessoas morreram no que foi descrito como um massacre.

A Rússia, aliado estratégico da Síria, vem se opondo desde o início da escalada da repressão contra uma medida que intervenha de modo direto na política de Damasco. Seu veto era previsível, resultado da postura oficial de não querer na Síria o mesmo que ocorreu com a intervenção internacional na Líbia.

Comentadores internacionais, todavia, apontaram que o voto da China não vinha sendo considerado. Para serem aprovadas, as resoluções do CS da ONU não podem ser obstruídas (receber veto) por nenhum dos cinco membros permanentes (Rússia, China, Estados Unidos, França e Reino Unido).

China e Rússia foram as únicas potências a votar contra o plano, gerando amplo desapontamento dos demais membros, como França e Alemanha, que expressaram sua decepção e reafirmaram o desejo de encerrar as mortes na Síria.

Uma das reações mais contundentes veio dos Estados Unidos, cujo discurso qualificou a posição de Moscou e Pequim como "vergonhosa". Contra Rússia e China, 13 países presentes no CS votaram a favor da resolução.

Os dois países mostraram coragem ao enfrentar a ofensiva americana para promover mais um massacre à democracia na África e Oriente Médio, tal como ocorreu no Agefanistão, no Iraque e na Líbia.

Fonte: Da redação, com informações do Terra


Rússia: como os EUA ajudam os oposicionistas contra Putin - por Renato Pompeu, do seu blog


Um completo levantamento sobre como os Estados Unidos ajudam, de diferentes modos, os oposicionistas na Rússia, está publicado no informativo canadense Mondialisation, em http://www.mondialisation.ca/index.php?context=va&aid=29048, em francês.

Alguns dirigentes oposicionistas estudaram nos EUA, como Alexei Navalnyi, líder das redes sociais russas.

Os setores da oposição na Rússia apoiados pelo governo americano criticam o projeto eurasiático de Vladimir Putin, seu antiamericanismo, seu apoio a ditaduras na Ásia Central, no Oriente Médio e na América Latina (se referem a Cuba e Venezuela), seu apoio aos palestinos e ao Hezbollah, suas preferências por uma aliança com a China.

Só o Departamento de Estado prometeu entregar aos oposicionistas cerca de 9 milhões de dólares este ano, e há ainda o apoio financeiro de fundações privadas americanas multimilionárias, como o National Endowment for Democracy.

O artigo assinala que dois dos motivos desse apoio, além das razões alardeadas pelos oposicionistas, citadas acima, são o veto que Putin impôs à entrada de capitais americanos na indústria petrolífera russa, e sua campanha por uma aliança militar eurasiática que se contraponha à Ota.

Link:
 http://renatopompeu.blogspot.com/2012/02/russia-como-os-eua-ajudam-os.html

Anelise Infante De Madri para a BBC Brasil
Para aumentar suas chances de conseguir emprego, profissionais na Espanha estão escondendo qualificações em seus currículos, segundo uma pesquisa de consultorias e sindicatos.
Pesquisas anteriores diziam que um em cada dez espanhóis mentem nos seus currículos, no sentido de melhorar suas qualificações.
Mas a grave crise econômica que atinge o país com a maior taxa de desemprego da União Europeia (22,9%), está levando engenheiros, administradores de empresa, técnicos de informática e até ex-diretores a 'piorar' currículos em busca de empregos de baixa qualificação.
É o caso de José Ángel Silvano, economista. Em 2010 fechou sua própria empresa de logística e desde então não tem trabalho. Atualmente, no seu currículo consta pouco mais de "responsável, com iniciativa e experiência".
"Tirei os cargos de direção, a graduação universitária e deixei só os idiomas e conhecimentos variados para ver se assim encaixo em outros perfis. Para mim não é mentir, mas ocultar informação que possa dar imagens prejudiciais: que sou qualificado demais ou incapaz de cumprir postos considerados menores", contou ele à BBC Brasil.
O caso dele não é uma exceção. "Você se surpreenderia com a quantidade de universitários que estão procurando trabalhos em supermercados" afirmou à BBC Brasil, Martín Sanchez, estudante de Filosofia.
"Uma degradação absoluta", disse ele, membro do grupo Juventude Sem Futuro, que organiza protestos em Madri por causa da falta de perspectivas.
A cada dia, 10% dos desempregados lançam no mercado currículos profissionais ocultando dados, segundo a pesquisa das consultoras Adecco, Manpower e sindicatos Comissões Operárias e União Geral dos Trabalhadores (UGT) apresentada em janeiro.
A estratégia de mentir nas referências tem nome: Currículo B. Mas o fato de dar uma imagem pior é um fenômeno novo e que está aumentando, de acordo com os especialistas em Recursos Humanos.
"Mentir não costuma ser boa saída, nem para os que inflam, nem para os que ocultam", explicou à BBC Brasil a diretora de análise de mercado da UGT, Adela Carrión.
"Embora neste caso possa ser visto com uma opção de não dar mais detalhes do que o necessário. Uma adaptação do currículo aos requisitos específicos da oferta".
A pesquisa indica que a maioria dos que escondem dados é de profissionais experientes do setor de serviços que estão mais de um ano sem emprego e de universitários recém-formados com alto nível de qualificação.
A situação dos mais jovens traz à tona um contraste inusitado à realidade do mercado de trabalho espanhol. Essa mesma geração, dos nascidos a partir de 1980, é considerada a que teve menos oportunidades nos últimos 40 anos, é tida como a com o mais elevado grau de educação da história do país, segundo a Pesquisa Nacional de População Ativa.
Pelos dados oficiais, 39% dos espanhóis entre 25 e 35 anos tem diploma universitário, enquanto a média da U.E. é de 34%. Ao mesmo tempo a taxa de desemprego para este grupo na Espanha é de 48.7%.
Entre os qualificados que trabalham, 44% tem empregos abaixo do seu nível de formação.
Repercussões psicológicas
Para o catedrático em Economia Aplicada da Universidade Pompeu Fabra, José Montalvo, esta situação pode ter repercussões psicológicas nos trabalhadores.
"O perigo de que estes jovens tão qualificados permaneçam em empregos abaixo de seus padrões é que acabem aceitando isso como realidade. Psicologicamente se verão afetados, deixando de desenvolver estímulos e metas".
Os autores da pesquisa concordam. Desvalorizar os currículos "gera frustração a longo prazo" e se a empresa descobre o engano "se romperá a relação de confiança, porque fica claro que assim que o profissional encontrar uma oportunidade de acordo com sua formação, abandonará a empresa", diz o documento.
Uma solução pode ser emigrar. Além da alta taxa de desemprego, 37,7% dos jovens espanhóis têm contratos de trabalho temporários, média salarial de 800 euros (R$ 1.900) e 62% se dizem tão desmotivados que não veem futuro profissional no país.
Para o sociólogo Eusébio Megías, a questão é mais complexa porque "a crise modificou muitos conceitos".
"Um deles é que já não se procura o trabalho maravilhoso. Agora simplesmente o fim é encontrar um trabalho. E o horizonte do mercado já não é a sua própria cidade. Mas qualquer parte do mundo. Tudo está globalizado", concluiu.

Leia mais em: O Esquerdopata
Under Creative Commons License: Attribution

A escalada do Fascismo

Extraído do blog Tudo Em Cima

"Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia sequinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar".

(Martin Niemöller)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Pequim rejeita sanções contra a Síria

Extraído do Com Texto Livre


Li Baodong, Embaixador da China na ONU
NAÇÕES UNIDAS/DAMASCO – A China manifestou hoje sua oposição a intervenção militar ou imposição de novas sanções, como via para resolver o conflito na Síria, divulgou alerta de viagem e alertou cidadãos chineses que vivam na Síria, para que redobrem as precauções de segurança.
“A China opõe-se firmemente a qualquer tipo de ação para “mudança forçada de regime”, que viola os objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas e as normas básicas que governam as relações internacionais” – disse Li Baodong, embaixador da China na ONU, durante reunião no Conselho de Segurança para discutir a Síria, na 3ª-feira.
O Conselho de Segurança debatia um projeto de resolução apresentado pela Liga Árabe, que “exige” que o presidente sírio renuncie. China e Rússia disseram, durante a reunião, que esse projeto sugeria muito claramente uma “mudança forçada de regime”.
Para o embaixador Li, “sanções, além de não ajudarem a resolver problemas, levam a complicações ainda maiores”. Disse também que a China apoia a posição dos russos, na discussão sobre a Síria.
Na primeira expressão completa da posição da China sobre a questão síria, as palavras de Li mostraram claramente que a China não deseja que se repitam os eventos que se viram na Líbia – disseram analistas chineses. No caso da Líbia, o Conselho de Segurança adotou resolução, ano passado, que autorizou “todas as medidas necessárias” para proteger cidadãos líbios. Em seguida, aconteceu o ataque militar da OTAN contra cidades e populações desarmadas.
Yin Gang, especialista em questões do Oriente Médio na Academia Chinesa de Ciências Sociais, disse que os dois países, China e Rússia, não admitirão que o Conselho de Segurança seja usado como anteparo para intervenção militar. “O sistema político sírio talvez precise ser melhorado, mas qualquer tentativa de melhorá-lo terá de ser feita por meios pacíficos” – acrescentou Yin.
Na 3ª-feira, Li disse também que o povo sírio encontrará solução para seus problemas. “A Síria e os sírios são suficientemente capazes e competentes para inventar um sistema político e um regime de crescimento econômico que se integrem harmonicamente com as condições daquele país.”
Durante os debates na 3ª-feira, o embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, disse que a Síria “é capaz de decidir por ela mesma” – reiterando a oposição dos russos a sanções e deslocamento de soldados.
Mas estados árabes, os EUA e países europeus tentam empurrar o Conselho a adotar um projeto de resolução que imporia à Síria o que seus apoiadores estão chamando de “transição política”; e encampa um plano dos árabes que tenta forçar o presidente Bashar al-Assad a renunciar.
Para Jihad Makdissi, porta-voz do ministro sírio de Relações Exteriores, falando a China Daily na 4ª-feira, a atual crise é cheia de complexidades e não pode ser tratada como questão de “ou branco ou preto”. E concluiu: “A Síria é favorável ao diálogo e o governo aceitará qualquer iniciativa que seja construtiva, não destrutiva.”
Para Ye Hailin, pesquisador do Oriente Médio na Academia Chinesa de Ciências Sociais, não há dúvidas de que a Liga Árabe e o Conselho de Cooperação do Golfo terão participação importante em qualquer resolução que venha a ser aprovada.
Zhang Yuwei e Li Lianxing, China Daily, Pequim
“Beijing against sanctions on Syria”
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
No Redecastorphoto

Revista do Brasil - Segredos do Caribe

Da Revista Brasil

As evidências de que o dinheiro que arrematou estatais leiloadas pelo governo FHC enriqueceu também gente muito próxima do núcleo tucano transformam um livro em best-seller e a mídia em avestruz – e sugerem uma nova agenda política para o novo ano

Por: Anselmo Massad, Rede Brasil Atual

No final dos anos 1990, Aloysio Biondi, aos 40 anos de profissão, era respeitado no meio jornalístico por não paparicar fontes nem políticos. Costumava guardar recortes de jornais, consultar documentos públicos de bancos, empresas, diários oficiais, fuçar balanços, fazer contas. Crítico do processo de privatizações desencadeado pelo governo de então, as portas começaram a se fechar. Suas colunas na Folha de S. Paulo foram reduzidas, e seu cachê, idem. Seus textos foram parar no extinto Diário Popular e em veículos da imprensa sindical. Antes de morrer, em julho de 2000, deixou o livro "O Brasil Privatizado". “O balanço geral mostra que o Brasil ‘torrou’ suas estatais, e não houve redução alguma na dívida interna”, escreveu.

Esse legado investigativo foi fonte de inspiração do jornalista mineiro Amaury Ribeiro Jr., como ele credita nas primeiras páginas de "A Privataria Tucana", lançado em dezembro. Graças à internet, o livro sobre mazelas políticas do país virou campeão de vendas no fim do ano – e promete ser determinante para a história de 2012.

Recheado de documentos públicos e obtidos em processos judiciais, a reportagem atira para diferentes lados. E pode ter ferido de morte expoentes do PSDB, envolvidos no processo de privatização durante a década de 1990.

Que a venda de estatais foi pautada por convicções ideológicas e interesses do mercado, até os beneficiados por elas admitem. A falta de transparência, a confusão entre interesses públicos e privados e as suspeitas de irregularidades permearam o processo. Reportagens publicadas no período ofereciam farto material – em fontes oficiais, escutas telefônicas e documentos de contas em paraísos fiscais.

A mesma velha mídia que fechara portas a Biondi reagiu com silêncio sepulcral. “Quando peguei a Veja da semana e vi que não tinha nada sobre o livro (risos)... Percebi que demos um nocaute na grande imprensa, na blindagem que têm os tucanos”, disse Amaury Ribeiro Jr., em debate realizado no auditório do Sindicato dos Bancários de São Paulo, que Biondi também frequentou. O livro só foi mencionado em páginas de jornal e de revista quando apareceu entre os mais vendidos.

A investigação de Ribeiro Jr. começou em 2001, quando, recém-transferido para O Estado de Minas, em Belo Horizonte, foi encarregado de acumular material contra José Serra. A encomenda era proteger Aécio Neves, então e atual presidenciável tucano.

E o caso viria à tona em 2010, quando o jornalista foi apontado como membro de uma suposta “central de inteligência” da campanha petista pela eleição de Dilma Rousseff à Presidência da República. Ele acredita ter sido vítima de uma armação para incriminá-lo, na tentativa de criar uma “vacina” contra uma eventual publicação do livro durante o processo eleitoral.

O jornalista revela documentos que indicam pagamento de Carlos Jereissati – do grupo La Fonte, que venceu o leilão para a compra da Telemar em 1998 – a Ricardo Sérgio de Oliveira.

O ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil e tesoureiro de campanhas eleitorais de FHC e de Serra é apresentado como “artesão” dos consórcios de privatização – trabalho para o qual teria sido remunerado “extraoficialmente”. Documentar esse papel é, na visão do próprio Ribeiro Jr., uma das novidades do livro.

O ex-governador paulista é outro dos personagens centrais, tanto por iniciativas de contratar empresas de espionagem com dinheiro público no Ministério da Saúde e no Palácio do Planalto como por ter familiares envolvidos em operações de lavagem de dinheiro. A filha Verônica, o genro Alexandre Bourgeois e o primo de sua mulher Gregório Marin Preciado são os acusados.

Outros personagens carimbados das privatizações também aparecem, e vão além da figuração. Daniel Dantas, dono do banco Opportunity e protagonista dos malfeitos investigados pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, em 2008, é um deles.

São descritas operações ilegais para trazer ao país dinheiro guardado no exterior. Há curiosas revelações relacionadas à sociedade entre a irmã do banqueiro, Verônica Dantas, e a xará Verônica Serra. A parceria na Decidir.com estabelece um elo umbilical entre uma figura cercada de suspeitas e o núcleo familiar do cacique tucano.


Modus operandi

Boa parte das operações descritas pelo autor segue caminho semelhante. Por meio de doleiros, recursos de provável desvio de verbas ou pagamento de propinas é remetido ao exterior. Isso aconteceu em profusão por meio do Banestado, banco estadual paranaense, liquidado em 2000 pelo Banco Central. A lavanderia operada nos quatro últimos anos de existência da instituição incluía passagem pelos Estados Unidos para, depois, aportar nas Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, e outros paraísos fiscais.

Na hora de trazer o recurso de volta, a chamada internalização, simula-se um investimento direto de empresa estrangeira em um empreendimento nacional. Por isso, a transação pouco comove o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda, que fiscaliza essas movimentações.

Mas a farsa cai diante da revelação de que as operações nas quais os mencionados no livro se envolveram eram promovidas com a assinatura da mesma pessoa tanto na saída dos recursos do paraíso fiscal como na entrada, no Brasil. Em outras palavras, o que parecia ser o país atraindo dinheiro de estrangeiros era, de fato, uma forma de esconder a origem do dinheiro e sonegar impostos.

Mais que a necessidade de se investigar e responsabilizar pública e penalmente os artífices de eventuais ilegalidades da privataria, o livro provoca uma discussão: a do combate à permissividade da legislação brasileira com transações financeiras via offshore. O nome desse tipo de empresa instalada em paraísos fiscais tem origem, não por acaso, no termo em inglês usado para designar ilhas usadas por piratas do século 18 para guardar tesouros.

O fato é que não há motivos para um investimento com dinheiro limpo precisar passar por paraísos fiscais. Esses locais, por não exigirem comprovação de origem nem detalhamento da identidade do depositante, servem amplamente a quem precisa esconder verbas públicas desviadas, manobras de sonegação de impostos ou rendimentos do crime organizado.

Defensor Público Pulveriza "Versão Oficial" da Invasão do Pinheirinho

Extraído do blog O Cachete



Arrasador!

Em qualquer outro estado do Brasil, não haveria chances políticas para os Governos Estadual e Municipal serem reeleitos. Mas em São Paulo....

A quem pertence a internet?

Pescado no blog do Miro

Por Eduardo Sales de Lima, no jornal Brasil de Fato:

Pressão da sociedade e falta de apoio no Congresso estadunidense causaram o adiamento da votação do Sopa (Stop On-line Piracy Act – Pare com a pirataria on-line, em tradução livre) e do Pipa (Protect IP Act – Ato pela proteção da Propriedade Intelectual) em prazo indefinido. As duas propostas visam bloquear o acesso a sites e aplicações na internet que sejam consideradas violadoras da propriedade intelectual estadunidense. Em outros termos, poderão influir no próprio caráter de compartilhamento livre de informação.



“A sociedade estadunidense está insatisfeita com o Congresso e a percepção é que congressistas só ouvem o lobby [da indústria do copyright] e não o interesse público. Hoje apenas 9% dos americanos aprovam o trabalho do Congresso, uma baixa histórica. O Sopa e o Pipa, são exemplos de medidas que justificam essa desaprovação”, afirma Ronaldo Lemos, da Universidade de Princenton e apresentador do Mod MTV.

No início de janeiro, em uma entrevista à TV pública espanhola, o sociólogo Manuel Castells salientava que “conservar o poder requer manter o máximo controle possível sobre a informação, e assegurar, sobretudo, que os canais de comunicação sejam verticais”.

A “indústria dos copyright (dos direitos autorais referentes a filmes, músicas e livros)”, percebeu que não adiantava dizer que é crime compartilhar informações para manter seu poder, como lembrou Castells. “Se eles não conseguem intimidar o cidadão, querem criar um tipo de um bloqueio a Cuba no ciberespaço.

Eles perceberam que têm que agir nos provedores da rede, nos provedores de conexão”, afirma o sociólogo e consultor em comunicação e tecnologia, Sérgio Amadeu da Silveira.

Apesar do adiamento da votação desses projetos de lei figurar como uma vitória parcial da sociedade civil, o governo de Barack Obama sinalizou que está à disposição do lobby da “indústria do copyright” ao fechar o site Megaupload. Kim Schmitz, o fundador da empresa, mais três executivos foram presos preventivamente no dia 20 janeiro na capital da Nova Zelândia, Auckland, onde vivem, e aguardam a tramitação de seus processos de extradição nos Estados Unidos. São acusados de praticar pirataria.

Ultrapassados

Por trás de tais leis existe um conjunto de empresas que tentam forçar uma “lógica do século 20”, que as beneficia. “Se um jovem tem 3 mil músicas no pen drive, é porque ele pode baixá-las. A indústria fonográfica faz um cálculo errôneo de que ‘3 mil multiplicado por uma certa quantia de dólares é o lucro que ela teria’. Se ele tivesse que pagar, ele não iria baixar 3 mil músicas”, explica Marcelo Branco.

Dessa forma, a “indústria do copyright”, como a associação dos grandes estúdios de cinema, a indústria fonográfica, além da Adobe, Apple e Microsoft defendem uma legislação de acumulação de capital levada a cabo no século 20. Como lembra Marcelo Branco, até então havia um criador, o músico, o compositor ou um desenvolvedor de software, que estavam ligados a todo um processo fabril-industrial e que prensava fisicamente o bem cultural, o vinil, o CD, o livro. E essa produção era extremamente cara, e depois ainda havia a distribuição.

O criador e o varejo, as duas pontas da cadeia produtiva do modelo anterior não eram os beneficiários, e sim os intermediários, que tinham a tecnologia para fazer a cópia e o monopólio da distribuição. “Mas no cenário da internet não existe mais o processo fabril. O produto intelectual, seja um livro de poesia ou uma música não tem mais essa intermediação e se estabelece uma relação direta entre o produtor intelectual com o público e a internet como passou a ser um obstáculo no modelo de acumulação dessas empresas”, assevera Marcelo Branco.

Prática

Com a aprovação dessas leis no Congresso estadunidense, a cultura da comunicação compartilhada sofreria um retrocesso. “Se eu publicar um conteúdo do G1(agência de notícias) no Facebook, protegido pelo copyright, eu e essa rede social seremos os responsáveis. No caso do Wikipedia, vários links apontam para outros conteúdos com copyright, mas em vez de prejudicar, beneficiam essas pessoas, pois divulgam seu trabalho”, afirma Marcelo Branco, da Associação Software Livre.org.

Fato é que com o endurecimento da legislação por lá, nenhuma empresa sediada nos Estados Unidos poderá permitir o acesso a um número de IP (protocolo de internet) ou a um domínio de um site acusado de “roubar” informações protegidas de cidadãos ou corporações estadunidenses, sob pena de ser considerado cúmplice.

No caso de sites que abrigam conteúdo protegido por copyright, o projeto de lei exige que, em cinco dias, todas as referências a eles sejam apagadas no Google e o Yahoo, e também nos links do Wikipedia. Os provedores de internet, email, blogs, e redes sociais serão forçados a espionar todo conteúdo publicado por seus usuários em busca de material não autorizado e, por ventura, bloqueá-los.

Nessa mesma linha, como reforça Sérgio Amadeu, se para conter o avanço do software livre em algum lugar do mundo, um laranja dessas grandes empresas acusa o GNU/Linux de violar algumas patentes, o Source Forge (repositório de códigos-fonte) poderá bloquear o acesso às páginas do projeto e o Google deixará de inserir a palavra Linux em suas buscas, a Wikipedia deverá apagar os links que remetam para os sites vinculados ao sistema operacional livre, e os bancos deverão bloquear os recursos financeiros e suspender a conta da comunidade Linux. O destaque é que o Sopa avança no campo do vigilantismo ao responsabilizar o intermediário pelo conteúdo de seu usuário. “O papel do provedor, seja Terra, é justamente garantir a privacidade de informação de seus clientes e não o contrário. A Lei do Azeredo (apelidada de “AI-5 digital”) era isso, o papel de polícia era transferido ao provedor, de vigiar seus clientes e tirar do ar o site”, critica Marcelo Branco.

Na Europa, a Lei Sinde, na Espanha e a Hadopi, na França, já são uma realidade que fere os direitos civis. A Hadopi obriga os provedores a desconectar a pessoa que compartilha arquivos sem autorização e a violou três vezes. A Lei Sinde permite ao governo espanhol até mesmo atuar contra provedores de conteúdo e acesso.

Geopolítica

Para Ronado Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, o Sopa e o Pipa vão muito além das leis Sinde e Hadopi, pois afetam a própria estrutura da rede e promove a “balcanização” da rede. “Se outros países seguem na mesma linha, a internet deixa de ser uma rede internacional e se torna uma rede diferente em cada país. Além disso, a aprovação do Sopa é um exercício de poder geopolítico dos EUA, para proteger uma indústria específica: Hollywood e as gravadoras. Nesse sentido, um fator que pode evitar que o modelo se espalhe é que a adoção de leis semelhantes ao Sopa por outros países seria contrária ao seu próprio interesse e serviria apenas para fortalecer o desbalanço de poder com relação aos EUA”, explica Lemos, que também é apresentador do programa de tendências em tecnologia digital Mod MTV, e diretor do Creative Commons Brasil.

Assim, essas leis, além de afetar profundamente a liberdade de expressão na internet, dado que os Estados Unidos concentram a maior parte da infraestrutura da rede e quase todos os serviços e sites utilizados massivamente ao redor do mundo, como Youtube, Facebook, WordPress, Google, Twitter, uma legislação de tal tipo provocará um impacto muito mais abrangente. “A questão principal é que se o Sopa for aprovado, a geopolítica da rede muda. O poder sobre a internet passa a ficar concentrado nos EUA, que podem decidir unilateralmente pela retirada de sites do ar, sem haver sequer um controle prévio pelo judiciário”, reforça Lemos.

Uma reação poderá ser, segundo o diretor do Creative Commons Brasil, o surgimento de redes dentro da rede, criadas por hackers para fugir do controle e dos novos protocolos e infraestruturas mais difíceis de controlar. “O problema é que, com isso, a rede começa a se desintegrar e iniciativas legítimas de outros países como o Brasil saem prejudicadas, com um fluxo de usuários partindo para essas redes informais. É o tipo de medida que não resolve o problema e, ao contrário, piora a questão ao desvirtuar a ideia do que é a internet”, explica Ronaldo Lemos.

Especificamente sobre essa concentração da infraestrutura na internet nos Estados Unidos, o governo brasileiro defende nas Cúpulas de Sociedade da Informação (2003, em Genebra e 2005, em Túnis) que o servidor-raiz (que distribui os endereços na internet e está no estado da Califórnia) seja alocado em um país neutro e sob a legislação internacional e que a governança da internet não seja mais submetida ao Departamento de Comércio Americano.

Comércio

Também do ponto de vista comercial, tal proposta de legislação é carregada de malefícios que concentram o poder econômico. “Nos últimos 15 anos houve uma explosão de inovação e novos serviços, do Youtube ao Facebook. Isso foi possível porque a lei dos Estados Unidos dava a segurança e proteção necessária ao empreendedor. Se o Sopa for aprovado, a inovação sai penalizada: qualquer nova iniciativa na rede vai precisar da autorização permanente da indústria pré-internet, especialmente de Hollywood e das gravadoras, hoje os maiores defensores do Sopa. E nesse sentido, o Sopa não traz nenhum benefício ao usuário, apenas à indústria”, pontua Ronaldo Lemos.

Se aprovada, a competição ficará reduzida e países como o Brasil, que são justamente o alvo do projeto, terão seus empreendedores impedidos de criarem um novo site voltado para o mercado global e podem ser penalizados pelos EUA e terem seu site removido do ar sem aviso prévio. “O Sopa cria um novo tipo de barreira comercial, voltada para a internet, discriminando sites localizados fora dos EUA”, conclui Lemos.

Seis votos no STF garantem ao CNJ poderes para investigar e punir juízes


Por 6 votos a 5, o STF decidiu que o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) pode investigar e punir juízes e servidores do Judiciário.
O trabalho da corregedora do CNJ, Eliana Calmon, estava incomodando juízes e desembargadores envolvidos (ou não) em irregularidades, e a Associação de Magistrados havia entrado com uma ação no STF alegando que era inconstitucional o CNJ exercer esse papel.

Votaram a favor do CNJ ter poderes para investigar magistrados:
Gilmar Mendes;
Ayres Britto;
Joaquim Barbosa;
Cármen Lúcia;
Rosa Maria Weber;
José Antonio Dias Toffoli
Votaram contra:
Marco Aurélio Mello;
Ricardo Lewandowski;
Luiz Fux;
Cezar Peluso;
Celso de Mello

A mão que massacra é a mesma que vota

Por Eduardo Guimarães, no blog da Cidadania

Estou em um mau dia. Talvez escrevendo consiga afastar essa sensação insuportável de revolta e impotência que persiste há vários dias e que não dá sinais de querer amainar. E o pior é que, fustigado por esses sentimentos, não consigo me dedicar ao que faço para ganhar a vida.
Na segunda-feira, quando fui a São José dos Campos para ouvir depoimentos e colher denúncias dos flagelados do Pinheirinho, conversei com outras pessoas que lá estiveram com a mesma finalidade e elas me disseram que se sentiam da mesma forma. Parecia que estávamos em um velório.
Hoje, liguei para alguns daqueles com os quais dividi a missão de tentar dar voz ao povo massacrado pelos que elegeu. Como acontece comigo, todos continuam se sentindo da mesma forma.
Chego a sentir inveja dos comentaristas deste blog que conseguem vir aqui fazer piadas com o sofrimento daquela gente e até comemorá-lo. Gente desalmada talvez sofra menos na vida. Alguém sem sentimentos talvez não possa ser magoado…
Mas o que dói mesmo é saber que a mão que massacra o povo pobre do Brasil é a mesma que estende o indicador para premer o botão de voto na urna eletrônica. Ou não é aquele em quem o povo vota que massacra esse mesmo povo?
Quem votou em um lunático como Geraldo Alckmin, alguém que chega ao ponto de dizer que aquelas pessoas que viviam em habitações precárias agora vivem de forma digna? São os mesmos que ele está massacrando, ora.
E a gente não pode nem descansar de uma desgraça que aparece outra. Uma passadinha de olhos pelo Twitter e aparece a desocupação de um prédio na esquina da avenida Ipiranga com a avenida São João. Na matéria, a informação de que 230 famílias seriam jogadas na rua.
O Executivo e o Judiciário, que deveriam acabar com o problema da população de rua, são os mesmos que jogam pessoas na rua, entendem? Aliás, até o povo maltratado, que deveria proteger a si mesmo, não apenas não se protege, mas vota nos Alckmins da vida…
Mais uma olhada nas redes sociais e aparece o caso da mulher grávida que foi presa, entrou em trabalho de parto, foi levada ao hospital e lá deu à luz… ALGEMADA!
Quem disse que o Brasil saiu da ditadura? As violências que o Estado praticava em favor de um número infinitesimal de ricos contra a gigantesca massa de pobres, continuam idênticas. Torturas, execuções sumárias, estupros, expulsão de famílias de suas casas. Tudo igual.
A democracia, no Brasil, é uma fachada, uma mentira, simplesmente não existe. Conto da carochinha. Lenda. Que democracia? Houve democracia no Pinheirinho, em 22 de janeiro? Nem Deus estava lá…
E pensar que por todo o país, o tempo todo, acontecem coisas parecidas. Talvez não tanto, não tão frequentemente e com a dimensão que em São Paulo, pois não há outro lugar, neste país, que tenha um povo que goste tanto de sofrer. Mas acontecem.
E, muitas vezes, o silêncio de autoridades diante desses massacres ocorre porque elas têm o rabo preso. Ou, ao menos, não têm coragem de confrontar esse amaldiçoado status quo, o famigerado “sistema”. Acabaram-se, pois, os heróis, os idealistas…
Sim, este país precisa de heróis. Infelizmente, pois, como dizem, pobre do país que precisa de heróis. E este país precisa. Muito. Um herói que se projete ao ponto de sua voz não poder ser ignorada e que não hesite em ficar do lado certo na hora certa.
Lula foi um protótipo de herói. Fez mais do que qualquer outro já fez no sentido de ao menos dizer o que deveria ser dito, apesar de ter logrado reduzir a injustiça de forma prática e não apenas retórica. Mas faltou muito para chegar a ser o herói de que o Brasil precisa.
Não o culpo. Suas dificuldades foram maiores do que a maioria dos políticos enfrentaria se tentasse fazer o que ele fez. Sua origem o debilitou tanto quanto debilita a qualquer outro que vem da pobreza extrema. O preconceito é uma entidade sobrenatural.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Dilma e os direitos humanos em Cuba

Lido e extraído do blog Com Texto Livre

 Leitura Obrigatória 

A visita da presidente Dilma Rousseff a Cuba, embora oficialmente priorize o incremento das relações comerciais entre os dois países, traz consigo uma forte e incontornável carga simbólica, a qual a mídia trata de manipular de acordo com seus próprios interesses político-ideológicos.
Dentre tantos exemplos possíveis, uma demonstração cabal de como se dá tal processo foi dada na abertura do Jornal das 10 - principal programa noticioso da mais ideologicamente carregado dos veículos jornalístico da TV brasileira, a Globo News.
Na edição de segunda-feira (30), logo após anunciar a viagem de Dilma a Cuba e o alegado objetivo comercial da empreitada, Eduardo Grillo, o âncora do telejornal, sublinhou: “mas as atenções estão voltadas para como Dilma tratará os direitos humanos na ilha” (cito de memória: as palavras talvez não tenham sido exatamente estas, mas o sentido era esse).
Fala a Anistia Internacional
Do jornalismo espera-se fidelidade aos fatos, e não culto às mitologias. E o fato, como notado pelo notável jornalista que é Lúcio de Castro, é que a Anistia Internacional, “que de forma alguma pode ser apontada como conivente com Cuba, (muito pelo contrário)”, atesta, em parece emitido em abril de 2011 e divulgado em três idiomas em seu site, que “no continente americano, o país que menos viola os direitos humanos ou que melhor os respeita é Cuba”.
Isso não que dizer, evidentemente, que as violações dos direitos humanos na ilha, por serem, segundo a Anistia Internacional, menores do que na grande maioria dos países da região, devam ser toleradas. Evidencia, no entanto, que a imagem de Cuba como a violadora-mór de tais direitos é falsa e expressa, em última análise, o ódio dos que não se conformam com a perpetuação de um enclave socialista no quintal dos EUA e num mundo bovinamente regido pelas regras ditadas pelo grande capital.
Tem mais: “o mesmo informe dá conta de que 23 dos 27 países que votaram por sanções contra Cuba por violações dos direitos humanos são apontados pela própria Anistia como violadores muito maiores do que Cuba nos direitos humanos”. Acrescente-se que, ao contrário do que ocorre em Cuba, há crianças de rua nesses países e a educação e a saúde são, em geral, historicamente precárias. Sem falar no fato que o socialmente cruel boicote a Cuba – este sim uma violação flagrante de direitos humanos – foi convocado e praticamente imposto pelo mais belicoso dos países.
Fatos para quê?
Ocorre porém que o jornalismo que as corporações comunicacionais ora praticam no Brasil não está nem aí para os fatos. Se com estes se ocupasse, se emprenharia em exigir declarações sobre direitos humanos dos mandatários brasileiros em viagens aos EUA de Abu Ghraib, dos voos secretos, das prisões e torturas terceirizadas, dos genocídios no Oriente Médio, de Guantánamo (o monumento aos direitos humanos que o presidente Obama ia fechar e cuja foto ilustra este post).
Ou, para ficar em um exemplo bem mais próximo: se tivesse um pingo da ética e do “padrão Globo de qualidade” que vive a alardear, a Globo News não só teria fornecido uma cobertura condizente das gravíssimas violações de direitos humanos praticadas pela PM paulista, em Pinheirinho, sob as ordens de Geraldo Alckimin, como a esta dissimulada figura pública estaria dirigindo suas questões acerca de direitos humanos.
(Como sabemos, o que tem acontecido no canal é exatamente o contrário, da cobertura omissa da brutalidade da polícia e do Estado contra civis à tentativa antidemocrática e antijornalística de Mônica Waldvogel de calar as vozes que as denunciam.)
Tiro pela culatra
O esforço da mídia brasileira para pautar a viagem oficial de Dilma foi enorme (como pode-se facilmente conferir pesquisando as tags “Dilma Cuba Direitos Humanos” no Google), mas acabou virando-se contra o feiticeiro. As declarações feitas pela presidente na ilha equivalem, no âmbito da política externa, aos irrespondíveis jabs verbais que desferiu contra o senador Agripino Maia (DEM-RN), quando este a acusou de mentir sob tortura.
Após, através da menção a Guantánamo, aludir às violações dos EUA aos direitos humanos, Dilma fez a seguinte declaração sobre o tema:
- Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro. Nós, no Brasil, temos o nosso. Então, eu concordo em falar de direitos humanos dentro de uma perspctiva multilateral. Não podemos achar que direitos humanos é uma pedra que você joga só de um lado para o outro. Ela serve para nós também.
Alguns vão achar, com razão, que falar não basta. Mas é preciso reconhecer que as palavras da presidente puseram a nu a falácia e o descritério dos direitos humanos seletivos comumente adotados pela mídia no Brasil.
Maurício Caleiro
No Cinema & Outras Artes

Dilma chega ao Haiti e é recebida com festa

Sanguessugado do blog O Esquerdopata
 
Presidente foi recebida no aeroporto pelo presidente Michel Martelly com recepção com ares de festa
Lisandra Paraguassu, enviada especial ao Haiti

A presidente Dilma Rousseff chegou ao Haiti na manhã desta quarta-feira, 1º, para sua primeira visita ao país mais pobre da América Latina. Recebida no aeroporto pelo presidente Michel Martelly, Dilma terá um encontro e um almoço com seu colega e depois visitará os militares brasileiros que fazem parte do batalhão da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah). Dilma também se reunirá com empresários e diretores de organizações não-governamentais que atuam no país, como o ator americano Sean Penn.
A chegada da presidente teve ares de festa no aeroporto e na cidade. Na pequena base diplomática do governo haitiano no aeroporto internacional Toussaint Louverture, faixas com a foto da presidente e os dizeres "Bem vinda Dilma, essa é sua casa", em português e francês. Ao longo do caminho até o Palácio Nacional - praticamente destruído no terremoto de 2010 - as mesmas faixas, além de bandeiras do Brasil e do Haiti, enfeitavam as ruas.
A imigração haitiana para o Brasil será um dos temas centrais da conversa entre os dois presidentes. Apesar das críticas no Brasil, a medida foi bem recebida no Haiti, que a viu como uma possibilidade de diminuir a rede ilegal de transporte para o Brasil via Equador e Peru.
Outros temas que deverão entrar na pauta são a cooperação em saúde - o Brasil financia a maior parte da reestruturação da área no país e levou médicos brasileiros para trabalhar com os cubanos nas medidas de implantação de um sistema comunitário de atendimento. O Brasil também ofereceu aos haitianos 100 vagas para treinamento de policiais pela Polícia Federal. A intenção é preparar a polícia haitiana para a gradual retirada das tropas da Minustah, que começa em março.

Leia mais em: O Esquerdopata: Dilma chega ao Haiti e é recebida com festa
Under Creative Commons License: Attribution

Custo humano de tablets como o Ipad é subestimado pelos compradores

Extraído do BrasilAtual

Sindicato diz que Foxconn, empresa responsável pela produção do Ipad, terá de respeitar legislação brasileira e pede fiscalização constante do Ministério do Trabalho
Custo humano de tablets como o Ipad é subestimado pelos compradores
Cartaz do Greenpeace, em campanha para eleger a Foxconn a "pior empresa do mundo" chama atenção para condições de escravidão vivida pelos trabalhadores (Ilustração: CC/Greenpeace Suíça)
São Paulo – Ao pensar em comprar um tablet, como o Ipad, da Apple, ou similar, o consumidor depara-se com uma série de dúvidas, desde a serventia para determinados padrões de uso de equipamentos eletrônicos ao fato de valer ou não a pena desembolsar o preço cobrado. Tecnologia de ponta, custos de matérias-primas, transporte e impostos são variáveis levadas em conta pelos compradores desses itens considerados as maravilhas modernas pelos tecnomaníacos. Mas e quanto ao valor humano?
A Foxconn é a indústria responsável pela montagem dos Ipads distribuídos no mundo inteiro. Instalada inicialmente na China, a empresa é acusada de submeter seus funcionários a condições de trabalho degradantes. O resultado dessa competição que não mede valores pela liderança só poderia ser trágico. É o que mostra recente reportagem do jornal norte-americano The New York Times.
De olho na vantajosa mão de obra brasileira, a Foxconn instalou em outubro de 2011, em Jundiaí, no interior paulista, a sua segunda fábrica no país. A unidade produz equipamentos com alta tecnologia, como Ipads, Iphones e Ipods. A outra fábrica está instalada no mesmo município.
O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Jundiaí e região Célio Guimarães afirmou conhecer as terríveis práticas impostas aos funcionários chineses. No entanto, afirma que os direitos dos trabalhadores devem ser respeitados nas fábricas brasileiras. “A empresa não dá muita abertura para acompanhamento. Resta pressionarmos para eles cumprirem a Constituição vigente no país em que estão instalados”, disse.
Segundo Guimarães, que embora o acompanhamento dos mais de 1.300 funcionários seja constante, o trabalho do sindicato é limitado. “Nós trabalhamos da porta para fora. Da porta para dentro quem tem de inspecionar é a Delegacia Regional (atual Superintendência Regional), do Ministério do Trabalho. Tendo algum problema nós registramos a notificação e eles têm de tomar as providências”, afirma.

Lai Xiaodong

A matéria feita pelo jornal norte-americano começa relatando o drama vivido por dois jovens mortos devido a uma explosão na fábrica da Foxconn situada em Chengdu, no Sul da China. Um deles, Lai Xiaodong, de 22 anos, chegou à cidade seis meses antes do acidente. Ele era mais uma engrenagem humana a compor o sistema de informação mais rápido da terra. "O jovem chinês engrossa a lista de quatro funcionários mortos dentro das instalações da multinacional somente em 2011. Outros 77 ficaram feridos devido à vulnerabilidade das instalações", diz a reportagem.
O The New York Times destaca ainda que, de acordo com os funcionários da empresa, sindicatos de defesa dos trabalhadores e relatórios divulgados pelas próprias companhias, os problemas são tão diversificados como o ambiente de trabalho e a insegurança. "Trabalhando excessivamente, às vezes sete dias por semana, os funcionários, que muitas vezes são menores de idade, se alojam em dormitórios superlotados. Alguns passam tanto tempo em pé na produção, que devido aos inchaços provocados nas pernas, sentem dificuldades em uma simples caminhada ao fim do penoso expediente."
A reportagem segue afirmando que os trabalhos são tão intensos quanto a entrada de dólares na conta da milionária Apple, que recentemente foi avaliada em US$ 418 bilhões, bem distante dos US$ 22 pagos diariamente – já com as horas extras – ao jovem Xiaodong.
O jornal norte-americando diz que, oficialmente, a Apple garante que todas as violações de direitos em empresas fornecedoras serão sanadas, e caso persistam, os vínculos de trabalho serão cancelados. "No entanto, ex-diretores da empresa garantem que o processo de troca de fornecedores seria caro e demorado, trazendo custos extras e preocupações a mais à companhia. Portanto, a Apple 'não irá deixar a Foxconn, e a Foxconn não irá deixar a China', garante o pesquisador de Harvard e ex-membro da Organização Internacional do Trabalho, Heather White."

E no Brasil...

O dirigente sindical de Jundiaí garantiu que nenhuma denúncia de violação dos direitos trabalhistas semelhante às relatadas na China foi feita ao sindicato, mas lembrou que, em dezembro do ano passado, 200 trabalhadores foram demitidos sem justificativa. Um mês depois, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª Região suspendeu as demissões, estipulando o prazo de 48 horas para a reintegração dos funcionários.
Mesmo sendo fabricados com incentivos fiscais do governo, os preços dos produtos Apple não sofreram redução significativa, de modo que os ítens vendidos nos Estados Unidos, por exemplo, continuam mais baratos do que os brasileiros, mesmo com o acréscimo da variação cambial.
A Foxconn destaca em seu site a característica de seus negócios. “Produto Foxconn é: velocidade, qualidade, serviços de engenharia, flexibilidade e redução de custos financeiros”. A competitividade é tida pela multinacional como fator decisivo na hora da escolha dos serviços.

Gingritch vai para o espaço e promete a Lua

Pescado no blog Tijolaço



Ross Douthat , colunista (conservador) do The New York Times, diz hoje, depois das primárias da Flórida terem sido vencidas com folga por Mitt Roomey, que a candidatura do ex-presidente da Câmara dos Deputados Newt Gingrich “foi indo, foi indo, foi indo e foi-se”.
Como com o ultradireitista Rick Santorum, Gingrich parece estar sendo esvaziado pela assunção, cada vez maior, de um perfil mais conservador pelo ex-governador de Massachusetts.
Ontem, diante de uma espantada entrevistadora da CNN, Roomey  disse:  “eu não estou preocupado com os mais pobres.”, avisando que seu foco são os americanos de classe média.
Num país em que o desemprego não consegue baixar dos 9% e cujos níveis de pobreza são os maiores de sua história recente, não parece ser boa estratégia, senão para, claro, jogar nas costas dos programas sociais – e dos impostos que são necessários para mantê-los- a culpa pelas dificuldades econômicas dos EUA, depois que eles estouraram seu caixa socorrendo bancos e indústrias em 2008.
Uma versão americana do “não quero o voto do marmiteiro” que acabou com as chances do Brigadeiro Eduardo Gomes, nas eleições de 1946, uma frase que agrada – embora não confessadamente – a uma parte da classe média.
Mas o seu principal adversário na disputa republicana também não ficou atrás. Como se ainda estivesse vivendo no tempo das proezas espaciais dos anos 60, Gingrich prometeu colonizar a Lua até 2020.
Para Barack Obama, aplica-se bem a frase antológica de Millor Fernandes: “mais importante do que ser genial é estar cercado por medíocres”.
E ter certas partes do corpo voltadas para a Lua que Gingrich quer colonizar.

Marcio Sotelo Felippe: O Pinheirinho e a banalidade do mal

Extraído do blog Vi o Mundo

por Marcio Sotelo Felippe
O livro que Hannah Arendt escreveu  sobre o  julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém tinha como subtítulo  “a banalidade do mal”. Eichmann foi sequestrado na Argentina pelo Mossad, o serviço secreto de Israel. Havia organizado o sistema de  transporte de judeus para os campos de concentração. Arendt viu um homem medíocre e raso. Um burocrata batedor de carimbos. Alguém que podemos  encontrar na rua levando o cachorro para passear, que nos cumprimenta gentilmente e  fala sobre o tempo. Nenhuma personalidade tonitruante. Mas agindo com carimbos no mesmo plano de Gengis Khan com a espada  ou Torquemada com a fogueira.
Alegava que cumpriu o seu dever, e o que o dever era o imperativo categórico de Kant. Ao afirmar isso, parecia a Arendt que ele era incapaz de imaginar que qualquer interlocutor imediatamente lhe responderia que roubar e matar milhões de pessoas são atos logicamente  incompatíveis com a categoria “dever”. E que não poderia haver tréplica  possível a este argumento. Que ninguém escolhe viver em uma sociedade de ladrões e assassinos, o que é uma implicação primária do imperativo categórico. Ou de  qualquer sistema inteligível de moralidade.
Arendt percebe que Eichmann é incapaz de raciocínio moral minimamente superior à noção de cumprimento de ordens. Que seus juízos são rudimentares. Que na sua “filosofia moral” as consequências das ordens recebidas são irrelevantes, mesmo que milhões de pessoas estejam morrendo. Podemos imaginar que um transporte bem sucedido de judeus para Auschwitz terá sido efusivamente festejado, e que Eichmann terá brindado com champagne seu sucesso funcional em vários momentos, com subalternos e superiores hierárquicos.
Eichmann tinha um intelecto que lhe permitia organizar o transporte compulsório de milhões de presos. Mas em sua defesa era incapaz de formular um raciocínio moral que fosse além do conceito de cumprimento de ordens.
“A acusação deixava implícito que ele não só agira conscientemente, coisa que ele não negava, como também agira por motivos baixos e plenamente consciente da natureza criminosa de seus feitos. Quanto aos motivos baixos, ele tinha certeza absoluta de que, no fundo de seu coração, não era aquilo que se chamava de innerer Schweinehund”, um bastardo imundo; e quanto à sua consciência, ele se lembrava perfeitamente de que só ficava com a consciência pesada quando não fazia aquilo que lhe ordenavam – embarcar milhões de homens, mulheres e crianças para a morte, com grande aplicação e o mais meticuloso cuidado. Isso era mesmo difícil de engolir. Meia dúzia de psiquiatras haviam atestado sua “normalidade” – “pelo menos mais normal do que eu fiquei depois de examiná-lo”, teria exclamado um deles, enquanto outros consideraram seu perfil psicológico, sua atitude quanto a esposa e filhos, mãe e pai, irmãos, irmãs e amigos, “não apenas normal, mas inteiramente desejável” (Eichmann em Jerusalém, Companhia das Letras, pag. 36/37).
Um homem normal. Dedicado à família, leal a seus amigos, cumpridor de seus deveres. A banalidade: sua máxima instância moral era o que lhe diziam ser o dever. Qual o sentido do dever que lhe impunham? Ele não ia até esse ponto. Desse dever resultariam mortes? Ele não ia até esse ponto. Mortes horrendas, pessoas dizimadas como moscas? Ele não ia até esse ponto. Algumas reações ao caso Pinheirinho invocam as lições de Hannah Arendt.
As banalidades: há  uma ordem social fundada na propriedade. Há regras sobre a propriedade. Onde vamos parar se todo mundo começa a invadir propriedades? Ordens devem ser cumpridas.  A juíza cumpriu seu dever. O presidente do Tribunal, que se empenhou pessoalmente a ponto de remeter para lá um assessor, cumpriu seu dever. A Polícia Militar cumpriu seu dever. O governador cumpriu seu dever. Mas impedir que 6 mil pessoas se vissem, de uma hora para outra, de surpresa e praticamente na calada da noite, arremessadas de suas casas para o nada, isto não era dever de ninguém.
A juíza dá entrevista exultante com o resultado da operação:
“a operação me surpreendeu positivamente. A Polícia Militar se preparou, se planejou durante mais de quatro meses (…) desempenhou um serviço admirável que é motivo de orgulho pra todos nós (…) A Polícia Militar agiu com competência e com honra mesmo”
Quatro meses! Em nenhum momento desses 4 meses ela se deteve para pensar que, senhora da jurisdição, estava ao seu alcance dar ao caso uma solução que não resultasse naquela inominável violência, naquela barbárie? Que havia precedentes jurisprudenciais, que estão  sendo publicados  às dúzias nas redes sociais? No entanto, tudo que ela diz agora é que a Polícia Militar prestou um serviço “motivo de orgulho”: a Polícia Militar cumpriu seu dever. Ela cumpriu seu dever.
Na Folha de S. Paulo de 28 de janeiro, o advogado João Antonio Wiegerinck nos ensina – de forma tristemente banal -   quedireito à propriedade é um direito tão antigo quanto o direito à dignidade da pessoa humana na maior parte das constituições ocidentais. Como princípios constitucionais que são, inexiste uma hierarquia científica entre eles ou os demais princípios (…) a retirada de invasores de uma propriedade adquirida honestamente e pela qual se paga tributos ao Estado é um ato lícito e voltado à boa observância da ordem (…) o que todo cidadão de bem deseja é que a sociedade em que vive ofereça estabilidade na manutenção das regras a serem observadas por todos, sem favorecimentos ou discriminações. Quem tem consciência de estar vivendo ilegalmente sabe que um dia isso será cobrado. Tomara que de agora em diante com mais dignidade e prevenção.”
O que o articulista diz não vai além do conceito de ordem, legalidade e propriedade. A realidade social, a inexistência de habitações, a miséria de quem se vê obrigado a morar onde consegue e não onde quer,  tudo isso está ausente do juízo do articulista. A banalidade do seu juízo ignora a ideia de um sentido e de uma racionalização da propriedade. Na frase “o que importa para o cidadão de bem é a estabilidade e a manutenção das regras”, vejam a associação de ideias entre estabilidade, manutenção e bem.
Para denunciar a trivialidade dessa associação, basta perguntar: qual o sentido desta “estabilidade” e desta “manutenção”? Por que elas são, assim sem mais, o bem (sutilmente encaixado na expressão “cidadão de bem”)? Em outros termos: para ele, bem é igual estabilidade e manutenção de uma regra. Bem é cumprir o dever. O que resulta desse dever? Ele não chega a esse ponto.
A chave de ouro do articulista é: os culpados são os moradores. Viviam ilegalmente e deveriam saber que um dia seriam cobrados. Eu mesmo estaria louco de vontade de participar de uma invasão e viver “ilegalmente”. Não veria a hora de largar meu apartamento e invadir um terreno privado, construir um barraco e depois, com minhas próprias mãos, uns dois ou três cômodos de alvenaria e lá amontoar meus filhos. Mas eu e milhões de brasileiros  não fazemos isso porque somos “cidadãos de bem”. Os moradores do Pinheirinho são delinquentes. Como vivem na ilegalidade, agora foram cobrados. Bem feito. As pessoas que defendem a perversidade social não são burras. Elas são hegemônicas na estrutura social e política do país. Defendem interesses. São competentes e preparadas. Mas não há como defender perversidades sociais sem argumentos banais. O mal, na sua lógica intrínseca, é  moralmente burro, como percebeu Hannah Arendt.
Marcio Sotelo Felippe é procurador do Estado de São Paulo.

O Haiti que Dilma visita (contado por Eduardo Galeano)

Da Agência Carta Maior


“Os escravos negros do Haiti propinaram uma tremenda surra ao Exército de Napoleao Bonaparte; e em 1808 a bandeira dos livres se alçou sobre as ruínas.

Mas o Haiti foi, desde ali, um país arrasado. Nos altares das plantações francesas de açúcar se tinham imolado terras e braços, e as calamidades da guerra tinham exterminado um terço da população.

O nascimento da independência e a morte da escravidão, façanhas negras, foram humilhações imperdoáveis para os brancos donos do mundo.

Dezoito generais de Napoleão tinham sido enterrados na ilha rebelde. A nova nação, parida em sangue, nasceu condenada ao bloqueio e à solidão: ninguém comprava dela, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia. Por ter sido infiel ao amo colonial, o Haiti foi obrigado a pagar à França uma gigantesca indenização. Essa expiação do pecado da dignidade, que esteve pagando durante um século e meio, foi o preço que a França lhe impôs para seu reconhecimento diplomático.

Ninguém mais o reconheceu. Nem a Grande Colombia de Simon Bolívar, mesmo se ele lhe deveu tudo. Navios, armas e soldados o Haiti tinha lhe dado, com a única condição que libertasse aos escravos, uma ideia que não tinha ocorrido ao Libertador. Depois, quando Bolívar triunfou na sua guerra de independência, negou-se a convidar o Haiti ao congresso das novas nações americanas.

O Haiti continuou sendo o leproso das Américas.

Thomas Jefferson tinha advertido, desde o começo, que tinha que confinar a peste nessa ilha, porque dali provinha o mal exemplo.

A peste, o mau exemplo: desobediência, caos, violência. Na Carolina do Sul, a lei permitia prender qualquer marinheiro negro, enquanto o seu navio estivesse no porto, pelo risco de que pudesse contagiar a febre antiescravista que ameaçava a todas as Américas. No Brasil essa febre se chamava haitianismo.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Dilma foi a Cuba e não disse o que a Globo queria

Extraído do Brasil Mobilizado


por Chico Barreira em seu blog
Para quem gosta de complicar ou percorrer caminhos tortuosos de raciocínio, este texto não serve. Par a quem tem preguiça de raciocinar e apenas repete chavão, também não serve. Para os demais deve servir.
A Globo, que aqui representa o que resta do pensamento neoliberal que um dia controlou este País, imaginou que era possível apartar Dilma do Lula, do PT e de suas raízes. Apostou tudo nisso e chegou a mimosear a presidenta com uma cobertura jornalística complacente ou francamente favorável.
E Dilma vai a Cuba é diz que o conceito  de  Direitos Humanos é algo sério demais para ser manipulado com objetivos político-ideológicos imediatistas. E reafirmou a sadia tradição diplomática brasileira de não intervenção e  de respeito à soberania alheia.
A presidenta disse em Havana (um pronunciamento histórico) que todos  temos telhado de vidro, inclusive  quem vive atirando pedras, os EUA, único país  mencionado. E mencionado  na sua principal  ferida, a Base de Guantánamo, logo ai ao lado, um símbolo universal de desrespeito aos Direitos Humanos, tanto que, há quatro anos, Obama prometeu- durante a campanha eeitoral - extingui-lo. Se não cumpriu a promessa, o problema é dele.
É impossível não ver a hipocrisia dos que defendem diretos  humanos em Cuba e  passaram anos sem  notar o total desrespeito  a eles no  Norte da África e no Oriente Médio, onde tiranos aliados e convenientes  eram armados  para massacrar seus povos, até que a população ocupou a Internet e as ruas.
 E uma perguntinha simples: por que os EUA não impõem, em nome dos direitos humanos,  um embargo econômico à China?
Creio que já fui, em inúmeros outros textos, suficientemente claro sobre o que considero o anacrônoco no leninismo e do trotskismo.  Incapaz de perceber   esse anacronismo, a militância de esquerda, pouco afeita à leitura dos textos do próprio Marx, limita-se a repetir chavões  e palavras de ordem de 120 anos atrás.
 Canso de dizer neste blog que o leninismo foi historicamente fundamental  no início do século passado, mas  hoje é imprestável  como instrumento de análise e ação diante de  uma nova realidade. Realidade esta. onde o que chamo de Neofeudalismo transformou-se na etapa superior do Imperialismo. E onde o modo de produção capitalista entra em sua fase terminal.  A esse processo dou o nome de Crepúsculo do Capital.
Tudo isso me deixa à vontade para dizer que só um ingênuo, elevado ao último grau de alienação,  não percebe que se realmente quisesse o povo  cubano já teria derrubado seu governo, como tantos  outros povos derrubaram, desde o  Muro de Berlin até  a Primavera Árabe. Ainda mais que os cubanos sabem que poderiam contar com apoio material imediato dos EUA que estão logo ali, a menos de 150 quilômetros de distância.
Então por que não derruba?
A Ditadura
Talvez fosse sofisticado demais dizer que embora anacrônico, posto que segue sendo fielmente leninista, o regime cubano não é uma ditadura clássica como a entendem as mentes ocidentais e cristãs que são hoje, eventualmente, hegemônicas. Mas que não são as únicas e poderão não se hegemônicas amanhã. Do ponto de vista leninista que é o que conta na Ilha, o que a há ali não é ditadura e nem mesmo governo. Há uma revolução em processo.
 Seja como for, os cubanos não derrubaram, nem pensam em derrubar o regime. Do ângulo  estritamente prático, talvez não queiram derrubar porque  na média global ( eu disse na média geral meu querido leitor neoliberal) não são tão pobres. E, certamente, não possuem  bolsões de miséria como os exibidos por outros povos, inclusive o brasileiro.
Talvez, também, porque  há quarenta ano as terras e as habitações foram estatizadas   e distribuídas de forma que ninguém é Sem Terra  ou Sem Teto. É verdade que não há todas as liberdades e comodidades como as que existem aqui, embora não para todos. Como também é verdade que um episódio como o da invasão do Pinheirinho seria impensável em Cuba.
 Há, também, o fato de que os cubanos usufruem de mais segurança, melhor educação e melhor saúde do que a maioria dos outros povos, incluídos aí os do Primeiro Mundo. E ninguém ignora que a mortalidade infantil em Cuba é menor do que a dos Estados Unidos.
 Há muita verdade e muita mentira sobre Cuba, ditas sempre em tom emocionado. Mas é preciso admitir que talvez haja alguma verdade na frase publicitária exposta em centenas de grandes cartazes nas ruas e estradas da Ilha: “Esta noite, milhões de crianças, ao redor do Mundo, vão dormir na rua. Nenhuma delas é cubana”.

O racha na “intelectualidade” tucana

Extraído no blog Com Texto Livre

A divisão no bloco neoliberal-conservador no Brasil não se dá apenas por motivos pragmáticos. Não decorre somente da disputa entre os candidatos demotucanos para as próximas eleições – a municipal deste ano que pavimenta o caminho para a presidencial de 2014. O racha é muito mais profundo. Deriva da falta de projeto programático da direita, que está fraturada e sem rumo.
Prova disto é que nem a chamada intelectualidade tucana se entende mais. Nesta semana, dois artigos evidenciaram a dificuldade da oposição. No Estadão, um dos mais fanáticos intelectuais da direita nativa, o historiador Marco Antonio Villa, fez duras críticas à postura “conciliadora” do PSDB. No artigo intitulado “Oposição sem rumo”, ele manifesta o seu desejo por mais sangue!
Conclusão demolidora
O seu alvo é FHC, que em recente entrevista defendeu Aécio Neves como candidato “óbvio” da sigla. O serrista Villa avalia que esta é mais uma “análise absolutamente equivocada da conjuntura. Esse tipo de reflexão nunca foi seu forte”, ironiza o “professor”, que cita vários erros de leitura do ex-presidente – como quando ele defendeu o ingresso do PSDB no governo de Collor de Mello.
Para Villa, golpista notório, um dos erros de FHC ocorreu em 2005. “No auge da crise do mensalão, ele capitaneou o movimento que impediu a abertura de processo de impeachment contra o então presidente Lula. Espalhou aos quatro ventos que Lula já era página virada na História e que o PSDB deveria levá-lo, sangrando, às cordas, para vencê-lo facilmente no ano seguinte. Deu no que deu”.
A conclusão do historiador, que goza de amplos espaços na mídia demotucana, é demolidora e contém algumas verdades:
*****
A ação intempestiva e equivocada de Fernando Henrique [em defesa de Aécio] demonstra que o principal partido da oposição, o PSDB, está perdido, sem direção, não sabendo para onde ir. O partido está órfão de um ideário, de ao menos um conjunto de propostas sobre questões fundamentais do País. Projeto para o País? Bem, aí seria exigir demais. Em suma, o partido não é um partido, na acepção do termo.
Fernando Henrique falou da necessidade de alianças políticas. Está correto. Nenhum partido sobrevive sem elas. O PSDB é um bom exemplo. Está nacionalmente isolado. Por ser o maior partido oposicionista e não ter definido um rumo para a oposição, acabou estimulando um movimento de adesão ao governo. Para qualquer político fica sempre a pergunta: ser oposição para quê? Oposição precisa ter programa e perspectiva real de poder. Caso contrário, não passa de um ajuntamento de vozes proclamando críticas, como um agrupamento milenarista.
O medo de assumir uma postura oposicionista tem levado o partido à paralisia. É uma oposição medrosa, envergonhada. Como se a presidente Dilma Rousseff tivesse sido eleita com uma votação consagradora. E no primeiro turno. Ou porque a administração petista estivesse realizando um governo eficiente e moralizador. Nem uma coisa nem outra. As realizações administrativas são pífias e não passa uma semana sem uma acusação de corrupção nos altos escalões.
O silêncio, a incompetência política e a falta de combatividade estão levando à petrificação de um bloco que vai perpetuar-se no poder... Em meio a este triste panorama, não temos o contradiscurso, que existe em qualquer democracia. Ao contrário, a omissão e a falta de rumo caracterizam o PSDB... Numa democracia ninguém é líder por imposição superior. Tem de apresentar suas idéias.
*****
Xico Graziano fustiga o “sabichão”
Diante de críticas tão ácidas e apocalípticas, Xico Graziano, um dos principais intelectuais orgânicos do PSDB, saiu em defesa do ex-presidente e da atual direção da legenda, hoje controlada por apoiadores de Aécio Neves. Num artigo no sítio Observador Político, abrigado no Instituto FHC, ele confirmou que o ninho tucano está em chamas e que ninguém mais se respeita nem se tolera.
Conhecido por sua língua ferina – o MST é um dos principais alvos de seus textos hidrófobos –, o ex-deputado do PSDB partiu logo para o ataque, qualificando o artigo de Marco Antonio Villa de “pretensioso e equivocado”. Além de defender caninamente o ex-presidente, com que sempre “estive ao lado”, Xico Graziano manifesta apoio à entrevista de FHC sobre as eleições de 2014.
“Quero eu entender do sabichão professor: onde está escrito que é errado um partido definir um candidato com antecedência? O PT fez isso com Lula durante 16 anos, e nada indica que tenha errado na estratégia”. Em síntese, os tucanos não têm unidade nem na leitura da conjuntura política, muito menos na definição dos rumos futuros da oposição de direita no Brasil.
Altamiro Borges
No Blog do Miro

Obama admite assassinatos; Paquistão adverte EUA

Pescado no Portal Vermelho.org

O Governo paquistanês classificou nesta terça-feira (31) como "inaceitáveis" os ataques com aviões não tripulados norte-americanos em seu território depois que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reconheceu publicamente pela primeira vez sua existência.



"São ilegais, polêmicos e, portanto, inaceitáveis", escreveu à Agência Efe por mensagem de texto o porta-voz das Relações Exteriores paquistanês, Abdul Basit, sobre os chamados aviões não tripulados apelidados de "drones").

Os EUA bombardeiam com esses equipamentos áreas do Paquistão e, com menos frequência, outros países com os quais também não está tecnicamente em guerra, como o Iêmen e a Somália.

A postura oficial do Paquistão é que os ataques, mesmo eliminando alvos insurgentes, representam um fracasso estratégico, pois geram a cólera da população.

Os "drones" são uma das armas mais usadas por Obama na perseguição aos que o imperialismo norte-americano considera terroristas: em 2010 foram 118 ataques só no Paquistão, frente a 70 do ano passado, um reflexo das turbulentas relações diplomáticas entre ambos os países.

Em conversa com internautas, Obama admitiu pela primeira vez na última segunda-feira o uso de "drones" em ataques a supostos militantes da Al Qaeda e de redes jihadistas presentes nas áreas tribais paquistanesas que fazem fronteira com o Afeganistão.

O presidente disse que os aviões não-tripulados "não fizeram um grande número de vítimas civis" e que os ataques são “precisos”, algo contestado discutido por organizações de direitos humanos para as quais eles matam civis.

Obama acaba, portanto, de admitir que o imperialismo estadunidense está lançando mão de assassinatos “seletivos” de opositores num país estrangeiro. O chefete da Casa Branca, com o maior despudor, confessou dois crimes: o assassinato de ativistas - que na nomenclatura psicótica e bandida da Casa Branca, do Pentágono, da CIA e do Departamento de Estado – são terroristas e a violação da soberania nacional. São atentados aos direitos humanos e à ordem internacional.

Atenção, Conselho de Segurança da ONU, que se reúne hoje para sancionar a Síria: eis um ponto a acrescentar à pauta.

José Reinaldo, com informações da EFE

Para flagelados do Pinheirinho, Cuba seria o paraíso

Extraído do blog da Cidadania( Eduardo Guimarães)


Ontem, enquanto Dilma Rousseff exercia as suas obrigações de chefe de Estado em viagem oficial a Cuba, a desfaçatez patológica dos barões da mídia se agitou e saiu da toca. Não tardou e logo começaram a pipocar matérias “exigindo” da presidente que cobrasse direitos humanos do governo cubano.
No mesmo dia, li mais alguns textos e ouvi mais algumas locuções nessa mesma mídia em que juízas, jornalistas e até governantes contavam como tinha sido “exemplar” a “operação de reintegração de posse” no Pinheirinho. A conexão entre uma coisa e outra, então, foi inevitável.
Pinheirinho e Cuba têm tudo que (não) ver um com o outro. Cuba é a ditadura, segundo diz a mídia brasileira, mas ninguém nunca viu milhares de homens, mulheres (até as grávidas), crianças, idosos, deficientes e enfermos de todo tipo serem espancados, atingidos com bombas e balas de borracha e depois serem jogados em depósitos insalubres, naquele país.
Isso sem falar de violações de direitos humanos que AINDA não foram totalmente comprovadas.
Fiquei pensando sobre que democracia há para os flagelados do Pinheirinho. Para aquelas pessoas, a ditadura fica mesmo é no Brasil. Aliás, na visita que lhes fiz na última segunda-feira essa foi uma das palavras que mais ouvi: “ditadura”.
E por que não seria? Alguma ditadura faria um trabalho “melhor”? Não é assim que as ditaduras tratam o povo? Não é na bala (nem que seja de borracha, se for), no gás pimenta, nas cacetadas no lombo, quando há sorte?
Você, leitor, já ouviu falar de algo parecido a Eldorado dos Carajás, à Cinelândia, à Cracolândia, ao Pinheirinho ou a coisa que o valha, em Cuba? Mesmo se fosse verdade que Cuba deixa um ou outro ativista político morrer de fome por vontade própria, quero que alguém me mostre uma única imagem do governo cubano espancando ou matando seu povo no atacado, como por aqui.
Onde fica a ditadura, mesmo?
Penso que aquela população do Pinheirinho daria a vida para ir morar em um lugar como Cuba, onde teria casa, assistência médica, segurança, educação e respeito do Estado. No entanto, esses jornais que apoiaram a ditadura militar brasileira e suas violações de direitos humanos cobram esses mesmos direitos de… Cuba!
Gostaria de ter dinheiro para pagar a passagem daqueles com os quais estive anteontem para que fossem viver como gente em Cuba, já que, por aqui, a sociedade não têm capacidade de ao menos avaliar seu sofrimento enquanto se “horroriza” com a “ditadura” cubana.