sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A comida não pode ser barata? Uma resposta cúmplice aponta a causa dessa injustiça



Por Antonio Cechin e Jacques Távora Alfonsin

“A sociedade tem de aceitar que a época da comida barata acabou.” Assim, o presidente da Farsul resumiu sua opinião sobre o preço da comida, na edição de sexta-feira, 17, do jornal Zero Hora.

Para quem ainda passa fome no Brasil, é difícil recordar quando, no passado, a comida foi barata. Em todo o caso, tratando aquela opinião de uma necessidade vital das pessoas, como é a de se alimentar, é conveniente analisar-se o dito no que ele pode revelar sobre as causas de uma injustiça social como essa, pois, pelo jeito, não temos saída e estamos condenados a aceitá-la.

Segundo essa maneira de pensar, cabe uma comparação. Entre o possível prejuízo que a fração de empresários representada pela tal liderança possa ter na venda do indispensável à vida das pessoas, e o que essas possam sofrer por não poderem pagar o que lhes mata a fome, quem não pode sair perdendo é o dono do capital (nem sempre identificado, em tudo, com o “produtor rural”, a economia familiar que o comprove), pois, em todo o contexto explicativo da entrevista, a “comida barata” aparece como prejuízo certo desse personagem.

Como o mercado, onde esse capital se alimenta de dinheiro e não de comida, é um ente abstrato, de humor desconhecido, refletido em expressões tão grandiloqüentes quanto aleatórias do tipo “crise da economia mundial”, “excesso de demanda”, “defesa da liberdade de iniciativa econômica”, “globalização”, as causas dos perversos efeitos da previsão feita pelo presidente da Farsul geralmente ficam isentas de qualquer investigação sancionatória, inclusive do ponto de vista jurídico. A “mão invisível” (Adam Smith) dos seus ciclos econômicos de crise, exploração da natureza e das gentes, trata de imunizá-lo.

Algumas mãos visíveis de defesa desse tipo de irresponsabilidade, todavia, podem ser identificadas, como prova a afirmação categórica do ministro da agricultura, publicada na mesma edição de ZH, segundo a qual “índices de produtividade é assunto encerrado.”

Ali aparece, novamente, o porque de se encerrar esse assunto: “Quem deve definir o que, como e quando o produtor brasileiro vai produzir é o mercado, a visão que ele tem de oportunidades de negócios, perspectivas de preço, demanda do mercado interno e internacional. Não pode ser um ato autoritário, de cima para baixo, dizendo que tem de produzir com tais índices de produtividade. Não é assim que se faz”.

Entre o que a sociedade, portanto, “tem de aceitar” como diz o presidente da Farsul, e a forma como essa aceitação deve ser feita (“assunto encerrado”, “não é assim que se faz”…), como diz o ministro da Agricultura, o Estado, a democracia, os Poderes Públicos, o ordenamento jurídico não têm que dar palpite nem se meter.

A lei e o direito, assim, não têm voz nenhuma aí. Quem deve mandar sobre o que deve se produzir “é o mercado”, “as oportunidades de negócios”, as “perspectivas de preços”, somente o dinheiro, em última análise. Poucas vezes se reconheceu, com tanta clareza e pelas vozes dos seus mais fiéis representes, onde se encontra, efetivamente, o “ato autoritário, de cima para baixo”, a que faz referência o ministro da agricultura. Ele desce do mercado e é indiscutível, fatal, como ato caracteristico de toda ditadura. A/o pobre faminta/o que se submeta a esse ente-ídolo capaz de ditar o que, como, quando e quanto ele deve comer. Não é por acaso, portanto, que acabe morrendo de fome. O Estado e a democracia prossigam fingindo terem o poder de garantir a vida e a liberdade do povo pobre.

Haja fome, então, para suportar uma opressão a esse nível. Ela comprova a maior contradição presente em todo o nosso sistema econômico. Justamente quando a produção rural conquista quantidades de alimento mais do que suficientes para alimentar o povo todo, o chamado “preço de mercado” cai a níveis tão baixos, que somente a retenção dessas quantidades consegue cobrir o custo da produção, seja o real, seja o inventado por quem sabe manipular dados a favor do seu lucro. Aí o Estado deixa de ser o vilão e passa a ser a solução…

Não é preciso ser economista para compreender onde tudo isso vai dar. Esse ar de fatalidade, no qual se inspiram as opiniões das referidas lideranças, não é igual ao do clima, corriqueiramente invocado em favor das alegadas dificuldades pelas quais passam os seus liderados. Que a freqüência desse repetido queixume já alcançou status de segunda natureza, isso não dá para negar, pois não há ano em que ele não repita o seu choro.

Quanto cinismo e hipocrisia se refletem, pois, quando o respeito à lei, especialmente a da segurança nacional, é invocado com veemência, por essas lideranças, sempre que o povo necessitado de casa e comida toma em suas próprias mãos a iniciativa de proclamar que o tal respeito só vale, de fato e materialmente, em favor de minorias historicamente protegidas por uma ideologia sem outras referências que não as da propriedade e as do mercado. Se o destinatário de algumas vantagens previstas em lei é a/o pobre, elas ignoram e desprezam a lei. Essa exige, por exemplo, o cumprimento da função sal da propriedade, “em prol do bem coletivo”, das “necessidades dos cidadãos”, da “erradicação da pobreza”, de “direitos humanos fundamentais”, expressões que não faltam na Constituição Federal, no Estatuto da Terra e no Estatuto da Cidade, entre outras regras jurídicas. Aí, o seu efeito material, concreto, é igual a zero, já que o mercado, pelo menos o refletido nas opiniões publicadas pela ZH, não precisa se preocupar com isso.

O direito à alimentação, por exemplo, somente entrou expressamente na Constituição em fevereiro deste ano (Emenda 64), como se a satisfação de uma necessidade vital como essa, de tão desrespeitada no país, tivesse necessidade de se proclamar em lei, para ser reconhecida como direito. Muito antes, os tratados internacionais que o Brasil assinou, como o dos direitos econômicos, sociais e culturais de 1966, já vinculavam o nosso país, inclusive, à reforma agrária capaz de, no mínimo, atenuar as danosas conseqüências da comida cara.

Os conceitos de “soberania alimentar” e de “segurança alimentar”, capazes de dar sustentação a direitos fundamentais de todo o povo, garantindo-lhe presidir o que plantar, colher, criar e abater, sem correr o risco da fome, pela falta de acesso à terra, devem inverter os sentidos das lições ditadas pelo presidente da Farsul e pelo ministro da Agricultura. O primeiro “tem de aceitar” e o segundo não pode “encerrar assunto” que envolva direitos como os que as suas opiniões desconsideram. O “realismo econômico” da comida cara, sem outro remédio, previsto por eles, se está sendo pelo menos mitigado nos seus danosos efeitos sociais, isso não se deveu ao mercado, lá erguido à panacéia dos nossos males, mas sim aos assentamentos gerados pela reforma agrária, pelo menos os que deram certo justamente por obedecer à outra lógica que não a exclusiva do mercado. Não foi este também que presidiu a política pública de implantação do Fome Zero e do Bolsa Família.

Se existem mais brasileiros saciados, hoje, não devem isso ao mercado. Felizmente, há uma outra economia em curso, familiar, solidária, cooperativa, diferente dessa que acumula na mão de poucos o que falta na mesa de muitos. É por isso que a reforma agrária, esses assentamentos e essas políticas públicas recebem críticas tão ácidas das lideranças latifundiárias e daquelas que, no exercício do Poder Público, lhes são fiéis. “Paternalismos oficiais”, “favelas rurais” costumam aparecer sustentando essas críticas. É que o ídolo ao pé do qual elas se ajoelham, rezam e acendem velas diárias de adoração, não aceita outra forma de produção, distribuição e partilha dos bens indispensáveis à vida das pessoas que não passe pelo seu poder de exclusão, medido de acordo com a capacidade de pagar que cada uma dessas tenha alcançado.

Aquela outra economia sabe que o dinheiro não se come, nem impõe um “ter de aceitar” ou um “assunto encerrado” prepotentes e anti-democráticos como os publicados pela ZH do dia 17. Os direitos e os interesses alheios não lhe são estranhos ou, até, hostis. O que ela mais deseja é a suficiência para todas/os e não somente para um pequeno grupo. Está a serviço de uma justiça social capaz de produzir comida e mesa fartas onde ninguém se assente constrangido pela dor de saber-se estranho à comum união.

Pescado no Blog do Marco Aurélio Weissheimer

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O ex-presidente de Israel Moshe Katsav foi considerado culpado de duas acusações de estupro

Do Portal Vermelho.org

O ex-presidente de Israel Moshe Katsav foi considerado culpado nesta quinta-feira (30) de duas acusações de estupro, segundo informou o tribunal de Tel Aviv. A sentença ainda não foi dada, mas Katsav deve ser condenado a no mínimo quatro anos de prisão por ter abusado sexualmente de uma de suas funcionárias em 1998, quando era ministro do Turismo de Israel.

Katsav também foi condenado por assediar sexualmente outras duas mulheres que trabalharam para ele após sua chegada à presidência, em 2000. O ex-presidente, que tem 65 anos e é pai de cinco filhos, renunciou ao cargo em junho de 2007 e foi indiciado em 2009.

O juiz George Kara, presidente do tirubal, afirmou que Katsav "produziu provas" para tentar se livrar das acusações, mas que seus "supostos álibis foram reduzidos a pó". Kara afirmou que o ex-presidente "aproveitou de sua autoridade e da força física" para abusar sexualmente da funcionária.

A renúncia de Katsav ocorreu após fortes pressões políticas que começaram um ano antes, quando ele mesmo denunciou ao procurador-geral do Estado que estava sendo extorquido por uma ex-funcionária. A denúncia levou outras nove mulheres a acusarem Katsav por diferentes delitos sexuais.

Os advogados do ex-presidente chegaram a um acordo com a Promotoria de Israel segundo o qual Katsav se declararia culpado de vários delitos de assédio sexual, mas não de estupro, o que impediria sua prisão. No entanto, dez meses depois, no momento de referendar o acordo, ele mudou de ideia e disse que queria limpar seu nome na Justiça.

"Katsav fez uma arriscada aposta acreditando que a Promotoria não tinha provas suficientes contra ele", explicou uma jornalista do Canal 2 de Israel, que transmitiu a sessão ao vivo.

Fonte: IG

Os (muitos) desafios diante de Dilma

por Luiz Carlos Azenha, no Blog vi o mundo

A presidente Dilma Rousseff assume o poder diante de imensas oportunidades. A economia brasileira cresce com inclusão social. O início da exploração comercial do pré-sal dá ao governo a perspectiva de ter mais dinheiro para investimentos. Haverá fila para trazer dinheiro de fora.

Ainda assim, Dilma terá pela frente um desafio enorme: como produzir mudanças transformadoras da sociedade brasileira, que o século 21 requer, com uma base política cuja sobrevivência correrá risco se Dilma fizer as mudanças transformadoras de que o Brasil necessita. É o eterno dilema político dos que não se pretendem conservadores: existe sempre o risco de plantar as sementes da própria destruição.

Erradicar a miséria é um objetivo louvável e, conforme avaliação do presidente do IPEA, Marcio Pochmann, alcançável. Trata-se da mais marcante proposta política feita pela futura presidente na campanha eleitoral. Porém, cumprir este objetivo não basta: o Brasil requer um salto qualitativo na educação, na capacidade de produzir mercadorias de alto valor agregado (com os respectivos empregos de melhor qualidade), na produção de Ciência. Estes objetivos se confundirão se o governo Dilma decidir buscar o caminho de tirar do Brasil, definitivamente, do papel de produtor e fornecedor de commodities.

Críticos à esquerda do governo Lula sempre miraram no que pareceu, a eles, a reedição brasileira das famosas veias abertas da América Latina: projetos de infraestrutura (ferrovias, hidrelétricas, a transposição do rio São Francisco) que visam facilitar a produção e o escoamento de matérias primas e a adição de terras aos projetos do agronegócio, com a formação “técnica” de mão-de-obra como paradigma educacional. Trocando em miúdos, nessa equação bilionária o “povo” entraria com os baixos salários. O avanço é que os baixos salários estariam registrados em carteira.

Para que Dilma de fato representasse uma mudança qualitativa, seria necessário ir além da regionalização e da interiorização que marcaram o governo Lula. Seriam necessários fortes investimentos em Ciência e Tecnologia que priorizassem as vantagens comparativas brasileiras em relação a outros países (biotecnologia, por exemplo). O neurocientista Miguel Nicolelis já apresentou aqui no Viomundo uma detalhada proposta sobre um dos caminhos para fazer isso.

Mas, acima de tudo, um governo transformador exigiria que Dilma lidasse com questões politicamente espinhosas, sem as quais não haverá a possibilidade de incorporar toda a capacidade intelectual e criativa dos brasileiros que o momento exige: reforma agrária, reforma urbana e a livre circulação de ideias, sem o controle monopolístico de algumas famílias sobre os meios de comunicação.

O caráter conservador do governo Dilma, representado na escolha do ministério, deixa claro que dificilmente teremos avanços significativos nestas três áreas, a não ser por conta de um empenho improvável da própria presidente. Isso se deve não só aos compromissos de Dilma com a coalizão, mas ao avanço, dentro do PT, das correntes identificadas com a modernização conservadora, dirigida de cima, sem “sustos”.

Tão significativo quanto termos tido uma Conferência Nacional de Comunicação é o fato de que as resoluções da conferência não foram adotadas. O diabo mora, sempre, nos detalhes. E os detalhes da escolha ministerial de Dilma revelam que o perfil do futuro governo será de um certo “mudar, para não mudar muito”.

Hugo Chávez

Do COM TEXTO LIVRE

O Presidente Hugo Chávez virá ao Brasil para assistir a posse da Sra. Dilma Rousseff na Presidência da República Federativa do Brasil, no dia 1 de janeiro de 2011. E juntamente com a Sra. Hillary Clinton, representante do Presidente Obama dos Estados Unidos e com a Presidenta brasileira a ser empossada dividirão o interesse da mídia brasileira e mundial, já que os citados Chefes de Estado disputam interesses hegemônicos ao nível mundial.
Cada um desses líderes políticos tem estilos comportamentais diferenciados, a nossa Presidenta sabemos como será, pois ela já ocupou cargos ministeriais no governo Lula e, portanto, tem estilo que é muito conhecido; a Sra. Hillary Clinton como Ministra de Estado dos Estados Unidos, também sabemos principalmente através da divulgação pela mídia do escândalo dos telegramas sigilosos publicados pela WikiLeaks. Quanto á Hugo Chávez o que sabemos é o que a grande mídia mundial divulga, geralmente de forma distorcida e afetada ideologicamente.
Os vídeos abaixo são de um documentário realizado por Karen Méndez transmitido por Venezolana de Televisión VTV, em 28 de dezembro último, e mostram o comportamento de Hugo Chávez como Chefe de Estado em visita ao exterior, feitos durante seu último giro à Rússia, Bielorússia, Ucrânia, Irã, Síria, Líbia e Portugal e aí poderemos conferir sua maneira diferente de ser e sua forma apaixonada de defender os interesses de seu país e do nosso Continente.
Como é bom termos Chefes de Estado à nível mundial que tenham comportamentos diferenciados, pois o padrão clássico adotado por quase todos torna-se chato e tedioso. Chávez entre as virtudes e os defeitos que tem, pelo menos traz a esperança que mudanças podem (e precisam) ser realizadas nesse nosso mundo tão afetado pela ideologia neoliberal.

Jacob David Blinder








Todas as cores


Do Blog CRÔNICAS DO MOTTA

Um dos últimos bastiões da "elite" do Brasil começa, lentamente, a respirar ares contemporâneos: o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, assinou portaria que institui a reserva de vagas para candidatos negros no concurso de admissão à carreira de diplomata, realizado pelo Instituto Rio Branco.
A diplomacia brasileira é, historicamente, local reservado à "elite" do país e, como se sabe, a nossa "elite" tem pele bem clarinha. Com a medida, o Itamaraty pode, dentro de algum tempo, ser de fato uma instituição representativa do Brasil. Por enquanto, os estrangeiros que conhecem o país apenas pelos seus diplomatas têm a impressão que ele é um enclave europeu na América do Sul.
Segundo a nova regra, que valerá para o concurso do primeiro semestre do ano que vem, serão abertas 30 novas vagas para negros que passarem para a segunda fase. Atualmente, 300 candidatos são classificados para a segunda etapa de provas. Agora, 330 participarão dessa fase, sendo 30 deles negros.
Ao todo, o concurso é composto de quatro etapas. A primeira é de múltipla escolha. Na segunda etapa, é aplicada uma prova de português e, na terceira, questões dissertativas sobre vários assuntos. A última prova é de línguas.
A portaria assinada pelo ministro Celso Amorim dá continuidade ao Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco, iniciado em 2002, que concede bolsas de estudo a candidatos afrodescendentes, com o objetivo de auxiliar na sua preparação para o exame de admissão ao instituto. Até o momento, 198 candidatos negros foram beneficiados pelas bolsas de estudo, dentre os quais 16 foram aprovados no concurso de admissão à carreira de diplomata.
De acordo com o Itamaraty, no primeiro semestre, deverão ser chamados para o curso de formação de diplomatas 26 candidatos que passaram nas quatro fases do último concurso.