sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Friedman: A corrida tecnológica entre EUA e China

EUA podem perder corrida ambiental e tecnológica para a China

The New York Times (reproduzido no UOL)

Thomas L. Friedman

em Hong Kong

C.H. Tung, o primeiro chefe do executivo nomeado pela China após a transferência de soberania em 1997, fez um resumo de três frases da história econômica moderna do país: "A China estava dormindo durante a Revolução Industrial; estava começando a despertar durante a Revolução da Tecnologia da Informação e pretende participar integralmente da Revolução Verde."

Dá para ver. Visitando a China hoje, estou mais convencido do que nunca que, quando os historiadores olharem para o final da primeira década do século 21, vão dizer que a coisa mais importante a acontecer não foi a Grande Recessão, mas o Grande Salto Chinês. Os líderes em Pequim claramente compreendem que a revolução da Tecnologia Energética (TE) é tanto uma necessidade quanto uma oportunidade e não pretendem perdê-la.

Nós, por outro lado, vamos nos concentrar no Afeganistão.

Está certo, este foi um golpe baixo. Vamos então analisar o seguinte: Andy Grove, co-fundador da Intel, gostava de dizer que as empresas atingem "pontos de inflexão estratégicos", quando os fundamentos de um negócio mudam e então, ou a empresa faz uma decisão dura de investir em um momento difícil e assim assume um caminho mais promissor, ou não faz nada e murcha. O mesmo é verdade para os países.

Os EUA estão em tal ponto de inflexão estratégico. Ou instauramos um preço para as emissões de carbono e os incentivos corretos para assegurar que os EUA sejam o principal competidor/parceiro da China na revolução da TE, ou gradualmente vamos perder essa indústria para Pequim, e os bons empregos e a segurança energética irão com ela.

Será que o presidente Barack Obama vai terminar a reforma da saúde e depois colocar de lado a legislação pendente de energia -e o preço do carbono- que o Congresso já aprovou, para chegar ao meio do mandato sem que os republicanos gritem "novos impostos"? Ou vai aproveitar o momento antes das eleições legislativas do meio de seu mandato -possivelmente sua última oportunidade para reunir a maioria no Senado, inclusive alguns republicanos, para adotar um imposto sobre o carbono -e instalar um verdadeiro movimento americano para a inovação em energia limpa e em segurança energética?

Eu fiquei chocado quando soube do volume de projetos de energia eólica, solar, nuclear e de transporte de massa e de queima de carvão mais eficiente que brotaram na China apenas no ano passado.

Este foi o email de Bill Gross, que dirige a eSolar, uma empresa promissora de energia solar e térmica da Califórnia: No sábado, em Pequim, ele anunciou "o maior acordo solar térmico de todos os tempos. É de 2 gigawatt, US$ 5 bilhões (em torno de R$ 10 bilhões) para construir usinas na China usando nossa tecnologia da Califórnia. A China está sendo ainda mais agressiva do que os EUA. Pedimos um empréstimo para um projeto de 92 megawatt no Novo México e, em menos tempo do foi necessário para vencer o primeiro estágio da análise do pedido, a China assinou, aprovou e está pronta para iniciar a construção neste ano de um projeto 20 vezes maior!"

Sim, a mudança climática é uma preocupação para Pequim. Além disso, seus líderes sabem que o país está no meio da maior migração da população rural para centros urbanos na história da humanidade. Isso está criando um pico na demanda de energia, que a China está determinada a suprir com fontes mais limpas e produzidas no país, para que sua economia no futuro seja menos vulnerável a choques de fornecimento e não polua até a morte.

Só no último ano, apareceram tantos novos fabricantes de painéis de energia solar na China que o preço da energia solar caiu de US$ 0,59 por quilowatt hora para US$ 0,16, de acordo com Keith Bradsher, chefe do escritório do "The Times" em Hong Kong. Enquanto isso, a China na semana passada testou o trem bala mais rápido do mundo -350 km por hora- de Wuhan para Guangzhou. Como observou Bradsher, a China "quase terminou a construção da rota de trem de alta velocidade de Pequim a Xangai a um custo de US$ 23,5 bilhões (em torno de R$ 47 bilhões). Os trens vão cobrir o percurso de 1.120 km em apenas 5 horas, o que atualmente leva 12 horas. Em comparação, os trens da Amtrak exigem ao menos 18 horas para cobrir distância similar de Nova York a Chicago."

A China também está envolvida na expansão nuclear mais rápida do mundo. Deve construir 50 novos reatores nucleares até 2020; o resto do mundo combinado talvez construa 15.

"Até o final desta década, a China estará dominando a produção global de todo tipo de equipamento energético", disse Andrew Brandler, diretor executivo do CLP Group, o maior fornecedor de energia elétrica de Hong Kong.

No processo, a China também vai tornar as tecnologias energéticas mais baratas para si e para todos os outros. Até mesmo os especialistas chineses dizem que isso pode acontecer mais rápido e mais eficazmente se a China e os EUA trabalharem juntos -com os EUA se especializando em pesquisa e inovação, áreas que ainda são fracas na China, assim como em investimentos conjuntos e serviços para as tecnologias limpas, e a China se especializando em produção em massa.

Este é um ponto de inflexão estratégico. Está claro que os EUA se importam com a segurança energética, prosperidade econômica e qualidade do meio ambiente, precisam implementar um preço para o carbono de longo prazo que fomente e recompense a inovação em energia limpa. Não podemos nos dar ao luxo de cochilar com a China bem acordada e revigorada.

Tradução:
Deborah Weinberg

Do blog Vi o Mundo

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O que São Paulo inspira


por Eduardo Guimarães, blog Cidadania.com

Hoje, 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, as pessoas lerão textos bonitos e romanceados nos jornais e na internet. Também haverá lamentos e denúncias pela dramática situação da cidade neste mês de janeiro, com inundações que já causam uma crise humanitária por aqui, com milhares de desabrigados e vários mortos.
A este texto caberá missão mais modesta. Qual seja, a de tentar captar o que São Paulo inspira em seus habitantes para que metade deles almeje mudar de cidade – e, ainda assim, não o faça – e a outra metade nem cogite buscar uma qualidade de vida melhor.
Neste ano, essa incoerência dos paulistanos parece maior porque os problemas que as chuvas causam anualmente nesta cidade, aumentaram. As águas estão invadindo as casas sem distinção de etnia e classe social.
Diante da democratização da catástrofe, a mídia, que quando o prefeito e o governador são “amigos” limita-se a atribuir a tragédia das águas a São Pedro e às “administrações passadas”, vem pesando a mão contra o prefeito e ousando criticar o incriticável midiático da política nacional, o governador Serra.
Esse fenômeno acontece porque o apoio do topo da pirâmide social paulistana e da mídia paulista a qualquer governo que se proponha a impedir distribuição de renda, de oportunidades e o uso de dinheiro público para melhorar a infra-estrutura das combalidas periferias da capital, finalmente começa a mostrar como é daninho a todos.
Hoje, completando 456 anos, São Paulo é uma cidade que inspira medo em seus habitantes. Foi isso o que captei no decorrer deste mês, quando passei a estimular qualquer interlocutor daqui a mostrar o que sente sobre nossa cidade.
Descobri, então, que tememos São Paulo, mas, enlouquecidos por um vírus midiático que nos impede de cobrar as autoridades pelo que não têm feito, mergulhamos num conformismo insano, doentio, patético, culpando a nós mesmos pelo que as autoridades não fazem. É uma coisa maluca. Só ouvindo os paulistanos para crer.
Se você não é de São Paulo e acha que estou exagerando, pergunte a qualquer paulistano que conheça se ele se disporia a atravessar a cidade num fim de tarde, ou mesmo a ir a um bairro um pouco mais distante. Pode ser de carro ou de transporte público, tanto faz.
Também pergunte a algum paulistano o que acha de passear por São Paulo de madrugada ou de transportar algum valor pela rua ou de encarar algum hospital público ou de pôr ou ter o filho numa escola pública paulista ou paulistana. Ou pergunte a um de nós o que faz quando começa a chover, estando em casa – saímos desligando aparelhos eletrodomésticos, porque a luz certamente acabará.
O sentimento que brota do paulistano por meio de uma entrevista como essa que propus no parágrafo anterior, é o medo. Temos medo de sair às ruas de nossa cidade e de usar seus serviços públicos. Sobre nós, paira sempre uma angustia, um sentimento de que algo terrível está por acontecer.
Esse sentimento intensificou-se durante o último ano. A crise econômica internacional coincidiu com governos da cidade e do Estado de São Paulo que se pautam por uma ideologia caduca quanto ao papel do Estado, achando que ele deve se omitir mesmo nos momentos nos quais deve induzir em vez de se deixar levar.
Os cortes de gastos que as administrações da capital e do Estado de São Paulo fizeram sob desculpa da crise agravaram sobremaneira a situação de uma cidade que precisava manter os investimentos sobretudo em obras contra enchentes, pois estas produzem verdadeiras catástrofes quando fogem ao controle.
Alguns meses de deliberadas redução na coleta de lixo e economia no desassoreamento do rio Tietê provocaram um aumento escandaloso das enchentes, fazendo as águas chegarem aos bairros dos ricos, que já intuem que essa mentalidade administrativa dos tucanos e pefelês é, de fato, uma ameaça.
Uma cidade que inspira medo, portanto. Essa é a São Paulo de 2010. E tudo por obra e graça do preconceito, do egoísmo e da ignorância, desses sentimentos menores que colocaram totais despreparados no comando de administrações complexas como são a Prefeitura e o governo de São Paulo.

De cidadãos a prisioneiros

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Democracy in America Is a Useful Fiction

por Chris Hedges*, no
Common Dreams, por sugestão do Marco Aurélio

As forças corporativas, bem antes da decisão da Suprema Corte no processo Cidadãos Unidos vs. Comissão Eleitoral Federal [nessa decisão, a maioria da Suprema Corte dos Estados Unidos reduziu os limites para as doações financeiras das corporações no processo político], deram um golpe de estado em câmera lenta. O golpe acabou. Perdemos. A decisão é apenas mais uma tentativa judicial de reduzir os mecanismos de controle corporativo. Expõe o mito de uma democracia em funcionamento e o triunfo do poder corporativo. Mas não altera o quadro politico. O estado corporativo está firmemente cimentado em seu lugar.

A ficção da democracia permanece útil, não apenas para as corporações, mas para nossa classe liberal falida. Se a ficção for seriamente desafiada, os liberais serão forçados a considerar a resistência, o que não será prazeiroso, nem fácil. Enquanto a fachada democrática existir, os liberais podem se engajar em posturas morais vazias que requerem pequeno sacrifício ou compromisso. Eles podem ser os líderes auto-indicados do Partido Democrata, agindo como se fossem parte do debate e se sentindo vingados com seus gritos de protesto.

Muito do protesto expresso sobre a decisão da Suprema Corte é ultraje daqueles que preferem essa coreografia. Enquanto ela existir, eles não precisam se preocupar em como combater o que o filósofo político Sheldon Wolin chama de nosso sistema de "totalitarismo invertido".

Ele representa "a chegada ao período do poder corporativo e da desmobilização política da cidadania", escreveu Wolin em seu livro Democracia Inc. O totalitarismo invertido difere das formas clássicas de totalitarismo, que giram em torno de um líder demagógico ou carismático, e encontra sua expressão no anonimato do estado corporativo.

As forças corporativas por trás do totalitarismo invertido não fazem como os movimentos totalitários clássicos, que anunciam a substituição de estruturas decadentes por estruturas revolucionárias. O totalitarismo invertido supostamente honra a política eleitoral, a liberdade e a Constituição. Mas faz isso de forma tão corrupta e manipuladora das ferramentas do poder que torna a democracia impossível.

Totalitarismo invertido não é conceituado como uma ideologia, nem é tema de políticas públicas. Ele avança através de "autoridades e cidadãos que muitas vezes parecem não se dar conta das consequências de suas ações ou inações", Wolin escreve. Mas é tão perigoso quanto as formas clássicas do totalitarismo. Em um sistema de totalitarismo invertido, como a decisão da Suprema Corte ilustra, não é necessário reescrever a Constituição, como regimes fascistas ou comunistas fazem. É suficiente explorar os meios de poder legítimos através da interpretação legislativa ou judicial.

Essa exploração assegura que grandes contribuições de campanha das corporações sejam protegidas como "direito de expressão" sob a Primeira Emenda. Assegura que os lobbys organizados e pesadamente financiados das grandes corporações sejam interpretados como direito da população de peticionar ao governo. Aqueles que dentro das corporações cometem crimes podem evitar a cadeia pagando grandes somas de dinheiro ao governo enquanto, de acordo com a interpretação judicial, não "admitem qualquer crime". Existe uma palavra para isso. É chamado corrupção.

As corporações tem 35 mil lobistas em Washington e milhares mais em capitais estaduais para dar dinheiro para formatar e escrever leis. Eles usam os chamados comitês de ação política para obter de seus empregados e acionistas dinheiro para dar a candidatos amigáveis. O setor financeiro, por exemplo, gastou mais de 5 bilhões de dólares em campanhas políticas, exercício de influência ou lobistas na década passada, o que resultou em profunda desregulamentação, o furto de consumidores, o derretimento financeiro global e a pilhagem subsequente do Tesouro dos Estados Unidos.

Os Fabricantes e Pesquisadores Farmacêuticos dos Estados Unidos gastaram 26 milhões de dólares no ano passado e companhias como a Pfizer, Amgen e Eli Lilly deram dezenas de milhões mais para comprar os dois partidos. Essas corporações fizeram da assim chamada reforma do sistema de saúde uma lei que vai nos forçar a comprar produtos defeituosos e predatórios.

A indústria de gás e petróleo, a indústria do carvão, os empreiteiros da Defesa e as companhias de telecomunicações bloquearam a busca por energia sustentável e orquestraram a constante erosão das liberdades civis. Políticos defendem as corporações e promovem atos superficiais de teatro político para manter a ficção de que o estado democrático está vivo.

Não existe instituição nacional que possa ser caracterizada de democrática. Os cidadãos, em vez de participar do poder, podem ter opiniões virtuais sobre questões pré-determinadas, uma forma de fascismo participativo tão sem sentido quando votar no "American Idol". Emoções de massa são dirigidas para as chamadas "guerras culturais". Isso nos permite assumir posições emocionais em questões que são inconsequentes para a elite política.

Nossa transformação em um império, como aconteceu com Atenas e Roma, viu a tirania que praticamos no estrangeiro se transforma na tirania que praticamos em casa. Nós, como todos os impérios, fomos destruídos pelo nosso próprio expansionismo. Nós utilizamos armas de terrível poder destruidor, subsidiamos o desenvolvimento delas com bilhões em dinheiro do contribuinte e somos os maiores vendedores de armas do mundo. E a Constituição, como Wolin nota, é usada "para servir aos aprendizes do poder, não como sua consciência".

"O totalitarismo invertido inverte as coisas", Wolin escreve. "É política o tempo todo mas largamente despotilizada. Disputas partidárias são ocasionalmente apresentadas em público e há constante disputa política entre facções de partidos, grupos de interesse, competidores corporativos e grupos de mídia rivais. E há, naturalmente, o momento culminante das eleições nacionais, quando a atenção da Nação é exigida para fazer a escolha entre personalidades em vez de entre alternativas de poder. O que está ausente é o político, o compromisso de encontrar onde fica o bem comum no meio dos interesses bem financiados, altamente organizados e que com determinação buscam favores governamentais, e com um mar de dinheiro vivo a subversão das práticas do governo representativo e da administração pública".

Hollywood, a indústria de notícias e a televisão, todas controladas por corporações, se tornaram instrumentos do totalitarismo invertido. Eles censuram ou fazem ridículo daqueles que criticam ou desafiam as estruturas corporativas. Eles saturam as ondas com controvérsias fabricadas, seja [o escândalo envolvendo o golfista] Tiger Woods ou a disputa entre [os apresentadores de TV] Jay Leno e Conan O'Brien.

Eles manipulam imagens para nos fazer confundir o que sentimos com conhecimento, que foi como Barack Obama se tornou presidente. E o controle interno empregado pelo Departamento de Segurança da Pátria, os militares e a polícia sobre qualquer forma de dissidência interna, junto com a censura da mídia corporativa, faz pelo totalitarismo invertido o que bandidos e as fogueiras de livros fizeram pelos regimes totalitários clássicos.

"Parece um replay da experiência histórica que a distorção praticada pela mídia de hoje tenha como alvo consistente as sobras do liberalismo", Wolin escreveu. "Faz-me lembrar que um elemento comum do totalitarismo do século 20, seja Fascismo ou Stalinismo, era a hostilidade em relação à esquerda. Nos Estados Unidos, a esquerda é considerada espaço exclusivo de liberais, ocasionalmente a "ala esquerda do Partido Democrata", nunca de democratas".

Liberais, socialistas, sindicalistas, jornalistas e intelectuais independentes, muitos dos quais um dia foram vozes importantes de nossa sociedade, foram silenciados ou foram alvo de eliminação dentro da academia controlada pelas corporações, dentro da mídia e do governo. Wolin, que foi professor em Berkeley e mais tarde em Princeton, é um dos mais importantes filósofos políticos do país. Ainda assim seu livro foi virtualmente ignorado. Também é por isso que Ralph Nader, Dennis Kucinich e Cynthia McKinney, assim como intelectuais como Noam Chomsky, não fazem parte de nosso discurso nacional.

A uniformidade de opinião é reforçada pelas emoções de massa orquestradas do nacionalismo e do patriotismo, que descrevem os dissidentes como "fracos" ou "não patriotas". O cidadão "patriota", com medo de perder emprego e de possíveis ataques terroristas, dá apoio ao monitoramento indiscriminado e ao estado militarizado. Isso significa não questionar o 1 trilhão de dólares em gastos relacionados à defesa. Isso significa manter as agências militares e de inteligência acima do governo, como se não fizessem parte dele. Os mais poderosos instrumentos do poder e controle estatais foram removidos das discussões públicas.

Nós, como cidadãos imperiais, somos ensinados a desprezar a burocracia governamental, ainda assim ficamos como carneiros diante dos agentes da Segurança da Pátria em aeroportos e ficamos mudos quando o Congresso permite que nossa correspondência e nossas conversas sejam monitoradas e arquivadas. Estamos sob maior controle estatal do que em qualquer outra época da História americana.

A linguagem cívica, patriótica e política que usamos para nos descrever permanece a mesma. Pagamos lealdade aos mesmos símbolos nacionais e iconografia. Encontramos nossa identidade coletiva nos mesmos mitos nacionais. Continuamos a deificar os Pais Fundadores. Mas os Estados Unidos que celebramos é uma ilusão. Não existem. Nosso governo e nosso judiciário não tem soberania. Nossa imprensa oferece diversão, não informação. Nossos órgãos de segurança e poder nos mantém tão domesticados e amedrontados quanto a maioria dos iraquianos. O capitalismo, como entendeu Karl Marx, quando elimina o governo se torna uma força revolucionária. E essa força revolucionária, melhor descrita como totalitarismo invertido, está nos mergulhando em um estado de neo-feudalismo, guerra perpétua e repressão severa. A decisão da Suprema Corte é parte de nossa transformação, pelo estado corporativo, de cidadãos em prisioneiros.

*Chris Hedges escreve para a Truthdig.com. Ele é autor dos livros War Is A Force That Gives Us Meaning, What Every Person Should Know About War e American Fascists: The Christian Right and the War on America. Seu livro mais recente é Empire of Illusion: The End of Literacy and the Triumph of Spectacle.

Do blog do Azenha, Vi o Mundo

domingo, 24 de janeiro de 2010

Bill Quigley, do 'Counterpunch': Por que os EUA têm uma imensa dívida com o Haiti?


Porque razão os Estado Unidos devem milhares de milhões ao Haiti

Estamos em dívida para com o Haiti. Não é caridade, mas sim uma questão de justiça. Os EUA devem milhares de milhões ao Haiti - com M grande.

Por Bill Quigley, Counterpunch

Porque os Estados Unidos devem milhares de milhões ao Haiti? Collin Powell, ex-secretário de Estado dos EUA, afirmou que a sua visão de política externa é como «a regra da loja de louças». Ou seja, «se partes, pagas».

Os EUA têm-se esforçado por partir o Haiti há mais de 200 anos. Nós estamos em dívida para com o Haiti. Não é caridade. Estamos em dívida por uma questão de justiça. Compensações. E também não são os 100 milhões prometidos pelo presidente Obama - isso é dinheiro de Toto-loto. Os EUA devem milhares de milhões ao Haiti - com M grande.

Os EUA têm-se esforçado por estragar o Haiti há séculos. Usaram o Haiti como uma plantação. Ajudaram a sangrar o país economicamente desde que ele se libertou, invadiram-no repetidamente, apoiaram ditadores que abusaram do povo, usaram o país como uma lixeira para nossa própria vantagem económica, arruinaram-lhe as estradas e a agricultura e derrubaram titulares de cargos eleitos popularmente. Os EUA usaram até o Haiti como um velho dono de plantação e esgueiraram-se até lá repetidamente para recreação sexual.

Eis a mais breve história de alguns dos maiores esforços para estragar o Haiti.

Em 1840, quando o Haiti conseguiu libertar-se da França na primeira revolução de escravos bem sucedida no mundo, os EUA recusaram-se a reconhecer o país. Os EUA continuaram a recusar o reconhecimento do Haiti por mais 60 anos. Porquê? Porque continuaram a escravizar milhões dos seus próprios cidadãos e temiam que reconhecer o Haiti pudesse encorajar uma revolução de escravos nos EUA.

Depois da revolução de 1840, o Haiti foi sujeito a um embargo económico mutilador pela França e pelos EUA. As sanções dos EUA duraram até 1863. A França acabou por usar o seu poder militar para forçar o Haiti a pagar compensações pelos escravos que eram libertados. As compensações foram de 150 milhões de francos. (A França vendeu todo o território da Luisiana aos EUA por 80 milhões de francos!)

O Haiti foi forçado a pedir dinheiro emprestado a bancos da França e dos EUA para pagar compensações à França. Um grande empréstimo dos EUA para pagar aos franceses foi finalmente liquidado em 1947. O valor corrente do dinheiro que o Haiti foi forçado a apagar aos bancos de França e EUA? Mais de 20 milhares de milhões - com M grande.

Os EUA ocuparam e governaram o Haiti pela força de 1915 a 1934. O presidente Woodrow Wilson enviou tropas para o invadir em 1915. Revoltas de haitianos foram abatidas pelo exército dos EUA - matando mais de 2000 numa só escaramuça. Durante os dezenove anos seguintes os EUA controlaram as alfândegas no Haiti, recolheram impostos, e dirigiram muitas instituições governamentais. Quantos milhares de milhões os EUA bombearam durante estes 19 anos?

De 1957 a 1986, o Haiti foi forçado a viver sob os ditadores apoiados pelos EUA "Papa Doc" e "Baby Doc" Duvalier. Os EUA apoiaram estes ditadores económica e militarmente porque faziam o que os EUA queriam e eram politicamente «anti-comunistas» - agora traduzível por ser contra os direitos humanos do seu povo.

Duvalier roubou milhões do Haiti e acumulou centenas de milhões em dívida que o Haiti ainda tem. Estimativas apontam para que o Haiti tenha 1,3 bilhões de dólares em dívida externa e que 40% dessa dívida tenha sido acumulada pelos Duvalier apoiados pelos EUA.

Há 30 anos o Haiti não importava arroz. Hoje o Haiti importa quase todo o seu arroz. Embora o Haiti fosse a capital da cultura de cana das Caraíbas, hoje importa açúcar também. Porquê? As organizações financeiras mundiais dos EUA e dominadas pelos EUA - o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial - forçaram o Haiti a abrir os seus mercados ao mundo. Então os EUA despejaram milhões de toneladas de arroz e açúcar subsidiados no Haiti - rebaixando os preços dos lavradores e arruinando a agricultura do país. Ao fazê-lo, os EUA forçaram o Haiti a ser o terceiro maior mercado de arroz dos EUA. Bom para os EUA, mau para o Haiti.

Em 2002 os EUA retiveram centenas de milhões de dólares de empréstimos ao Haiti que deviam ser usados, entre outros projectos públicos, com educação, estradas. São estas mesmas estradas que as equipes de salvamento têm tido tantos problemas em cruzar agora.

Em 2004 os EUA de novo destruíram a democracia no Haiti quando apoiaram o golpe contra Aristide, o presidente eleito do país.

O Haiti é até usado para recreação sexual, como as plantações dos velhos tempos. Verifiquem as notícias com cuidado e vão encontrar inúmeras histórias de abuso de menores por missionários, soldados e empregados de organizações de beneficência. E ainda há as férias sexuais frequentes feitas no Haiti por pessoas dos EUA e doutros lados. Quanto se deve por isso? Que valor atribuiriam a isso se fossem os vossos irmãos e irmãs?

As grandes empresas dos EUA têm vindo a emparceirar ao longo de anos com a elite haitiana para dirigir fábricas escravizantes onde fervilham dezenas de milhares de haitianos que ganham menos de 2 dólares por dia.

O povo haitiano tem resistido ao poder económico e militar dos EUA e doutros logo desde a independência. Como todos nós, os haitianos também cometeram os seus erros. Mas o poder dos EUA forçou os haitianos a pagar preços elevados - mortes, dívida e abusos.

É tempo de o povo dos EUA se juntar aos haitianos e inverter o curso das relações EUA-Haiti.

Esta breve história mostra porque razão os EUA devem milhares de milhões ao Haiti - com M grande. Isto não é caridade. Isto é justiça. Isto são compensações. A crise corrente é uma oportunidade para o povo nos EUA se assumir como tendo de pagar pela nossa história de dominação do Haiti e para dar uma resposta verdadeiramente justa.

(Para ver mais sobre a exploração do Haiti pelos EUA: Paul Farmer, «The uses of Haiti»; Peter Hallward, «Damning the flood»; and Randall Robinson, «An unbroken agony»).

Bill Quigley é Legal Director do Center for Constitutional Rights e professor de Direito na Loyola University de Nova Orleães. É um sobrevivente do Katrina e tem estado activo pelos direitos humanos no Haiti ao longo de anos no Institute for Justice and Democracy no Haiti. Pode ser contactado em duprestars@yahoo.com


Obs: Para ler outros textos sobre a situação atual do Haiti, clique nos links abaixo:

1) A revolução escrava do Haiti

http://www.esquerda.net/content/view/15036/121/

2) Herança da mais brutal exploração colonial da história

http://www.esquerda.net/content/view/15000/121/

3) Ajuda humanitária ou ocupação militar?

http://www.esquerda.net/content/view/15039/121/

4) História de um Holocausto

http://www.esquerda.net/content/view/15012/121/

5) A Economia Política do desastre no Haiti

http://www.esquerda.net/content/view/15038/121/

6) Defender a democracia

http://www.esquerda.net/content/view/15033/121/

7) E o futuro do Haiti?

http://www.esquerda.net/content/view/15034/121/

8) As Empresas de "Segurança" dos EUA oferecem "serviços"

http://www.esquerda.net/content/view/15032/121/

9) "Agora só há um lugar seguro para os bandidos: o céu"

http://www.esquerda.net/content/view/15016/121/

Da Agência Carta Maior

O triunfo neoliberal e os desafios do FSM

O triunfo do neoliberalismo continua sendo enormemente rentável para uma minúscula minoria, a mesma que é servida pelos governos do G-20. Eles não demonstram sinal algum de estarem fazendo algo sério contra as vontades dos bancos. Se imaginarmos a organização do mundo como uma série de círculos concêntricos ou esferas, o primeiro e mais influente de todos é certamente o das Finanças, agora totalmente divorciado da economia real. Os desafios para o FSM e para aqueles que são parte dele em espírito, de maneira consciente ou não, é reverter a ordem desses círculos. A análise é de Susan George.

Ainda que as reuniões do Fórum Social Mundial sejam sempre ocasiões marcadas pela esperança, nenhum de nós encontrará razão para celebrar quando olharmos para o ano que passou. O ponto alto foi a Catástrofe de Copenhague – cujo resultado trouxe péssimas perspectivas para a raça humana – mas ele também testemunhou duas reuniões do G-20 pavorosamente convencionais, cujo claro objetivo era voltar ao modo de negociação anterior, no menor tempo possível. A solução do G-20 consistiu em salvar o FMI da extinção oferecendo o equivalente a $750 bilhões em dinheiro de contribuintes sem impor absolutamente nenhuma condição. Desta maneira, o Fundo, mais uma vez, está livre para impor drásticas políticas de ajuste estrutural. Houve uma breve tempestade sobre os paraísos fiscais, mas o G-20 fez todo o possível para que nenhum deles precisasse se preocupar com as ridículas declarações de que não havia mais país algum na lista negra da OCDE.

Enquanto isso, os bancos, ressuscitados por seus respectivos governos voltaram imediatamente ao seu antigo modo de operação. Os trilhões em dinheiro de contribuintes foram devolvidos, mas isso não significa que alguma coisa mudará para melhor. Haverá, talvez, algumas poucas mudanças regulatórias de menor importância, mas claramente nenhuma reforma nos moldes das restrições determinadas pelo ato de “Glass Steagal” será imposta às principais instituições financeiras que permanecem grandes demais para falir, mas não para não serem salvas por seus governos. O sistema bancário dos Estados Unidos gastou mais de cinco bilhões de dólares fazendo lobby para se livrar de uma dúzia de regulamentações. A crise financeira foi o resultado direto destes esforços.

No início de 2009, os especialistas que quase universalmente falharam em prever o desastre financeiro ofereceram a débil e falsa justificativa na qual afirmavam que “ninguém seria capaz de prevê-lo”. No fim do mesmo ano, eles também unanimemente declararam que “a crise havia chegado ao fim”. Nada disso é verdade: muitas pessoas previram a crise, mas não foram ouvidas; a crise não terminou sob parâmetro algum, exceto pelo parâmetro do mercado de ações parcialmente recuperado. Os bancos, entretanto, vão muito bem, obrigado – em novembro de 2009, o Goldman Sachs angariou $100 milhões por dia, segundo suas próprias declarações.

Com o G-20 oficialmente substituindo o G-7/8, poderíamos nos perguntar se a presença dos BRICs faria alguma diferença em relação aos resultados. Agora já sabemos. Aparentemente, os recém chegados estão tão agradecidos por estarem sentados na mesma mesa que o grupo dos mais experientes que ofereceram garantias implícitas de não causarem maiores problemas. Os 172 países que não estavam presentes podem esperar pouco ou nada desta nova configuração e se estes precisavam de confirmação para sua insignificância, Copenhague providenciou isso com toda clareza possível.

Nunca subestime os poderes da inovação financeira: Agora que foram verdadeiramente salvos, os bancos estão vendendo um novo produto, estruturado exatamente da mesma maneira que os empréstimos sub-prime: os CDOs ou “obrigações de dívida colateralizada”, também conhecidos como obrigações de dívida com garantia”. Ao invés de comprarem milhares de empréstimos sub-prime, embrulhá-los e vendê-los para clientes por todo o mundo, os bancos agora compram apólices de seguro de pessoas velhas e com doenças crônicas com enormes descontos sendo cuidadosos ao incluírem uma mistura de doenças – AIDS, Alzheimer, câncer, diabetes e outros, empacotando e vendendo aos investidores uma perspectiva de morte breve e ganhos vultosos quando a empresa seguradora pagar a quantia devida. Até o momento, a morte ainda não era realmente uma mercadoria negociável, mas esse equívoco já foi remediado.

Sob nenhum padrão a não ser os utilizados pelos bancos e mercados de ações, a crise encontra-se superada. O desemprego aumentou enormemente assim como o trabalho precário. As desigualdades nunca foram tão grandes entre os países ou dentro deles. Os bancos não estão emprestando para pequenos e médios negócios, que estão falindo. O enorme aumento no preço dos alimentos, que em 2008 mergulhou 100 milhões de pessoas na fome crônica foi causado, em grande parte, pela substituição das lavouras de alimentos por lavouras de agrocombustível nos Estados Unidos e Europa e, acima de tudo, pela especulação dos mercados de commodities. Estes escandalosos aumentos de preços arrefeceram no decorrer daquele ano, mas em 2009 começaram novamente a subir e continuam sua ascensão. Participantes do FSM conhecem todas essas questões muito bem e eu não usarei meu limitado espaço para trabalhar essa questão.

As conclusões que podemos tirar do lamentável estado em que se encontra a economia me parecem ser as seguintes: o triunfo do neoliberalismo continua sendo enormemente rentável para uma minúscula minoria, a mesma que é servida pelos governos do G-20. Eles não demonstram sinal algum de estarem fazendo algo sério contra as vontades dos bancos. Se imaginarmos a organização do mundo como uma série de círculos concêntricos ou esferas, o primeiro e mais influente de todos é certamente o das Finanças, agora totalmente divorciado da economia real. Mais de 80 por cento das atividades relacionadas aos empréstimos financeiros vão para o próprio setor financeiro e não para a produção, distribuição e consumo de fato.

O próximo círculo é a Economia, livre para ir onde o custo do trabalho e dos impostos forem os mais baixos. Juntos, as Finanças e a Economia regulam a Sociedade e ditam como ela precisa ser organizada. Esta, claramente, não está organizada para satisfazer as necessidades dos cidadãos. Finalmente, e menos importante que o resto no presente cenário está o Meio Ambiente. Copenhague provou mais uma vez que o menor e menos importante círculo permanece sendo o lugar de onde tiramos nossa matéria prima, incluindo o petróleo, gás e carvão e onde despejamos nosso lixo.

Os desafios para o FSM e para aqueles que são parte dele em espírito, de maneira consciente ou não, é reverter a ordem desses círculos ou esferas para que o Meio Ambiente seja visto como deveria ser – a condição para a possibilidade de continuidade de existência humana e da civilização.

Precisamos obedecer às restrições colocadas sobre nós pelo planeta porque não podemos fazer diferente e esperar sobreviver. Em seguida vem a Sociedade, democraticamente organizada de maneira que as necessidades básicas sejam reconhecidas e satisfeitas, serviços públicos sejam oferecidos de maneira automática e natural, oportunidades de emprego aumentem e desigualdades diminuam. A Economia precisa ser organizada para satisfazer as demandas da sociedade, com empresas de tipo substancialmente mais cooperativo. O mercado permanece um aspecto importante e funciona de acordo com as forças tradicionais de oferta e demanda, porque mercados podem ser eficientes e promover inovação contanto que sejam regulados. Um planejamento central à la Sovietique não é necessário, mas o gasto governamental planejado de maneira precisa pode ser usado para promover o desenvolvimento de atividades e indústrias específicas, em especial as “verdes”. Finalmente, as Finanças são uma ferramenta a serviço da economia, e não sua chefe.

Esta é a estrutura geral que, acredito, deva ser ambicionada pelo FSM. Tenho muitas propostas concretas a partir das quais poderia trabalhar:

- Nacionalização e socialização, ao menos parcial, de quaisquer bancos que recebam dinheiro público, obrigando-os a emprestar a juros zero para pequenas e médias empresas sociais/verdes, de modo a acelerar a conversão desta para uma economia de energia renovável e administração cooperativa.

- Projetos Keynesianos de infraestrutura verde para a criação de empregos financiados através da emissão de títulos de créditos especiais (na Europa isso significaria mudar a natureza do Banco Central Europeu)

- Iniciar o debate sobre limitação de renda: se a pessoa com o menor salário recebe uma quantia equivalente a 100, qual deveria ser o teto para o mais bem pago? 500?1000?10.000? Temos incontáveis estudos sobre os pobres, mas não sobre os ricos.

- Campanhas internacionais sobre paraísos fiscais. Idem para taxação internacional, incluindo impostos sobre transações financeiras de qualquer tipo, com a prerrogativa de serem usados, ao menos parcialmente, para financiar medidas de mitigação das mudanças climáticas em países pobres. Restabelecer os impostos sobre fortunas particulares abolidos pelo neoliberalismo e usá-los para financiar serviços públicos.

- Um sistema de contabilidade internacional que revele e, portanto, exclua a evasão de preços de transferência e repatriação de capital por corporações transnacionais.

-Restabelecimento (ou, na Europa, introdução) da separação de funções bancárias do tipo Glass-Steagal, com o crédito sendo considerado como bem público (e naturalmente sujeito às regras de precaução). Restabelecimento de diversas medidas regulatórias, particularmente sobre o mercado de commodities, que foram abolidas nos últimos 10 ou 15 anos.

- Cancelamento de débitos em troca de reflorestamento e bio-conservação para os países menos desenvolvidos.

O único benefício gerado em Copenhague foi o estabelecimento de relações mais sólidas entre os movimentos sociais e os responsáveis pelas campanhas ambientais: eles parecem agora, finalmente entender que não podem vencer separadamente. O FSM precisa trabalhar para fortalecer e aprofundar esta aliança e tentar descobrir e incluir neste grupo também as organizações que trabalhem com questões ligadas à paz e conflitos.

Eu ainda acredito que o FSM deva trabalhar em prol de um dia anual de protesto e propostas em todos os países nos moldes das manifestações de 15 de Fevereiro de 2003 contra a invasão do Iraque. Um tema comum, amplo, com um título fácil (como Empregos, Justiça, Clima…) e muitas idéias vindas de todas as partes do mundo preparadas para chamar atenção para ações originais, atraentes para a TV, que qualquer um pode empreender com o mínimo de equipamento. Todos os jornalistas que eu encontro começam dizendo que o movimento está morto. Certamente ele não está visível e podemos ter perdido uma excelente oportunidade em 2009. Eu gostaria de pensar que 2010 pode ser melhor, mais focado, mais cheio de energia, com mais propósito – e que podemos começar a vencer, para variar.

Susan George é licenciada em filosofia pela Sorbonne e doutora em política pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris). Autora de diversos livros, é dirigente da ATTAC-França (Associação pela Taxação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos) e presidente do conselho de administração do Transnacional Institute (Amsterdã).

Tradução: Adriana Guimarães

Dilma:"O governo do presidente Lula não combina com agressão



Agencia Estado


RIO CLARO - A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse hoje que "gostaria muito de levar os brasileiros ao paraíso", ao ser indagada se assumiria a missão de ser a candidata à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Acho uma das maiores e melhores ambições que podemos ter", afirmou após cerimônia de cessão de uma área pública ao município de Rio Claro, SP, que teve a participação do ministro da Relações Institucionais, Alexandre Padilha, deputados e 25 prefeitos.

Dilma se referia à afirmação do presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), cotado para ser o candidato a vice em eventual chapa PT-PMDB, que pouco antes, em discurso, elogiou a ministra e, numa metáfora, afirmou: "Tomo você como exemplo para dizer que já levou os brasileiros administrativamente ao paraíso e os levará politicamente ao paraíso". Dilma respondeu chamando Temer de "companheiro incansável" na aliança PT-PMDB, que tem sustentado o governo Lula. Citando o Velho Testamento, a expulsão de Adão e Eva do paraíso, Temer havia feito defesa veemente das mulheres. Afirmou que elas não são as responsáveis pela saída do homem do paraíso e sim por trazê-los ao paraíso.

Apesar de admitir a intenção de ser pré-candidata à sucessão de Lula, Dilma afirmou que só poderá responder sobre o tema em 21 de fevereiro, quando termina o encontro nacional do PT que indicará o candidato. Mesmo assim, deixou claro que não concorda e não fará ataques pessoais a eventuais adversários durante o período eleitoral. "O governo do presidente Lula não combina com agressão. Temos projetos. Se elevarem o tom, vamos reduzir. Se alguém fala que vai acabar com programas, assuma as consequências e vamos debater". Durante toda a semana PT e PSDB trocaram insultos. A discussão foi deflagrada no começo da semana, quando Dilma acusou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, de planejar o fim do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Como exemplo de bom nível na campanha eleitoral, a ministra citou máxima do deputado federal Ulisses Guimarães, natural de Rio Claro e que morreu em acidente de helicóptero em 1992. "O doutor Ulisses dizia que não se faz política com o fígado, conservando em geladeira rancor e ressentimento." A ministra disse ainda que não considera que o PMDB ou qualquer partido da base aliada tenha problemas de corrupção. "O arco de alianças", argumentou, "tem uma base social, não de conveniência política".

Sobre as acusações da oposição de que ela e o presidente estariam fazendo campanha antecipada, foi objetiva. Negou o uso da máquina administrativa e considerou "absolutamente legítimo" que o governo inaugure obras que fez. "É muito fácil dizer que a obra (do PAC) não existe a mil quilômetros dela.

PAC 2 - A segunda etapa do PAC 2 mereceu bastante espaço no discurso e os objetivos destacados foram universalizar os serviços de água, construir creches para todas as crianças do Brasil e ampliar o número de Unidades de Pronto Atendimento (UPA). A ministra também voltou a falar da importância dos recursos para macrodrenagem, especialmente nas grandes cidades, que enfrentam problemas de alagamentos, deslizamentos e mortes nestes longos períodos de chuvas.

Em almoço com prefeitos e autoridades, Dilma foi recepcionada por um coro de "Brasil pra frente, Dilma presidente." A ministra vai assinar ainda hoje contratos do PAC com a prefeitura de Limeira,SP.

Do blog O Terror do Nordeste