sábado, 22 de maio de 2010

Os interesses dos impérios e os nossos


Mino Carta*

Ao ler os jornalões na manhã de segunda 17, dos editoriais aos textos ditos jornalísticos, sem omitir as colunas, sobretudo as de O Globo, me atrevi a perguntar aos meus perplexos botões se Lula não seria um agente, ocidental e duplo, a serviço do Irã. Limitaram-se a responder soturnamente com uma frase de Raymundo Faoro: “A elite brasileira é entreguista”.

Entendi a mensagem. A elite brasileira aceita com impávida resignação o papel reservado ao País há quase um século, de súdito do Império. Antes, foi de outros. Súdito por séculos, embora graúdo por causa de suas dimensões e infindas potencialidades, destacado dentro do quintal latino-americano. Mas subordinado, sempre e sempre, às vontades do mais forte.


Para citar eventos recentíssimos, me vem à mente a foto de Fernando Henrique Cardoso, postado dois degraus abaixo de Bill Clinton, que lhe apoia as mãos enormes sobre os ombros, em sinal de tolerante proteção e imponência inescapável. O americano sorri, condescendente. O brasileiro gargalha. O presidente que atrelou o Brasil ao mando neoliberal e o quebrou três vezes revela um misto de lisonja e encantamento servil. A alegria de ser notado. Admitido no clube dos senhores, por um escasso instante.

Não pretendo aqui celebrar o êxito da missão de Lula e Erdogan. Sei apenas que em país nenhum do mundo democrático um presidente disposto a buscar o caminho da paz não contaria, ao menos, com o respeito da mídia. Aqui não. Em perfeita sintonia, o jornalismo pátrio enxerga no presidente da República, um ex-metalúrgico que ousou demais, o surfista do exibicionismo, o devoto da autopromoção a beirar o ridículo. Falamos, porém, é do chefe do Estado e do governo do Brasil. Do nosso país. E a esperança da mídia é que se enrede em equívocos e desatinos.

Não há entidade, instituição, setor, capaz de representar de forma mais eficaz a elite brasileira do que a nossa mídia. Desta nata, creme do creme, ela é, de resto, o rosto explícito. E a elite brasileira fica a cada dia mais anacrônica, como a Igreja do papa Ratzinger. Recusa-se a entender que o tempo passa, ou melhor, galopa. Tudo muda, ainda que nem sempre a galope. No entanto, o partido da mídia nativa insiste nos vezos de antanho, e se arma, compacto, diante daquilo que considera risco comum. Agora, contra a continuidade de Lula por meio de Dilma.

Imaginemos o que teriam estampado os jornalões se na manhã da segunda 17, em lugar de Lula, o presidente FHC tivesse passado por Teerã? Ele, ou, se quiserem, uma neoudenista qualquer? Verifiquem os leitores as reações midiáticas à fala de Marta Suplicy a respeito de Fernando Gabeira, um dos sequestradores do embaixador dos Estados Unidos em 1969. Disse a ex-prefeita de São Paulo: por que só falam da “ex-guerrilheira” Dilma, e não dele, o sequestrador?

A pergunta é cabível, conquanto Gabeira tenha se bandeado para o outro lado enquanto Dilma está longe de se envergonhar do seu passado de resistência à ditadura, disposta a aderir a uma luta armada da qual, de fato, nunca participou ao vivo. Nada disso impede que a chamem de guerrilheira, quando não terrorista. Quanto a Gabeira, Marta não teria lhe atribuído o papel exato que de fato desempenhou, mas no sequestro esteve tão envolvido a ponto de alugar o apartamento onde o sequestrado ficaria aprisionado. E com os demais implicados foi desterrado pela ditadura.

Por que não catalogá-lo, como se faz com Dilma? Ocorre que o candidato ao governo do Rio de Janeiro perpetrou outra adesão. Ficou na oposição a Lula, primeiro alvo antes de sua candidata. Cabe outro pensamento: em qual país do mundo democrático a mídia se afinaria em torno de uma posição única ao atirar contra um único alvo? Só no Brasil, onde os profissionais do jornalismo chamam os patrões de colegas.

Até que ponto o fenômeno atual repete outros tantos do passado, ou, quem sabe, acrescenta uma pedra à construção do monumento? A verificar, no decorrer do período. Vale, contudo, anotar o comportamento dos jornalões em relação às pesquisas eleitorais. Os números do Vox Populi e da Sensus, a exibirem, na melhor das hipóteses para os neoudenistas, um empate técnico entre candidatos, somem das manchetes para ganhar algum modesto recanto das páginas internas.

Recôndito espaço. Ao mesmo tempo Lula, pela enésima vez, é condenado sem apelação ao praticar uma política exterior independente em relação aos interesses do Império. Recomenda-se cuidado: a apelação vitoriosa ameaça vir das urnas.


*Editorial da revista Carta Capital, 21/05.

DataBranda: Dilma sobe sete pontos e empata com Serra

Folha Online

“Pesquisa Datafolha publicada na edição impressa da Folha deste sábado mostra a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, empatada com o adversário tucano José Serra. Nesta última pesquisa, Dilma e Serra aparecem com 37% das intenções de voto, cada um. Marina Silva (PV) aparece com 12%.

A íntegra da reportagem está disponível para assinantes do UOL e do jornal.

Esta é a melhor marca obtida por Dilma, que avançou sete pontos percentuais em relação à pesquisa de abril, quando aparecia com 30% das intenções de voto. Na mesma comparação, Serra perdeu cinco pontos percentuais. Já Marina segue estável com a mesma taxa de intenção de voto.

O levantamento foi realizado ontem e anteontem com 2.660 entrevistados. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.”

Do Blog
"Brasil, mostra a tua cara!"

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Patologia de um fantoche

Do Blog do Provocador
O ex-cineasta Arnaldo Jabor sempre aparece na calada da noite para assustar crianças e democratas com seus olhos e raciocínios esbugalhados. Medo.
Mais feio é o que ele escreve. Ao observar a patologia de suas dejeções literárias, ficam evidentes o oportunismo e a escatologia ideológica desse cidadão.
Do alto de seu ego, em vez de pular e suicidar-se, investe numa retórica de inegável pobreza estilística. Sua literatura arrogante é indigna de reacionários limpinhos como Nelson Rodrigues ou alucinados geniais como Glauber Rocha.
Sem pudor, o Arnaldo limpa os pés nos capachos dos palácios e outorga-se lucidez num país de dementes. Joga suas fichas ensebadas na provocação barata, na autopromoção compulsiva, no servilismo explícito.
Ele sempre encontra um jeito de puxar o saco dos barões e baronetes. FHC, Collor, Serra, Bush, Reagan. Até PC Farias esse homem defendeu. Menos o Lula, parabéns.
Arnaldo somatiza a doença da adesão incondicional ao poder econômico. Em seu maniqueísmo, que alterna forças das trevas e anjos neoliberais, o que não for tucano é lixo, espantalho, judas.
Uiva delírios paranoicos e destila rancor contra quem tenha um projeto para o Brasil diferente do genocídio promovido pelas elites brancas.
Faz de conta que seus aliados não são o que o Brasil formou de mais perverso, arcaico e malévolo nas últimas décadas.
Mártir de si mesmo, Arnaldo morre de medo de perder o emprego que lhe restou. Não há por que se preocupar. Sempre haverá espaço para os escribas do templo que exalem elogios subalternos e lambam as feridas que o poder produz.
PS: Se alguém achou esse post pesado, grosseiro ou sem noção, um conselho: imagine o Jabor lendo isto na TV. No fundo, no fundo, estou prestando uma homenagem.

Rosário: eleitor do Rio rejeita "tucano chiróptero"

Serra, numa demonstração do bom-humor chirópetro, que encanta os eleitores do Rio

Leio, no "Óleo do Diabo", a acuradíssima análise de Miguel do Rosário, sobre a pesquisa Vox Populi no Rio de Janeiro - que mostra a disparada de Dilma frente a Serra, naquele Estado.

Análise acurada, e bem-humorada.

Destaco aqui duas frases:

"Os fluminenses não parecem dispostos a oferecer seus bronzeados pescoços à sanha de tucanos chirópteros."

e

"Merval Pereira já pode se refugiar em alguma pensão para artistas aposentados. Suas ficções perderam a verossimilhança. "

Confira mais detalhes revelados pelo Miguel do Rosário -

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Segundo o Vox Populi, Dilma Rousseff atingiu 38% das intenções de voto no Rio de Janeiro. Em janeiro, ela tinha apenas 28%. O tucano, por sua vez, perdeu 8 pontos, marcando 24%. A verde permanece estacionada em 12%.


3 - INTENÇÃO DE VOTO ESTIMULADA
3.2 - CENÁRIO 2



Este é o cenário 2, apenas com os três principais. No cenário 1, com todos os candidatos prováveis, Dilma tem 35%, Serra 22% e Marina 11%.

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No conjunto da pesquisa, Dilma Rousseff desfruta de uma situação confortável, gozando de uma liderança quase isolada. Na espontânea, desponta com 16%, à frente de Lula, com 10% e de Serra, com 7%. Ela e Lula somados totalizam 26% dos votos, uma distância de 19 pontos de seu principal adversário. E olhe que Serra é mais conhecido que ela no Rio: apenas 2% dos entrevistados afirmaram não conhecer o tucano; 8% admitiram a mesma coisa em relação à Dilma
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Leia, no "Óleo do Diabo", a análise completa - http://oleododiabo.blogspot.com/2010/05/o-redentor-abraca-dilma-rousseff-cabral.html

Do Blog o Escrevinhador

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Altamiro Borges: Limpeza ideológica?

Paulo Nogueira e o macartismo da Folha

por Altamiro Borges, em seu blog

Preparando-se para a guerra eleitoral, a mídia demotucano já iniciou a “limpeza ideológica” nas suas redações. Na semana passada, o Grupo Abriu demitiu o editor da National Geographic do Brasil, Felipe Milanez, que criticou no seu twitter as distorções grosseiras da revista Veja. Agora, é a Folha de S.Paulo que dispensa o economista Paulo Nogueira Batista Junior, atual diretor do Brasil no FMI e um dos poucos colunistas que ainda justifica a leitura deste pasquim golpista.

O argumento usado é risível. A famíglia Frias alegou que “sua coluna é das mais longevas”, só não explicou porque outros antigos colunistas nunca foram molestados. Paulo Nogueira sempre foi um ácido crítico das políticas neoliberais de desmonte do Estado e da nação. Ele nunca deu tréguas aos tucanos colonizados, com seu “complexo de vira-lata”. Na luta de idéias em curso na batalha eleitoral, o economista seria um estorvo para José Serra, o candidato do Grupo Folha.

Relembrando as perseguições de 2006

Para disfarçar a sua política macartista de “caça às bruxas”, a Folha anunciou um novo plantel de colunistas, que inclui o Antonio Palocci. Com isso, ela tenta preservar a falsa imagem de “jornal pluralista”. Mas, como ironiza o jornalista Paulo Henrique Amorim, a jogada é rasteira. “Antônio Malloci, ex-ministro da Fazenda, como se sabe é um notável tucano que eventualmente milita no PT. Paulo Nogueira Batista Junior era um dos últimos vestígios de talento que a Folha exibia… A Folha, com um novo conjunto de ‘colonistas’, aproxima-se cada vez mais da treva sem fim”.

O clima de perseguição ideológica nas redações da mídia “privada” não é novidade. Na sucessão presidencial de 2006, ele também produziu suas vítimas, entre elas o jornalista Rodrigo Vianna, que não aceitou as baixarias da TV Globo na cobertura da campanha. Franklin Martins e Tereza Cruvinel também sentiram o ódio do “senhor das trevas” das Organizações Globo, Ali Kamel. Nos jornais e revistas, a perseguição fascistóide silenciou vários outros jornalistas.

A quem serve a liberdade de expressão?

Como afirma o professor Venício A. de Lima, estes episódios revelam “a hipocrisia geral que envolve as posições públicas dos donos da mídia sobre liberdade de expressão e liberdade de imprensa… As relações de trabalho nas redações brasileiras, é sabido, são hierárquicas e autoritárias. Jornalistas e editores são considerados, pelos patrões, como ocupando ‘cargos de confiança’ e devedores de lealdade incondicional”. Caso tentem manter a ética no seu trabalho jornalístico, eles são demitidos sumariamente.

Com a aproximação da eleição presidencial de outubro, o clima tende a se deteriorar ainda mais nas redações, comprovando a falsidade do discurso dos donos da mídia e das suas entidades – como Abert, Aner e ANJ – sobre a “ameaça autoritária” do governo Lula contra a liberdade de imprensa. “Episódios como este nos obrigam a perguntar, uma vez mais, para quem é a liberdade de expressão que a grande mídia defende?”, conclui o professor Venício A. de Lima.

Do Blog Vi o Mundo

Professora lança livro sobre a Revista Veja e a construção do neoliberalismo

























Do Blog do Douglas Yamagata

Entrevista com Carla Luciana Silva, autora de "Veja: o indispensável partido neoliberal (1989-2002)"

De Sul21 e Brasil de Fato

A professora do curso de História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) Carla Luciana Silva passou meses dedicando-se à leitura paciente de pilhas de edições antigas da revista Veja. A análise tornou-se uma tese de doutorado, defendida na Universidade Federal Fluminense, e agora, em livro. "Veja: o indispensável partido neoliberal (1989-2002)" (Edunioeste, 2009, 258 páginas) é o registro do papel assumido pela principal revista do Grupo Abril na construção do neoliberalismo no país.

A hipótese defendida pela professora Carla é que a revista atuou como agente partidário que colaborou com a construção da hegemonia neoliberal no Brasil. Carla deixa claro que a revista não fez o trabalho sozinha, mas em consonância com outros veículos privados. Porém, teve certo protagonismo, até pelo número médio de leitores que tinha na época - 4 milhões, afirma Carla em seu livro.

"A revista teve papel privilegiado na construção de consenso em torno das práticas neoliberais ao longo de toda a década. Essas práticas abrangem o campo político, mas não se restringem a ele. Dizem respeito às técnicas de gerenciamento do capital, e à construção de uma visão de mundo necessária a essas práticas, atingindo o lado mais explícito, produtivo, mas também o lado ideológico do processo", afirma trecho do livro.

Sobre o título do livro, porque "indispensável"? É uma brincadeira com o slogan da Veja ou reflete a importância da revista para o avanço do neoliberalismo no Brasil?
O título é uma alusão ao slogan da revista e ao mesmo tempo nos lembra que ela foi um sujeito político importante na construção do neoliberalismo. A grande imprensa brasileira foi indispensável para que o neoliberalismo tenha sido construído da forma que o foi. A Veja diz ser indispensável para o país que queremos ser. A pergunta é: quem está incluído nesse "nós" oculto? A classe trabalhadora é que não.

Quais os interesses defendidos por Veja?
Os interesses são os dominantes como um todo, mais especificamente os da burguesia financeira e dos anunciantes multinacionais. Em que pese o discurso de defesa da liberdade de expressão articulado à publicidade, o que importa pra revista são os interesses em torno da reprodução capitalista. A revista busca se mostrar como independente, o que se daria através de sua verba publicitária. É fato que a revista tem uma verba invejável, mas isso não a transforma no Quarto Poder, que vigiaria os demais de forma neutra. Ao mesmo tempo em que ela é portadora de interesses sociais, faz parte da sociedade, a sua vigilância é totalmente delimitada pela conjuntura e correlação de forças específica. O exemplo mais claro são as denúncias de corrupção e forma ambígua com que Veja tratou o governo Collor, o que discuto detidamente no livro.

Isso significa defender atores e grupos específicos? E, ao longo dos anos, estes atores mudam?
Essa pergunta é mais difícil de responder, requer uma leitura atenta, a cada momento histórico especifico. A revista não é por definição, governista [no período estudado]. Ela é defensora de programas de ação. No período analisado (1989-2002), sua ação esteve muito próxima do programa do Fórum Nacional [www.forumnacional.org.br] de João Paulo dos Reis Velloso. Ela busca convencer não apenas seus leitores comuns, mas a sociedade política como um todo e também os gerentes capitalistas.

E que relação Veja estabelece com grupos estrangeiros?
Essa é outra pergunta que requer atenção e mais estudos. O Grupo Abril não é um grupo "nacional". Suas empresas têm participação direta de capital e administração estrangeira. Primeiro, é importante ter claro que o Grupo Abril não se restringe a suas publicações. A editora se divide em várias empresas, sendo que a Abril é majoritariamente propriedade do grupo Naspers, dono do Buscapé [site de comparação de preços] e de empresas espalhadas pelo mundo todo, da Rússia à Tailândia. Essa luta pela abertura de capital [no setor das comunicações] foi permanente ao longo dos anos 1990 e a Abril foi o primeiro grande conglomerado [de comunicação] brasileiro a abrir seu capital legalmente. É bom lembrar que o grupo tem investido bastante também na área da educação, e por isso a privatização do ensino continua sendo uma meta a atingir.

Aconteceram várias edições do "Fórum Nacional" no período em que faz sua análise. Por que Veja defendeu com tanto afinco as resoluções, especialmente econômicas, saídas desse Fórum?
O Fórum Nacional tem vários títulos. Eles [os integrantes do Fórum] foram se colocando ao longo dos anos, desde 1988, como intelectuais que pensam o Brasil e defendem programas de ação - as formas específicas de construção de um projeto sócio-econômico, que mudaram ao longo dessas duas décadas. Não existe um vínculo orgânico da revista com o Fórum, ao menos não o comprovamos, mas existe uma afinidade de programa de ação. A tentativa de reforma da Constituição em 1993 foi um bom exemplo, conforme desenvolvo no livro.

No livro, você aponta que a Veja "comprou" as idéias no Fórum Nacional, transformando-as numa verdadeira cartilha econômica para salvar o Brasil no começo dos anos 90. Quais seriam os principais tópicos desta "cartilha"?
O Fórum Nacional surgiu em 1988 como uma forma de organizar o pensamento e ação dominante. Ele se constituiu um verdadeiro aparelho privado de hegemonia, buscando apontar caminhos para a forma da hegemonia nos anos 1990. E existe até hoje, fazendo o mesmo. Portanto, ele não é apenas uma fórmula econômica, mas de economia política. Tratou de temas relevantes como "modernidade e pobreza", "Plano Real", "Segurança", "estratégia industrial", "política internacional", sempre trazendo intelectuais considerados "top" do pensamento hegemônico para ver, a partir de suas pesquisas, quais caminhos deveriam ser seguidos, não apenas pelos governos, mas também pela sociedade política, ditando os rumos da economia.

Essa "cartilha" econômica foi atualizada? Você se recorda de alguma campanha recente em que a revista tenha tomado a frente?
A atualização é constante, mas não é uma cartilha. O Fórum e a revista são independentes um do outro, ao que parece, não há um vinculo orgânico. Mas Veja assumiu várias campanhas, sendo a principal delas a manutenção do programa econômico de Fernando Henrique durante todo o governo Lula.
A blindagem feita ao presidente FHC foi imensa, especialmente se compararmos com o que foi feito no caso do mensalão e ao que ocorreu no governo Fernando Collor. O que explica isso parece ser claramente a política econômica [de FHC e Lula] que garantiu lucros enormes aos bancos e a livre circulação de capitais, além de outras políticas complementares.

Qual foi a importância da revista para a corrente neoliberal desde Collor? Dá para mensurar?
Foi muito importante, mas não dá pra mensurar. É importante que tenhamos claro que o neoliberalismo não é uma cartilha, por mais que se baseie em documentos como o Consenso de Washington, por exemplo. Ele não foi "aplicado". Foi construído como projeto de hegemonia desde os anos 1980. A grande imprensa participou da efetivação de padrões de consenso fundamentais: as privatizações, o ataque ao serviço público, a suposta falência do Estado. É importante olharmos hoje, pós crise de 2008, para ver que muitos desses preceitos são defendidos como saída da crise.

Qual a importância de Veja para as privatizações?
Difícil medir dessa forma. Posso falar da importância das privatizações para Veja: elas precisavam acontecer de qualquer forma. E isso era um compromisso com o projeto que representava e com os seus interesses capitalistas específicos, do Grupo Abril. É bom lembrar que a criação de consenso em torno desse ideal foi importante para que o grupo pudesse abrir seu capital oficialmente ao capital externo.

Veja deixa de ser neoliberal para ser neoconservadora? Digamos assim, amplia sua atuação do debate econômico, fundamental à implantação do neoliberalismo, e passa a fazer campanhas também em outras pautas conservadoras?
Não vejo essa distinção. Neoliberalismo foi um projeto de hegemonia, uma forma de estabelecer consenso em torno de práticas sociais específicas. A forma do capitalismo imperialista, portanto, não se restringe à economia. A política conservadora sempre esteve presente no neoliberalismo, haja vista a experiência de [Ronald] Reagan [presidente dos Estados Unidos] e [Margareth] Thatcher [primeira-ministra da Grã-Bretanha], a destruição do movimento sindical, a imposição do chamado pensamento único. Por esse caminho chegou-se a dizer que a história tinha acabado e que a luta de classes não fazia mais sentido. Os movimentos sociais foram duramente reprimidos e, além disso, se buscou construir consenso em torno de sua falência, o que foi acompanhado pelo transformismo dos principais partidos de esquerda, especialmente no Brasil. O que vemos hoje é a continuidade dessa política. Os dados dos movimentos sociais denunciam permanentemente o quanto tem aumentado a sua criminalização ao passo que os incentivos ao grande capital do agrobusiness só aumenta.

Existem diferenças muito contundentes entre a Veja de 89, a de 2002 e a de hoje?
Há diferenças claro. Havia, em 1989, um grau um pouco mais elevado de compromisso com notícias, com investigações jornalísticas, o que parece ter se perdido totalmente ao longo dos anos. A revista se tornou uma difusora de propagandas, tanto de governos como de produtos (basta ver as capas sobre Viagra ou cirurgias plásticas).

Já nos primeiros capítulos do livro, você chama atenção para o fato de Veja ser muito didática e panfletária quanto ao liberalismo. Ela deixou de fazer apologia ao neoliberalismo de maneira tão clara?
Teria que analisar mais detidamente. Essa é uma coisa importante: sentar e ler detidamente, semanas a fio, pra podermos concluir de forma mais segura a posição da revista.

Em algum momento do período analisado a revista foi muito atacada por alguma cobertura específica?
Sim, a revista teve embates, especialmente com a IstoÉ e, posteriormente, com a Carta Capital. Essas revistas talvez tenham ajudado a tirar uma ou outra assinatura de Veja em conjunturas especiais. O caso Collor não é simples como parece. A revista Veja fazia campanha nas capas mostrando o movimento das ruas e dentro do editorial ia dizendo que o governo deveria ser mantido em nome da governabilidade. Foi quando isso se tornou insustentável que ela defendeu a renúncia do presidente (e não o impeachment). Mas depois, construiu uma bela campanha publicitária. A Abril colocou luzes verde-amarela em seus prédios, lançou boton comemorativo, para construir memória, dizer que foi ela que derrubou o Collor. O importante é a gente perceber que não é esse o movimento mais importante. O importante é a gente ter instrumentos contra-hegemônicos que nos permitam construir uma visão efetivamente crítica do que está acontecendo. É importante ressaltar que ela [Veja] sempre fala como se fosse a porta-voz dos interesses da nação, do país, da sociedade, e como se não fosse ela portadora de interesses de classe

Governo licita 1,6 mil km de ferrovias


Valor Econômico - O governo federal licitará, no dia 7 de junho, 1.670 quilômetros de ferrovias, um investimento de R$ 6,4 bilhões. Os projetos, desenvolvidos pela empresa pública Valec, preveem a extensão da Ferrovia Norte-Sul, de Ouro Verde (GO) a Estrela d"Oeste (SP), e o início da construção da Ferrovia Leste-Oeste, entre Ilhéus e Barreiras, na Bahia. "Esperamos iniciar as obras ainda em julho", disse José Francisco das Neves, presidente da Valec, durante seminário sobre o setor na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Para o trecho entre Goiás e São Paulo, com 670 km, o investimento será de R$ 2,5 bilhões. A licitação, antes prevista para maio, foi adiada por necessidade de correção do edital. A obra vai se somar aos 1,4 mil km já em construção da Ferrovia Norte-Sul - que vem desde Açailândia (MA) -, prometidos para serem entregues no dia 20 de dezembro deste ano.

O trecho da Leste-Oeste a ser construído em território baiano terá mil quilômetros e demandará investimento de R$ 4,2 bilhões. Segundo o projeto, futuramente a ferrovia terá 1,5 mil km e irá até Figueiropólis, em Tocantins. Para finalizar a ferrovia, será necessário aporte de R$ 2 bilhões. A malha ferroviária deve atravessar 32 municípios na Bahia. Será uma obra importante para escoar produtos agropecuários do Oeste baiano e minérios da região de Caetité (BA).

Os novos trechos devem ser operados segundo o modelo de concessão espanhol, em estudo avançado no governo. Segundo Neves, amanhã haverá uma reunião na Casa Civil para tratar do assunto. No modelo atual, o governo faz a concessão dos trechos de ferrovias, que passam a ser operados por uma empresa privada. O novo sistema consistiria em vender o direito de uso da malha às companhias, mantendo o controle da Valec. O material rodante é de responsabilidade do parceiro privado. (Samantha Maia)
Com a ampliação da Ferrovia Norte-Sul até Estrela d'Oeste (SP), o Brasil contará com uma espinha dorsal ferroviária que ligará o porto de Itaqui, no Maranhão, ao porto de Santos, em São Paulo. Essa ferrovia quando inaugurada trará um enorme benefício ao setor produtivo da região Centro-Oeste, que terá transporte mais sustentável, além de aliviar as rodovias que ligam o interior às regiões portuárias. Com os dois portos interligados, exportadores poderão negociar com mais facilidade melhores condições para embarcar suas cargas.

O projeto de ampliação da malha ferroviária prevê também seguir com a Norte-Sul até o Rio Grande Sul, ter um ramal para Rondônia e outro para Ilhéus, além da interligação com a Transnordestina.

O Brasil voltará a ter o modal ferroviário como eixo do desenvolvimento regional.

Do Blog do Alê

Demonização da viagem de Lula ao Irã ancora-se em argumentos falaciosos e tendenciosos

por Luiz Eça

Dificilmente a visita de um chefe de Estado a outro país causou tantas críticas quanto a que Lula está fazendo ao Irã.

Desde Hillary Clinton até deputados brasileiros, passando por Bernard Kouchner (ministro das Relações Exteriores da França), jornalistas nacionais , congressistas e colunistas americanos, entre outros, criticaram o nosso presidente de diversas maneiras.

A maioria considerou essa viagem uma aproximação, digamos, vil, com uma ditadura cruel que prende, mata e tortura opositores. Não se pode negar que estas afrontas aos direitos humanos têm acontecido no Irã, depois das manifestações de repúdio à eleição de Ahmadinejad.

Pelo menos episodicamente, o governo iraniano não ficou omisso. Está processando 12 indivíduos suspeitos de torturar até a morte 3 oposicionistas. Além disso, depois de repetidas denúncias sobre barbaridades cometidas na prisão de Kahizak, ordenou seu fechamento.

Claro, devia fazer muito mais, especialmente porque, ao que se sabe, as violências contra adversários continuam. No entanto, nesse quesito, EUA e Israel ficaram atrás, pois nesses países os violadores dos direitos humanos continuam livres e tranqüilos.

Ao reconhecer as torturas da gestão Bush, Obama declarou que seus autores não seriam punidos. Ele proibiu essas práticas, mas, infelizmente, parece que elas continuam. Só para ficar em exemplos recentes, ainda na primeira semana de maio, a Cruz Vermelha denunciou a existência no Afeganistão de uma prisão secreta para suspeitos na base aérea de Bagran. E 9 ex-prisioneiros, liberados por falta de provas, declararam que foram submetidos a abusos no local. Simon Hersh, o famoso repórter que denunciou My Lay e Abu Ghraib, revelou, em Genebra, na Conferência Global do Jornalismo Investigativo, que inimigos capturados na guerra do Afeganistão, em vários casos, foram executados no próprio campo de batalha pelo exército americano.

Quanto a Israel, as autoridades do emirado de Dubai (grande amigo dos EUA) continuam acusando o Mossad de ter executado um homem do Hamas em plena cidade árabe. Pediram até à Interpol a prisão de vários agentes e do chefe do serviço secreto israelense. Lembramos ainda o inquérito da ONU, presidido por um juiz judeu, que acusou o exército do governo de Telaviv de crimes de guerra e contra a humanidade no ataque a Gaza, o qual vitimou mais de 1.000 civis. Nem os judaicos, nem os oficiais das forças armadas receberam as devidas punições.

Apesar destes fatos criminosos de responsabilidade dos governos dos EUA e de Israel, ninguém jamais pensou em censurar Lula quando viajou para estes países.

Curiosamente, são eles que clamam com maior fúria por sanções ao Irã, que o forçassem a abandonar um programa de engenhos nucleares ainda não provado. Dizem que o enriquecimento do urânio demonstraria as intenções iranianas de produzir armas nucleares. O que seria uma catástrofe nas mãos de um “rogue state” (um estado entre delinqüente e irresponsável) que já prometera jogar Israel no mar.

Embora Ahmadinejad tenha declarado que fora mal entendido, que jamais pretendera atacar Israel, que a História é que acabaria com o regime sionista, por seu caráter racista – o ato de fundação afirma Israel como estado judaico -, a grande imprensa internacional e brasileira ignoraram suas explicações. Como também ignoraram que, na verdade, quem toca os tambores de guerra na região, comportando-se como autênticos ‘rogue states”, são os EUA – com menções ao célebre “todas as opções estão sobre a mesa” - e Israel, com sucessivas ameaças de ataque ao Irã.

Os exemplos são muitos. Novamente mencionaremos apenas os mais recentes.

Neste mês, Gary Samore, coordenador na Casa Branca do controle de armas de destruição em massa, informou à Reuters que seu governo havia pressionado Moscou a não entregar ao Irã o sistema antimíssil S-300, já contratado. “Deixamos claro aos russos que isso traria um impacto em nossas relações bilaterais significativo. Os russos entenderam que as conseqüências seriam severas”. E nós entendemos que o governo Obama está zelando para enfraquecer as defesas iranianas e, por conseqüência, tornar eventuais ataques ao país mais destrutivos. Nada mais bizarro da parte de um Prêmio Nobel da Paz

Na semana que passou, Moshe Ya´alon, vice-primeiro ministro de Israel, anunciou que suas forças aéreas estavam prontas para a guerra contra o Irã. Ya´alon, apesar do alto posto que ocupa num governo que se diz empenhado na paz com os palestinos, já os qualificou como um “câncer”.

Estes fatos não são levados em conta pelos críticos da viagem de Lula, que ajuntam a seus argumentos a consideração de que a amizade com o Irã está afastando o Brasil da comunidade internacional. A maioria dos nossos comentaristas e muitos políticos enchem a boca quando falam nessa “comunidade internacional”, sem perceber que este termo está sendo usado de maneira pelo menos incorreta, para não dizer arrogante e até racista, pois os 118 países não alinhados já se manifestaram contra as sanções. Será que estes 118, por serem asiáticos, africanos e latino-americanos, não integram a “comunidade internacional”? Será que dela só merecem fazer parte os europeus e norte-americanos, talvez, por coincidência, povos basicamente brancos? Aparentemente, eles esqueceram que os tempos dos impérios coloniais já se foram. E que agora países negros, amarelos e vermelhos são membros do mundo civilizado.

A última observação que essa peculiar “comunidade internacional” faz é que, dialogando com o Brasil e a Turquia, co-participante das conversações de paz em Teerã, estão fazendo o jogo dos aiatolás que visam ganhar tempo, adiar ao máximo as sanções contra seu país, até poderem concluir seus artefatos nucleares. Hillary Clinton acaba de telefonar para o presidente turco advertindo-o insistentemente desta falácia islâmica.

Parece um argumento pífio. Se todas as autoridades técnicas concordam que o Irã precisaria de ao menos 5 anos para produzir sua primeira bomba de destruição em massa, seria uma missão impossível para o governo de Teerã conseguir enrolar o mundo por um prazo tão avultado.

O Financial Times de 13 de maio considera que, ao tentar mediar um diálogo com o Irã, o Brasil “desafia a política externa dos EUA”. É verdade, essa política tem um norte hoje muito claro: impor sanções tão terríveis que isolem o Irã do comércio mundial e o levem a uma crise capaz de provocar a queda do regime dos aiatolás. E sua substituição por gente mais cordata.

Alega-se que Obama passou um ano estendo a mão a Ahmadinejad sem obter respostas. Não foi bem assim. Suas mãos estendidas tinham os punhos fechados, ameaçando socos, pois, desde junho de 2009, não houve uma única tentativa de aproximação concreta dos EUA, apenas retórica, coisa em que seu presidente é mestre, enquanto as ameaças, partidas especialmente da gaviã Hillary Clinton, foram constantes.

Não há dúvida de que o Irã vem praticando violências altamente reprováveis contra a oposição. Mas, como diria a filósofa Denise Charuto, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. As justas críticas às ações repressivas do governo dos aiatolás não o transformam em réu na presente crise nuclear. Até os opositores mais ardorosos de Ahmadinejad defendem o direito do país de ter um programa nuclear pacífico e condenam as sanções que os EUA e seguidores querem lhe impor.

Nesta semana, as coisas podem se encaminhar bem. Já se sabe que o Irã está disposto a fazer concessões às propostas dos chefes do governo do Brasil e da Turquia – de envio do urânio iraniano de baixo enriquecimento ao território turco, onde ficaria até ser trocado com o urânio enriquecido a 20 graus na França ou na Rússia.

Além disso, de Bruxelas, a agência DPA reportou que está sendo agendada uma reunião entre Catherine Ashton, chefe de Política Internacional da União Européia, e o chefe das negociações nucleares do Irã, Saeed Jalili, por iniciativa de Ahmed Davotaglu, ministro das Relações Exteriores da Turquia.

Há possibilidades de que a tão criticada viagem do presidente Lula a Teerã poderá representar um princípio da solução da crise.

Luiz Eça é jornalista.

EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Israel, sempre com seus interesses excusos, egocêntricos, tendenciosos, discriminadores, mercantilistas, imperialistas e criminosos...Já não enganam mais a maioria das nações.

Japón celebra firma del acuerdo nuclear entre Irán,Turquía y Brasil

TeleSUR

Japón aplaudió este jueves el acuerdo para intercambio de uranio alcanzado por Irán con Turquía y Brasil, aunque subrayó que la situación sigue siendo grave ya que Teherán se reserva el derecho de seguir enriqueciendo uranio al 20 por ciento.

Según informó este jueves el Ministerio nipón de Exteriores, el jefe de la diplomacia japonesa, Katsuya Okada, habló ayer con sus homólogos de Brasil y Turquía, Celso Amorim y Ahmet Davutoglu, a los que manifestó su respaldo al acuerdo para el manejo de uranio iraní.

Amorim y Davutoglu, por su parte, aseguraron a Okada que el pacto ofrece la oportunidad de resolver el conflicto con Irán por la vía diplomática, informaron fuentes de Exteriores citadas por la agencia local Kyodo.

El acuerdo, cerrado el pasado lunes, establece que el Gobierno de Teherán enviará a Turquía su uranio poco enriquecido a cambio de recibir en el plazo de un año combustible nuclear para su reactor científico.

Fonte: http://url4.eu/3afuR

Várias faces do domínio econômico

Do Portal Vermelho.org

Zillah Branco *

Primeiro foram as “descobertas” de terras e povos selvagens (ou de velhas civilizações) para estabelecer um comércio desigual, de supérfluos por riquezas. Justificavam a desproporção do valor arrecadado para cobrir os riscos e os custos das viagens através de oceanos ameaçadores. Foram se deixando ficar para melhor usufruírem as delícias de um mundo novo, com mais calor (sobretudo humano), com mais espaço para criar novos poderes pessoais e nacionais.

As vantagens reais foram disfarçadas pela “educação civilizada” que abria os caminhos do Céu e do progresso humano. Estabeleceram-se, colonizaram extirpando a cultura e os idiomas locais. Transformaram as novas terras em extensões das velhas nações que se libertavam de problemas sociais e econômicos. “Salvar as almas selvagens” custava caro e as riquezas retiradas das colônias e o apagamento dos seus valores humanos parecia remunerar o sacrifício de ali permaneceram administrando e educando em condições de desconforto por falta de “civilização”.

A fórmula imperialista de dominação impôs-se como moderna e “quase democrática” apoiando lutas nacionais, intrigando etnias rivais e sustentando governos nativos que se tornavam aliados e parceiros dos “civilizados”, livres para comercializar riquezas por supérfluos que modernizavam a vida selvagem com suas manifestações culturais tratadas como “folclore”, de alto valor turístico.

Os “selvagens” e escravos do século XVI, no processo de modernização industrial, tornaram-se “proletários” e adquiriram a consciência da exploração que lhes era imposta pelas elites patronais e catequizadoras. Chegou-se a uma grande crise do sistema que minou os modelos de dominação colonialista. O imperialismo apoiou guerras de independência infiltrando-se nos novos paises onde fomentou governos ditatoriais da sua confiança. Introduzindo um modelo moderno de exploração que mantinha o subdesenvolvimento das antigas colônias que facilitava a dominação externa. Provocou guerras “pacificadoras e civilizadoras”, sendo vencido no Vietnam, Laos, Cuba, China, que contaram com a existência de paises socialistas no leste europeu e movimentos comunistas em todo o mundo.

Os dois modelos competiam: o velho colonialismo europeu e o moderno imperialismo aliados no combate ao socialismo na “guerra fria” e na diluição do proletariado que perdia a sua consciência de classe revolucionária misturando-se com a classe média. Sem a expansão colonialista a Comunidade Européia abriu um novo caminho de fortalecimento do poder ocidental com o sugestivo e anódino título de União – para igualar as condições dos seus parceiros pobres e ricos. Criaram a moeda única, o euro, que passou a concorrer com o dollar que entrou em queda. Financiaram o desenvolvimento da produção com moderna tecnologia nos paises mais pobres da Europa e abriram estradas modernizando a infraestrutura do continente – caminhos para abastecer os mercados periféricos com os produtos industriais e absorver os produtos naturais selecionados de acordo com os interesses dos consumidores ricos.

Utilizaram nos paises europeus mais pobres o mesmo modelo com que abriam estradas nos países africanos para abastecer de energia ou minérios os grandes consumidores externos. A “União” viu-se diante de uma crise “unitária” com as dívidas insuportáveis que a Grécia declarou no início de 2010 e as que crescem na Espanha, em Portugal, e na Bélgica e vão proliferar nos novos parceiros saídos do bloco socialista que desmoronou com a guerra fria.

Quando a crise anterior, iniciada em 2008 para estourar no início de 2009 ameaçou o sistema financeiro mundial, os paises ricos recusaram a idéia do primeiro ministro Britânico – Gordon Brawn - que propôs a intervenção dos bancos pelos Estados (o que o levou a perder as eleições em Maio), os governos decidiram pagar as dividas bancárias, no espírito comunitário, sem destruir o poder financeiro do sistema global.

Porque não salvar os paises pobres endividados da União (como a Grécia, para começar) da mesma maneira solidária que usaram para salvar os Bancos privados? Porque ao distribuírem a renda dos mais ricos com os mais pobres enfraquecem a moeda da União Européia e o dollar sai fortalecido. É um beco sem saída para a União que precisa manter a hierarquia econômica interna que garante níveis de vida superiores para os mais ricos.

A História vai apresentando novas faces dos modelos de exploração que dinamizam o sistema capitalista, decepcionando os mais pobres que estavam nos vagões finais do comboio comunitário. Assim acontece também com o proletariado por mais que tenha sido promovido aos escalões finais da classe média consumista do mercado livre. Os que carregam a lanterninha vão pagando todas as crises do sistema.

* Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.

Hillary, a mão pesada do império



Hillary Clinton é a mão pesada do governo Obama. Sabe aquela história do policial bom e do policial mau. Pois é. Enquanto Obama fala que o caminho para o entendimento entre os povos é a diplomacia, Hillary utiliza o velho big stick para sentar a borduna em quem diverge dos Estados Unidos.

O que mais impressiona é a presão pública que ela faz sobre os demais integrantes do Conselho de Segurança. Anunciou, perante o Congresso que há um acordo entre os cinco membros permanentes para impor sanções ao Irã. Mas que acordo? A China, um deles, deu todo apoio ao acordo para a troca de combustível nuclear iraniano em território turco, assinado na segunda-feira por Irã, Brasil e Turquia, e disse isso oficialmente através do porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Ma Zhaoxu. A Rússia, por onde Lula passou a caminho de Teerã, também apoiou a iniciativa brasileira através do presidente Dmitri Medvedev.

Então de onde vem esse entendimento para impor sanções apregoado por Hillary? Ela fez o anúncio sozinha, no que parece mais um movimento de pressão do que de consenso. O fato é que a “diplomacia” americana foi derrotada pela brasileira e isso está difícil de Hillary engolir. “Brasileiros e turcos fizeram mais em dois dias do que França e Estados Unidos em quase um ano”, disse hoje Mehdi Mekdour, especialista em assuntos iranianos do Grupo de Pesquisas e Informações sobre Paz e Segurança em Bruxelas. E a França deu pleno apoio à Lula na condução do tema nuclear iraniano após encontro entre o presidente brasileiro e Nicolas Sarkozy, na reunião de cúpula União Européia-América Latina, que começou hoje em Madri.

Também na capital espanhola, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, pediu à comunidade internacional que apoie a declaração final, acertada entre Brasil-Turquia e Irã, em nome da paz mundial. É esse o caminho da paz que os EUA parecem querer evitar.

Pior, parecem estar exercendo, agora, sobre os demais membros do Conselho de Segurança a mesma politica impositiva e unilateral que exercem em relação aos países menos poderosos. Podem até conseguir algumas sanções, mas de valor muito mais declaratório que prático. Aliás, o único efeito prático que terão será o de acabar com o clima de boa-vontade que poderia imperar depois do acordo em Teerã. É o que estão chamando de “dois caminhos”, um de pressões verbais e outro de negociação.

Assim como começam a ser derrotados nas questões comerciais, os EUA não conseguem mais impor sua doutrina intervencionista. Brasil e Turquia não somente conseguiram o acordo como reivindicam o direito de integrar o grupo 5+1, formado pelos cinco integrantes permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, China, Rússia, França e Grã Bretanha) e a Alemanha, que debate o programa nuclear iraniano.

Se foram Brasil e Turquia que negociaram o acordo, seria mais que justo que participassem de qualquer debate sobre a questão iraniana a partir de agora. É assim que se forja uma nova ordem global, que o império não vão aceitar tão fácil.

Do Blog Tijolaço.com

O Globo adere ao “empate de zero a um”



por Brizola Neto, no Blog Tijolaço.com

O mau exemplo da Folha parece estar se espalhando na mídia. Hoje foi a vez de O Globo aderir à tese de que Dilma está na frente da pesquisas, mas a pesquisa está empatada. Poderiam dizer “pequena vantagem”, “ligeira diferença”, “apenas 2,5 (Sensus) ou 3% (V. Populi)”.

Será que dá pra ser parcial sem ofender a língua pátria? Se alguém está na frente, como é que o outro vá “desempatar”?

É sempre bom lembrar que em todas as pesquisas antigas, quando Serra aparecia à frente de Dilma, ninguém falava em “empate”, mesmo quando a diferença estava dentro ou décimos acima das margens de erro.

Empate, na língua dos grandes jornais, é igual ao que pensam alguns técnicos de times pequenos, que saem satisfeitos de perder de pouco dos grandes:

- Empatamos de zero a um.

O tônico mágico de José Serra



Luciano Rezende *


Na semana passada, José Serra, uma vez mais, desdenhou da inteligência do eleitor. Entre vários embustes disse, em entrevista à rádio CBN, que defende um "Estado musculoso".


A fórmula secreta de Serra para tornar o Estado musculoso deve ser parecida com aquelas loções mágicas para fazer cabelo crescer. Talvez essa segunda opção lhe seja mais útil, vindo de um candidato que está careca de saber que seu histórico é de dilapidação do patrimônio nacional.

Não existe fórmula mágica para fortalecer o Estado e ele tampouco será robustecido a base de espinafradas.

A receita seguida pelo governo Lula/Dilma foi diametralmente oposta da conduzida pelos tucanos. Quem governou sob a tutela do FMI, defendia a subordinação do país à Alca e promoveu as privatarias, deveria ter o mínimo de sensatez para vir agora posar como defensor do Estado Nacional forte, musculoso.

É um desespero parecido com o de Geraldo Alckmin que nas eleições passadas chegou a desfilar com macacões e uniformes de estatais. Serra quer passar gato por lebre logo no início da campanha e vai mais longe que seu antecessor, pois tem a audácia de elogiar publicamente um governo (Lula) que é a antítese da trajetória tucana.

Nem Serra quer fortalecer o Estado como nem de perto é de esquerda. Basta ver seu governo em São Paulo. Serra foge das comemorações dos dias dos trabalhadores porque é odiado pela classe operária. Solta a polícia contra os professores porque é inimigo dos movimentos sociais. Privatiza setores vitais da economia porque é neoliberal. Tem apoio da grande mídia porque representa os anseios dos golpistas e das elites brasileiras. É contra o Mercosul e dos governos de esquerda porque segue os ditames de Washington. Renunciou à prefeitura de São Paulo porque não honra sua palavra. Nomeou como reitor da USP o menos votado pela comunidade universitária porque despreza a democracia; e por aí vai.

Os músculos do Estado enquanto Serra foi ministro do Planejamento no governo FHC foram atrofiados. Sob seus auspícios a Vale do Rio Doce e parte da Petrobras foram vendidas. Privatizou a telefonia e as rodovias federais de maior tráfego resultando em tarifas e pedágios caríssimos. Promoveu o apagão devido a falta de investimentos no sistema de energia elétrica. Isso sem falar nos mais de quinze anos de governo tucano em São Paulo onde privatizaram o Banespa; venderam a Nossa Caixa; entregaram o metrô a consórcios privados; abandonaram as universidades; terceirizaram os serviços de limpeza, merenda escolar e até a confecção de livros escolares em que o Equador foi excluído do mapa.

O halterofilismo político praticado por Serra deve ser revisto por seus assessores com o risco dele ser acometido por alguma câimbra ou sofrer uma distensão mais grave.

Certo mesmo é que Dilma já fez seu aquecimento para a longa caminhada eleitoral e sua ascensão nas pesquisas mostra a vitalidade de uma candidatura que não precisa fazer uso de anabolizantes ou praticar qualquer tipo de contorcionismo eleitoral.


* Engenheiro agrônomo, mestre em Entomologia e doutorando em Genética. Da direção estadual do PCdoB - MG.

Do Blog O Terror do Nordeste

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Lula, Irã, a fome e a paz

Por Beto Almeida


No curto espaço de uma semana, o Brasil viu-se como protagonista em duas questões centrais para a humanidade. Primeiramente quando Lula é condecorado pela ONU com a medalha pelos esforços no combate à fome, fato que a mídia comercial escondeu, para espanto geral. Segundo porque neste final de semana o presidente do Brasil, após conseguir o apoio da Rússia para suas gestões, desembarca em um Irã ameaçado levando uma mensagem clara ao mundo: os problemas devem ser resolvidos pelo diálogo não por sanções, muito menos pela guerra, que, comprovadamente, veja-se hoje o Iraque e o Afeganistão, só trazem solução para o caixa da indústria bélica, a principal economia dos EUA.
Essas são duas iniciativas repletas de simbolismos, a começar pelo fato de não virem das grandes potências hoje ações concretas para enfrentar a fome e alcançar a paz. Ao contrário, vem do menino que sentiu no corpo a dor da fome e carrega consigo uma mistura de teimosia santa de Dona Lindu com a dialética do retirante.

É muito difícil fazer prognósticos sobre as possibilidades de sucesso para uma empreitada do porte desta que Lula carrega em nome do povo brasileiro, amante da paz. Querer o diálogo e a paz quando o que dá lucro é a guerra, aparentemente seria como nadar contra a corrente. Ramificações industriais complexas e lucrativas estão funcionando inteiramente e a todo vapor para sustentar presença militar estadunidense pelo mundo. A mensagem brasileira põe em cheque este poderio e sua maneira de dominar a política internacional, de impor sanções que terminam comprovando-se mecanismos que ampliam as tensões e desembocam em conflitos bélicos. Os orçamentos militares ampliam-se, sobretudo o dos EUA, que , isoladamente, supera em volume de recursos a soma dos orçamentos militares de todos os países do mundo.

As similaridades entre Brasil e Irã nesta questão nuclear, grosso modo, devem ser olhadas com muita atenção. Em 1987, o presidente José Sarney anunciou ao mundo que o Brasil havia alcançado o estágio do domínio tecnológico completo para o enriquecimento do urânio. O anúncio foi acompanhado da solene declaração de que a conquista tecnológica se destinava exclusivamente a finalidades pacíficas. Para chegar a esta conquista o Brasil percorreu um longo caminho desde o início do Programa Nuclear Brasileiro, iniciado na Era Vargas e conduzido pelo Almirante Álvaro Alberto, que não pode ser esquecido nos debates atuais. E recebeu pressões pelo desejo de sua independência tecnológica. Ao ponto de que turbinas atômicas compradas da Alemanha terem sido seqüestradas por dispositivos militares da OTAN, em 1952, no Porto de Hamburgo, antes de serem embarcadas para o Brasil. Nova pressão imperial veio quando o governo Geisel firmou o Acordo Nuclear com a Alemanha. O recado era claro, bastando para isto lembrar declaração de Henry Kissenger, então secretário de estado dos EUA: “Não permitiremos o surgimento de um novo Japão abaixo da linha do Equador”.

O Irã sofre hoje pressões pelas quais o Brasil já passou. Muito embora atenuadas, aparentemente, quando o governo FHC, erroneamente em em costumeira posição de vassalagem diante do império, assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, dispositivo que não é cumprido à risca praticamente por ninguém. Os que são armados continuam super-armados - e armando-se com novas tecnologias - e os desarmados que se contentem com a ilusão de que não correm os riscos de transformarem-se em torresmo. Claro, desde que renunciem para todo o sempre a qualquer pretensão de desenvolvimento tecnológico nesta área. Mesmo que para finalidades exclusivamente pacíficas, o que não é respeitado por algumas das grandes potências que querem ditar as regras para os outros, mas não para si.

Mídia vassala
Tanto quando do anúncio da conquista tecnológica nuclear brasileira, em 1987, como agora, a grande mídia internacional, controlada pelos anunciantes enraizados em algum ramo da indústria bélica - como também a mídia comercial nativa - revela sua desconfiança editorial. O resumo da ópera é que o Brasil, o Irã e outros emergentes, não devem sequer pretender soberania tecnológica. E que o mundo fique como está.

Curiosamente, nesta semana que antecedeu a visita de Lula ao Irã tambem foram divulgadas matérias propositalmente descontextualizadas condenando o Brasil por vender armamentos para regiões de conflito. Nem uma informação de que o Brasil tem participação residual neste mercado bélico, menos de 0,5 por cento. E claro, nada sobre o estágio de desarmamento unilateral que nos foi imposto pela era da privataria, um verdadeiro serviço prestado às nações que ampliam suas intervenções militares para além fronteiras. E pelas suas imensas riquezas estratégicas, ninguém duvida que o Brasil é alvo. Tal situação começa a ser corrigida com a nova Estratégia Nacional de Defesa que visa recuperar o indispensável em nossa indústria bélica e até mesmo com a compra de equipamentos militares seja da França ou da Rússia, o que é providencial. Fica revelado que quando a mídia colonizada questiona a posição do Brasil em defesa do direito do Irã de avançar em seu desenvolvimento tecnológico soberano para fins pacíficos é porque, no fundo, também questiona o direito brasileiro de alcançar sua independência tecnológica, seja na área nuclear ou em outras. Ou seja, é clara a subordinação editorial desta mídia aos interesses imperiais ditados pelos grandes anunciantes vinculados à fabricação de armas.

É por isso que os maiores absurdos são divulgados de modo distorcido e importantíssimos fatos são sonegados de modo escandaloso. Querem que o Irã se submeta a ditames externos. Sem qualquer comprovação, afirma-se que o Irã está fabricando bombas nucleares, tal como a mídia difundiu quando o Brasil passou a dominar a tecnologia de enriquecimento de urânio. Mas, por que sequer cogita-se uma inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica nas instalações nucleares de Israel? Monumental hipocrisia! Por que sequer cogitam-se sanções a Israel pelo descumprimento, com desprezo, das Resoluções da ONU sobre a Questão Palestina?

Vargas e Mossadeg
Não é simples o desafio de Lula e na altura que escrevemos esta análise ele ainda não chegou pela primeira vez a Teerã, provavelmente a primeira visita de um presidente brasileiro lá. Guardadas as enormes diferenças históricas e culturais entre os dois povos, há elementos comuns. Os mesmos interesses que conspiraram contra o nacionalismo de Vargas e o levaram ao suicídio, também conspiraram para derrubar , em 1953, o governo de Mossadeg, general nacionalista que também como no Brasil havia estatizado o petróleo iraniano. Instalou-se em Teerã, com o apoio o imperialismo petroleiro, uma das mais sanguinárias ditaduras que o mundo conheceu, a do Xá, derrubada apenas em 1979 pela Revolução Iraniana que novamente estatizou o petróleo e outros segmentos importantes da economia, com monumental apoio popular. O curioso é que quando o Xá Reza Pahlev ainda estava no poder sob o controle do imperialismo anglo-saxônico, teve início um programa nuclear iraniano, então interessante para Washington e Londres. Só que esqueceram-se de combinar com as massas revolucionárias iranianas que varreram aquele regime despótico.

Na sua dialética de retirante Lula teve que fortalecer a teimosia de Dona Lindu e enfrentar obstáculos gigantescos, verdadeiras penas de morte do cotidiano, até chegar onde chegou. Tudo poderia parecer inalcançável, tanto agora para muitos parece ser impossível alcançar uma saída para esta crise que ameaça o Irã por meio do diálogo, sem sanções e sem guerra.

O Brasil, muito embora seus governos conservadores, é um país que tem história de posicionamentos independentes contra esta ideologia das sanções. Na década de 70, o Brasil enfrentou o embargo ocidental contra o Iraque que havia acabado de nacionalizar sua economia. Em boa medida o Brasil tem, legitimamente, desobedecido o descabido bloqueio imposto ilegalmente pelos EUA contra Cuba, e, mais que isto, lá tem instalado empresas estatais, realiza obras de infra-estrutura e, sobretudo, cooperando na produção de alimentos e com o envio de toneladas de alimentos ao povo cubano que teve sua economia devastada pela mais recente furacão. O Brasil votou sempre corretamente na ONU em questões emblemáticas como a autodeterminação do Timor Leste, do direito ao Estado Palestino. O Brasil reconheceu e apoiou o governo revolucionário de Agostinho Neto, em Angola, mesmo quando a guerra ainda a intervenção imperial dos EUA-África do Sul continua matando angolanos. O episódio provocou até reclamação do sinistro Kissinger a Geisel de que o Brasil estava fazendo o jogo dos comunistas, posicionando-se ao lado de Cuba. A resposta de Geisel deveria ter servido de lição para o chanceler brasileiro que, com candura, tirou os sapatos sob a ordem de um guardinha de alfândega nos EUA: "Secretário, a política externa brasileira para a Africa nao está em debate com o senhor".

E, mais recentemente, o governo Lula foi contra a intervenção militar no Iraque e está mais que provado que sanções desta natureza não oferecem qualquer solução civilizada, humana, democrática. Prova é que o Prêmio Nobel da Paz, Barak Obama, acaba de enviar mais 30 mil soldados para o Afeganistão, e as encomendas para a indústria bélica nos EUA seguem avançando, seja em mísseis ou em urnas mortuárias para os jovens estadunidenses voltarem, quando não voltam doidos.....

Cooperação versus sanção
O importante é destacar que o presidente que agora quer convencer o mundo de que precisamos inaugurar uma nova era de diálogo para a solução dos problemas da paz é o mesmo que está buscando desenvolver ações concretas no Brasil e em outras partes para solucionar também os gravíssimos problemas da fome. Claro está que quando se trata de vencer a guerra contra a fome, a grande mídia não tem tanto interesse em dar informações amplas. Mas, quando se trata de temas relacionados à questão bélica - vinculadas aos sórdidos interesses dos anunciantes que fabricam armas - o noticiário se agiganta. Bilhões de dólares logo aparecem para pacotes destinados a salvar bancos, mas jamais aparecem recursos para fazer uma guerra de verdade contra a fome.

Assim, de um lado está a política de cooperação internacional que instala a Embrapa na África bem como em Cuba , Venezuela e Timor Leste para ajudar na produção de alimentos. Até mesmo no Haiti a presença brasileira, reconhecida por Fidel Castro, destaca-se também por implementar obras de infra-estrutura, instalação de hospitais, inclusive com exemplar cooperação entre médicos brasileiros e médicos cubanos, que lá estão às centenas. Ou seja, enquanto o Brasil já começa a exportar também tecnologias para a produção de alimentos pelo mundo, enquanto Cuba exporta médicos e professores, os EUA seguem exportando armas e soldados.

É com esta responsabilidade e com este histórico moral da política externa brasileira que Lula pisa pela primeira vez em solo iraniano para defender, com legitimidade, o fim das políticas de sanções, o direito dos povos a alcançarem soberania tecnológica nuclear para fins pacíficos, no que estará defendendo também o inquestionável direito do Brasil em avançar neste desenvolvimento tecnológico, apesar das pressões que já se fazem sentir, como informa o Ministro Sérgio Rezende, da Ciência e Tecnologia, alertando para as dificuldades brasileiras em ter acesso a determinados equipamentos no mercado mundial.

(*) Beto Almeida é jornalista, presidente da TV Cidade Livre de Brasília

Revista Veja lança seu peculiar olhar sobre a Bolívia

por Rodrigo Vianna, no Blog O Escrevinhador

A revista Veja segue sua saga de desqualificação de qualquer iniciativa contrária à ordem capitalista. Na penúltima edição, o ataque partiu do departamento de relações internacionais da revista e o alvo foi a progressista Bolívia de Evo Morales.

As acusações vão desde o questionamento da identidade étnica do presidente até da própria existência de indígenas na Bolívia – para o autor, somente 17% da população é indígena. O texto é exemplar da escola de “jornalismo” da Veja e um prato cheio e fácil para críticas.
Reproduzimos a seguir, o texto do jornal Brasil de Fato desmentindo os dados apresentados pela revista e mostrando a verdadeira Bolívia.
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A Bolívia que só a Veja não vê

A Veja, por possuir essa perspectiva distorcida sobre “o que é ser índio”, afirma, portanto, que Morales não é indígena por não falar aymara fluentemente ou por ser solteiro

Por Caroline Cotta de Mello Freitas e Vinicius Mansur

Publicada na edição 2164 da revista Veja, de 12 de maio deste ano, a matéria “A farsa da nação indígena”, referindo-se à Bolívia, traz uma série de equívocos e de fatos descontextualizados que, juntos, dão forma a um texto totalmente preconceituoso com o país e com o processo político por ele vivido atualmente.

Apesar do repórter Duda Teixeira assinar o texto de La Paz, é difícil crer que um jornalista esteve nesta cidade e, ainda assim, intitulou sua peça jornalística tal qual foi publicada. Só não percebe os traços indígenas da maioria da população quem passou por aqui e não olhou a cara das pessoas. Quem caminhou pelas ruas de ouvidos tapados ignorando os “aymara e quechua-hablantes”. Quem não se permitiu aos olores, não provou da comida, não buscou saber da música, não buscou na literatura, enfim, quem censurou todos os sentidos e quase todas suas formas de reprodução. De tal maneira que desatar tantos devaneios travestidos de jornalismo nos consumiria o espaço de toda uma edição da revista. Mas vamos a alguns pontos.

Alguns dirão que La Paz não é a Bolívia e, de fato, a Bolívia é muito mais diversa, para se ter uma idéia são 36 povos indígenas no país, além de afrobolivianos, grupos descendentes de imigrantes e muitos mestiços. O autor do artigo pode alegar que a dita farsa não é obra do povo boliviano, senão dos líderes do “processo de cambio”. Porém, a própria matéria cita que a nova Constituição – resultado de uma Assembléia Constituinte, posteriormente aprovada em referendo popular durante a primeira gestão de Evo Morales – considera a Bolívia um Estado Plurinacional. Afinal, onde está a farsa?

De maneira oportunista, o texto segue manipulando informações sem critério para criticar as medidas de orientação indigenista do governo, porém utiliza os argumentos de outros indigenistas quando estes sustentam críticas ao poder executivo, transformando a matéria em um malabarismo argumentativo que, ao final, caricaturiza toda expressão indígena e reduz a diversidade e as possibilidades políticas que se apresentam dentro do processo de mudanças.

A Veja afirma que o projeto político do MAS (partido de Morales) é uma farsa porque “os índios representam apenas 17% da população”, porque o nacionalismo indígena foi “criado em universidades americanos e européias” e “transferido para o altiplano por 1,6 mil ONGs”. Afirma que “o caos foi instalado” e que “a Bolívia tornou-se um país sem lei” com a institucionalização da Justiça Comunitária, ou seja, com o reconhecimento legal pelo Estado das formas de justiça aplicadas há séculos nas comunidades originárias. Medida responsável por “propagar linchamentos entre a população” que agora ocorrem “em média, um por semana”, conclui Teixeira - ou seu editor - sem qualquer menção a origem dessas informações.

Assim como não menciona que o último censo oficial, realizado em 2001, apontou que 66% da população se identificava como indígena. Não menciona Tupac Katari, Bartolina Sisa, Julian Apaza, Pablo Zarate"Willka” e todos aqueles que, desde há muito, construíram lutas e idéias em prol de uma nação onde os indígenas fossem livres e respeitados, antes mesmo de qualquer contato com universidades e ONGs ocidentais. Não mencionam o Artigo 190 da Constituição, que estabelece, entre outras coisas, que “a jurisdição indígena originária camponesa respeita o direito a vida, o direito a defesa e os demais direitos e garantias estabelecidos na presente Constituição”.

O jogo mesquinho de construção do real não diz que linchamentos são um fenômeno urbano, não rural, que está relacionado ao amplo descrédito em relação às instituições da ordem, como a Polícia e a Justiça [1]. O episódio de agressão sofrido por Victor Hugo Cárdenas é atribuído à Justiça Comunitária. No entanto, a “pelea” de certos grupos e movimentos indígenas com Cárdenas é bem anterior ao governo Morales. Cárdenas, um antigo ideólogo do indigenismo Katarista, é considerado traidor por alguns grupos e movimentos indígenas, pois aceitou ser vice-presidente, a partir de 1993, do então presidente Gonzalo Sanchez de Losada, um dos maiores responsáveis pelo avanço de políticas neoliberais, que entre outras coisas entregaram a preços “módicos” os recursos naturais bolivianos às empresas transnacionais.

A manipulação grosseira segue com o caso Patzi. Na versão da revista, o ex-candidato do MAS ao governo de La Paz nas eleições regionais de abril deste ano, o aymara Félix Patzi, foi “flagrado dirigindo bêbado, foi condenado pela Justiça comunitária a fazer mil tijolos. Além disso, teve a candidatura inabilitada. Se Patzi tivesse concorrido ao pleito e vencido, isso tampouco garantiria a sua posse”.

Patzi de fato foi flagrado bêbedo, justamente no momento em que o governo enfrentava os trabalhadores e empresários do setor de transporte, que chegaram a realizar bloqueios de estradas em oposição ao projeto de lei que previa, entre outras coisas, a suspensão da licença para conduzir daqueles motoristas profissionais flagrados bêbados trabalhando. Nesse contexto, o MAS decidiu substituir Patzi pelo também aymara César Cocarico. A Justiça Comunitária entra na história através das bases de Patzi, que em seu povoado aymara, Patacamaya, em busca do perdão que o reabilitaria a ser candidato, estabeleceram que ele deveria construir os tijolos para se redimir. Porém, mesmo cumprindo a pena, o MAS não mudou de posição.


E assim o texto vai distorcendo fatos, chamando a Justiça Comunitária de “brutal arma contra a oposição e ex-aliados de Morales”. Mas, não menciona que boa parte dos adversários do presidente, em geral os governantes de outrora, fugiram do país com medo da Justiça Comum, uma vez aprovada a Lei Anticorrupção Marcelo Quiroga Santa Cruz, que, entre outras coisas, considera que os crimes de corrupção cometidos por servidores públicos no exercício de suas funções são imprescritíveis.

A Veja mente quando afirma que Morales já perdeu o apoio do Conselho Nacional de Ayullus e Markas do Qullasuyu (Conamaq) e da Assembléia do Povo Guarani (APG). É verdade que ambas organizações tem tomado posturas críticas diante de políticas estatais, ou da falta delas, e seguem apostando na mobilização como forma de conquistar direitos, ao invés do apoio apático e incondicional. Porém, uma revista que escreve que os protestos diminuíram nos primeiros anos de governo Morales “já que o presidente controlava os baderneiros” é incapaz de entender que Conamaq e APG seguem fazendo parte da aliança que governa a Bolívia.

A Bolívia, desde as revoltas chefiadas por Tupac Katari, no século XVIII, se caracteriza por grandes mobilizações populares. Os famosos “bloqueios” e “marchas” são estratégias de manifestação do povo boliviano há séculos. Feliz país que se caracteriza pelo dissenso, nada mais democrático. Perigo é o silêncio conivente, a indignação que não toma as ruas, seja por impedimento (como nas ditaduras) ou por indiferença. Manifestações públicas, como as marchas bolivianas e críticas abertas ao governo não são só necessárias, são fundamentais para que se fortaleça um Estado democrático. O dissenso não é uma prova de “farsa”, é uma prova de “saúde” democrática.

Mas, infelizmente a Veja segue disseminando de maneira sistemática sua visão preconceituosa em relação aos povos indígenas e também aos quilombolas, vide a matéria publicada na edição anterior, de número 2163, datada de 5 de maio de 2010, intitulada “A farra da antropologia oportunista”. Nela, a revista atribui a declaração "não basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente de cultura indígena original" ao antropólogo Eduardo Viveiros de Castro. Porém, é vergonhosamente desmentida por Viveiros de Castro que, em uma carta para a revista, afirma: “Nenhum antropólogo que se respeite a pronunciaria”.

A Veja, por possuir essa perspectiva distorcida sobre “o que é ser índio”, afirma, portanto, que Morales não é indígena por não falar aymara fluentemente ou por ser solteiro. Questionamentos como esses tem mais relevância para Veja que a autonomia indígena estabelecida pela nova Constituição, a incorporação da bandeira indígena wiphala como um dos símbolos oficiais do país, a obrigação dos funcionários públicos em aprender uma língua originária falada na região onde trabalham, a criação de três universidades indígenas (uma aymara, uma quechua e uma guarani), a libertação do trabalho escravo de indígenas guaranis em fazendas em Santa Cruz, a erradicação do analfabetismo na Bolívia ou até mesmo o fato do país ter apresentado o maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina (3,2%) em 2009, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), fatos omitidos na matéria.

Evidentemente, o processo político encabeçado por Morales encontra enormes desafios, dissidências e disputas internas, que reproduzem, por vezes, as velhas práticas em busca do poder – conhecidas em todos os países do mundo - mas também muitos boatos, muitas versões. Elementos existentes em todos os processos políticos vivos e pujantes.

A acusação de que Morales divide o país com suas declarações, como disse Jaime Apaza à Veja, são no mínimo curiosas. Afinal, falar em inclusão de grupos tradicionalmente excluídos não significa dividir o país. Um presidente que defende os direitos de grupos invisibilizados há séculos, não profere palavras de “ódio”. Claro, para certas parcelas da população boliviana, sim, as idéias defendidas por Morales são ameaçadoras porque ameaçam privilégios seculares e a manutenção de uma sociedade racista e excludente, em que a origem étnica tradicionalmente “define” quais lugares alguém pode ocupar na sociedade.

Para aqueles que carregam traços indígenas em um país como a Bolívia, onde a circulação de pessoas de origem indígena em certas áreas das cidades era restrita até 1952, o atual processo político e social tem um valor difícil de ser mensurado. E, certamente, impossível de ser taxado como farsa.
Caroline Cotta de Mello Freitas é doutoranda em Antropologia pela Universidade de São Paulo, desenvolve pesquisa sobre direitos indígenas e movimentos sociais na Bolívia. É professora da FESPSP e da FASM, pesquisadora associada ao MUSEF - BO.

Vinicius Mansur é correspondente do Brasil de Fato na Bolívia.

Nota
[1] Afirmação feita pelo representante da Organização das Nações Unidas (ONU) na Bolívia, Denis Racicot, em 24 de março de 2010, durante a apresentação do Relatório sobre os Direitos Humanos na Bolívia em 2009.