terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Itália se nega a extraditar ex-capitão da ditadura uruguaia

Capitão da marinha uruguaia, Troccoli teve uma atuação bastante ativa na tristemente famosa “Operação Condor” (que contou com a participação das ditaduras militares do Uruguai e de outros países sul-americanos), tendo sido responsável pela tortura e morte de mais de uma centena de opositores desses regimes, entre 1975 e 1983. Em 2002, o governo do Sr. Silvio Berlusconi – em sua segunda passagem pela chefia do gabinete de ministros da Itália - concedeu cidadania italiana ao Capitão Troccoli, mesmo sabendo das acusações de crime contra a humanidade que pesavam contra ele.

Em setembro do ano passado, o ministro da justiça da Itália, Angelino Alfano, negou-se à extraditar Troccoli para o Uruguai, alegando que ele é cidadão italiano, tomando como base jurídica um tratado assinado entre os dois países em 1879. Portanto, o mesmo governo que nega-se a extraditar um notório torturador, utilizando dessas filigranas jurídicas, é o mesmo que se considera ofendido pela não-extradição de Battisti, que seguiu todas as normas da legislação brasileira, que por sua vez se baseia em uma série de convenções internacionais.

"O curioso é que o governo de Berlusconi negou a extradição de Troccoli para o Uruguai, alegando dupla cidadania", comentou o editor da página Gramsci e o Brasil, Luiz Sérgio Henriques. Henriques argumenta que o caso Troccoli tem "muitas semelhanças" com o de Battisti: "não faltaram pressões diplomáticas do governo uruguaio, recursos às instâncias do Judiciário italiano, etc.", e conclui: "mas o governo de Berlusconi parece irredutível na sua decisão sobre Troccoli, 'o Battisti uruguaio', no dizer do jornal L’Unità. E se trata de um episódio recente, cujas escaramuças diplomáticas e judiciárias mais dramáticas ocorreram em 2008".

Do Portal Vermelho.org

Imprensa afunda nas enchentes de SP

por Altamiro Borges, no Blog do Miro

Reproduzo artigo de Augusto da Fonseca, publicado no blog Festival de Besteiras na Imprensa:

O caos de alagamentos e transbordamento de rios continua em São Paulo (Programa do Serra “Alaga São Paulo”) e a imprensa, como denunciamos ontem, continua atuando de forma irresponsável.


Com isso, as Organizações Serra (Globo, Folha, Estadão e Veja, entre outros) torna-se cúmplice e, portanto, co-responsável, juntos aos governos tucanos e do DEM (capital), ao não denunciar que estes não investiram o que seria necessário para impedir ou minimizar os efeitos de algumas (mas não todas) chuvas intensas, que ocorrem em São Paulo, durante o verão.


Vejam os títulos das matérias de alguns veículos das Organizações Serra, que continuam a “livrar a cara” do governo estadual e da prefeitura da capital.


Saiba a situação de vias e serviços afetados pela chuva em São Paulo (G1)


Como se vê, a culpa é da chuva e nem uma linha sobre a responsabilidade dos governantes.


Chuva alaga SP e deixa 13 mortos na região metropolitana; prefeitura suspende rodízio (Folha.com)


Como se vê, é a chuva que alaga SP e mata 13 na região metropolitana. Nada sobre a responsabilidade dos governantes…


Número de mortos pela chuva da madrugada sobe pra 11 (Estadao.com)


A chuva é a grande vilã assassina e os governantes tucanos e do DEM são umas santas criaturas, com suas bundas sentadas em seus gabinetes com ar refrigerado e helicópteros para seus deslocamentos.


O site do Estadão tem uma seção chamada SP da Enchentes. Lá diz que o Alckmin vai aumentar a dotação para o dessassoreamento do Rio Tietê. Ou seja, não fez no ano passado e diz que vai fazer agora.


Eu garanto a vocês, como garanti, neste blog, no ano passado: o Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura da Capital, passado o período de chuvas, não fará absolutamente nada. Anotem e me cobrem em janeiro de 2012!


*****


A blogosfera progressista tem que denunciar essa co-responsabilidade da imprensa, mas está ainda muito devagar.


Daqui a pouco, as Organizações Serra vão inventar um jeito de mostrar que tudo isso que ocorre anualmente em São Paulo é culpa do Lula e será culpa da Dilma.


Temos que martelar esse assunto, como se estivéssemos no segundo turno da campanha da Dilma.


Pelo bem dos que moram, trabalham, estudam ou visitam o estado e a capital.

O ódio político


por Eduardo Guimarães, no Blog Cidadania

Jared Lee Loughner apareceu com a cabeça raspada, um ferimento na testa e sorrindo em foto divulgada pela polícia. Na corte federal ele entrou algemado, olhando fixo para frente e, como fez desde sábado, não deu nenhuma declaração. Respondeu apenas que estava ciente das primeiras acusações contra ele

Com a locução acima, o correspondente do Jornal da Globo Rodrigo Bocardi iniciou a reportagem sobre a tragédia de Tucson, no Estado norte-americano do Arizona, em que Loughner matou seis pessoas e feriu quatorze. O alvo principal era a deputada democrata Pamela Simon, que agoniza no hospital.

Quem admite que a causa do ato ensandecido do lunático de 22 anos pode ter sido o clima político desencadeado pelos ultraconservadores do movimento Tea Party não foi um blog sujo, comunista, progressista, regressista ou coisa que o valha, mas o Jornal da Globo.

O telejornal admitiu que o movimento conservador liderado pela candidata derrotada à Presidência dos EUA em 2008, Sarah Palin, pode ser o responsável por conta do ódio político que vem pregando.

É curioso – e, talvez, providencial, para o Brasil – que esse fato tenha ocorrido poucos dias depois da onda de jovens ensandecidos que, às dezenas, no dia da posse de Dilma Rousseff na Presidência da República pediam, peloTwitter, que ela fosse alvejada por um franco-atirador.

O que espanta é como esses fenômenos ocorrem em ondas e como parecem ter um poder imenso de contaminar as pessoas. Quem viu as fotos dos perfis do Twitter dos jovens que pregaram o assassinato de Dilma Rousseff percebeu que eram pouco mais do que crianças, com uma ou outra exceção.

São justamente os jovens que preocupam, tanto nos EUA quanto no Brasil, no âmbito dessas campanhas de demonização de adversários políticos ou ideológicos por grupos radicais. Parecem mais suscetíveis que os adultos, capazes de materializar o que os mais velhos dizem como brincadeira.

Esses perfis crescem aos poucos nas redes sociais. Começam com meia dúzia de seguidores, vão crescendo e conseguem chegar a dezenas de milhares, que passam a ser contaminados com pregações racistas, homofóbicas, xenofóbicas e de ódio político, que, quando entra em campo, acaba reunindo todas essas fobias sociais em uma só.

Durante a campanha eleitoral à Presidência do Brasil, ano passado, o ódio político, estimulado pela mídia, enveredou pelos mesmos caminhos da pregação fascista do Tea Party, com cristãos fundamentalistas promovendo a execração de Dilma Rousseff. Até os homofóbicos simpatizantes do adversário da candidata passaram a acusá-la do que consideram o pior dos crimes.

O que acaba de acontecer nos Estados Unidos é uma tragédia e fica difícil dizer que se pode tirar algum proveito dela, mas é possível extrair uma lição, sim. Tão eficaz que, como diz a reportagem do Jornal da Globo, “os dois lados”, por lá, já estão pensando em fazer diminuir a temperatura do clima político.

Homofóbicos pregam que jovens podem ser “contaminados” vendo homossexuais, o que é uma bobagem na qual ninguém bom da cabeça pode acreditar. Todavia, jovens podem ser, sim, contaminados por estímulos à violência e ao preconceito. As provas estão aí, nos que pregaram assassinato de nordestinos e da presidente da República pelo Twitter.

O ódio político, ideológico ou moralista não pode ser estimulado. Os grupos radicais que se organizam para promover o ódio contra pessoas são um risco à sociedade mesmo quando julgam que defendem causas nobres.

Essa é uma reflexão que os agentes políticos no Brasil têm que fazer. Mídia, partidos e até movimentos sociais estão enveredando por caminho arriscado que pode gerar conseqüências imprevisíveis. E, nesse contexto, tanto a direita midiática quanto a esquerda têm que parar e pensar.

Artigo na integra, aqui

A direita encontra o seu messias?


Ao assumir o papel de principal líder do aglomerado conservador, Serra amealhou respeitável portfólio eleitoral.


Por Wanderley Guilherme dos Santos.


Para os que temiam pelo destino da direita, as eleições propiciaram grata surpresa. Uma coalizão informal de políticos, autoridades religiosas, marqueteiros e meios de comunicação assegurou inesperada vitória ao conservadorismo social. Levado à disputa pela campanha de Marina Silva, o obscurantismo adquiriu a tradicional truculência do tucanato serrista e dobrou a campanha de Dilma Rousseff.- A carta-compromisso divulgada pela candidata algemou o Poder Executivo ao status quo da assistência a gestantes problemáticas. Por pouco o contrato de união civil entre pessoas do mesmo sexo não foi incluído entre as condutas diabólicas, bem como as pesquisas com células-tronco e, sim, o divórcio.

São todos itens da pauta privada de Marina Silva e não é impossível que compareçam às eleições de 2014. Foi uma das fatias direitistas que se deslocaram entre o primeiro e o segundo turno.

Aceitando o papel de líder do aglomerado das direitas, atraindo, inclusive, a parcela conservadora do eleitorado marineiro, José Serra azeitou a retórica e terminou com respeitável portfólio eleitoral. Emitindo mensagens acima dos partidos, praticamente sozinho, com um partido de apoio, o DEM, em frangalhos, e outro, o PSDB, batendo em retirada, enfrentou a candidata de um presidente com extraordinário apoio popular, alcançando 44% dos votos válidos.

É pouco provável que qualquer outro presidente obtenha o reconhecimento consagrado a Lula e, em decorrência, que se traduza em apoio eleitoral da magnitude observada agora. Particularmente nos estados do Nordeste, nos quais as diferenças entre a candidata Dilma e o candidato Serra foram excepcionais. Não se trata da vitória, mas não é despropositado refletir que o tamanho da vitória de Dilma no Nordeste expressa um voto de confiança em Lula.

Em discurso na noite de 31 de outubro, José Serra evitou admitir uma derrota irreversível e anunciou sua candidatura a condutor da recém-mobilizada coalizão conservadora. Consciente do lugar conquistado, reivindicou a responsabilidade pelo resultado eleitoral que, supõe, inicia um caminho novo para ele: o da direita explícita. Pouco concedeu aos partidos, ignorou o delirante vice de sua chapa, Índio da Costa, referindo-se somente, e economicamente, ao governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin. Além de prometer hostilidade ao governo Dilma Rousseff, lançou um desafio a Aécio Neves: a disputa pela base eleitoral da direita em 2014.

A plataforma delineou-se ao longo dos debates e da propaganda eleitoral. Em harmonia com o conservadorismo, Serra advogou doutrinário enxugamento das contas públicas, limite às atividades pioneiras do Estado, substancial redução de impostos, proteção privilegiada às exportações e, na política externa, retorno a belicoso alinhamento ideológico aos “valores ocidentais”, com sotaque inglês. Embutiu o suicídio da política social e trabalhista vigente, no médio prazo, sob disfarce de magníficos aumentos nas aposentadorias, pensões e no salário mínimo, além de agregar um bônus ao Bolsa Família, a que impropriamente designou de 13º salário, de memória trabalhista.

Esse bônus significaria a impossibilidade de expandir o programa aos milhões de famílias ainda por incluir, por aí confinando a cobertura aos atuais beneficiários, criando um fosso cheio de ressentimento entre duas classes de famílias pobres – as cobertas e as não cobertas pelo Bolsa Família – o oposto ao que a atual política de inclusão social persegue. Combatido pelos conservadores, mesmo quando os salários estão comprimidos, o imediato aumento sugerido para o salário mínimo após sucessivos acréscimos reais nos últimos anos forçaria o empresariado, em particular o pequeno e médio, a um retorno às práticas da informalidade e, provavelmente, à diminuição na oferta de empregos.

Menor expansão das taxas de ocupação, finalmente, repercutiria na Previdência Social, que passaria a arcar com receitas proporcionalmente menores em face das despesas de aposentadorias e pensões subitamente elevadas. No médio prazo, discriminação entre as famílias pobres, informalidade e desemprego no mercado de trabalho e buracos crescentes na Previdência Social.

No contexto de uma política fiscal doutrinariamente apertada, que melhor momento para uma reforma privatista na Previdência? As propostas sociais da candidatura José Serra nada tinham de eleitoreiras. Antes, eram brilhantes como estratégia de radical reversão das políticas em curso da única forma pacífica possível, ou seja, por seu desgaste, por assim dizer, natural.

Politicamente, a candidatura José Serra prometia “peitar o Congresso” e promover uma reforma das instituições, impondo o chamado “voto distrital puro”. Nesse sistema, um eleitorado que se divida entre três candidatos, um recebendo 34% dos votos, com 33% dados a cada um dos outros dois, veria o primeiro levando 100% da representação, isto é, sendo o único eleito, “puro”, ficando 66% dos demais eleitores sem representante direto. Esse seria o resultado da inatacável ideia de moralização dos costumes políticos brasileiros, porém, sob forma de um sistema de eleição distrital. Outra consequência, o sistema partidário sofreria razoável devastação em nível nacional, com tendência ao duopólio similar ao dos partidos, Democrata e Republicano, nos Estados Unidos, e Conservador e Trabalhista, na Inglaterra.


Partidos médios de relevante significado como o Partido Socialista Brasileiro ou o Partido Republicano, ou de histórica coerência doutrinária como o PCdoB (os comunistas nostálgicos do Partidão, atual- PPS, estão para se dissolver no PSDB), seriam contidos em colégios regionais, quando não estaduais, ou desapareceriam completamente. Essa desinstitucionalização interromperia a importante tarefa de trazer para o leito da política partidária e parlamentar os conflitos sociais e econômicos das grandes periferias metropolitanas e das regiões limítrofes ao território do país já constitucionalizado. É aí que os pequenos e médios partidos operam a tradução das tensões e dos conflitos latentes de grande magnitude (veja Carajás, fruto da ausência de córregos institucionais) em demandas articuladas em termos eleitorais e partidários.

Um bipartidarismo por imposição legal alimentaria a dinâmica centrífuga das regiões ainda não integradas nacionalmente por via do mercado. À visão de uma jurisprudência com ambições demiúrgicas, escapa a complexidade dialética das relações entre sociedades heterogêneas e instituições representativas, que não se regem por pautas valorativas que, mesmo universalmente aceitas, possuem escassa eficácia operacional. O inconformismo com práticas que maculam- as instituições democráticas é saudável e costuma ter consequências positivas, cedo ou tarde. É falso, entretanto, que o preço a pagar pelo aprimoramento institucional seja a amputação da taxa de representatividade parlamentar. Não obstante, a propaganda adversa tem contaminado a avaliação de ponderável número de políticos e analistas, insinuando-se como requisito indispensável da modernidade a defesa de uma abstrata “reforma política”, cujas medidas específicas se resumem a castrar o direito de escolha da população.

A visão de milhões de eleitores mal saídos do cativeiro da miséria e do coronelismo, elegendo representantes que atendam a seus interesses, é insuportável para aqueles que só apreciam aos que pensam e se vestem como eles. A introdução do voto distrital, puro ou misto, registre-se, também faz parte do ideário de Marina Silva e de Aécio Neves, pretendentes ao eleitorado conservador, além de José Serra.

Expressiva maioria dos eleitores sabe de que lado vai votar, ao final, mesmo antes da campanha. O período de disputa é fundamental para descobrir quem ocupa o lado de sua preferência. Por entre o festival de descaminhos proposto pela rede midiática de desinformação, o tempo gratuito de televisão e rádio foi suficiente para o eleitorado identificar seus representantes. Os candidatos presidenciais reiteraram à exaustão o que pretendiam fazer no governo, em tudo que lhes foi arguido por entrevistadores. Mas profissionais da economia lastimam que os debates não tenham se convertido em esgrima econométrica e colunistas reclamam que faltou esclarecimento sobre o que pensam os candidatos. Depois alardeiam que o povo não sabe votar…

O cenário político pós-eleições de 2010 é tenso. O governo eleito vai administrar o País em período de turbulência econômica internacional. A agenda interna contém tópicos urgentes: proposta para o financiamento estável da saúde coletiva; soluções logísticas para problemas suscitados pelo desenvolvimento econômico, após décadas de descaso; estímulo ao aumento das taxas de poupança e investimentos domésticos; expansão na capacidade de produzir conhecimento e tecnologia. Tudo isso com uma base de apoio parlamentar que peca por heterogênea abundância e uma oposição em disputa pela herança conservadora. Haja democracia.

Pescado no Blog O Terror do Nordeste

domingo, 9 de janeiro de 2011

Capitalismo: o que é isso?


Por Emir Sader *

As duas referências mais importantes para a compreensão do mundo contemporâneo são o capitalismo e o imperialismo.

A natureza das sociedades contemporâneas é capitalista. Estão assentadas na separação entre o capital e a força de trabalho, com aquela explorando a esta, para a acumulação de capital. Isto é, os trabalhadores dispõem apenas de sua capacidade de trabalho, produzir riqueza, sem os meios para poder materializa-la. Tem assim que se submeter a vender sua força de trabalho aos que possuem esses meios – os capitalistas -, que podem viver explorando o trabalho alheio e enriquecendo-se com essa exploração.

Para que fosse possível, o capitalismo precisou que os meios de produção –na sua origem, basicamente a terra – e a força de trabalho, pudessem sem compradas e vendidas. Daí a luta inicial pela transformação da terra em mercadoria, livrando-a do tipo de propriedade feudal. E o fim da escravidão, para que a força de trabalho pudesse ser comprada. Foram essas condições iniciais – junto com a exploração das colônias – que constituíram o chamado processo de acumulação originaria do capitalismo, que gerou as condições que tornaram possível sua existência e sua multiplicação a partir do processo de acumulação de capital.

O capitalismo busca a produção e a comercialização de riquezas orientada pelo lucro e não pela necessidade das pessoas. Isto é, o capitalista dirige seus investimentos não conforme o que as pessoas precisam, o que falta na sociedade, mas pela busca do que dá mais lucro.

O capitalista remunera o trabalhador pelo que ele precisa para sobreviver – o mínimo indispensável à sobrevivência -, mas retira da sua força de trabalho o que ele consegue, isto é, conforme sua produtividade, que não está relacionada com o salário pago, que atende àquele critério da reprodução simples da força de trabalho, para que o trabalhador continue em condições de produzir riqueza para o capitalista. Vai se acumulando assim um montante de riquezas não remuneradas pelo capitalista ao trabalhador – que Marx chama de mais valia ou mais valor – e que vai permitindo ao capitalista acumular riquezas – sob a forma de dinheiro ou de terras ou de fábricas ou sob outra forma que lhe permite acumular cada vez mais capital -, enquanto o trabalhador – que produz todas as riquezas que existem – apenas sobrevive.

O capitalista acumula riqueza pelo que o trabalhador produz e não é remunerado. Ela vem por tanto do gasto no pagamento de salários, que traz embutida a mais valia. Mas o capitalista, para produzir riquezas, tem que investir também em outros itens, como fábricas, máquinas, tecnologia entre outros. Este gasto tende a aumentar cada vez mais proporcionalmente ao que ele gasta em salários, pelo peso que as máquinas e tecnologias vão adquirindo cada vez mais, até para poder produzir em escala cada vez mais ampla e diminuir relativamente o custo de cada produto. Assim, o capitalista ganha na massa de produtos, porque em cada mercadoria produzida há sempre proporcionalmente menos peso da força de trabalho e, por tanto, da mais valia - que é o que lhe permite acumular capital.

Por isso o capitalista está sempre buscando ampliar sua produção, para ganhar na competição, pela escala de produção e porque ganha na massa de mercadorias produzidas. Dai vem o caráter sempre expansivo do capitalismo, seu dinamismo, mobilizado pela busca incessante de lucros.

Mas essa tendência expansiva do capitalismo não é linear, porque o que é produzido precisa ser consumido para que o capitalista receba mais dinheiro e possa reinvestir uma parte, consumir outra, e dar sequencia ao processo de acumulação de capital. Porém, como remunera os trabalhadores pelo mínimo indispensável à sobrevivência, a produção tende a expandir-se mais do que a capacidade de consumo da sociedade – concentrada nas camadas mais ricas, insuficiente para dar conta do ritmo de expansão da produção.

Por isso o capitalismo tem nas crises – de superprodução ou de subconsumo, como se queira chamá-las – um mecanismo essencial. O desequilíbrio entre a oferta e a procura é a expressão, na superfície, das contradições profundas do capitalismo, da sua incapacidade de gerar demanda correspondente à expansão da oferta.

As crises revelam a essência da irracionalidade do capitalismo: porque há excesso de produção ou falta de consumo, se destroem mercadorias e empregos, se fecham empresas, agudizando os problemas. Até que o mercado “se depura”, derrotando os que competiam em piores condições – tanto empresas, como trabalhadores – e se retoma o ciclo expansivo, mesmo se de um patamar mais baixo, até que se reproduzam as contradições e se chegue a uma nova crise.

Esses mecanismos ajudam a entender o outro fenômeno central de referência no mundo contemporâneo – o imperialismo – que abordaremos em um próximo texto.


* Emir Sader é sociólogo, cientista, mestre em Filosofia Política e doutor em Ciência Política pela USP.

Pescado no Blog Observadores Sociais

PSDB: mais perdido que cego em tiroteio...

Reflexão de Fidel Castro: Um ato atroz

Pescado no Portal Vermelho.org

Uma triste noticia foi divulgada na tarde de hoje (8) nos Estados Unidos: a congressista democrata pelo estado do Arizona, Gabrielle Giffords, foi vítima de um atentado criminoso enquanto participava em um ato político en seu distrito eleitoral de Tucson. Do outro lado da fronteira se encontra o México, o país latino-americano a que pertencia esse território, quando em uma injusta guerra lhe foi arrebatada mais da metade de su extensão.

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Por sua árida superficie, muitos dos que emigram do México, da América Central e outros países latino-americanos tentam escapar da fome, da pobreza e do subdesenvolvimento a que esses povos foram levados pelos Estados Unidos. O dinheiro e as mercadorias podem cruzar livremente a fronteira; os seres humanos, não. Sem falar das drogas e das armas que cruzam essa linha em uma e outra direção.

Centenas de milhares de latino-americanos, que naquele país realizam os trabalhos mais pesados e mal pagos, são capturados a cada ano e devolvidos a seus pontos de partida, muitas vezes separados de seus familiares mais próximos. Eles esperavam da nova administração uma retificação dessa política criminosa e desumana.

De acordo com as noticias recém chegadas, 18 pessoas foram alcançadas pelas balas, e seis morreram, entre elas, uma menina de 9 anos e o juíz federal John Roll.

A congressista foi gravemente ferida por um disparo na cabeça. Os médicos lutavam para salvar sua vida.

Ela é casada com o astronauta da Nasa, Mark Kelly. Foi eleita pela primeira vez ao Congreso em 2006, com a idade de 36 anos. “É partidária da reforma migratória, da pesquisa sobre células-tronco e as energias alternativas”, medidas que a extrema direita detesta. Ela tinha sido reeleita como representante democrata nas últimas eleições.

Perguntado pela imprensa se tinha inimigos, seu pai respondeu: “É tudo o Tea Party“.
Sabe-se que a ex-candidata à vice-presidência dos Estados Unidos nas eleições de 2008 e líder do Tea Party, Sarah Palin, publicou em seu sitio na internet como objetivo para os seguidores de seu partido, um mapa do distrito congressual de 20 representantes que haviam apoiado a proposta de reforma da saúde do presidente Obama, e os tinha marcado com a mira de um fuzil.

O adversário da congressista Gabrielle Giffords era um ex mariner que na campanha eleitoral apareceu com um fuzil M-16 em uma propaganda, cujo conteúdo, segundo se informa, era: “Ajude a derrotar Gabrielle Giffords…Dispare o gatilho de um M-16 automático com Jesse Kelly.”

Em março de 2010 o comitê eleitoral de Gabrielle foi atacado. Ela declarou que quando as pessoas faziam isso, tinham que dar-se conta de suas consequências; os líderes políticos devem reunir-se e dizer quais são os limites.

Qualquer pessoa sensata poderia perguntar-se se um fato como este ocorreu no Afeganistão ou em um distrito eleitoral no Arizona.

Obama declarou textualmente: “É uma tragédia inqualificável, alguns estadunidenses foram baleados…”

“E enquanto continuamos investigando, sabemos que algumas pessoas morreram e que a deputada Giffords está gravemente herida…”

“Ainda não temos todas as respostas. O que sabemos é que um ato de violência tão insensato e terrível não tem cabimento em uma sociedade livre…”

“Peço a todos os estadunidenses que se unam a mim e a Michelle para ter a congressista Giffords, as vítimas desta tragédia e suas familias presentes em nossas orações.”

Seu apelo é relativamente dramático e bastante triste. Até os que não compartilhamos em absoluto suas ideias políticas ou filosóficas, desejamos sinceramente que não morram crianças, juízes, con gressistas nem cidadão algum Estados Unidos de forma tão absurda e injustificável.

É triste recordar que no mundo estão perdendo a vida todo ano muitos millhões de pessoas, como consequência de guerras absurdas, pobreza, fome crescente e deterioração do meio ambiente, promovidas pelas nações mais ricas e desenvolvidas do planeta.

Gostaríamos que Obama e o Congresso dos Estados Unidos compartlhassem essas preocupações com os demais povos.

Fidel Castro Ruz
8 de janeiro 2011
21 h 11

Fonte: Prensa Latina