sábado, 7 de janeiro de 2012

A Guerra Econômica dos EUA contra o Irã



Por Pepe Escobar
NEW YORK. Por aqui, a corrida é desenfreada, cada um querendo detonar, mais que o outro, a economia global.
Uma emenda chave à Lei de Defesa Nacional [orig. National Defense Authorization Act] assinada pelo presidente dos EUA Barack Obama no último dia de 2011 – quando ninguém estava prestando atenção – impõe sanções a todos os países ou empresas que comprem petróleo iraniano e paguem a compra através do banco central iraniano. Entrará em vigência no próximo verão: quem desobedecer, ficará impedido de comerciar com os EUA.
A emenda – que, para todas as finalidades práticas, é declaração de guerra econômica – é trazida até vocês sob o alto patrocínio do Comitê EUA-Israel de Relações Públicas [orig. American Israel Public Affairs Committee (AIPAC)], obedecendo ordens diretas do governo de Israel comandado pelo primeiro-ministro Benjamin “Bibi” Netanyahu.
Cataratas de artigos e comentários de especialistas tentaram introduzir alguma racionalidade na ideia: seria um plano B do governo Obama, o qual estaria assim impedindo que os cães de guerra israelenses atacassem diretamente o Irã (para destruir um suposto programa de armas nucleares).
A verdade é que a estratégia original de Israel era ainda mais histérica: impedir que todos os países e empresas do mundo pagassem ao Irã pelo petróleo que importassem, exceto, talvez, China e Índia. E, como se não bastasse, o pessoal do AIPAC ainda tentava convencer todos de que essa ideia não resultaria em aumentos insaciáveis nos preços do petróleo.
Outra vez, comprovando capacidade inigualável de atirar no próprio pé calçado em sapato Ferragamo, governos na União Europeia debatem se compram ou não compram petróleo iraniano. A dúvida existencial é compram já ou dão um tempo. Inevitavelmente, como a morte e os impostos, o resultado já é – e o que mais poderia ser? – petróleo mais caro. O cru já oscila em torno de $114, e a única porta aberta é para cima.
Me entreguem ao pé do cru, na hora certa![1]
O Irã é o segundo maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), exportando até 2,5 milhões de barris de petróleo ao dia. Cerca de 450 mil desses barris vão para a União Europeia – o segundo maior mercado para o Irã, depois da China.
Gunther Ottinger, burocrata sem rosto como exige a função de Comissário para Energia da União Europeia, andou espalhando que a União Europeia poderia contar com a Arábia Saudita, para suprir o que não comprasse do Irã.
Qualquer analista de petróleo que se dê ao respeito sabe que a Arábia Saudita não tem capacidade ociosa para suprir essa grande demanda extra. Além disso, e mais importante, a Arábia Saudita tem de vender caro o seu petróleo caro. Afinal de contas, a Casa de Saud contrarrevolucionária precisa muitíssimo desses fundos para subornar todos que tenha de subornar para impedir que brote por lá algum tipo de Primavera Árabe local.
E há também a ameaça que Teerã já fez, de bloquear o Estreito de Ormuz, impedindo assim que 1/6 do petróleo do mundo e 70% das exportações da OPEP cheguem aos mercados consumidores. Os varejistas estão fazendo o diabo para estocar a maior quantidade de cru que consigam comprar.
Esqueçam petróleo a preços acessíveis de $50, mesmo $75, o barril. O preço pode subir depressa, chegar a $120, $150 o barril, no próximo verão, como aconteceu em 2008, no auge da crise. E a OPEP, por falar nisso, está extraindo mais óleo do que nunca desde o final de 2008.
Assim sendo, o que começou como objeto explosivo improvisado que Israel escondera numa beira de estrada, já se vai transformando em colete de explosivos para suicídio coletivo, preso por cadeado a setores inteiros da economia global.
Não surpreende que o presidente da Comissão de Segurança Nacional e Política Externa do Parlamento Iraniano, Ala'eddin Broujerdi, tenha alertado para a possibilidade de as novas “sanções” não passarem de “trapalhada estratégica” [orig. strategic blunder] nos países ocidentais.
Tradução: se a coisa continuar, o nome do jogo para 2012 é recessão global profunda.
Obama joga os dados
Primeiro, Washington fez vazar que sanções contra o banco central do Irã “não estão sobre a mesa”. Afinal de contas, é claro que o governo Obama sempre soube que ‘'as sanções'’ fariam o preço do petróleo explodir, e que são passagem só de ida para profunda recessão global. E, quanto ao Irã, só arrancará ainda mais dinheiro do petróleo exportado.
Pois mesmo assim o combo Bibi-AIPAC empurrou a emenda facilmente, goela abaixo do Senado e do Congresso dos EUA – mesmo depois de Tim Geithner, secretário do Tesouro dos EUA, ter-se manifestado claramente contra ela.
A emenda que acaba de ser aprovada pode não ter o efeito de “sanções incapacitantes” que o governo israelense tanto exigia. Teerã sentirá o aperto – mas o aperto não alcançará nível intolerável. E só aqueles irresponsáveis que povoam o Congresso dos EUA – desprezado por maioria ampla dos norte-americanos, como informam todas as pesquisas em circulação por aqui – poderiam ter suposto que conseguiriam tirar do mercado 2,5 milhões de barris do petróleo que o Irã exporta... sem provocar consequências gravíssimas em toda a economia global.
A Ásia precisará de cada vez mais petróleo – e continuará a comprar petróleo iraniano. E os preços do petróleo prosseguirão, rumo à estratosfera.
Tudo isso considerado, por que Obama assinou aquela emenda? Porque agora, para o governo Obama, só se trata, exclusivamente, de reeleição. Os doidos terminais ativos no circo eleitoral dos Republicanos – com Ron Paul como honrada exceção – só falam de ataque ao Irã; prometem que, se eleitos, atacarão o Irã no dia da posse; e muitos eleitores norte-americanos, sem saber o que pensar ou por quê, estão gostando da ideia.
Ninguém está fazendo nem as contas mais simples, que ajudariam a ver que as economias europeia e norte-americana absolutamente não precisam de barril de petróleo aproximando-se dos $120, se alguém ainda espera obter alguma recuperação econômica, mínima que seja.
Mostre o seu, que eu mostro o meu
Além da gangue OTAN-Euro, que vive crise terminal de autodetonação, praticamente todos, naqueles arredores, ignorarão a guerra econômica que EUA-Israel declararam contra o Irã:
a Rússia já disse que contornará o bloqueio;
a Índia já usa o banco Halkbank, na Turquia, para pagar o petróleo que compra do Irã;
o Irã e China estão ativamente negociando novos acordos de venda de petróleo. O Irã é o segundo maior fornecedor de petróleo para a China (só perde para a Arábia Saudita). A China paga em euros e pode, em breve, passar a pagar em yuans. Em março, já haverá novo acordo assinado entre Irã e China sobre novos preços;
a Venezuela controla um banco binacional com o Irã, desde 2009; através desse banco, o Irã recebe todos os pagamentos dos negócios que mantém na América Latina;
a Turquia, tradicional aliada dos EUA, com certeza encontrará meios para isentar a empresa turca TUPRAS, de importação de petróleo, das novas‘sanções’;
e a Coreia do Sul também encontrará algum meio, para continuar comprando do Irã, em 2012, os cerca de 200 mil barris/dia de que precisa.
China, Índia, Coreia do Sul, todos mantêm complexos laços comerciais de mão dupla com o Irã (o comércio China-Irã, por exemplo, é da ordem de $30 bilhões/ano, e está aumentando). Nada disso será “extinto” só porque o eixo Washington/Telavive ordene. Deve-se esperar, isso sim, uma onda de novos bancos privados, a serem constituídos em todo o mundo em desenvolvimento, exclusivamente para continuar comprando petróleo iraniano.
Novidade haveria, só se Washington tivesse cacife para impor sanções aos bancos chineses, porque negociam com o Irã.
Pelo outro lado, é necessário reconhecer o cacife (ou, não sendo isso, a coragem) de Teerã. O Irã enfrenta campanha praticamente jamais interrompida, há anos, de assassinatos pré-determinados e sequestros de cientistas iranianos; ataques em território iraniano, na província do Sistão-Baloquistão; sabotagem de sua infraestrutura, por israelenses; invasões de seu território por drones norte-americanos de espionagem; ameaças incessantes, de Israel e do Partido Republicano dos EUA, de “choque e pavor” sempre iminentes; e os EUA venderam $60 bilhões de armas à Arábia Saudita. E Teerã não cede.
Teerã acaba de testar – com sucesso – mísseis cruzadores iranianos, e bem ali, exatamente no Estreito de Ormuz. E quando Teerã reage à agressão repetida, insistente, incessante do ocidente, ainda é acusada de cometer “atos de provocação”.
6ª-feira, todos os editorialistas do New York Times estavam em lua de mel com o Pentágono, todos repetindo as mesmas ameaças contra o Irã e clamando, todos, por “pressão econômica máxima”.
A conclusão é que os iranianos médios sofrerão – tanto quanto sofrerão os europeus endividados, devastados pela crise. A economia dos EUA também sofrerá. E, cada vez que entender que o ocidente está ficando histérico além do suportável, Teerã poderá servir-se do seu pleno direito de mandar os preços do petróleo às alturas.
O governo de Teerã continuará a vender petróleo, continuará a enriquecer urânio e – o mais importante – não cairá e continuará a ser governo. Como míssil Hellfire disparado contra festa de casamento pashtun, as “sanções” ocidentais fracassarão miseravelmente. Não sem, antes, provocarem vasto dano colateral – no próprio ocidente.

Fonte: Asia Times Online, reproduzido do blog Gilson Sampaio
Tradução: Vila Vudu
Nota dos tradutores
[1] Orig. Get me to the crude on time. Ecoa aí um “Get me to the world on time” (“Me entreguem no mundo, na hora certa”), gravação dos The Electric Prunes, do rock psicodélico dos anos 1960s.
Há quem insista em ouvir aí também ecos de “Get me to the church on time(“Me entreguem na igreja, na hora certa”), do musical “My Fair Lady” (dir. George Cukor), dos mesmos anos 1960s, também gravada por Frank Sinatra, também nos mesmos anos 1960s. Que anos 1960s foram aqueles!
Seja como for, a grande gravação de “Get me to the church on time” é de Judy Garland, que morreu em 1969

EUA suplicam que os Talibã negociem (U.S. beseeches Taliban to talk)

Via Educom

A matéria “exclusiva” da Agência Reuters [1] sobre contatos secretos entre os EUA e os Talibã é, sem dúvida, sensacional. Raras vezes o tabuleiro afegão foi tão claramente “desmitificado”. Serão os EUA, agora, “transparentes”? Uma nova abordagem? Porque tampouco os EUA jamais antes “revelaram” tanto de sua própria política regional, de modo tão explícito. Jamais tampouco se viram intenções de “processo de paz”, depois de guerra tão brutal, manifestas com tal sinceridade de intenções, com tantos bons propósitos, com tal generosidade em relação ao “inimigo”.

Que chances há de alguma coisa do que a Reuters publica hoje “com exclusividade” ser verdade?

Pergunto sobre as intenções que haja por trás de tantas declarações proferidas por militares norte-americanos identificáveis, falando todos, em fila, um depois do outro, em momento crucial de definição da guerra do Afeganistão. E escolhem logo, para divulgar toda aquela sinceridade e transparência, uma agência de notícias que tem leitores em todo o planeta, fazendo-a porta-voz daquelas “revelações”.

O que pode ter empurrado, para tamanha exposição, aqueles “militares norte-americanos de alto escalão”?

Comecemos pela “revelação” – que tem de simples o que pode ter de falsa: os EUA estariam trabalhando num “processo de paz” com os Talibã, com as conversações já bem adiantadas. E esses esforços alcançaram um ponto crítico, com boas chances de progressos consistentes; embora também tudo possa vir abaixo num segundo.

Quanto aos motivos: os funcionários dos EUA falam ali para vários públicos. Há o público doméstico no país – os norte-americanos cansados daquela guerra e que já não vêem sentido algum em continuar no Afeganistão. Esses lêem, em matéria publicada pela Reuters, que o governo Obama empenha-se muito em pôr fim à guerra e avança palmo a palmo, com denodo, rumo ao fim do túnel.

Assim sendo, que ninguém culpe o governo Obama se, apesar do esforço, a tentativa der em nada, por causa da intransigência dos Talibã.

O mais importante de tudo: se, por acaso, a guerra prosseguir, e os EUA chegarem ainda em guerra ao ano da crucial (re)eleição presidencial de 2012, não terá sido por decisão do presidente-candidato Obama, mas por imperiosa necessidade. Obviamente, a lei sobre Guantánamo torna urgente alguma definição sobre o estatuto daqueles prisioneiros, antes que Obama sancione lei. Aqueles prisioneiros são lixo. Por que não se livrar deles e, de quebra, ainda extrair do lixo algum lucro político?

Muito espertos. Sobretudo se a transferência dos prisioneiros para a custódia de Karzai puder ser apresentada como “movimento de cortesia” dirigido aos Talibã. A mensagem visa também os afegãos, especialmente o presidente Hamid Karzai, para que saiba que o nível de exasperação em Washington está alto; que, com ou sem o aval de Kabul, os EUA estão fazendo avançar sua própria agenda; e que já acumularam massa crítica.

Claro que é também mensagem para o Paquistão e para toda a região, os quais, depois dessa “notícia”, terão de começar a pensar sobre as intenções dos EUA no pós-2014.

O momento das “revelações” também é interessante:
a) Obama tem de dar respostas políticas “em casa”;
b) Washington está irritada com Karzai;
c) os EUA estão inseguros quanto às intenções dos Talibã;
d) o Paquistão entrou em modo de “desafio estratégico”; e
e) há oposição regional às bases militares dos EUA no Afeganistão.

A parte intrigante é que governos só “divulgam” sua diplomacia mais top secret quando, de fato, a confidencialidade deixou de ser interessante. Os funcionários do governo dos EUA que fizeram “revelações” à Agência Reuters admitiram publicamente que Washington
desistiu de quaisquer “pré-condições” no relacionamento com os Talibã (que desistiu de todas, fossem quais fossem: que tenham de obedecer à Constituição afegã, que tenham de separar-se da al-Qaeda etc.); e admitiram que os Haqqanis também são muito bem-vindos ao grupo.

A grande pergunta é se as “revelações” sugerem que estaria aparecendo pensamento novo, com vistas ao cenário do pós-2014. Pelo que se pode ver, os EUA começam a considerar uma era pós-Karzai. Querem mostrar que aprenderão a conviver com um Afeganistão comandado pelos Talibã. Mas... e por quê os Talibã engoliriam tudo isso?

Como se poderia adivinhar que fariam, os Talibã imediatamente desmentiram tudo [2] e deram as costas à abertura proposta pelos EUA.

Pode não ser a última palavra dos Talibã.

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Notas dos tradutores:
[1] 19/12/2011, “Exclusive: Secret U.S., Taliban talks reach turning point”, Reuters, (em inglês).
[2] 19/12/2011, “No secret talks with U.S.: senior Taliban commander”, Reuters, (em inglês).

*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

Fonte: http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/12/eua-suplicam-que-os-taliba-negociem.html

Para ofender Lula e as esquerdas, Ferreira Gullar recorre à mediocridade plena


Juremir Machado da Silva, Correio do Povo

Nada mais conservador do que um ex-comunista. É a síndrome do ex-fumante ou do ex-drogado, o cara que cria uma fundação para pregar a moral que não viveu

ferreira gullar lula direita conservador
O triste fim de um poeta
Ano-Novo, vida velha. Ferreira Gullar foi um baita poeta. O seu "Poema Sujo" é arte das grandes. Foi artista engajado, mas a sua poesia conseguia ir muito além dos clichês bem-intencionados dos revolucionários. Hoje, certamente para ganhar a vida ou sentir-se vivo, escreve "crônicas" na Folha de S.Paulo. O seu primeiro texto de 2012 mostra o grande poeta transformado num cronista de meia pataca destilando lugares-comuns conservadores para felicidade de leitores conformistas que se acham cult ou muito críticos. Um mingau azedo polvilhado de certezas sem amparo dos fatos. Por exemplo: "A América Latina vive hoje, por determinadas razões, a experiência do neopopulismo, que tem como principal protagonista o venezuelano Hugo Chávez. É um regime que se vale da desigualdade social para, com medidas assistencialistas, impor-se diante do povo como seu salvador. Lula seguiu o mesmo caminho, mas, como o Brasil é diferente, não conseguiu o terceiro mandato. A solução foi eleger Dilma para um mandato tampão". Como prova? Apenas o seu ranço.
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Nada mais conservador do que um ex-comunista. É a síndrome do ex-fumante ou do ex-drogado, o cara que cria uma fundação para pregar a moral que não viveu. Para ser colunista nos jornalões brasileiros, é preciso, em geral, ser muito conservador ou transferir capital de um bolso para outro, usando a fama de uma atividade como base para o exercício de outra. A direita domina amplamente os chamados espaços de formação de opinião na imprensa. Há jovens que sobem logo ao trono, adotando ideias reacionárias e velhas que, enfim, conquistam novos prêmios, espaços e adulações repetindo fórmulas gastas pela mídia soberana. Ao não buscar um terceiro mandato, Lula frustrou os seus críticos, tirou-lhes - para adotar o atual tom clichê de Ferreira Gullar - o pão da boca e deixou-os por aí a jogar conversa fora. Aquele que foi um poeta maior, de imagens desconcertantes, agora termina suas análises mal-iluminadas com uma frase formalmente constrangedora: "Temo pelo que possa acontecer à Argentina, nas mãos de uma presidente embriagada pelo poder". Pobre poeta, embriagado pela sua mediocridade. Embriagado pela mediocridade do poder da mídia. Enquanto isso, na mesma Folha de S.Paulo, um cronista de ofício, Carlos Heitor Cony, depois de algumas temporadas sentenciosas, faz o caminho inverso: termina de envelhecer bem, disseminando um ceticismo levemente irônico de dar inveja a um Machado de Assis. Assim: "Que venham as tempestades da natureza, contra a qual pouco podemos. Quanto às tempestades provocadas pelos escândalos e pela corrupção da qual estamos fartos, não custa apelar para o fervor de nossas preces".

Como cronista, Ferreira Gullar é um Neymar improvisado de lateral. Há quem confunda ter criticado o stalinismo, na época da queda do muro de Berlim e das ditaduras do Leste europeu, com louvação ao capitalismo sem regulação, esse que quebrou a Europa e parte da economia dos Estados Unidos. 
Leia mais:
Pois é, o poeta Ferreira Gullar perdeu-se em corsos, comícios, discursos a granel. Vai ver que é a coincidência do nome com outro maranhense: José Ribamar.

Aécio e Anastasia não cumpriram promessas contra enchentes

Dos Amigos do Presidente Lula


Ontem (sexta-feira 07), como todo cuidado de não citar diretamente o nome do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB),o senador Aécio Neves( PSDB),ex governador de Minas Gerais, um dos Estados mais atingidos pelas chuvas, criticou após ser provocado sobre o tema, a distribuição de recursos públicos para fins eleitorais. Os tucanos,os demos e PPS, até então,não tinham feito nenhuma critica. Caso raro e a se estranhar. A Folha deste sábado conta o motivo do silêncio da oposição....


Governador tucano descumpre promessas antienchente

O governo de Minas Gerais, Estado que já registra dez mortes pelas chuvas neste ano, não cumpriu promessas de 2011 para combater enchentes.

Em janeiro do ano passado, o governador Antonio Anastasia (PSDB) viajou para áreas alagadas em Pouso Alegre, Itajubá e Santa Rita do Sapucaí e prometeu barragens para os rios da região. Um ano depois, elas ainda não existem.

Em Pouso Alegre, uma das obras prometidas, um dique, está sendo concluída com recursos do PAC (da União) e da prefeitura. Não há dinheiro do Estado, diz o município.

A promessa de barragens já fora feita em 2007 pelo antecessor de Anastasia, Aécio Neves (PSDB), hoje senador.

Desde o início do período chuvoso, em outubro, 12 pessoas morreram em Minas -dez em janeiro. Ontem, um homem e uma mulher morreram soterrados numa casa em Governador Valadares.

Já em Belo Horizonte, o governo mineiro -com Aécio e Anastasia- investiu R$ 205 milhões em obras contra enchentes no ribeirão Arrudas.

O Estado põe recursos (12% do total) e administra a obra, financiada por União (75%), BH e Contagem (6% cada).

A Prefeitura de BH, gerida pelo aliado Marcio Lacerda (PSB), e o Estado se juntaram para fazer estudos hidrológicos e hidráulicos para obras que possam minimizar inundações nas bacias dos córregos Pampulha e Cachoerinha.

Antonio Lassance: Lula e sua etiqueta


07 Janeiro 2012
Lula e sua etiqueta
Lula anunciou que sua primeira viagem, depois do tratamento contra o câncer, será ao Rio de Janeiro.
Quer visitar a Rocinha e o Morro do Alemão.
A fonte da informação é o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e foi divulgada pelo jornalista Ancelmo Gois (O Globo, 6/1/2012).
Se isso vier mesmo a ocorrer, irá simbolizar duas coisas: que o ex-presidente está de volta à ativa, firme e forte, e que começou a entrar de cabeça na campanha municipal de 2012.
Desnecessário lembrar que o Rio de Janeiro é uma capital importante e vitrine de várias realizações do Governo Federal na Era Lula, como as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), as UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento de Saúde) e as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que mudaram a paisagem de vários dos morros.
Outra consequência da presença de Lula no cenário das eleições municipais de 2012 será, muito provavelmente, o reaparecimento daquela discussão incongruente sobre “transferência de voto”. Incongruente porque, primeiro, ninguém transfere seu voto pra ninguém. A não ser em caso de fraude, quando o voto de um candidato é tranferido para outro, mas não é disso que se trata. Deixando de lado a fraude, não se poderia falar em transferência nem mesmo na Primeira República, no auge do sistema coronelista, quando o voto era baseado em uma política de compromisso, conforme nos ensina o clássico de Victor Nunes Leal, “Coronelismo, enxada e voto”.
De outra parte, os que rechaçam (corretamente) a tal “transferência” costumam cair no extremo inverso, negando o poder de convencimento e a utilização do prestígio político como tática para tornar um candidato mais conhecido e aceitável. Negam o que de fato existe e que é muito comum. Trata-se de uma espécie de compartilhamento de atributos entre um político muito conhecido e bem visto e alguém ainda pouco conhecido.
A ideia se casa melhor com a noção que alguns renomados cientistas políticos no passado utilizavam: a ideia de “etiqueta”. O raciocínio já foi muito usado com relação aos partidos. Quando os partidos são fortes e bem definidos, se transformam em uma espécie de etiqueta. A analogia tem sido menos usada justamente pela suposição de que há um enfraquecimento dos partidos como referencial básico de distinção política.
Sejam os partidos fortes ou não, com ou sem identidades bem conformadas, o fato é que o eleitor ainda procura por etiquetas. Quando o eleitor não conhece um candidato plenamente, o que ele faz? Olha em suas costas e verifica sua procedência. Que roupa ele veste? Que marcas ele carrega? Tais “marcas” ajudam a realizar escolhas mais sintonizadas com a preferência do eleitor.
Um candidato que trouxer o nome de Lula em suas costas terá certa etiqueta associada a seu nome. Quando Lula estiver ao seu lado, em campanha, ele estará emprestando seus atributos à figura desse ou daquele candidato. Principalmente os candidatos novatos, por serem desconhecidos ou mal conhecidos do eleitor em geral,  precisarão muito disso, e Lula poderá ser seu principal “out-door”.
Daí não se pode inferir que basta ter uma marca forte (como a marca Lula) para um candidato ser eleito. Inversamente, também não se pode esquecer que, principalmente em disputas acirradas, decididas muitas vezes com margem estreita de votos, um apoio desses pode fazer toda a diferença.
Ou seja, ao se evitar a ideia de transferência de votos, não se pode cair em outro erro, por exemplo, o de negligenciar o peso que Lula terá nas eleições para prefeito neste ano de 2012. Alguns analistas cometeram esse erro, em 2010, quando apostaram que o então presidente não conseguiria alavancar a candidatura Dilma. Perderam a aposta. Têm agora a chande de pensar duas vezes no assunto antes de proferirem seus prognósticos.
*Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e cientista político. As opiniões expressas neste artigo não refletem opiniões do Instituto.

CNJ protagoniza a construção da credibilidade da Justiça

Sanguessugado do blog Dom Severino

"Um grande aliado da tese de que o CNJ tem contribuído positivamente com o país e com o Poder Judiciário através da sua atuação plena e democrática é a Ordem dos Advogados do Brasil. Em todos os momentos de embate entre aqueles que defendem a competência plena do CNJ e aqueles que querem que ela seja fictícia, a OAB sob o comando de Ophir Cavalcante se posiciona de forma clara e contundente, sempre a favor de uma competência ampla e irrestrita". Este é um dos trechos do artigo "CNJ protagoniza a construção da credibilidade  da Justiça", de Marcelo Nobre, conselheiro daquele órgão de controle do Judiciário, publicado hoje pelo site Consultor Jurídico. Abaixo, a íntegra do artigo:
"Em 2011, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) viveu momentos difíceis. O amplo e incondicional apoio ao CNJ pela sociedade brasileira e pelos seus representantes no Senado Federal e na Câmara dos Deputados e as críticas de uma parte da magistratura criaram sentimentos distintos na discussão acerca da competência desta grande instituição brasileira chamada CNJ.

O ano de 2011 até que começou de forma serena, pois a composição era a mesma desde julho de 2009 e os programas e projetos seguiam seus cursos. Os julgamentos dos processos e as propostas dos membros da Corte Administrativa eram aqueles - na sua grande maioria - conhecidos e com boa aceitação entre todos componentes que sempre mantiveram uma boa convivência.

Durante esse período vivenciamos momentos produtivos e também uma importante e necessária tranquilidade interna. Um dos vários exemplos disso é o Fórum da Saúde, capitaneado pelo CNJ e sob a coordenação de Milton Nobre, Nelson Tomaz Braga e eu. Por outro lado, tivemos alguns pequenos embates. O mais expressivo deles foi a inesperada e despropositada argüição de suspeição formulada por um dos membros do colegiado contra outro, quando cabe à parte alegar tal suspeição (nunca um colega).

Outro exemplo, que vale a pena mencionar, é uma portaria do atual presidente. Este exemplo mostra como as decisões de um presidente precisam ser muito bem analisadas antes de publicadas. Esta estabeleceu que todas as diárias dos membros do CNJ para viagens fora da sede como, por exemplo, convites dos tribunais para posses, participação de lançamentos de programas dos tribunais e etc. devem ser analisadas antes pelo presidente. E estes só poderão comparecer, com o recebimento de tais diárias (para pagar as despesas), se o presidente os designar para representá-lo, mesmo que o próprio presidente não tenha sido convidado.

Essa portaria foi feita para atender a um desinformado clamor da mídia que, dias antes, divulgara matérias sobre diárias pagas pelo CNJ. O que ninguém disse nem mostrou, porque não interessava, é que os números apontam que os gastos de diárias altas são em relação aos juízes auxiliares. Ao invés de separarem as diárias dos únicos representantes constitucionais do CNJ, quais sejam, os conselheiros, daqueles convocados para os auxiliarem (na Presidência e na Corregedoria), foi muito mais cômodo misturar todos no mesmo saco. Todavia, estamos falando de água e óleo. Podem se esforçar o quanto quiserem, mas não conseguirão misturar o que não se mistura.

A mencionada portaria, ao invés de esclarecer a mídia, conseguiu amputar a atuação dos membros do Conselho, inviabilizando o bom contato necessário entre os presidentes dos tribunais e os membros que decidem todas as questões referentes às suas administrações.

Foi a primeira vez na história do CNJ que isso aconteceu. A boa relação dos presidentes dos mais de 90 tribunais do país com os conselheiros sempre se deu em razão da proximidade estimulada pelos presidentes do CNJ. Essa convivência não existe mais. Isso é péssimo para todos! Sempre tivemos uma relação positiva e próxima e que auxiliava no entendimento das questões a serem decididas, pois sabemos que conhecer a realidade dos tribunais e a real intenção dos seus dirigentes ajuda sobremaneira na avaliação sobre o que está sendo discutido. Com esta malfadada portaria, a Presidência conseguiu afastar os membros julgadores de conhecer a realidade dos tribunais, empurrando o CNJ na contramão do que deve promover.

Apesar destes contratempos, temos alguns dados que se encontram disponíveis no Justiça em Números do CNJ do ano de 2010 e que são bem interessantes - os dados de 2011 ainda não foram todos compilados e, por isso, não se encontram disponíveis para o público externo neste momento.

Os dados que merecem destaque são os seguintes:

Na Justiça Estadual: tivemos em primeiro grau 7.665.688 novos casos; 1.860.106 no segundo grau e 3.559.247 nos juizados especiais. Enquanto isso, o número de servidores em todos Brasil atingiu 236.538, portanto, 76 servidores por 100 mil habitantes. Em média, a Justiça Estadual arrecadou 20% a menos dos valores que gastou em 2010, sendo a diferença subsidiada pelo orçamento do Estado. E 8.971.513 dos processos foram baixados em primeiro grau no ano de 2010.

Na Justiça do Trabalho: 72% dos gastos do orçamento são em recursos humanos, portanto R$ 52 por habitante; por já se encontrar bem avançada na área de tecnologia da informação, gasta apenas 1,6% do seu orçamento com essa área; esta Justiça especializada arrecada 17,5% de seu custo com execução previdenciária e 11,2% em imposto de renda nas ações trabalhistas; a taxa de congestionamento em segundo grau é de 27,5%; em relação ao número de processos novos ajuizados a Justiça do Trabalho baixou 104%.

Na Justiça Federal: foram 466.817 novos casos em primeiro grau e 445.151 em segundo grau; nos juizados especiais federais, 1.709.885 ações pendentes, enquanto nas turmas recursais, 620.980 aguardam julgamento; a assistência judiciária gratuita da Justiça Federal representa menos de 1% do total da despesa; o Tribunal Regional Federal com maior número de demandas é o da 4ª Região com 449.882 demandantes contra 140.443 demandantes na 1ª Região.

O CNJ, tendo em mãos estes e outros dados, realiza inúmeros programas ainda poucos conhecidos da população, mas que operam importantes resultados junto aos tribunais, como por exemplo:

1. O Justiça Plena, que monitora o andamento dos processos de grande repercussão social em conjunto com oito outros protagonistas: o Ministério da Justiça, a Advocacia Geral da União, a Secretaria de Direitos Humanos, o Conselho Nacional do Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil, a Defensoria Pública da União e dos Estados e a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão.

2. O Cadastro Nacional de Entes Públicos: lista os entes da Administração das três esferas do poder público que são demandados ou demandantes em algum órgão do Poder Judiciário.

3. O Comitê Nacional de Gestão de Tecnologia da Informação e Comunicação do Poder Judiciário: diagnostica situações e apresenta sugestões de uniformização e padronização do sistema.

4. O Espaço Livre: tem o objetivo de remover dos aeroportos brasileiros as aeronaves que estão sob custódia da Justiça. São 119 aviões nesta situação.

5. O Proname: programa com finalidade de implementar uma política de gestão documental que atenda as peculiaridades do Judiciário brasileiro. Cuida da preservação e divulgação dos documentos com valor histórico.

6. O Judiciário em Dia: mutirão judiciário para acelerar julgamentos de processos antigos na Justiça Federal.

7. O Justiça Aberta: sistema de consulta que facilita o acesso dos cidadãos as informações sobre localização das varas, tribunais e cartórios além de relatórios de produtividade das secretarias processuais.

8. A numeração única: padroniza os números dos processos, facilitando o acesso e as informações processuais.

9. As tabelas processuais unificadas: uniformiza as classificações processuais em todos os tribunais, facilitando o acesso e o entendimento das várias fases dos processos.

Nova composição
Assim, caminhamos até agosto, quando chegou a nova composição.

Até o final do período desta terceira composição, as marcas conquistadas com muita luta e que caracterizam o CNJ foram mantidas com responsabilidade. São elas: proibição do nepotismo; regulamentação do teto salarial; a transparência dos gastos dos mais de 90 tribunais do país; divulgação dos números da estrutura do Poder Judiciário; investimentos em informatização dos processos; fiscalização e limitação das obras e contratações desnecessárias; denunciações e combates ao descalabro do sistema prisional; fixação de metas de produtividade e etc...

É inegável o protagonismo do CNJ na construção da credibilidade da Justiça!

Todos os membros do CNJ têm consciência da responsabilidade social que representa a segurança jurídica (desde a respeitabilidade dos contratos celebrados, a celeridade das decisões judiciais até a previsibilidade destas decisões). Isso pode significar uma enxurrada de investimentos estrangeiros de bilhões de dólares que mudam a vida de qualquer país.

A fina análise dos investidores internacionais, que é feita antes da escolha definitiva do país aonde aportarão seus vultosos investimentos, passa, obrigatoriamente, por todos esses aspectos que dizem respeito diretamente ao Judiciário.

Desta forma, exerço minha função no CNJ antes mesmo da chegada da corregedora Eliana e do presidente Peluso, representando a Câmara dos Deputados em três composições (a segunda, a terceira e nesta quarta). Por essa razão, posso afirmar que as mudanças de composição sempre trazem consigo um elemento que, no início, causa certa desestabilização natural.

Explico!

Todos os operadores do direito que se encontram fora do CNJ tendem a ter uma visão/opinião muito crítica e ácida quanto a nossa atuação. Seja porque alguns acham que fazemos pouco (deveríamos ser mais duros com os magistrados), seja porque outros acham que avançamos em searas que não são nossas. Estes mesmos, quando têm a grande e única oportunidade de colaborar com seu país fazendo parte do seleto grupo que compõem os 15 membros do CNJ, chegam energizados para aplicar as mudanças que acreditam ser necessárias. É por isso que na troca de composições temos sempre grandes divergências e embates.

Com esta última composição - a quarta - que trocou 10 membros e que tomou posse no mês de agosto, não foi diferente. Ainda bem que muitos chegam, também, com outro espírito, cheios de vontade em colaborar para reafirmar os acertos dos seus antecessores. Em regra, estes membros são os representantes de fora da magistratura (OAB, MP e Congresso Nacional). Todavia, as composições anteriores nos ensinaram que existem excelentes exceções a essa regra, graças a Deus.

Este ponto de vista tenta explicar, de forma simplista, a luta interna que se estabeleceu neste segundo semestre no CNJ. Acrescente-se a isso o que disse o presidente Peluso, quando da posse dos novos membros desta composição: "acompanhei muito de perto as escolhas de cada um dos novos membros pelos seus órgãos de origem e que agora tomam posse".

Quando escrevi a retrospectiva de 2010, acreditei que a explicação de alguém que viu por dentro o círculo virtuoso do sempre presidente Gilmar Mendes em seu último ano, pudesse servir, no mínimo, para a reflexão da atual administração e assim ajudar a salvar o seu último ano. Fiz a minha parte! Confesso que até agora não sei qual é a marca da gestão Peluso. E quando pergunto se alguém sabe, a resposta sempre é a de que é exatamente essa a marca. O presidente Nelson Jobim colocou o CNJ de pé (foi o primeiro presidente) e lutou muito para que o Poder Judiciário respeitasse este maravilhoso novo órgão e para isso contou com seu incansável e brilhante secretário-geral, Flávio Dino.

A presidenta Ellen marcou sua gestão na conciliação e na informatização. Já o presidente Gilmar deixou marcada a sua gestão na destemida atuação no sistema penitenciário, além de ter ampliado os convênios com inúmeros outros órgãos e exercido o ativismo do CNJ com a grande parceria dos então corregedores Cesar Asfor Rocha e Gilson Dipp. Além disso, o ministro Gilmar ainda teve ao seu lado, como secretário-geral, somente no seu último ano, o juiz Rubens Curado. Tenho certeza de que ele hoje deve lamentar por não ter colocado o juiz Rubens na Secretaria-Geral desde o início da sua gestão, pois se o tivesse feito teria ganhado dois anos inteiros ao invés de apenas um.

Portanto, conclui-se que ter um secretário-geral habilidoso e que cumpre o que combina é fundamental para o sucesso da gestão no CNJ. Aqueles que perceberam isso a tempo, marcaram a história da sua passagem pelo órgão.

É importante esta oportunidade também, para fazermos justiça à grande atuação da desbravadora primeira composição do CNJ. Eles são até hoje muito criticados por terem tido a coragem de punir severamente alguns maus juízes e por não terem podido implementar nenhum programa/projeto de profundidade que contribuísse para o aprimoramento do Poder Judiciário. Esses críticos se esquecem de que na primeira composição não existiam informações sobre o até então desconhecido Poder Judiciário. Hermeticamente fechado!

Hoje, um pouco menos. O único elemento que a primeira composição do CNJ possuía eram as denúncias que chegavam. Não se sabia qual era o total de juízes no país! Quantos servidores, etc... Como podiam prescrever o remédio adequado ao paciente se não tinham o seu diagnóstico? Eles agiram com responsabilidade. Decidiram as questões que chegavam. O Brasil estava ávido por um órgão que, no mínimo, respondesse as dúvidas que pairavam sobre vários procedimentos duvidosos no Poder Judiciário, como já havia acontecido nos outros poderes.

Com a criação do esperado CNJ o povo viu uma luz no fim do túnel, ou seja, teria uma resposta aos seus reclamos. E para o regozijo de todos os cidadãos de bem, o CNJ correspondeu à expectativa e conquistou o respeito e a confiança do povo brasileiro.

Agora, porém, apesar dessa atuação eficaz e merecedora de aplausos do CNJ, com a mudança de comando nas associações nacionais de magistrados (AMB, Ajufe e Anamatra), que contam com o apoio do presidente do STF e do CNJ, começamos uma nova luta de reafirmação dos poderes estabelecidos pelos representantes do povo quando da elaboração da Emenda Constitucional 45 que criou o CNJ.

Com essas novas peças no tabuleiro do Poder Judiciário, vivemos em setembro, ou seja, apenas um mês depois do inicio das atividades da nova composição, o que viria a ser o primeiro tempo da "crise" com exposição pública. A corregedora Eliana Calmon concedeu uma entrevista a um jornal impresso afirmando existir "bandidos de toga" no Poder Judiciário. A veiculação se deu no mesmo dia em que tínhamos sessão plenária no CNJ. Por essa razão, ficamos 1h30 minutos antes do início dela, fechados na sala utilizada para as sessões administrativas, ouvindo o inconformismo do presidente e a não concordância de todos nós com a generalização infeliz de que todos os membros do Poder Judiciário seriam "bandidos de toga".

Falo por mim. Não concordei com o termo utilizado e citei como exemplo de que não são todos os magistrados, a própria corregedora, o presidente, a minha esposa e um mundo de outros magistrados honrados que conheço. Por fim, tive a intuição de que a decisão de divulgar uma nota contra a expressão infeliz (acreditem, no gerenciamento daquela crise, a nota foi o mal menor) seria interpretada pela mídia e pelos leigos como sendo um ataque ao poder concorrente do CNJ. Por dever de lealdade, no final da discussão, levantei a questão e fui duramente criticado pelo presidente que disse que eu estava misturando assuntos, pois ninguém estava tratando da competência do CNJ. Infelizmente, eu estava certo. O que se sucedeu, todos sabem. Foi uma verdadeira corrida pública de posicionamentos sobre o poder do CNJ.

Os que têm opinião definida favorável ou não ao poder pleno/concorrente do CNJ escreveram artigos em jornais e deram entrevistas. Outros preferiram não expor as suas opiniões. Os representantes do CNJ que não são da magistratura, Bruno Dantas, do Senado Federal; Jorge Hélio Chaves, da OAB; Jefferson Kravichychyn, da OAB; Wellington Saraiva, do MP; Gilberto Valente, também do MP; e eu, da Câmara dos Deputados, escrevemos um artigo em defesa do poder concorrente do CNJ para o jornal Folha de S.Paulo que foi veiculado no dia 2 de outubro com o título: O CNJ faz de cada cidadão um fiscal.

Um grande aliado da tese de que o CNJ tem contribuído positivamente com o país e com o Poder Judiciário através da sua atuação plena e democrática é a Ordem dos Advogados do Brasil. Em todos os momentos de embate entre aqueles que defendem a competência plena do CNJ e aqueles que querem que ela seja fictícia, a OAB sob o comando de Ophir Cavalcante se posiciona de forma clara e contundente, sempre a favor de uma competência ampla e irrestrita.

Essa exposição pública sobre o poder do CNJ foi muito relevante para inserir a sociedade brasileira na discussão, pois ela precisa se posicionar sobre o que o CNJ representa para ela e o que ela tem a dizer sobre a atuação das corregedorias locais.

E isso é muito importante, porque foi ela, sociedade brasileira, que criou o Conselho Nacional de Justiça, concedendo a ele as mais amplas, gerais e irrestritas competências.

E por que criou? O que a sociedade espera do CNJ?

Transparência judicial
Parece-me que a resposta é muito simples. Criou porque dos três poderes, o Judiciário estava a merecer mais transparência, mais controle e democratização, acompanhando o que já aconteceu aos outros poderes (Executivo e Legislativo).

Parece-me, também, que a sociedade acredita que o CNJ contribui para que o Poder Judiciário elimine, de uma vez por todas, o corporativismo que o alimenta e, assim, ajude este fundamental poder a ganhar mais credibilidade e confiança junto aos seus cidadãos.

Foi com esse intuito que o CNJ foi constitucionalmente criado e ganhou todos os poderes necessários para realizar as mudanças que o povo deste século XXI espera. O compromisso do CNJ é com o país!

Sabemos o quanto é difícil eliminar privilégios. Mas essa mudança de mentalidade é um caminho sem volta. Aqueles que ainda não perceberam que esse movimento não tem retrocesso terão de se adaptar rapidamente para não virarem sucatas do mundo moderno.

No início do mês de dezembro tivemos as eleições no maior tribunal do mundo, o Tribunal de Justiça de São Paulo. Alguns poucos dias depois da proclamação do resultado, o vice-presidente do tribunal se dirigiu ao CNJ colocando em dúvida a eleição havida para presidente e corregedor. Quis o destino que eu fosse o relator. Apesar das insistentes solicitações para que arquivasse o Pedido de Providências sob a alegação de que havia sido judicializado no STF antes do ingresso no CNJ, entendi e continuo entendendo que o exercício dos altos cargos da República exige coragem e que as pessoas que aceitam tais cargos não podem e não devem se furtar a cumprirem as suas obrigações, já que não é por acaso que elas foram designadas para exercê-los.

Assim, após analisar todos os documentos juntados com a inicial, tive a grata satisfação pessoal em ver que o tribunal onde dei "meus primeiros passos jurídicos" mostrava a todo o país o exemplo de democracia que o move. O comparecimento maciço dos desembargadores às urnas é motivo de felicitações. Foi uma festa da democracia. Os candidatos eleitos o foram como em toda democracia, por maioria de votos.

É por essa razão que, quando li nos últimos dias de dezembro no jornal O Estado de S.Paulo, a entrevista do presidente eleito do TJ-SP dizendo que CNJ é ditadura, não pude acreditar. Este grande órgão da nação brasileira que é o CNJ, ao decidir sobre a eleição do tribunal de São Paulo não só enalteceu o espírito democrático que prevaleceu na mencionada eleição como também respaldou a decisão da maioria dos desembargadores tranqüilizando a todos os paulistas e brasileiros, operadores do direito ou não, de que não paira qualquer suspeita sobre os dirigentes eleitos democraticamente para comandar o próximo biênio do maior tribunal do mundo.

Espero, sinceramente, que o presidente eleito se convença de que a eleição acabou e que agora o momento é outro. E que se convença, também, que o CNJ é seu parceiro e pode contribuir muito para o seu sucesso na administração do tribunal. Acreditem, sem o CNJ é muito mais difícil realizar as mudanças almejadas em tão pouco tempo de mandato. Isso, se não for impossível.

Quando achávamos que as discussões sobre o tema da competência do CNJ tinham se encerrado por termos chegado ao final do ano e por estarmos prestes a iniciar o recesso do judiciário (funcionando através de plantões para urgências), que graças ao CNJ, pela primeira vez, os mais de 90 tribunais do país acompanharão o recesso sem a publicação de decisões e, portanto, sem a contagem dos prazos para os advogados, recebemos a notícia de que o respeitado e admirado ministro do STF, Marco Aurélio, havia concedido uma decisão liminar no último dia útil antes do recesso judiciário entendendo que a competência do CNJ é subsidiária, ou seja, que o CNJ não pode averiguar/investigar e decidir denúncias contra qualquer juiz antes da averiguação/investigação e decisão pelas corregedorias locais.

Portanto, esta decisão faz com que cada cidadão tenha que, obrigatoriamente, buscar as corregedorias locais para solucionar as suas denúncias contra magistrados sem a possibilidade de se socorrer diretamente do CNJ.

Neste último dia útil, antes do recesso, tivemos outra decisão do também respeitado e admirável ministro Ricardo Lewandowski, do STF, suspendendo a atuação da Corregedoria do CNJ nos tribunais de justiça de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Abstenho-me de entrar nas discussões apaixonadas sobre as decisões prolatadas no último dia útil antes do recesso do Poder Judiciário, bem como, sobre estas terem sido em forma de liminares. Permito-me apenas opinar sobre as discussões de fundo - a tese e a conseqüência.

É indiscutível que o Supremo é a única Corte competente para julgar todas as decisões do CNJ e os seus membros. Por isso, as associações dos magistrados ingressaram com ação contra o CNJ no STF, questionando o alcance do seu poder. Para estas entidades, que cuidam dos interesses apenas dos seus associados - juízes - o CNJ não pode investigar antes das corregedorias locais (dos Tribunais de Justiça; dos Regionais Federais; Regionais do Trabalho; Justiça Militar).

Ora, o Poder Judiciário tem mais de 400 anos de Brasil. O CNJ foi criado exatamente porque as corregedorias locais, atuantes ou não, nunca ganharam a confiança e o respeito dos cidadãos. Dizer agora que uma decisão judicial conseguirá incutir nos cidadãos a crença de que tudo mudou e que, a partir de agora, todas as corregedorias locais funcionarão sem corporativismo e que todos podem confiar cegamente, é pura ilusão.

Só existe um caminho para as corregedorias locais conquistarem a confiança e o respeito dos seus cidadãos, ele se chama CNJ. Quanto à decisão que entendeu que o CNJ não pode levantar os dados acerca dos pagamentos havidos aos desembargadores, temos de deixar uma coisa bem clara. Ter havido o pagamento, por si só, não merece crítica, pois se trata de direitos/créditos que os magistrados possuem por lei.

O que merece e precisa ser verificado é se os pagamentos desses créditos foram calculados de forma correta e se os períodos computados estão de acordo com a lei, ou seja, se não existe período prescrito pago. E é óbvio que estes cálculos, períodos e demais análises devem ser feitas, inclusive para o bem dos próprios juízes que receberam. Os magistrados não fazem os cálculos e também não dizem quais são os períodos a que têm direito. Eles apenas fazem os seus requerimentos de pagamento conforme as certidões que o departamento responsável pelo cálculo dos créditos emite e assim aguardam o momento em que o tribunal pode e decide pagar.

Não são os magistrados que dizem quanto devem receber. Estão invertendo as coisas. Vamos levantar estas questões sim, para o bem dos próprios juízes perante seu povo. Pois se algum equivoco houve nos pagamentos, quem tem de se explicar são os responsáveis pelos cálculos e não quem recebeu o pagamento e que, ao que se sabe, não tem interferência nos cálculos nem no período computado. De duas uma, ou o foco está errado ou existem fatos que não querem tornar públicos.

Vamos eliminar a emoção que atrapalha a razão e vamos mostrar ao povo brasileiro que o Poder Judiciário é composto por uma imensa maioria de pessoas sérias, trabalhadoras, vocacionadas, preparadas e que honram a toga e o país. O povo brasileiro precisa conhecer o Poder Judiciário por dentro para poder respeitá-lo. Precisamos dar mais transparência a esse Poder, bem como, precisamos também democratizá-lo.

Só assim, a valorização dos magistrados que é bandeira de todos da carreira, será alcançada. Enquanto esta valorização não vier do jurisdicionado e dos operadores do direito, e, mais ainda, do povo, não existirá a tão sonhada, tão desejada e tão merecida valorização dos juízes brasileiros".

Marcelo Nobre -  é representante da Câmara dos Deputados no Conselho Nacional de Justiça, decano do órgão no exercício de seu segundo mandato (2008-2012).

siga no Twitter e no Facebook ao blog Dom Severino ( severino-neto.blogspot.com) @domseverino

Veja dá Privataria na capa!

Via Com Texto Livre


Fábio Alexandro Sexugi descobre as capas da Veja:
No Conversa Afiada

Telebrás fecha acordo com Angola Cable para cabo submarino

Extraído do Hangar do Vinna




A Telebrás anunciou nesta sexta, dia 16, um acordo com a Angola Cables para o lançamento de um cabo submarino entre o Brasil e Angola, com terminações respectivamente em Fortaleza e Luanda.
São 6 mil km de cabos ópticos que devem ser instalados no primeiro semestre de 2014.
A contratação dos fornecedores deve acontecer em março. Telebrás estima em cerca de 80% o custo de operação. Vale lembrar que a Angola Cable chegou a negociar com a Oi, no começo de 2011, um projeto semelhante.

A parceria é parte da estratégia da Telebrás de ter uma rede de cabos submarinos ligando o Brasil à África, Europa e Estados Unidos.

Fonte: Exame

China acusa EUA por serem encrenqueiros

Via Um Novo Despertar



A mídia estatal da China criticou os Estados Unidos  em sua "grande mudança estratégica na Ásia-Pacífico, acusando Washington de ser um encrenqueiro responsável por tensões na região.


"Apesar de aumentar sua presença militar na região da Ásia-Pacífico, os Estados Unidos devem se abster de flexionar seus músculos, pois isso não vai ajudar a resolver disputas regionais", disse um editorial publicado pela agência de notícias chinesa estatal Xinhua na sexta-feira.

Xinhua advertiu que qualquer militarismo americano na região da Ásia-Pacífico vai "colocar em perigo a paz em vez de aumentar a estabilidade regional."

O alerta veio um dia depois de presidente dos EUA, Barack Obama revelou uma estratégia de defesa para expandir a presença militar do país na região da Ásia-Pacífico e mudar o foco do Pentágono para o Extremo Oriente.

Obama afirmou na quinta-feira que, enquanto os militares dos EUA estão em um "momento de transição", após uma década de guerra no Iraque e no Afeganistão, o governo vai "manter a nossa superioridade militar."

China está preocupada com a postura de Washington nova defesa visa cercar Pequim. equitação preocupações nos Estados Unidos sobre a estatura militar crescente da China nos últimos anos tanto em tamanho e capacidades.

Privatas do Car...ibe - O Butim

Do blog da Militância

A urgência da CPI da Privataria

Pescado no blog do Miro

Editorial do jornal Brasil de Fato:

No dia 21 de dezembro, o deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB/SP) protocolou o pedido de abertura da CPI da Privataria. Logo depois, a Secretaria Geral da Mesa Diretora da Câmera conferiu as assinaturas dos parlamentares que faziam o pedido e atestou a validade de 185 delas, 14 além da quantia mínima necessária para validar o requerimento. O próximo passo será a análise jurídica do conteúdo do requerimento que poderá justificar a instalação da Comissão ou recomendar seu arquivamento.

Cumpridas as exigências regimentais, caberá ao presidente da Câmera dos Deputados, Marco Maia (PT/RS) determinar a criação da CPI. Aprovada, será uma réstia de esperança do povo brasileiro que, até que enfim, fará um acerto de contas com a maior roubalheira do patrimônio público desse país, feita no primeiro governo FHC (1995-1998), patrocinada pelas políticas neoliberais e pelo Programa Nacional de Desestatização (PND).

Mas o livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que motivou o pedido da CPI, já deu ao país contribuições inestimáveis para o aperfeiçoamento da democracia e das instituições públicas. Seu extraordinário sucesso de vendas e sua repercussão nas mídias independentes são um aviso do povo ao Parlamento. Será uma ótima oportunidade para vermos se a Casa do Povo ouve ou não os anseios do povo.

O poder de comunicação das redes sociais da internet, agora consolidado, e a obra de Ribeiro Jr. nocautearam o poderio da mídia burguesa. A luta pela democratização da comunicação ainda será longa e dura. Mas, o A Privataria mostrou que é possível impor-lhe derrotas e minar seus alicerces. Na última década, essa mídia se fez aparecer como defensora intransigente da moralidade pública e da liberdade de expressão. Bastou um apaniguado seu aparecer no centro da roubalheira pública para a máscara, mais uma vez, cair. A liberdade de expressão, para a mídia burguesa, não é outra coisa do que a liberdade de mentir, manipular ou silenciar sobre a realidade, em defesa dos seus interesses particulares ou dos seus protegidos.

A defesa do patrimônio público é válida apenas quando não são eles os larápios e o butim não aterrissa em seus cofres ou em seus endereços nos paraísos fiscais. A necessidade de uma nova lei que promova a democratização da comunicação se evidencia cada vez mais e torna inadiável uma ação do governo nessa direção. Há que se reconhecer que o ex-governador José Serra tem um papel importante nessa batalha: ao exigir cada vez mais atitudes sevandijas da mídia aos seus interesses particulares, evidencia a necessidade de uma lei de mídias, apropriada aos tempos atuais e aos interesses do povo e do país.

A leitura das páginas que documentam a roubalheira certamente provocará, também, a necessidade de um re-olhar sobre a organização e atuação dos partidos políticos. Não é algo que se impõe apenas aos tucanos. E sim, a todos. É impensável que uma organização partidária fique docilmente refém - se não é conivente - de uma pessoa que não mede esforços para impor seus interesses particulares e, inclusive, age para promover seu enriquecimento particular, dos seus familiares e amigos, com práticas que poderão conduzi-lo a sentar no banco dos réus. Ao menos quatro parlamentares do PSDB, ao assinar o pedido da CPI, deram demonstração de se insurgir contra a condição do partido permanecer refém dessa prática.

Mérito ainda do livro que trouxe para a agenda política do país a discussão sobre as privatizações – agora a privataria – ocorridas no governo de FHC. A roubalheira documentada pelo jornalista e o roteiro percorrido pela riqueza açambarcada, é apenas um dos aspectos do crime de lesa-pátria cometido por aquele governo. Sobre os fatos documentados que aparecem no livro, cabe à Justiça, especialmente o Ministério Público Federal (MPF), dar continuidade as investigações para que prevaleça a verdade e, inclusive, os acusados tenham assegurado o direito de defesa.

Mas, paralelo aos trabalhos da CPI e do MPF, deve-se promover um “reexame profundo do processo de privatizações e suas razões”, como enfatizou, em artigo, o jornalista Mauro Santayana.

Para esse reexame nada melhor que ter como ponto de partida (correndo o risco de tornar-se repetitivo como ponto de chegada) a grave denuncia que o jornalista Aloysio Biondi fez em 1999: Com o jogo perverso de estimular a busca de pretensas vantagens individuais, o governo FHC destruiu a busca de objetivos coletivos. Destruiu o Projeto Nacional. A serviço de outros países, o governo escancarou o mercado às importações e às transnacionais. Destruíram a indústria e a agricultura. Em cinco ou seis anos, clones malditos dos intelectuais de ontem destruíram o que havia sido construído ao longo de décadas. Destruíram mais. Seu crime mais hediondo foi destruir a Alma Nacional, o sonho coletivo.

Méritos para o livro e a mídia independente, que estão nos dando a oportunidade de fazermos esse acerto de contas e de abrir um novo período histórico. Atentas, as forças progressistas desse país não deixarão que o MPF e o Congresso Nacional frustrem essa expectativa.

A CULTURA NÃO VIVE ISOLADA DA POLÍTICA

Extráido do Mingau de Aço




Por Alexandre Figueiredo

O Brasil se transforma e as velhas abordagens ideológicas não podem mais se travestir de novas, desmentindo métodos, camuflando princípios, usando falsas alusões e pretensas analogias.

A evolução do país para o sexto maior produto interno bruto mundial pode não representar a entrada plena no seleto clube dos países desenvolvidos, mas o Brasil já possui maior destaque na geopolítica mundial, realizou melhorias sociais expressivas e já possui voz cativa suficiente para ser ouvido nas questões sobre a proposta do surgimento do Estado da Palestina e outras questões de segurança da ONU.

O Brasil pode não ser membro do Conselho de Segurança da ONU, como por razões óbvias nosso país não integra a OTAN (Organização Tratado do Atlântico Norte) e também não faz parte da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) senão como país consultor. Mas nos últimos dez anos sua atuação política foi mais destacada e respeitada pelas autoridades internacionais.

No entanto, ainda há muito o que fazer. Porém, sabemos que as mudanças sociais não são em vão, e que a cultura não está isolada no seu casulo, sendo ela fortemente influenciada pelos âmbitos político e econômico. E é isso que a intelectualidade considerada "influente" tentou, durante anos, desmentir num discurso emocionalmente apelativo.

Durante um bom tempo, qualquer crítica que fizermos à crise cultural vivida pelo país era vista como um "grande preconceito". E recebíamos as piores adjetivações de intelectuais e até de internautas que se julgavam "donos da verdade".

Eram as mesmas pessoas que tinham muito medo de ver um subúrbio em locais como o entorno da Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, mas se achavam com "segurança" para dizer o que é "cultura das periferias". Tudo por conta de livros sociológicos vistos às pressas, documentários estrangeiros sobre o Brasil vistos uma única vez e tratamentos paternalistas com porteiros de prédios, empregados domésticos, faxineiros, garis, feirantes e camelôs.

Durante anos essa intelectualidade era endeusada, era tida como unanimidade até entre blogueiros e internautas da chamada "esquerda média". E chegavam a escrever na mídia esquerdista dissolvendo seus conceitos e preconceitos neoliberais com uma argumentação pseudo-humanista, "favorável" ao povo pobre.

E aí mentem dizendo que os chamados "sucessos do povão" estão fora da mídia, que a indústria fonográfica "morreu" e que até Chitãozinho & Xororó só fizeram sucesso na vida por causa das "redes sociais", mesmo antes da Internet surgir. Criam inverdades e mentiras que valem como "verdades", "dogmas" ou "axiomas" aos quais qualquer contestação é tida como "preconceito".

Aí vem reações dignas da mais explícita "urubologia". Se criticamos um sucesso brega-popularesco, somos não apenas "preconceituosos", como "elitistas", "moralistas", "higienistas", isso para não falar dos palavrões e xingações que os internautas fazem gratuitamente contra nós.

A "urubologia" desses intelectuais tidos como "de esquerda" chega mesmo a botar culpa em intelectuais ou ativistas do passado pela mediocridade reinante nos dias de hoje. Se o É O Tchan é baixaria, a "culpa" é do poeta Gregório de Mattos. Se o "funk carioca" incomoda, a "culpa" é do líder de Canudos, Antônio Conselheiro. Se o tecnobrega é americanizado, a "culpa" é do poeta Oswald de Andrade. Se o brega dos anos 70 é ruim demais, a "culpa" é do empresário punk Malcolm McLaren.

COMO NAS DIRETAS JÁ

Mas esse convívio com a centro-direita cultural e a intelectualidade de esquerda é uma forma remanescente da "frente ampla" que havia há pouco mais de 25 anos atrás, com as articulações políticas pela redemocratização do país.

Nessa época, o PMDB já criava um partido dissidente, o PSDB, enquanto o antigo PDS, já surgido dos escombros da ARENA, se dividia com parte dele formando o então PFL (hoje DEM). Mas havia uma "frente ampla" que incluía de direitistas moderados a parte da esquerda, sobretudo o PT.

Era como que uma "reedição" da Frente Ampla de 1966-1968, que a velha imprensa fez esquecer da memória, quando os históricos rivais Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek fizeram as pazes e bolaram juntos uma campanha de redemocratização do país, conseguindo o apoio de João Goulart, já exilado. Prepotente, a ditadura militar declarou extinta a Frente Ampla logo quando o movimento era discutido e a redemocratização era uma causa em ascensão, naquele 1968 que tristemente se encerrou com o AI-5.

Hoje temos um "resíduo" dessa época. Sabemos que alguns dos ideólogos mais badalados do brega-popularesco - Paulo César Araújo, MC Leonardo, Hermano Vianna e Pedro Alexandre Sanches - estão alinhados à centro-direita.

Se a campanha pelas Diretas Já se identificava com um desejo relativo de superação de um contexto político autoritário, a "frente ampla" intelectual teve o desejo relativo de superar uma abordagem cultural elitista.

DESILUSÕES COM "ALIADOS" DE OCASIÃO

Como disse o intelectual Luiz Carlos Maciel, "feito o PMDB, trocou os ideais de liberdade pelas vantagens concretas do poder". Dessa forma, o Brasil sempre teve em sua história momentos em que grupos progressistas recebem o apoio de outros nem tanto para conseguir alguma mudança que, embora chegue a ser significativa, não rompe com as velhas estruturas do poder, antes apenas expurgando quem é o mais retrógrado dos retrógrados.

Hoje vemos que aquela intelectualidade "ecumênica", cujo perfil ideológico aparentemente tinha franco acesso na Ilustrada da Folha de São Paulo e na Caros Amigos, na Rede Globo e na revista Fórum, estar à beira de uma dissolução, quando os "aliados" de ocasião passam a assumir suas posturas ocultas ou latentes.

Afinal, nos últimos anos, as esquerdas se dissolvem na medida em que os adeptos mais conservadores se desiludem com as mudanças sociais que eles não acreditavam ocorrer pra valer. No meio do caminho, alguns aliados passam a romper com a esquerda ao assumirem, de uma forma ou de outra, visões mais elitistas.

Foi assim que antigos comunistas como Arnaldo Jabor, Marcelo Madureira e Fernando Gabeira se tornaram os neocons da última temporada. Houve a Soninha Francine, ex-VJ que ninguém iria acreditar que apoiaria José Serra, tal o seu discurso com um quê de filantrópico e socialista.

E, mais recentemente, o ultrareacionário mineiro Eugênio Arantes Raggi não conseguiu convencer sequer os seus amigos de que não passava de um direitista enrustido, isolado pelos falsos ataques a figuras de direita e pelas inconvincentes bajulações a figuras de esquerda.

Mas isso não foi suficiente para estarmos em alerta. Ainda há socialistas ou trotskistas com bico de tucano bem afiados. Só que poucos aprendem. Para todo o efeito, um Pedro Alexandre Sanches da vida é "intelectual de esquerda" e ponto final. Por quê? "Porque sim". E quem questionar isso é visto com medo, afinal ainda temos que aprender com os troianos. Os Cavalos de Tróia popularescos é que importam, os alertas das "cassandras" são "preconceituosos".

Esse discurso dominante da intelectualidade etnocêntrica, apesar de ainda prevalecer e ser influente, já começa todavia a se divergir da visão cultural dos analistas mais sérios. E pode criar conflitos dramáticos, porque se no enunciado todos nós nos convergimos, é a partir dos pormenores que criam divergências violentas, sérias.

Foi assim na política. PT, PSDB, PMDB, PFL, PSB e PDS se convergiam na defesa das eleições diretas e na volta dos civis ao comando político nacional. Certo, foi "feito o PMDB", com Tancredo Neves vencedor, mas que, doente e depois falecido, cedeu o lugar para José Sarney. E daí? Com o tempo, os grupos políticos foram se rearticulando e o PT e PSDB hoje se polarizam como forças políticas antagônicas, na medida em que o então inédito item "reformas sociais" passou a fazer ponto nas agendas intelectuais.

Na mídia, a chamada "mídia boazinha", parte da mídia conservadora que aparentemente divergia do esquema extremista da época, pró-ditatorial, aos poucos foi se aliando aos seus "algozes", esquecendo as desavenças concorrenciais.

Se o extremismo conservador da mídia era apenas representado pelos grupos Globo, Estadão e Abril (mais a revista Visão e outras mídias ultraconservadoras), naquela época a "boa mídia" era representada por veículos que, diferentemente dos concorrentes, pareciam defender a redemocratização do país.

Assim, veículos como Folha de São Paulo, Grupo Bandeirantes, a Isto É e alguns outros foram considerados "heróis" pela opinião pública, e até foram superestimados no seu papel de formadores de opinião. Ao lado deles, veículos como a Rádio Metrópole, de Salvador, a Rede Brasil Sul, da família Sirotsky (antes vinculada à antiga revista Senhor) e Rede Transamérica, além de, pasmem, a Rede CBN (cuja reputação, a princípio, era dissociada da imagem pejorativa das Organizações Globo), correspondiam ao âmbito da "boa mídia" que poucos reconheciam ser também conservadora.

Recentemente, vemos desilusões que fizeram mudar a posição ingênua a essa facção da mídia. O mais violento ataque às esquerdas baianas não foi feito pela Rede Bahia dos herdeiros do senador ACM, mas por um Mário Kertèsz que, na Rádio Metrópole, era visto como "amigo das esquerdas" ou até como "esquerdista" (apesar de seu passado arenista), com direito a citar os nomes de Emiliano José e Oldack Miranda, ligados ao PT baiano que o "Berlusconi com dendê" fingiu apoiar.

No plano nacional, o ataque mais virulento às classes trabalhadoras não foi feito nas páginas da Veja, mas em rede nacional, durante uma falha técnica que vasou o som de bastidores da TV Bandeirantes. Bóris Casoy, ex-militante anticomunista, havia feito o que Diogo Mainardi não teve coragem de fazer, falando mal dos garis dentro de um veículo midiático que havia feito, pouco antes, parcerias publicitárias com Carta Capital e Caros Amigos.

Hoje, com a revelação das contradições da intelectualidade dominante - e até hoje confiante em ter as esquerdas sob seu domínio ou, quando muito, consentimento - , uma nova desavença pode acontecer.

Afinal, a visão de que a cultura vive isolada da política, contrastando as abordagens do noticiário político, explosivas, tensas e questionadoras, com a abordagem da "cultura popular" resignada com o que "está aí" nas rádios FM e TV aberta, a cada dia mostra suas contradições quando confrontada com o que pensam os analistas mais competentes.

Não dá para pensar a cultura popular como um paraíso de contos-de-fadas indiferente ao jogo político. Não dá para falar, por um lado, de um Pará em conflitos de terras e ação da pistolagem, tenso e infernal, e outro Pará fantasioso do "espetáculo" tecnobrega que faria um Guy Debord ficar envergonhado. Até porque o próprio latifúndio que metralha trabalhadores, sindicalistas, padres e missionárias sempre patrocinou, associado à velha mídia local, o "forró eletrônico" e todos os seus derivados, inclusive o tecnobrega.

Há mecanismos de dominação por trás dessa "cultura do mau gosto" que em nada contribui para a evolução das classes populares. E a evolução social cobra uma cultura de verdade, sendo inadmissíveis as desculpas da intelectualidade dominante de que seus críticos só pensam em "paranóias".

Afinal, os conservadores não assumem um discurso explícito. Isso está tanto em José Serra quanto em Pedro Alexandre Sanches, tanto em Ali Kamel quanto em Paulo César Araújo. Dizer que "nos escombros nascerão flores" é muito fácil, e até mesmo a ditadura militar foi instaurada sob o pretexto de defender "a liberdade e a democracia".

A sociedade se evolui, a economia cresce, e os valores se transformam. Mas o que irá doer na intelectualidade etnocêntrica é que aqueles valores que eles acreditavam desde a Era Geisel, mesmo travestidos sob o mais denso verniz esquerdista, começam a perder o valor. Apostar na evolução da cultura popular através dos mesmos atores que contribuíram para a sua degradação, mesmo com a ajudinha da intelectualidade mais solidária, será inútil diante de novas demandas e novas necessidades.

E é isso que irá revelar os futuros Arnaldo Jabor e Sônia Francine de amanhã. Gente que ainda hoje diz adorar até Che Guevara. A julgar pela fácil adesão de funqueiros e tecnobregas - tidos como os mais "arrojados" do brega-poularesco - aos mecanismos da velha mídia, já dá para perceber os novos "urubólogos" que virão quando contestarmos, mais e mais, a mesmice de bregas, neo-bregas e pós-bregas no establoshment brasileiro.