quarta-feira, 30 de junho de 2010

Blog do Planalto desmente Estadão e Folha

Pescado no Blog do Miro

Reproduzo artigo publicado no Blog do Planalto:

Estadão e Folha desinformaram seus leitores nas edições desta terça-feira (29/06) ao dizer que o presidente admite ou gostaria de ocupar posto no exterior.

A chamada na primeira página do Estadão destaca: “Lula admite interesse em assumir posto no exterior”. O título no alto da página 8 conclui: “Após sair, Lula mira posto no exterior”. Tudo com base nos seguintes trechos de artigo do presidente Lula publicado na edição de hoje do Financial Times (divulgado ontem pelo site do jornal):

“Após deixar a Presidência, quero continuar contribuindo para a melhoria da qualidade da vida da população. Ao nível internacional pretendo concentrar minha atenção em iniciativas que beneficiem países da América Latina e do Caribe e o continente africano... Quero levar adiante os esforços feitos pelo meu governo no sentido de criar um mundo multilateral e multipolar, livre da fome e da pobreza. Um mundo no qual a paz não seja uma utopia distante, mas uma possibilidade concreta”.

Com base neste segundo trecho, o experiente repórter Roldão Arruda considera que o presidente “deixou seu projeto ainda mais explícito”. No entanto, não há nenhuma relação entre ter interesse e empenho por uma causa internacional e o desejo de ocupar um posto ou cargo no exterior.

A Folha, que foi mais comedida no título (“Lula planeja manter papel internacional após governo”), também embarcou nessa canoa furada ao mencionar no texto sobre o mesmo assunto que “o presidente gostaria de virar secretário-geral de uma renovada Organização das Nações Unidas ou de presidir o Banco Mundial” (página 8-A da edição de hoje).

A imaginação do Estadão e da Folha é livre. Mas, em favor do bom jornalismo, os dois jornais poderiam, no mínimo, ter informado aos seus leitores que nos últimos três meses o presidente refutou categoricamente essa especulação em pelo menos cinco entrevistas, das quais destacamos os seguintes trechos:

TV Senado (21 de junho de 2010):

Jornalista: Não lhe entusiasma a ideia de, eventualmente, exercer um alto posto na burocracia internacional?

Presidente: Não.

Canal Livre – TV Bandeirantes (1º de abril de 2010):

Presidente: Esse negócio da ONU, Boris, de vez em quando alguém inventa alguma bobagem. Veja, eu não posso conceber que uma instituição multilateral possa ter, como secretário-geral alguém que possa ser mais forte do que os presidentes da República de outros países. Não pode. Ele tem que ser um burocrata. Ele tem que ser um burocrata, ele tem que ser alguém subordinado à máquina, porque, veja, se você coloca uma figura muito forte na ONU, ela vai querer tomar decisão por cima dos países e aí não dá certo, meu querido. Então, olha, é bom baixar a bola.


Diário de S. Paulo (publicada em 11 de abril de 2010):

Jornalista: O senhor é candidato a secretário-geral da ONU?

Presidente: Não existe, veja, eu tento dizer o seguinte: não existe possibilidade de ter a candidatura (…). Por quê? Porque nenhum presidente quer concorrente.

El País (publicada em 9 de maio de 2010):

Jornalista: E essa transformação da ONU, o senhor estaria disposto, Presidente, a fazê-la, como secretário-geral da ONU?

Presidente: Veja, essa coisa, eu diria que é impensável. Eu tenho claro que você não pode ter em uma instituição multilateral um secretário que possa ter mais força do que um presidente da República.

Correio Braziliense (20 de abril de 2010):

Jornalista: Agora em relação a essa coisa, seu projeto internacional, ONU, essa coisa da África, o senhor falou muito.

Presidente: Mas não existe projeto internacional.

Jornalista: Chefiar uma instituição. Como é que o senhor… ?

Presidente: Esse negócio da ONU… vamos ter claro o seguinte: a ONU não pode ter, como secretário-geral, um político. Ela tem que ter um burocrata do sistema ONU. É, porque senão você entra em confronto com os outros presidentes. Quem manda na ONU são os presidentes representados na Assembleia da ONU. (…) Então, eu acho que vamos melhorar a ONU, queremos a reforma, mas eu acho que a burocracia tem que continuar existindo nas Nações Unidas, para manter uma certa harmonia.

Grécia: 6ª greve geral neste ano contra o pacote imposto pelo FMI

Do Portal Vermelho.org

A Grécia está paralisada nesta terça-feira (29) em mais um enérgico protesto contra o pacote de arrocho imposto pelo governo social-democrata de George Papandreou a mando do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da cúpula da União Europeia. É a sexta greve geral realizada no país ao longo deste ano. Os serviços públicos operam precariamente e muitas atividades a cargo da iniciativa privada foram interrompidas.

Convocada pelas centrais sindicais que representam os trabalhadores do setor público (GSEE) e privado (ADEDY), a greve ocorre no momento em que o Parlamento grego debate novas e draconianas medidas contra a classe trabalhadora, apresentadas como moeda de troca ao “socorro” de 110 bilhões de euros mobilizados pelo FMI e União Europeia para evitar a moratória da dívida externa.

Interesses de quem?

Os gregos não verão a cor deste dinheiro que, conforme denunciaram os sindicalistas, vai direto para o bolso dos banqueiros na forma de pagamento dos juros. Agiotas franceses e alemães (maiores credores da Grécia) serão os principais beneficiários do pacote. A conta, salgada, foi apresentada aos trabalhadores e trabalhadoras com o discurso cínico de que não existe alternativa, os “interesses da pátria” estão em jogo e sacrifícios são inevitáveis.

A propaganda ideológica, de cunho claramente neoliberal, não convence o povo grego, que reage com redobrada indignação ao arrocho, ocupam as ruas quase que diariamente em defesa dos direitos sociais e querem que os ricos, em especial os bancos, paguem pela crise que, afinal, decorre da ganância e dos excessos da oligarquia financeira.

A Grécia vive uma típica crise da dívida externa, em muitos aspectos parecida com a que abateu o Brasil nos anos 1980 e nos cobrou pelo menos duas décadas perdidas. O papel do FMI no jogo não mudou, com receitas recessivas que visam preservar os lucros da banca internacional.

Ofensiva inédita

A pretexto de solucionar a crise da dívida, o governo desencadeou uma ofensiva inédita contra a classe trabalhadora. Primeiro, cortou salários e benefícios do funcionalismo público, aumentou impostos e ampliou a idade mínima para aposentadoria. Na sequencia, anunciou uma série de outras medidas cruéis para os assalariados.

O novo pacote trabalhista acaba com as convenções coletivas; reduz drasticamente o salário mínimo nacional, em especial para os jovens (que até os 21 anos terão direito a apenas 80% do piso); corta pela metade o valor das indenizações nas demissões; privatiza serviços públicos de saúde e educação e impõe novos retrocessos no direito previdenciário.

Guerra de classes

A secretária geral do Partido Comunista Grego (KKK), Aleka Papariga, considera que em resposta a tais medidas “o povo deve declarar guerra ao governo”. A crise, em sua opinião, é do próprio sistema capitalista. “Cortam as conquistas que restavam aos trabalhadores para dar um sopro de vida ao modo de produção capitalista que está ferido de morte”, ponderou a dirigente comunista.

“O capitalismo está obsoleto, podre e é parasitário. É incapaz de superar as suas contradições intrínsecas e por isso torna-se mais agressivo em relação à classe operária, aos auto-empregados, aos pequenos e médios empresários.”

Apelando à luta para “derrotar a política antipopular e os seus defensores”, Papariga declarou que é preciso “iniciar a luta para derrubar o poder dos monopólios. Basta de mentiras, o desenvolvimento do capitalismo só conduz a sacrifícios, sofrimentos, à exploração selvagem da juventude, a abandonar os idosos à própria sorte”.

Socialdemocracia dividida

O Partido Socialista liderado por Papandreou, identificado com a ideologia social-democrata e agora rendido ao neoliberalismo, enfrenta forte descontentamento em suas fileiras, ao lado da resistência das centrais sindicais.

"A GSEE e a ADEDY dizem não às reformas previdenciárias injustas, duras e antissociais", afirmam as duas centrais em comunicado. "Os trabalhadores e a comunidade exigem o fortalecimento, e não o enfraquecimento, de seus direitos sociais, de pensões, econômicos e trabalhistas."

Braços cruzados

Escritórios dos governos locais e central estão fechados, enquanto hospitais, serviços de ambulância e companhias estatais funcionam em esquema emergencial. O transporte na capital, Atenas, é sabotado por uma série de paralisações no transporte público, enquanto os serviços ferroviários estão suspensos pelo país.

Dezenas de voos domésticos foram cancelados, e os controladores aéreos em aeroportos menores, locais, cruzaram os braços. Os voos internacionais chegando e partindo de Atenas não foram afetados. Os jornalistas gregos também fazem parte da paralisação, com os programas de notícias da manhã tendo que reprisar programas alternativos.

Os trabalhadores dos portos, liderados pelo Partido Comunista, afirmaram que pretendem reduzir os serviços de ferry (balsa) nesta terça-feira. A decisão é tomada mesmo após uma corte local determinar que o protesto dessa categoria seria ilegal.

As duas centrais sindicais iniciaram um protesto em Atenas às 5h (de Brasília). A Frente Militante dos Trabalhadores (Pame), ligado aos comunistas, realizou uma manifestação na mesma hora. Os sindicatos esperam mobilizar mais de 2,5 milhões de trabalhadores.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ex-donos da verdade incomodados: Ataques à blogosfera demonstram o desespero da direita











por André lux, no Blog Tudo em Cima

Eu fico cada dia mais feliz ao ver como a importância da blogosefera independente vem crescendo no Brasil no sentido de apresentar o contraponto às mentiras e distorções publicadas como "verdades únicas" pela imprensa corporativa e de formar opinião de quem busca honestidade e ética na defesa de uma ideologia, de um governo ou de políticos.

Não é à toa, portanto, que a blogosfera vem sendo alvo de ataques cada vez mais furiosos dos assessores de imprensa dos partidos de direita (PSDB, DEMo e afins) que atuam na imprensa corporativa travestidos de editores, articulistas e colunistas "isentos" e também de seus fiéis escudeiros infiltrados no Judiciário que tentam de forma arbitrária e imoral censurar blogs e intimidar seus autores.

Quanto mais o candidato José Serra da aliança conservadores/neoliberal afunda nas pesquisas, mais os seus capitães do mato caluniam e ofendem de forma genérica os blogueiros assumidamente de esquerda, que defendem o governo do presidente Lula e apoiam sua candidata, a ex-ministra Dilma Rousseff.

Isso dá um ótimo sinal de que a internet terá um papel crucial nas próximas eleições. E que a direita sabe disso e está desesperada porque não possui militantes ou simpatizantes apaixonados e abnegados como a esquerda, o que os força a apelar para táticas alternativas. Isso tanto é verdade que Serra contratou um exército de mercenários para atuar no twitter, nos blogs e nas caixas de comentários dos sites de notícias da rede espalhando mentiras, preconceitos e ataques chulos contra os canditados da esquerda progressista. Leiam neste link a denúncia feita pelo deputado federal do PDT, Brizola Neto, a respeito da atuação dos "brucutus" de Serra na internet.

Como bem disse o blogueiro Eduardo Guimarães, em seu Cidadania, os sabujos da direita do imprensalão "repetem e repetem e repetem a acusação covarde e genérica sobre 'blogueiros de aluguel' para tentar carimbar aqueles que se opõem aos serviços políticos que Globos, Folhas, Vejas e Estadões prestam a Serra e ao PSDB. Quem for honesto consigo mesmo não pode comprar acusações genéricas, sem citar nomes, feitas por quem, não tendo do que acusar aqueles aos quais se opõem, usam essa tática que, repito, é nazista, inspirada na tática do ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, de repetir mentiras incessantemente na intenção de que passem a ser aceitas como verdades."

Tudo isso acontence porque os barões da imprensa corporativa morrem de medo de estamparem e defenderem de forma clara e honesta suas posições políticas, suas ideologias e os políticos que os representam. Preferem, de forma covarde e cínica, contratar capachos amestrados que se prestam ao serviço torpe de publicar editoriais onde defendem uma suposta "isenção" e atacam seus adversários, enquanto manipulam e distorcem as notícias para tentar enganar os incautos em favor de tudo aquilo que não tem coragem de assumir publicamente. É uma inversão total de valores que não apenas denigre os (poucos) profissionais sérios que ainda atuam na imprensa, como também mancha o próprio Jornalismo.

Ou, nas palavras do grande Jornalista Mino Carta em seu mais recente editorial na Carta Capital, "primor de jornalismo engajado. Partidário. E também hipócrita. Como é do conhecimento do mundo mineral, a rapaziada alega independência, equidistância, isenção.[...] Já me permiti comentar neste espaço o crescente fracasso dos persas, digo, da mídia nativa. Ficou claro em 2002, e mais ainda em 2006, que ela atira fora do alvo. A maioria a ignora e este é sinal peremptório de tempos diferentes. A habitual ofensiva contra o governo Lula, destinada agora a abalar a candidatura Dilma, atinge a obsessão e, frequentemente, beira o ridículo."

Realmente, ridículo é pouco para qualificá-los. E quanto mais eles batem, mais nós crescemos. Como um bonito e suculento bolo de chocolate. Quem viver, verá.

domingo, 27 de junho de 2010

Serra esnoba convenção do PPS e manda DEM às favas

A crise aberta na campanha do ex-governador José Serra (PSDB-SP) continua a pleno vapor e ganhou mais capítulos neste sábado (26), mas nem por isso o presidenciável tucano controla suas idiossincrasias. Num gesto de indelicadeza política e arrogância, Serra sequer compareceu à convenção nacional do PPS que formalizaria o apoio à sua candidatura.

A crise aberta na campanha do ex-governador José Serra (PSDB-SP) continua a pleno vapor e ganhou mais capítulos neste sábado (26), mas nem por isso o presidenciável tucano controla suas idiossincrasias. Num gesto de indelicadeza política e arrogância, Serra sequer compareceu à convenção nacional do PPS que formalizaria o apoio à sua candidatura.
Confiante da submissão canina e humilhante do aliado, o tucano comunicou sua ausência somente de última hora, num telefonema ao presidente do PPS, Roberto Freire. Mensagens gravadas ou escritas aos militantes do partido? Que nada. Serra simplesmente esnobou o PPS.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), também faltou à convenção – e sua ausência é emblemática dos novos tempos da coligação. "Estou cheio de coisas para fazer, atrás de voto para mim", desdenhou. Foi uma mostra claríssima de que, enquanto a chapa não desistir da indicação do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) a vice de Serra, os “demos” não querem nada com nada.

Na próxima quarta-feira, o DEM realiza a sua convenção nacional, à espera de que Serra substitua Dias por um vice “demo” na chapa. "Vamos esperar que ele indique. Se ele não indicar, vamos aprovar o nosso nome na convenção do dia 30", reagiu Maia.

O PSS, correia de transmissão do PSDB, metralhou. “Serra mandou dizer que está firme e não vai se submeter a imposições de quem quer que seja”, disparou um provocativo Roberto Freire na convenção do PPS. No Twitter, o presidnete do PTB, Roberto Jefferson, foi ainda mais longe e chamou o DEM de partido “de merda”. O próprio Serra mandou os apelos do DEM às favas e orientou a coligação a manter tudo como está, com Álvaro Dias de vice.

Mas as reações contra a chapa puro-sangue persistem. “Se eles não querem estar com o DEM, não há motivo para o DEM ficar com eles. Assim sairíamos da aliança formal e não apoiaríamos oficialmente ninguém, como acontece com outros partidos”, ameaçou o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). “Não queremos ficar só com o ônus da aliança, ainda mais hoje que a candidatura não é nenhuma Ferrari.”

Na mesma tecla bateu o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO): “Eles se acostumaram com um DEM que chia e depois se acomoda. Desta vez, não vamos deixar isso assim. Ou reagimos ou a sigla acaba como partido, vira subalterna, e não parceira do PSDB”. Mais radical é o deputado Efraim Filho (DEM-PB): "Tenho conversado com lideranças dos democratas. Cresce o sentimento para decidirmos pelo fim da aliança com o PSDB na convenção".

A saída do DEM da aliança representaria para Serra uma perda de dois minutos e nove segundos diários no horário eleitoral em rádio e TV. Sem os “demos”, o tempo de propaganda da chapa de oposição cairia de seis minutos e 46 segundos para quatro minutos e 38 segundos. A presidenciável do PT, Dilma Rousseff, deve ter cerca de oito minutos.

Da Redação, com agências, via Vermelho.org

Jornalões querem lucrar com a eleição

No Blog do Miro

Reproduzo artigo de Beto Almeida, publicado no sítio Carta Maior:

É evidente que a eleição numa sociedade desigual e injusta como ainda é a brasileira também revela influências tirânicas que o poder econômico pode exercer sobre o voto dos eleitores sobre a maioria carente de informação. Há até quem queira acreditar que sejam iguais o eleitor bilionário Eike Batista e o eleitor gari desrespeitado pelo jornalista Boris Casoy, que pertenceu a grupos de extrema-direita. Com vistas a atenuar a negativa influência do poder econômico, a legislação eleitoral válida para estas eleições limitou a 10 o número de propaganda a que cada candidato pode veicular na mídia impressa. Além disso, obrigou que o preço do anúncio seja divulgado ao eleitor no próprio anúncio.

Como em editoriais a imprensa critica tanto o poder econômico na eleição e faz sermões contra a falta de transparência, era de se esperar que a nova lei, embora tímida, recebesse aplausos. Porém, a presidente da Associação dos Jornais, Judith Brito - aquela que falou que a mídia vem cumprindo o papel que a oposição, por fraqueza, deixou de cumprir - em artigo escrito talvez na mesa do departamento comercial de algum jornal, protestou.

Os argumentos utilizados pela líder dos jornalões são pérolas reveladoras dos conceitos ou preconceitos que o baronato deste seguimento de mídia tem na cabeça. Primeiramente ela argumenta que “a limitação ao número de anúncios fere a liberdade de expressão e informação na medida em que restringe o direito constitucional do eleitor de receber informações políticas no período mais próximo às eleições”.

E como seria a ausência de limitações ao número de vezes, como antes? Óbvio, o candidato querido pelo Eike Batista não teria dificuldades para comprar espaços até mesmo todos os dias nos jornais que quisesse. Mas os candidatos mais ligados aos garis desprezados pelo Casoy teriam enorme dificuldade para ter um anúncio que fosse, pois são muito conhecidas as tabelas de preços. O que é que fere a liberdade de expressão e divulgação?

É com uma overdose de candura, reconhecemos, que ela informa ao público em geral, num país de leitura praticamente proibida, que a informação sobre “o custo da publicidade eleitoral dos candidatos – é facilmente acessível nas prestações de contas feitas à Justiça Eleitoral” Façamos as contas: a soma de todas as tiragens dos 338 jornais diários existentes no Brasil não alcança 7 milhões de exemplares. Tiragem que anda caindo, juntamente com a credibilidade desta imprensa. E o número de eleitores ultrapassa 100 milhões. Só uma minoria lê.

Mas Dona Judith acredita que quem quiser saber o preço do anúncio irá lá no site do Tribunal Eleitoral... No Brasil os trabalhadores não conhecem sequer seus direitos laborais, não tem informação mínima sobre seus direitos previdenciários, nunca leram a Constituição, aliás, ou nunca tiveram um exemplar nas mãos, mas ela acha que esta informação é “facilmente acessível”. É a confissão do mundo em que vive, é a maneira de ver a realidade, pelas lentes de sua ideologia.

Transparência: pra quem?

A presidente da ANJ vai além na revelação de si mesma. Ela escreveu que “a obrigatoriedade da exposição do preço do anúncio atenta contra o princípio constitucional da isonomia, já que existe apenas para propaganda eleitoral na mídia impressa”. Aqui ela expõe seu próprio conceito de transparência sobre a coisa pública. Em editoriais, os jornalões exigem transparência. Mas, quando a lei, ainda que de modo tímido, porém salutar, determina que se informe ao leitor quanto custou o anúncio, Dona Judith reclama da falta de isonomia, ao invés de reivindicar que para toda e qualquer propaganda, inclusive para a mídia eletrônica, os eleitores deveriam ter o direito de estar informados do custo da propaganda eleitoral.

Afinal, televisões e rádio recebem recursos públicos, do cidadão, para veicularem as propagandas. Ou seja, o horário eleitoral gratuito também tem preço. Claro, reconheçamos, é mais democrático que nas eleições nos EUA, pois lá nem horário eleitoral obrigatório em rádio e TV tem. Quem não tiver campanha bilionária simplesmente não é candidato nos EUA. Eleição movida a dólar. Por que Dona Judith reclama da falta de isonomia, mas, conforme os editoriais que apregoam, teoricamente , transparência na coisa pública, não reivindica o mesmo para a TV e o rádio? Porque ela quer apenas escapar da transparência obrigatória, nada mais.

Por último, a líder da ANJ nos comove ao afirmar que: “Limitar o direito dos eleitores de receber informações sobre os candidatos, além de inconstitucional, é um desserviço à democracia”. Como nós conhecemos a trajetória histórica destes jornalões, seja quando se opuseram ao direito ao voto feminino, à criação dos direitos trabalhistas, à formação da Previdência Social, da Petrobrás ou quando comemoraram clandestinamente quando Vargas estourou seu próprio coração ou quando saudaram o êxito do golpe militar de 1964, que tanto solicitaram editorialmente, a comparação entre discurso e história é fácil.

Como será que esta imprensa informa aos eleitores sobre os candidatos que defendem a necessidade inadiável do Brasil formar, fortalecer e qualificar um sistema público de comunicação? Rotulam: é o candidato da censura! E como tratam os candidatos que tem coragem de mostrar que esta imprensa que tanto ataca o estado e o seu papel vive reivindicando mais verbas públicas para si e se opondo a que as verbas públicas sejam redistribuídas mediante um critério mais democrático visando fortalecer a comunicação pública, educativa, comunitária para dar mais equilíbrio comunicacional, como reza a Constituição? Querem estatizar a imprensa, gritam.

Jornalismo público: pauta inadiável

O artigo da presidente da ANJ nos abre a possibilidade de lançar, uma vez mais, o debate sobre quão urgente é a constituição de uma Fundação para o Jornalismo Público no Brasil, abrindo a possibilidade de que não tenhamos, como hoje, situação tão desequilibrada do ponto de vista informativo, pois há praticamente unanimidade dos jornalões contra a candidata apoiada por Lula. E também nos estimula a lançar ao debate sugestões para que seja criado um mecanismo que permita a todos eleitores receber sim toda a informação sobre todos os candidatos, o que a mídia impressa atual, seja por seu raquitismo - e com tendência de definhamento - não permite já que sua tiragem (e nem informam a “voltagem”) não atinge sequer a 10 por cento dos eleitores.

Está na Constituição a obrigatoriedade do Estado em difundir informação a todos os cidadãos, o que é parcialmente coberto pelo horário eleitoral obrigatório na mídia eletrônica. Mas, e informação impressa? Só os que podem pagar terão seus nomes e propostas divulgadas? É democrático? Dona Judith não explica. O que ela quer é que aqueles candidatos que podem pagar anúncios, não tenham limites na sua “generosidade”. Está claríssimo. Mas, falta aos partidos, ao movimento sindical de jornalistas hoje quase hipnotizado com o discurso único do diploma! Diploma! E mais Diploma!, reivindicar também uma maior presença do poder público na democratização da informação à sociedade.

Mercado editorial não democratiza informação

Isto porque fica claro que o mercado editorial não responde à necessidade de informar ampla e democraticamente sobre os candidatos, apenas aos que podem pagar à turma da Dona Judith. Assim, por que as gráficas dos tribunais eleitorais em cada estado não imprimem jornais gratuitos eleitorais contendo o programa de todos os candidatos, inclusive dos candidatos dos garis que precisam fazer 200 galinhadas para sustentar suas modestas campanhas eleitorais?

E , obviamente, com tiragem do tamanho do Brasil, não com o raquitismo do mercado editorial, já que no Brasil a grande maioria da população é, na prática, proibida de ler jornal e revista. Estatística da Unesco revela que no Brasil se lê menos que na Bolívia. Aqui são 27 exemplares de jornal para cada grupo de 1 mil leitores, enquanto lá na pátria de Evo são 29 exemplares para um grupo similar de leitores. Mas, aqui há a segunda maior frota de helicópteros privados do mundo... Meio vergonhoso, né?

Enquanto o mercado editorial não apresentar uma solução para superar este apartheid da leitura, esta discriminação contra a grande massa de brasileiros que não pode comprar jornal, que nunca comprou um sequer em toda a sua vida, o período eleitoral seria um momento em que as gráficas dos tribunais, saindo de sua ociosidade crônica, imprimiria jornais em grandes tiragens, com distribuição gratuita, e com informações não somente sobre os candidatos, mas também sobre história política , democracia, direitos do eleitor, história das eleições no Brasil etc. Pode ser a única oportunidade em que milhões de brasileiros recebam um jornal para ler.

E isto o jornalismo privado não pode fazer. Dona Judith quer apenas mais anúncio, mais dinheiro em caixa, não quer aumentar tiragem, não quer informar a todos, muito menos sobre todos, mas apenas sobre aqueles “todos” que podem pagar o anúncio. É como nas páginas de classificados: as belas palavras sobre ética dos editorias só revelam seu verdadeiro conteúdo e sinceridade nos anúncios em que a imprensa mostra toda sua relação com o comércio de sexo, páginas de um tenebroso escravagismo sexual moderno...

Um bom exemplo

Enfim, o que se propõe aqui não é uma novidade no Brasil. Muitos sindicatos, os mais democráticos, já fazem isto em suas eleições, numa lição de democracia para o baronato da mídia brasileira. Até a Federação Nacional dos Jornalistas já fez isto no passado, imprimindo jornal especial de eleições da entidade, com espaço igual para cada uma das chapas que concorriam à diretoria. Bom exemplo, pena que não se pratique mais. E o Jornal dos Jornalistas, do qual já fui editor, era enviado por correio a cada um dos jornalistas filiados, em todo o território nacional, com distribuição gratuita. O Tribunal Eleitoral bem que poderia pegar este exemplo da antiga Fenaj. Como também estamos em véspera de eleições na Fenaj, quem sabe o bom e democrático exemplo do jornal especial de eleições não é ressuscitado?

De todo modo, o mais importante é atentar para os gigantescos e anti-democráticos limites a uma informação adequada e cidadã que existem hoje no modelo comunicacional controlado oligopolicamente por empresas e pelo mercado. E também atentar para as palavras habilidosas e ardilosas que no fim e ao cabo nos fazem lembrar um livrinho muito interessante, que voltei a folhear estimulado pelo discurso da líder da ANJ: “Como iludir o povo com slogans de liberdade e igualdade”. Vale reler.