sábado, 24 de abril de 2010

Gilmar Mendes (ou Dantas?) já vai tarde


Do Blog do Miro

Nesta sexta-feira, o sinistro Gilmar Mendes finalmente deixou a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF). As reações diante da sua despedida foram distintas. A mídia privada chorou a saída. Editorial da Folha bajulou o ministro. O Estadão também choramingou. Já a TV Globo despeja diariamente confetes e até poderia, dramatizando a troca de comando, acionar o repórter Heraldo Pereira para chorar na telinha. Afinal, ele é serviçal da Gilmar Mendes – nas horas vagas, ele dá aulas no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), a escola privada do ex-presidente do STF.

Já os movimentos sociais e os democratas festejaram a sua saída. Para estes, Gilmar Mendes já vai tarde! Ou melhor: ele nunca deveria ter assumido o comando da mais alta corte do Brasil. Afinal, ele jamais teve a isenção necessária para exercer a função. Sempre foi um tucano de carteirinha – ou um “juristucano”, segunda a corrosiva ironia do jornalista Elio Gaspari. De 1996 a 2000, ele foi subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil no governo FHC. Depois, o protegido do grão-tucano galgou o posto de advogado-geral da União, que exerceu com reconhecida mediocridade.

Habeas corpus para especuladores

Seu ingresso no STF foi a fórceps. FHC interveio ativamente para bancar o seu nome no Senado. Dos 11 ministros da casa, ele teve o maior número de votos contrários (15) da história recente. Na véspera da sessão que aprovou sua indicação, em junho de 2002, Dalmo de Abreu Dallari, um dos mais renomados juristas do país, até alertou: “Se essa indicação vier a ser aprovada no Senado, não há exagero em afirmar que estarão correndo sérios riscos a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional”. Proféticas palavras!

Durante a sua presidência, o STF colecionou os piores momentos da sua história. Gilmar Mendes virou estrela por conceder dois habeas corpus ao rentista Daniel Dantas, retirando-o da prisão em tempo recorde. Tanto que o jornalista Paulo Henrique Amorim o apelidou de Gilmar Dantas! A revista CartaCapital, que nunca deu tréguas aos crimes do agiota “orelhudo”, também criticou as atitudes do ex-presidente do STF. Na prática, ele ficou conhecido como o advogado de defesa do especulador-mor do país, expressão maior da impunidade dos bandidos de colarinho branco.

“Que Deus nos livre de Mendes”

Ao mesmo em que socorria banqueiros e ricaços, Gilmar Mendes ficou famoso por criminalizar os movimentos sociais. Em várias ocasiões, ele atacou os que lutam por justiça no país. Rotulou o MST de “movimento de bandidos”, exigindo atuação mais implacável da Justiça na punição aos “invasores de terras”. Também criticou o governo Lula por dar subsídios para as entidades da reforma agrária, afirmando que o dinheiro seria desviado para “práticas ilegais”. Diante destes abusos de poder, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) “excomungou” o ex-presidente do STF.

“O ministro Gilmar Mendes não esconde sua parcialidade e de que lado está. Como proprietário de terra no Mato Grosso, ele é um representante das elites brasileiras, ciosas dos seus privilégios. Para ele e para elas, os que valem são os que impulsionam o ‘progresso’, embora ao preço do desvio de recursos, da grilagem de terra, da destruição do meio-ambiente e da exploração da mão-de-obra em condições análogas às do trabalho escravo... Que o Deus da Justiça ilumine o nosso país e o livre de juízes como Gilmar Mendes”, afirmou uma dura nota da CPT.

Ícone da direita, o “Berlusconi brasileiro”

O ex-presidente da STF também não poupou o movimento sindical brasileiro, investindo contra suas formas de sustentação financeira. Já entre os jornalistas, Gilmar Mendes foi eleito inimigo jurado. Ele foi o mentor do fim do diploma da categoria e da extinção da Lei de Imprensa, duas exigências antigas dos barões da mídia para precarizar o trabalho e gozar de total libertinagem. Tanto que os jornalistas aproveitaram a sexta-feira para fazer o bota-fora do carrasco, realizando protestos em vários estados com o slogan “Ele já vai tarde”.

Gilmar Mendes virou o ícone da direita, o “Berlusconi brasileiro”, sendo bajulado pela oposição demotucano. Em vários momentos, ele foi o principal porta-voz dos ataques preconceituosos ao governo Lula. Sem provas e num gesto irresponsável, chegou a acusar o Executivo de promover escutas telefônicas e atirou: “Não há mais como descer na escala da degradação institucional... Gravar clandestinamente os telefonemas do presidente do STF é coisa de regime totalitário”. Ele extrapolou nas suas funções e colocou em risco o próprio equilíbrio entre os poderes.

Gilmar Mendes sai da presidência do STF sem deixar saudade. No próprio Supremo, ele foi alvo de ásperas críticas. Num dos momentos mais tensos do Judiciário, o ministro Joaquim Barbosa lavou a alma dos brasileiros ao espinafrar, em público, a sua postura autoritária e elitista. “Vossa excelência está destruindo a Justiça deste país... Saia à rua, saia à rua. Vossa excelência não está na rua, não. Vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do judiciário brasileiro... Vossa excelência, quando se dirige a mim não está falando com seus capangas do Mato Grosso”. Barbosa falou por todos nós. Gilmar Mendes (ou Dantas, ou Mentes?) já vai tarde!

O fim da era Gilmar Mendes


A Idade Mendes

Por Leandro Fortes, doBrasília, eu vi
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No fim das contas, a função primordial do ministro Gilmar Mendes à frente do Supremo Tribunal Federal foi a de produzir noticiário e manchetes para a falange conservadora que tomou conta de grande parte dos veículos de comunicação do Brasil. De forma premeditada e com muita astúcia, Mendes conseguiu fazer com que a velha mídia nacional gravitasse em torno dele, apenas com a promessa de intervir, como de fato interveio, nas ações de governo que ameaçavam a rotina, o conforto e as atividades empresariais da nossa elite colonial. Nesse aspecto, os dois habeas corpus concedidos ao banqueiro Daniel Dantas, flagrado no mesmo crime que manteve o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda no cárcere por 60 dias, foram nada mais que um cartão de visitas. Mais relevante do que tudo foi a capacidade de Gilmar Mendes fixar na pauta e nos editoriais da velha mídia a tese quase infantil da existência de um Estado policialesco levado a cabo pela Polícia Federal e, com isso, justificar, dali para frente, a mais temerária das gestões da Suprema Corte do País desde sua criação, há mais cem anos.
Num prazo de pouco menos de dois anos, Mendes politizou as ações do Judiciário pelo viés da extrema direita, coisa que não se viu nem durante a ditadura militar (1964-1985), época em que a Justiça andava de joelhos, mas dela não se exigia protagonismo algum. Assim, alinhou-se o ministro tanto aos interesses dos latifundiários, aos quais defende sem pudor algum, como aos dos torturadores do regime dos generais, ao se posicionar publicamente contra a revisão da Lei da Anistia, de cuja à apreciação no STF ele se esquivou, herança deixada a céu aberto para o novo presidente do tribunal, ministro Cezar Peluso. Para Mendes, tal revisão poderá levar o País a uma convulsão social. É uma tese tão sólida como o conto da escuta telefônica, fábula jornalística que teve o presidente do STF como personagem principal a dialogar canduras com o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás.
A farsa do grampo, publicada pela revista Veja e repercutida, em série, por veículos co-irmãos, serviu para derrubar o delegado Paulo Lacerda do comando da PF, com o auxílio luxuoso do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se valeu de uma mentira para tal. E essa, não se enganem, foi a verdadeira missão a ser cumprida. Na aposentadoria, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá tempo para refletir e registrar essa história amarga em suas memórias: o dia em que, chamado “às falas” por Gilmar Mendes, não só se submeteu como aceitou mandar para o degredo, em Portugal, o melhor e mais importante diretor geral que a Polícia Federal brasileira já teve. O fez para fugir de um enfrentamento necessário e, por isso mesmo, aceitou ser derrotado. Aliás, creio, a única verdadeira derrota do governo Lula foi exatamente a de abrir mão da política de combate permanente à corrupção desencadeada por Lacerda na PF para satisfazer os interesses de grupos vinculados às vontades de Gilmar Mendes.



Marca da gestão Gilmar Mendes: cultivando sua vaidade junto aos holofotes midiáticos.



O presidente do STF deu centenas de entrevistas sobre os mais diversos assuntos, sobretudo aqueles sobre os quais não poderia, como juiz, jamais se pronunciar fora dos autos. Essa é, inclusive, a mais grave distorção do sistema de escolha dos nomes ao STF, a de colocar não-juízes, como Mendes, na Suprema Corte, para julgar as grandes questões constitucionais da nação. Alheio ao cargo que ocupava (ou ciente até demais), o ministro versou sobre tudo e sobre todos. Deu força e fé pública a teses as mais conservadoras. Foi um arauto dos fazendeiros, dos banqueiros, da guarda pretoriana da ditadura militar e da velha mídia. Em troca, colheu farto material favorável a ele no noticiário, um relicário de elogios e textos laudatórios sobre sua luta contra o Estado policial, os juízes de primeira instância, o Ministério Público e os movimentos sociais, entre outros moinhos de vento vendidos nos jornais como inimigos da democracia.
Na imprensa nacional, apenas CartaCapital, por meio de duas reportagens (“O empresário Gilmar” e “Nos rincões de Mendes”), teve coragem de se contrapor ao culto à personalidade de Mendes instalado nas redações brasileiras como regra de jornalismo. Por essa razão, somos, eu e a revista, processados pelo ministro. Acusa-nos, o magistrado, de má fé ao divulgar os dados contábeis do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), uma academia de cursinhos jurídicos da qual Mendes é sócio. Trata-se de instituição construída com dinheiro do Banco do Brasil, sobre terreno público praticamente doado pelo ex-governador do DF Joaquim Roriz e mantido às custas de contratos milionários fechados, sem licitação, com órgãos da União.
Assim, a figura de Gilmar Mendes, além de tudo, está inserida eternamente em um dos piores momentos do jornalismo brasileiro. E não apenas por ter sido o algoz do fim da obrigatoriedade do diploma para se exercer a profissão, mas, antes de tudo, por ter dado enorme visibilidade a maus jornalistas e, pior ainda, fazer deles, em algum momento, um exemplo servil de comportamento a ser seguido como condição primordial de crescimento na carreira. Foi dessa simbiose fatal que nasceu não apenas a farsa do grampo, mas toda a estrutura de comunicação e de relação com a imprensa do STF, no sombrio período da Idade Mendes.
Emblemática sobre essa relação foi uma nota do informe digital “Jornalistas & Companhia”, de abril de 2009, sobre o aniversário do publicitário Renato Parente, assessor de imprensa de Gilmar Mendes no STF (os grifos são originais):

“A festa de aniversário de 45 anos de Renato Parente, chefe do Serviço de Imprensa do STF (e que teve um papel importante na construção da TV Justiça, apontada como paradigma na área da tevê pública), realizada na tarde do último domingo (19/4), em Brasília, mostrou a importância que o Judiciário tem hoje no cenário nacional. Estiveram presentes, entre outros, a diretora da Globo, Sílvia Faria, a colunista Mônica Bergamo, e o próprio presidente do STF, Gilmar Mendes, entre outros.”

Olha, quando festa de aniversário de assessor de imprensa serve para mostrar a importância do Poder Judiciário, é sinal de que há algo muito errado com a instituição. Essa relação de Renato Parente com celebridades da mídia é, em todos os sentidos, o pior sintoma da doença incestuosa que obriga jornalistas de boa e má reputação a se misturarem, em Brasília, em cerimônias de beija-mão de caráter duvidoso. Foi, como se sabe, um convescote de sintonia editorial. Renato Parente é o chefe da assessoria que, em março de 2009, em nome de Gilmar Mendes, chamou o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), às falas, para que um debate da TV Câmarafosse retirado do ar e da internet. Motivo: eu critiquei o posicionamento do presidente do STF sobre a Operação Satiagraha e fiz justiça ao trabalho do delegado federal Protógenes Queiroz, além de citar a coragem do juiz Fausto De Sanctis ao mandar prender, por duas vezes, o banqueiro Daniel Dantas.
Certamente em consonância com o “paradigma na área de tevê pública” da TV Justiça tocada por Renato Parente, a censura na Câmara foi feita com a conivência de um jornalista, Beto Seabra, diretor da TV Câmara, que ainda foi mais além: anunciou que as pautas do programa “Comitê de Imprensa”, a partir dali, seriam monitoradas. Um vexame total. Denunciei em carta aberta aos jornalistas e em todas as instâncias corporativas (sindicatos, Fenaj e ABI) o ato de censura e, com a ajuda de diversos blogs, consegui expor aquela infâmia, até que, cobrada publicamente, a TV Câmara foi obrigada a capitular e recolocar o programa no ar, ao menos na internet. Foi uma das grandes vitórias da blogosfera, até então, haja vista nem um único jornal, rádio ou emissora de tevê, mesmo diante de um gravíssimo caso de censura e restrição de liberdade de expressão e imprensa, ter tido coragem de tratar do assunto. No particular, no entanto, recebi centenas de e-mails e telefonemas de solidariedade de jornalistas de todo o país.
Não deixa de ser irônico que, às vésperas de deixar a presidência do STF, Gilmar Mendes tenha sido obrigado, na certa, inadvertidamente, a se submeter ao constrangimento de ver sua gestão resumida ao caso Daniel Dantas, durante entrevista noyoutube. Como foi administrada pelo Google, e não pelo paradigma da TV Justiça, a sabatina acabou por destruir o resto de estratégia ainda imaginada por Mendes para tentar passar à história como o salvador da pátria ameaçada pelo Estado policial da PF. Ninguém sequer tocou nesse assunto, diga-se de passagem. As pessoas só queriam saber dos HCs a Daniel Dantas, do descrédito do Judiciário e da atuação dele e da família na política de Diamantino, terra natal dos Mendes, em Mato Grosso. Como último recurso, a assessoria do ministro ainda tentou tirar o vídeo de circulação, ao menos no site do STF, dento do sofisticado e democrático paradigma de tevê pública bolado por Renato Parente.
Como derradeiro esforço, nos últimos dias de reinado, Mendes dedicou-se a dar entrevistas para tentar, ainda como estratégia, vincular o próprio nome aos bons resultados obtidos por ações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), embora o mérito sequer tenha sido dele, mas de um juiz de carreira, Gilson Dipp. Ministro do Superior Tribunal de Justiça e corregedor do órgão, Dipp foi nomeado para o cargo pelo presidente Lula, longe da vontade de Gilmar Mendes. Graças ao ministro do STJ, foi feita a maior e mais importante devassa nos tribunais de Justiça do Brasil, até então antros estaduais intocáveis comandados, em muitos casos, por verdadeiras quadrilhas de toga.
É de Gilson Dipp, portanto, e não de Gilmar Mendes, o verdadeiro registro moralizador do Judiciário desse período, a Idade Mendes, de resto, de triste memória nacional.
Mas que, felizmente, se encerra hoje.

Do Blog Aldeia Gaulesa

FHC revela que Serra foi quem mais defendeu as privatizações



Durante entrevista a revista “Veja”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que quem mais queria privatizar as estatais durante o seu governo não era ele, mas sim o atual governador de São Paulo, José Serra (PSDB): “O Serra foi um dos que mais lutou a favor da privatização da Vale”, afirmou Fernando Henrique.

“Tem muita gente que diz que o Serra é estatizante. Não, não é nada disso”, destacou o ex-presidente. Fernando Henrique afirmou que demorou muito tempo para se convencer que era necessário privatizar a Vale: “Eu vinha de outra formação. Tinha uma resistência psicológica a isso”, jurou o tucano, mas sem esconder que achou um “sucesso” a entrega das siderúrgicas. “Elas estão aí e deram certo”, afirmou.

FHC lembrou ainda que José Serra brigou, também, pela entrega da Light. “A Light também foi o Serra”.

Agora, leia mais essa

A acusação de uma tentativa de cobrança de propina na privatização da Companhia Vale do Rio Doce, em maio de 1997

O ex-diretor do Banco do Brasil e empresário Ricardo Sérgio de Oliveira(O escândalo da privatização das teles levou Ricardo Sérgio a deixar o cargo de diretor do BB em novembro de 1998), também responsável no passado pela arrecadação de fundos de campanha do atual presidenciável tucano José Serra, teria cobrado R$ 15 milhões ou US$ 15 milhões, conforme a versão para organizar o consórcio vencedor da privatização da Vale. Leia aqui

A Companhia Vale do Rio Doce, foi privatizada em 6 de maio de 1997. O consórcio Brasil, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional, de Benjamin Steinbruch, adquiriu o controle acionário da Vale por R$ 3.338.178.240.

Do Blog Os Amigos do Presidente Lula

Quem "controla" a mídia?

Da Agência Carta Maior

Enquanto na América Latina, inclusive no Brasil, a grande mídia continua a “fazer de conta” que as amaças à liberdade de expressão partem exclusivamente do Estado, em nível global, confirma-se a tendência de concentração da propriedade e controle da mídia por uns poucos mega empresários.

Você já ouviu falar em Alexander Lebedev, Alexander Pugachev, Rupert Murdoch, Carlos Slim ou Nuno Rocha dos Santos Vasconcelos? Talvez não, mas eles já “controlam” boa parte da informação e do entretenimento que circulam no planeta e, muito provavelmente, chegam diariamente até você, leitor(a).

Enquanto na América Latina, inclusive no Brasil, a grande mídia continua a “fazer de conta” que as ameaças à liberdade de expressão partem exclusivamente do Estado, em nível global, confirma-se a tendência de concentração da propriedade e controle da mídia por uns poucos mega empresários.

Na verdade, uma das conseqüências da crise internacional que atinge, sobretudo, a mídia impressa, tem sido a compra de títulos tradicionais por investidores – russos, árabes, australianos, latino-americanos, portugueses – cujo compromisso maior é exclusivamente o sucesso de seus negócios. Aparentemente, não há espaço para o interesse público.

Na Europa e nos Estados Unidos
Já aconteceu com os britânicos The Independent e The Evening Standard e com o France-SoirFakt (o diário de maior tiragem), quanto o Polska (300 mil exemplares/dia) são controlados por grupos alemães.

Nos Estados Unidos, a News Corporation de Murdoch avança a passos largos: depois do New York Post, o principal tablóide do país, veio a Fox News, canal de notícias 24h na TV a cabo; o tradicionalíssimo The Wall Street Journal; o estúdio Fox Films e a editora Harper Collins. E o mexicano Carlos Slim é um dos novos acionistas do The New York Times.

E no Brasil?
Entre nós, anunciou-se recentemente que o Ongoing Media Group – apesar do nome, um grupo português – que edita o “Brasil Econômico” desde outubro, comprou o grupo “O Dia”, incluindo o “Meia Hora” e o jornal esportivo “Campeão”. O Ongoing detem 20% do grupo Impressa (português), é acionista da Portugal Telecom e controla o maior operador de TV a cabo de Portugal, o Zon Multimídia.

Aqui sempre tivemos concentração no controle da mídia, até porque , ao contrário do que acontece no resto do mundo, nunca houve preocupação do nosso legislador com a propriedade cruzada dos meios. Historicamente são poucos os grupos que controlam os principais veículos de comunicação, sejam eles impressos ou concessões do serviço público de radio e televisão. Além disso, ainda padecemos do mal histórico do coronelismo eletrônico que vincula a mídia às oligarquias políticas regionais e locais desde pelo menos a metade do século passado.

Desde que a Emenda Constitucional n. 36, de 2002, permitiu a participação de capital estrangeiro nas empresas brasileiras de mídia, investidores globais no campo do informação e do entretenimento, atuam aqui. Considerada a convergência tecnológica, pode-se afirmar que eles, na verdade, chegaram antes, isto é, desde a privatização das telecomunicações.

Apesar da dificuldade de se obter informações confiáveis nesse setor, são conhecidas as ligações do Grupo Abril com a sul-africana Naspers; da NET/Globo com a Telmex (do grupo controlado por Carlos Slim) e da Globo com a News Corporation/Sky.

Tudo indica, portanto, que, aos nossos problemas históricos, se acrescenta mais um, este contemporâneo.

Quem ameaça a liberdade de expressão?
Diante dessa tendência, aparentemente mundial, de onde partiria a verdadeira ameaça à liberdade de expressão?

Em matéria sobre o assunto publicada na revista Carta Capital n. 591 o conhecido professor da New York University, Crispin Miller, afirma em relação ao que vem ocorrendo nos Estados Unidos:

“O grande perigo para a democracia norte-americana não é a virtual morte dos jornais diários. É a concentração de donos da mídia no país. Ironicamente, há 15 anos, se dizia que era prematuro falar em uma crise cívica, com os conglomerados exercendo poder de censura sobre a imensidão de notícias disponíveis no mundo pós-internet (...)”.

Todas estas questões deveriam servir de contrapeso para equilibrar a pauta imposta pela grande mídia brasileira em torno das “ameaças” a liberdade de expressão. Afinal, diante das tendências mundiais, quem, de fato, “controla” a mídia e representa perigo para as liberdades democráticas?
na França. Na Itália, rola uma briga de gigantes no mercado de televisão envolvendo o primeiro ministro e proprietário de mídia Silvio Berlusconi (Mediaset) e o australiano naturalizado americano Ropert Murdoch (Sky Itália). O mesmo acontece no leste europeu. Na Polônia, tanto o


Venício Lima é Pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília - NEMP - UNB

Hezbolá: Opomo-nos a qualquer compromisso com o Sionismo

Do Portal Vermelho.org

O secretário-geral do Hezbolá, Hassan Nasrallah, anunciou uma nova carta política: uma carta na qual definiu as grandes linhas a seguir pelo Hezbolá. Nasrallah apareceu em um telão perante uma multidão de jornalistas e de personalidades políticas, sem esquecer a presença do presidente do partido do Conselho, Ibrahim al Amin-Sayyed e do chefe do bloco parlamentar da Fidelidade à Resistência, Hajj Mohammed Raad. A seguir, os principais extratos da carta.

Por G.Houbballah, para a Al-Manar

O objetivo deste documento é dar a conhecer a visão política do Hezbolá, que assenta nas nossas percepções e aspirações, nas nossas esperanças e preocupações; é acima de tudo o resultado daquilo por que passamos, do que definimos ser prioritário em relação à supremacia do ato do sacrifício.

Num período político excepcional, rico de evoluções, não é possível fazer-se uma abordagem sem referir o papel especial da resistência, ou o impacto das suas realizações.

É pois necessário incluir essas mudanças no contexto da comparação entre duas vias contraditórias, de proporção inversa.

1 – a via da resistência e da oposição, uma via que assenta em vitórias militares e êxitos políticos ao ponto de instaurar um modelo da resistência popular e política, de coerência nas posições políticas, apesar da dimensão dos desafios. Até fazer pender a balança na equação regional a favor da resistência e dos seus partidários.


2 – a via da hegemonia americana e da arrogância americano-israelense e dos seus aliados nas suas diferentes dimensões e nos seus prolongamentos diretos e indiretos, revelando simultaneamente o fracasso estratégico dos Estados Unidos e o desmoronamento dos seus projetos, um após outro, o que os mergulhou na confusão, na retirada, na incapacidade de controlar o curso das evoluções e dos acontecimentos no mundo árabe e no mundo islâmico.

Estes dados revelam-se no contexto internacional mais lato que, por sua vez, contribui para desvendar o impasse ou mesmo o recuo da hegemonia unipolar dos Estados Unidos a favor dum sistema multipolar cujas linhas ainda não estão nitidamente definidas.


E o que agudiza a crise do mundo hegemônico é a crise que atingiu os mercados financeiros americanos, a economia mundial e que fez com que os Estados Unidos entrassem num estado de confusão e impotência, que atingiu como uma chicotada a própria estrutura do arrogante modelo capitalista.

Podemos pois dizer: Encontramo-nos num contexto de mudanças históricas que ameaçam os Estados Unidos de perder o seu lugar de potência dominante, e a extinção do sistema de dominação unipolar.

Perante isto, os movimentos de resistência aparecem como sendo um fator estratégico na cena internacional depois de terem desempenhado um papel central na produção ou no estímulo de mudanças ligadas à nossa região. Assim, a resistência no Líbano, em especial a resistência islâmica, foi a primeira a fazer frente à hegemonia e à ocupação há mais de trinta anos e esta escolha resistiu, apesar de todas as tentativas de demonstrar que a opção da resistência era uma imprudência ou uma tendência política que se opõe às regras do racionalismo e do realismo.

Ora o percurso das vitórias registradas pela resistência comprovou a veracidade desta opção: desde a expulsão da ocupação israelense de Beirute e da Montagne, depois a sua retirada de Saida, Nabatiyeh e Tiro, passando pelas agressões israelenses de Julho de 1993 e Abril de 1996, sem esquecer a retirada israelense em maio de 2000, até à guerra israelense contra o Líbano em 2006, tudo isso apenas serviu para reforçar a credibilidade e a legitimidade dessa resistência.

A Resistência conseguiu assim evoluir de movimento de libertação para movimento de resistência, depois para uma força de dissuasão e de defesa, para além do seu papel como pedra angular no seio do poder político para a elaboração de um Estado forte e justo.

Paralelamente, a resistência conseguiu evoluir no plano político e humanitário, e adquiriu assim, para além do seu valor patriótico libanês, um valor árabe e islâmico luminoso; tornou-se atualmente num valor universal e humano em que se inspiram todos os que prezam a liberdade e a independência em diversas partes do globo.

Ora o Hezbolá, apesar destas mudanças promissoras, considera que, embora o inimigo se encontre num impasse e incapaz de ter uma estratégia de guerra ou de impor ajustamentos de acordo com as suas próprias condições, não deve subestimar a amplitude dos desafios e dos riscos que subsistem, não deve banalizar a via difícil da luta e a dimensão dos sacrifícios exigidos pela resistência para a restituição dos territórios.

No entanto, o Hezbolá tornou-se mais claro, mais determinado nas suas escolhas, mais confiante em Deus, em si mesmo e no seu povo.

Foi neste contexto que o Hezbolá definiu as grandes linhas da sua política.

A hegemonia americana

Depois da Segunda Guerra mundial, os Estados Unidos impuseram-se como projeto central de dominação, um projeto fundado num desenvolvimento nos mecanismos de dominação e escravização sem precedentes, reforçado por realizações a todos os níveis do conhecimento científico, cultural, tecnológico, econômico e militar.

Um projeto político e econômico que considera o mundo apenas como uma abertura a mercados que devem ser regidos pelas suas próprias leis.

A coisa mais perigosa na lógica da hegemonia do Ocidente, e muito em especial dos Estados Unidos, é considerar que o direito de dominar o mundo é uma coisa natural e, portanto, que a estratégia econômica capitalista do projeto é de natureza global, sem limites nas suas ambições gananciosas.

Os fatores de controle do capitalismo selvagem, que são constituídos por um presidente e redes internacionais sustentadas por sociedades transnacionais, instituições internacionais, nomeadamente financeiras, apoiadas pela força militar superior, provocaram conflitos de identidades, de culturas e de modos de civilizações, contradições entre ricos e pobres, etc.

O capitalismo selvagem transformou a globalização num mecanismo de dominação, de desunião, de discórdia e de destruição das identidades, até mesmo de alienação cultural, econômica e social.

Esta globalização atingiu o seu paroxismo quando se transformou em militar; não faltam no Oriente Médio exemplos disso, como o Afeganistão, o Iraque, a Palestina, o Líbano, com a guerra global de julho de 2006, executada pelos israelenses.

A hegemonia e a dominação dos Estados Unidos atingiu recentemente níveis perigosos, sobretudo a partir da última década do século 20 e ainda hoje, de modo ascendente após a queda da União Soviética, uma oportunidade histórica para a hegemonia americana de liderar o mundo, em nome da responsabilidade histórica, e de impor a ideia de que não há distinção entre os interesses do mundo e os interesses americanos.

Esta hegemonia atingiu o seu apogeu com a administração Bush, que exprimiu a sua visão num documento "Projeto do Novo Século Americano", escrito antes das eleições americanas de 2000.

Não é de estranhar nem de surpreender que este documento insista na questão do reforço das capacidades dos EUA em todo o mundo, através duma política estratégica fundada no reforço das capacidades militares. Estas últimas já não são uma força de dissuasão, mas também uma força de intervenção, tanto para efetuar ataques "preventivos" para fins "terapêuticos", como para tratar das crises depois de estas se produzirem.

A administração Bush considerou os acontecimentos do 11 de Setembro de 2001, como uma ocasião para realizar essa visão, através do slogan da "guerra mundial contra o terrorismo" e esta administração trabalhou da forma seguinte:

1 – militarização da política externa e das suas relações diplomáticas.


2 – evitar depender dos enquadramentos multilaterais e monopolizar a tomada de decisões estratégicas e a coordenação, em caso de necessidade, com os aliados que podem ser convocados.


3 – resolver rapidamente a guerra no Afeganistão para se preparar para a etapa seguinte, ou seja: controle do Iraque, que servirá de ponte principal para o estabelecimento de um novo Oriente Médio em ligação com as exigências do mundo após o 11 de Setembro. Esta administração não hesitou em recorrer a todos os métodos de camuflagem, de enganos e de mentiras desavergonhadas para justificar as guerras, em especial a guerra no Iraque, contra todos os que resistem aos seus neo-países coloniais.

Neste contexto, a administração dedicou-se a estabelecer uma ligação entre o terrorismo e a resistência para lhe retirar toda a legitimidade reconhecida nos direitos do homem e justificar assim a luta contra as guerras de todos os tipos, e reduzir a zero os últimos bastiões da defesa dos povos e o seu direito de viver em liberdade, com dignidade e com orgulho, de viver a sua própria experiência, de assumir os seus papeis no movimento da história humana, cultural e intelectualmente.


O "terrorismo" serviu de argumento para a dominação americana através de diversos meios: processos judiciais, prisão e detenção arbitrárias, ausência dos elementos mais fundamentais de um processo justo, como se verificou nos locais de detenção de "Guantânamo", intervenção direta na soberania dos Estados, desencadear guerras destrutivas e devastadoras sem distinguir o inocente do culpado, nem entre crianças e adultos, entre mulheres e jovens…

O preço humano das guerras americanas contra o terrorismo já ultrapassou o número de milhões de pessoas, sem contar com a destruição das infra-estruturas, e também o desmantelamento da estrutura e dos componentes das próprias comunidades.

Não há a menor dúvida de que o terrorismo americano está na origem de todo o terrorismo mundial, e de que a administração Bush tornou os Estados Unidos numa ameaça para o mundo inteiro, a todos os níveis. Se, atualmente, se fizesse uma pesquisa da opinião mundial, os Estados Unidos apareceriam como o país mais odiado do mundo.

O fracasso sofrido pela guerra no Iraque e a situação evolutiva da resistência, o fracasso da alegada "guerra contra o terrorismo", especialmente no Afeganistão, onde se assiste ao regresso em força do movimento dos talibãs e ao reconhecimento do seu papel procurando entrar em acordos com eles, assim como o fracasso da guerra americana contra a resistência no Líbano e na Palestina, através da ocupação israelense, tudo isso atingiu violentamente o prestígio americano a nível internacional, provocando um recuo estratégico na sua capacidade de ação.

No entanto, isso não significa que os Estados Unidos se vão retirar de cena facilmente, mas farão tudo o que for necessário para proteger o que eles chamam os seus "interesses estratégicos", porque os políticos que pretendem promover a hegemonia americana, os projetos ideológicos, alimentados por tendências extremistas aliadas à componente militar, não conhecem limites para a cupidez e as suas ambições.

A nossa região e a hegemonia americana

Os mundos árabe e muçulmano têm estado sujeitos durante séculos, a guerras coloniais brutais e sem fim, a começar pela implantação da entidade sionista na região, no quadro duma fragmentação da região em entidades contraditórias.

Atingimos o apogeu desta fase com os Estados Unidos que herdaram o antigo colonialismo na região.

O objetivo central do controle americano dos povos em todas as suas formas é político, econômico, cultural e a pilhagem dos seus recursos, em especial a pilhagem das riquezas petrolíferas é um meio de controle do Presidente da economia mundial.

Para atingir os seus objetivos políticos, os Estados Unidos aperfeiçoaram estratégias de ação, nomeadamente:

1 – fornecer todos os meios para garantir a estabilidade da entidade sionista, que á a base avançada do projeto imperialista americano na região, e sustentar totalmente essa entidade, fornecer-lhe uma rede de segurança para a sua existência, para que ela possa cumprir o seu papel de tiróide cancerígena na região;


2 – minar os direitos culturais dos nossos povos e trabalhar para enfraquecer a sua moral através dos meios de comunicação sem esquecer a guerra psicológica para afetar os valores e os símbolos da resistência;


3 – sustentar os regimes tirânicos dependentes dos Estados Unidos na região;


4 – posicionamento de bases militares que são articulações necessárias para apoio das guerras;


5 – impedir toda e qualquer rebelião na região que permita o acesso ao poder e ao progresso, ou desempenhar um papel histórico no mundo;


6 – semear a discórdia e as divisões de todo o tipo, em especial os conflitos sectários entre muçulmanos, para a produção de conflitos civis internos intermináveis.

É evidente que só é possível ler qualquer conflito em qualquer região do mundo através da perspectiva duma estratégia global e, portanto, a ameaça americana não se reduz a um espaço preciso, a linha da frente desta ameaça também tem que ser mundial.


Não há a menor dúvida de que se trata duma confrontação difícil e delicada, uma batalha de gerações. A nossa experiência no Líbano já demonstrou que dificuldade não significa impossibilidade.

Isto é verdade verticalmente através da história e também horizontalmente através das nossas extensões geográficas e geopolíticas.

A arrogância americana não deixou aos nossos povos senão a escolha da resistência, a escolha para uma vida melhor, para o futuro do Homem, um futuro regido por relações de fraternidade e de solidariedade na diversidade, um mundo de paz e de harmonia, conforme previsto pelo movimento dos nossos profetas e dos reformadores através da história.

O Líbano

O Líbano é a nossa pátria, a dos nossos pais e dos nossos avós, e é também a pátria dos seus filhos e netos e de todas as gerações que se seguem.

Rejeitamos toda a forma de partição ou de "federalização" explícita ou disfarçada. Queremos uma pátria livre, soberana e independente, generosa, poderosa, capaz, presente nas equações da região, e contribuinte chave no presente e no futuro, como sempre o foi na fabricação da história.

a) A resistência

"Israel" representa uma ameaça constante para o Líbano, um modelo de coexistência entre os fieis das religiões divinas e que é contrariado pela presença duma entidade racista: a entidade sionista. Além disso, a existência do Líbano na fronteira da Palestina ocupada, impõe que ele assuma responsabilidades nacionais e patrióticas.

A ameaça israelense começou a fazer-se sentir neste país desde que a entidade sionista foi implantada na Palestina; essa entidade não hesitou em divulgar as suas ambições de anexar o Líbano, de se apoderar das suas riquezas, principalmente as minerais, e tentou concretizar essas ambições progressivamente.

Essa entidade desencadeou uma série criminosa de agressões contra o país desde 1948: o massacre de Houla em 1949, a agressão ao aeroporto internacional de Beirute em 1968… a ocupação de 1982, etc.

Tudo isso foi totalmente apoiado pelos Estados Unidos da América, e em certa medida ignorado pela "comunidade internacional" e pelas instituições internacionais, tornando-as de fato cúmplices do agressor, sem esquecer o silêncio dos árabes, a ausência duma verdadeira autoridade libanesa no Líbano, que abandonou o país e o povo aos massacres e às pilhagens perpetradas pela ocupação israelense.

Perante esta tragédia nacional, o sofrimento da população e o sentimento de abandono pelo mundo levaram os libaneses fieis à sua pátria a recorrer ao seu direito de resistência, que é um dever nacional moral e religioso: a resistência popular armada nasceu assim para enfrentar o perigo sionista que ameaça a sua vida, os seus meios de subsistência e o seu futuro.

Em circunstâncias tão difíceis, o Estado libanês começou a recuperar a sua soberania através da resistência armada, a reencontrar o seu poder de decidir politicamente, um poder que a ocupação israelense tentara roubar-lhe, a resistência serviu de prelúdio à restauração do Estado e das suas instituições e, sobretudo, ao restabelecimento dos valores nacionais: a soberania da pátria e a dignidade, dando à liberdade a sua verdadeira dimensão.

A partir daí, esses valores deixaram de ser apenas um slogan, mas foram consagrados pela resistência para libertar os nossos territórios e recuperar os nossos direitos e são a pedra angular para um Líbano moderno, que recuperou o seu lugar no mapa do mundo como país respeitado e orgulhoso dos seus filhos que pertencem a uma pátria que luta pela liberdade, pela cultura, pela ciência, pela diversidade e pelo dinamismo, uma pátria de dignidade, de sacrifício e de heroísmo.

A retirada das forças de ocupação israelenses no ano 2000 e a vitória histórica na guerra de Julho de 2006, serviram de modelo de defesa e de resistência da pátria, a experiência transformou-se numa escola em proveito dos povos e das nações oprimidas.

A resistência nacional conseguiu, com o apoio do povo e do exército nacional, infligir uma derrota histórica a "Israel", os três em conjunto ofereceram uma base para uma nova fase na região, a partir de agora desempenham um papel central na função de dissuasão do inimigo garantindo a proteção da independência nacional, da soberania e da defesa do seu povo.

Ora, dada a ausência de um Estado forte, dado o desequilíbrio das forças entre o Estado e o inimigo, dada a ameaça permanente das forças israelenses, o Líbano tem que consagrar uma fórmula mista baseada numa aliança entre uma resistência popular que participe na defesa do país contra qualquer invasão israelense, e o exército nacional que deve proteger a pátria e garantir-lhe a sua segurança e a sua estabilidade.

Esta fórmula deve ser desenvolvida no seio duma estratégia de defesa nacional, que servirá de cobertura de segurança para o Líbano, após o fracasso de outras propostas internacionais ou árabes.

A escolha da resistência permitiu a libertação do território do Líbano, o restabelecimento das instituições estatais, a proteção da soberania e a realização duma verdadeira independência.

O êxito da experiência da resistência, o fracasso de todas as guerras para a eliminar, e a permanência da ameaça israelense no Líbano – e não o desaparecimento dessa ameaça – levam a resistência a prosseguir sem descanso na sua missão, a reforçar as suas capacidades militares, para poder participar na tarefa de libertar o que falta dos nossos territórios ainda ocupados, recuperar detidos e pessoas desaparecidas e os corpos dos mártires, e participar na missão de defesa e proteção do nosso país.

b) O Estado e o sistema político

O principal problema no sistema político libanês, que impede a reforma e o desenvolvimento e que está permanentemente na ordem do dia, é o confessionalismo político. O sistema foi estabelecido numa base confessional, o que é um obstáculo à realização da verdadeira democracia, a que abre a porta a uma boa repartição dos poderes políticos. Por consequência, a condição para a aplicação duma verdadeira democracia deste gênero é a abolição do confessionalismo político do sistema, que está inscrito no texto dos "Acordos de Taëf" e a necessidade de formar uma comissão nacional para o fazer.

Ora, enquanto os libaneses não atingirem este objetivo através do diálogo nacional – falamos da abolição do confessionalismo político – e também enquanto subsistir o sistema político baseado em linhas sectárias, a democracia consensual mantém-se a base fundamental para a governação no Líbano, porque é ela a encarnação real do espírito da constituição e a essência da Carta da coexistência.

Daí que toda a abordagem das questões nacionais pela maioria e pela minoria deve ser realizada de acordo com as condições históricas e sociais do exercício da democracia efectiva na qual o cidadão constitui um valor em si mesmo.

A democracia consensual é uma fórmula política que exige uma verdadeira participação de todos, o fator de confiança é primordial entre os componentes do país.

O Estado que queremos e que exigimos resume-se a:

1 – um Estado que permita preservar as liberdades públicas e fornecer todo o ambiente apropriado ao seu exercício;


2 – um Estado baseado na unidade nacional e na coesão nacional;


3 – um Estado capaz de proteger o território e o povo e a soberania e a independência, e que disponha de um exército nacional forte, devidamente equipado, com instituições de segurança eficazes, e que defende a segurança das pessoas e dos interesses;


4 – um Estado com instituições modernas com atores e colaboradores, com poderes e funções claras e precisas;


5 – um Estado que aplique as leis a toda a gente no quadro do respeito das liberdades públicas e da justiça quanto aos direitos e aos deveres dos cidadãos, independentemente das suas seitas e regiões.


6 – um Estado que goze duma representação adequada, o que só pode ser realizado corretamente por uma lei eleitoral moderna que permita aos eleitores escolher os seus representantes libaneses na ausência do controle do dinheiro e de diferentes pressões a fim de obter a maior representação possível dos diversos segmentos do povo libanês;


7 – um Estado que se apoie em competências científicas altamente qualificadas do seu povo, que coloque mecanismos sólidos e eficazes para limpar a administração da corrupção:


8 – um Estado em que haja uma autoridade judiciária forte, independente e livre de qualquer controle político, exercida por juízes de reputação imparcial;


9 – um Estado que goze duma economia baseada nos seus setores produtivos, nos setores da agricultura e da indústria, reforçada por planejamento e programas de apoio de primeiro plano para melhorar a produção e oferecer possibilidades de emprego, especialmente nas zonas rurais;


10 – um Estado que aplique o princípio de desenvolvimento equilibrado entre as regiões, esforçando-se por preencher o fosso entre as políticas econômicas e sociais;


11 – um Estado que se preocupe com o interesse dos seus cidadãos e que forneça os serviços apropriados à sua instrução, aos cuidados médicos e à habitação para ter uma vida decente, um Estado que se dedique a atacar o problema da pobreza e a fornecer possibilidades de emprego;


12 – um Estado que se preocupe com as novas gerações, que ajude a desenvolver os seus talentos e as suas energias e a orientá-las para os objetivos da ajuda humanitária a nível nacional e as protegerá dos desvios e dos vícios;


13 – um Estado determinado a reforçar o papel das mulheres e a reforçar a sua participação em todas as áreas;


14 – um Estado que dê importância à educação nacional, reforçando as escolas públicas e a Universidade libanesa a todos os níveis, assim como a instituição do ensino primário obrigatório e gratuito para toda a gente;


15 – um Estado que instaure um sistema administrativo descentralizado a fim de promover as possibilidades de desenvolvimento e de facilitar os negócios e as transações dos cidadãos, sem permitir que a descentralização administrativa se transforme posteriormente em "federalização";


16 – um Estado que trave o êxodo da pátria, a migração dos jovens e das famílias e a fuga dos cérebros;


17 – um Estado que apadrinhe os cidadãos expatriados em todos os cantos do mundo, que os defenda, que os proteja, que beneficie da sua situação ao serviço das questões nacionais.

A criação de um Estado assim é o objetivo de cada libanês, honesto e sincero, e no Hezbolá estamos prontos a desenvolver todos os nossos esforços em cooperação com as forças políticas e o povo para atingir este nobre objetivo nacional.


c) O Líbano e as relações palestinas

Uma das trágicas consequências da implantação da entidade sionista no território da Palestina é a deslocação dos seus habitantes, o problema dos refugiados palestinos que se refugiaram no Líbano e que esperam regressar aos seus lares de onde foram expulsos.

O sofrimento dos refugiados palestinos no Líbano não está limitado à dor das migrações forçadas e também às agressões e aos massacres israelenses, como o que aconteceu no campo de Nabatiyeh, mas o seu sofrimento também decorre da situação econômica e social catastrófica dos campos, onde não está assegurado o mínimo para uma vida decente, onde estão privados de direitos civis e sociais, tudo isto por causa da indiferença dos sucessivos governos libaneses em cumprir as suas obrigações para com eles.

Este fato não é normal e é agora imperativo que as autoridades libanesas assumam as suas responsabilidades, é necessário estabelecer relações libano-palestinas sólidas e ter em conta os interesses comuns dos dois povos, não manter esta relação regulada pelos caprichos e pelos humores, e os cálculos políticos internos ou as ingerências internacionais.

Isto é possível de realizar, nomeadamente através:

1. de um diálogo direto libano-palestino;


2. os palestinos no Líbano devem acordar um padrão de referência para os representar neste diálogo e contornar as divergências na situação palestina em geral;


3. dar aos palestinos os seus direitos civis e sociais e preservar a sua personalidade, a sua identidade e a sua causa.


4. defender o seu direito de regresso e recusar toda a naturalização.

d) O Líbano e as relações árabes


A identidade árabe do Líbano e a sua pertença árabe são inerentes à composição da comunidade libanesa.

A geopolítica regional e as políticas estratégicas regionais, os interesses nacionais, esses determinantes da estratégia política do Líbano, atribuem-lhe a necessidade de respeitar as causas árabes justas, nomeadamente a questão da Palestina e o conflito com o inimigo israelense.

O desenvolvimento da escola assente na luta contra os conflitos políticos, na prevenção de qualquer forma de discórdia, é uma opção que devia ser adotada no tratamento das questões árabes, assim como a procura de pontos comuns a fim de realizar uma verdadeira solidariedade para resolver as nossas questões.

Aqui, a escolha da resistência é uma necessidade fundamental para reposicionar a posição árabe e enfraquecer o inimigo, qualquer que seja a natureza das estratégias políticas ou os preconceitos.

Neste contexto, a Síria registrou uma atitude histórica e inabalável na luta contra o inimigo israelense, apoiou os movimentos de resistência na região, manteve-se ao nosso lado apesar das circunstâncias muito difíceis, procurou unificar os esforços árabes a fim de garantir os interesses da região e enfrentar os desafios.

Sublinhamos a necessidade de respeitar as relações excepcionais entre o Líbano e a Síria enquanto necessidade política, de segurança e econômica ditada pelos interesses dos dois países e dos dois povos, e também pelos imperativos da geopolítica e das exigências para a estabilidade do Líbano, ou mesmo para enfrentar os desafios comuns. Apelamos para que se ponha fim a todos os sentimentos negativos que têm manchado as relações bilaterais no decurso dos últimos anos e o regresso a relações normais logo que possível.

O Líbano e as relações islâmicas

O nosso mundo árabe e muçulmano confronta-se com desafios que afetam a composição diversificada das nossas sociedades o que exige uma tolerância zero a este respeito.

A escalada das tensões sectárias, especialmente entre sunitas e xiitas, a criação de contradições nacionais entre os curdos, os turcomanos e os árabes e os iranianos. A imigração das minorias da nossa região, em especial as minorias cristãs na Palestina, no Iraque, no Líbano, ameaça a coesão das nossas sociedades e impedem o desenvolvimento.

Ora, a diversidade religiosa e étnica, em vez de ser uma fonte de riqueza, tem vindo a ser utilizada como uma arma para destroçar a nação árabe.

O Hezbolá confirma a importância da cooperação entre os países islâmicos em todas as áreas, o que lhe garante a força da solidariedade frente a regimes arrogantes, a proteção da invasão cultural da comunidade e encoraja-os a tirar partido dos seus recursos na troca das diferentes prestações entre esses países.

Neste contexto, o Hezbolá considera que o Irã islâmico é um Estado importante no mundo muçulmano, a sua revolução conseguiu desenraizar o regime do Xá e frustrar os projetos do sionismo. O Irã apoiou os movimentos de resistência na nossa região e defende com coragem e determinação as questões árabes e islâmicas, em especial a questão palestina.

A política da República Islâmica do Irã é clara e coerente ao apoiar a questão central dos árabes e dos muçulmanos: a questão palestina.

Ao anunciar a vitória da revolução islâmica chefiada pelo Imame Khomeini, o Irã abriu uma embaixada palestina em substituição da embaixada de Israel, e manteve esse apoio sob todas as formas até hoje sob a direção do Imame Khamenei, que conquistou importantes vitórias pela primeira vez na história do conflito com os invasores sionistas.

A fabricação de contradições com a República Islâmica do Irã por determinados partidos árabes é um desafio para os árabes e só beneficiam "Israel" e os Estados Unidos da América.

O Irã, que redigiu a sua ideologia política, e construiu a sua política sobre "a centralidade da questão palestina", a luta contra "Israel" e a hegemonia americana, a integração no mundo árabe e no ambiente islâmico, deve ser tratado na base da vontade de cooperação e de fraternidade, no reconhecimento que ele é um centro de gravidade estratégico, atualmente o modelo de independência do projeto árabe da independência islâmica e uma força com que podem contar vários países e povos.

Lembramos a importância da unidade entre muçulmanos, de desconfiar de quem provoca a distinção entre eles, sobretudo as dissenções sectárias entre sunitas e xiitas, contamos com a consciência dos povos muçulmanos na luta contra o que se conspira contra eles.

A Palestina e as negociações de regulamento

Em primeiro lugar a questão da Palestina e a entidade sionista

A implantação da entidade sionista desde a agressão da Palestina e a deslocação dos seus habitantes em 1948, sob os auspícios e o apoio das potências internacionais hegemônicas da época, é uma ameaça direta e grave em toda a região árabe e uma verdadeira ameaça para a sua segurança e estabilidade, na medida em que ela não reaja.

O crime contra a humanidade praticado pelo Ocidente é a implantação desta entidade estranha no coração do mundo árabe e muçulmano, hostil, uma base do controle e da hegemonia nesta região em especial.

O movimento sionista é um movimento racista no pensamento e na prática. Além disso, a entidade continuou durante toda a ocupação os massacres e o terrorismo, com o apoio e os desvelos das potências colonialistas, em especial, dos Estados Unidos da América, o seu verdadeiro parceiro em todas as suas guerras e massacres e práticas do terrorismo.

Esta entidade é uma entidade usurpadora artificial, não é viável.

A responsabilidade histórica que compete à nação é de não a reconhecer, quaisquer que sejam as pressões e os desafios e continuar a trabalhar pela libertação de todos os territórios usurpados e restabelecer os direitos usurpados de toda a gente, independentemente do tempo que levar e dos sacrifícios que houver que fazer.

Jerusalém e a mesquita Al Aqsa

Todo o mundo está ao corrente do caráter sagrado de Jerusalém e da mesquita Al Aqsa, a primeira Qibla e o terceiro lugar santo, o ponto dos profetas e dos apóstolos (rezaram pela humanidade de Deus); ninguém nega a profundidade da sua relação com o Islão como um dos símbolos islâmicos mais importantes sobre a terra.

E a cidade de Jerusalém, o berço dos locais santos islâmicos e cristãos, goza de grande prestígio entre muçulmanos e cristãos.

A ocupação israelense continua a judaicizar a cidade santa através da expulsão do seu povo e da confisco das suas casas e dos seus bens, da construção de colônias judias e do muro do apartheid.

Os graves ataques incessantes e repetidos a Al-Aqsa fazem parte do plano da sua destruição, são uma ameaça grave e real à sua existência, a sua sobrevivência corre o risco de provocar repercussões em toda a região.

O nosso dever é apoiar a libertação de Jerusalém e defender Al-Aqsa, é um dever religioso, uma responsabilidade ética para todos os povos livres do mundo inteiro.

Convidamos e apelamos aos árabes e aos muçulmanos, e a todos os países que desejam a paz e a estabilidade no mundo, que desenvolvam esforços para libertar Jerusalém da ocupação sionista e para manter a sua verdadeira identidade e os lugares santos islâmicos e cristãos.

Em terceiro lugar: a resistência palestina

O povo palestino trava uma batalha de auto-defesa para recuperar os seus direitos nacionais legítimos na Palestina, exerce um direito legítimo reconhecido pelas mensagens celestes, pelas leis internacionais e pelos valores da humanidade.

Este direito inclui todas as formas de resistência – primeiro e acima de tudo a luta armada – e todos os meios que as facções da resistência palestina possam utilizar, tendo em conta o desequilíbrio das forças a favor do inimigo sionista que possui as mais modernas armas de destruição.

A experiência demonstrou q importância e a eficácia da opção da resistência e da luta armada frente à agressão com vista à libertação dos territórios para repor os direitos e conseguir instaurar um novo equilíbrio de forças.

A guerra de Julho de 2006 e a guerra de Gaza são disso provas reais…

Se é este o ponto da existência no Líbano e na Palestina, qual é a praticabilidade da negociação de opções Altswoi? Quais são os resultados, os interesses e os ganhos realizados pelas negociações em todas as fases e em todos os acordos obtidos? Não serão maior arrogância e hegemonia e intransigência israelense e mais ganhos dos interesses e das condições israelenses?

Enquanto afirmamos para o povo palestino e para a questão palestina, de se agarrarem à história, geográfica e política, declaramos clara e firmemente o nosso apoio ao povo palestino e aos movimentos de resistência palestina e à sua luta contra o projeto israelense.

Em quarto lugar: as negociações do regulamento

A nossa posição quanto ao processo de regulamento desde os acordos de Madrid aos Acordos de Oslo e, antes destes, os de "Camp David" e aos seus anexos, é a rejeição total da opção de um regulamento com a entidade sionista, com base no reconhecimento da legitimidade da sua existência e no abandono do território da Palestina.

Esta posição é fixa, permanente e definitiva, não negociável, mesmo que o mundo inteiro reconheça "Israel".

Deste ponto de vista, duma posição de fraternidade, de responsabilidade, apelamos aos dirigentes árabes para reconsiderar a possibilidade de negociações e reexaminar os resultados dos acordos assinados com o inimigo sionista.

A entidade sionista demonstrou durante todas as etapas das negociações que não pretende a paz, que utiliza as negociações para impor condições e proteger os seus interesses…

Por consequência, convidamos, desejamos e esperamos que todos os árabes e todos os muçulmanos se reúnam em volta da Palestina e de Jerusalém para a libertar da contaminação da ocupação sionista, suprir todas as necessidades de apoio necessárias para reforçar a resistência do povo palestino e permitir que ele prossiga a resistência e rejeite todos os projetos de normalização com o inimigo sionista, faça respeitar o direito de regresso de todos os refugiados palestinos às suas terras e às suas casas de onde foram expulsos.

Conclusão

É esta a nossa visão, ao elaborá-la esforçamo-nos por manter presente que somos os alunos da Justiça.

O nosso compromisso é defender o direito e a justiça, prontos a sacrificarmo-nos para os defender.

Através da ação, esperamos apenas a satisfação do nosso Criador, o Senhor dos céus e da terra, e esperamos para o nosso povo e para a nossa nação o bem-estar e a felicidade neste mundo e no além…

Fizemos a promessa, a ti Senhor, e a todos os oprimidos, de nos mantermos honestos para com o Pacto, de esperar pela Promessa e de sermos inabaláveis na Via que escolhemos.

* G.Houbballah é analista político do jornal libanês Al Manar

Este texto foi publicado em:
www.almanar.com.lb/newsSite/News.aspx?language=en

Tradução de Margarida Ferreira para o site ODiario.Info

sexta-feira, 23 de abril de 2010

REDE DE CORRUPÇÃO TUCANA EM SP PODE EXPLODIR

"Rede de corrupção tucana em SP pode explodir com o pedido oficial de quebra de sigilo no caso Alston.

Esquema de pagamento de propinas inclui todos os governos tucanos desde 1995 até hoje.

Lista de suspeitos é encabeçada por Robson Marinho, chefe da Casa Civil de Mário Covas,entre 1995 e 1997 e desde então conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.

Ao longo de sucessivas gestões tucanas, a Alston 'ganhou' licitações importantes no Estado de SP, entre elas a venda de trens para o Metrô.

A contrapartida era o pagamento de milhões de dólares por consultorias fictícias a empresas e laranjas ligados a setores do PSDB.

No governo Serra aumentaram os negócios com a Alston: de R$ 51 milhões na gestão Alckmin para R$ 69,5 milhões.

Entre os suspeitos de recebimento de propina figuram, além de Robson Marinho, Mauro Arce, atual secretário de Transportes do governo Serra; Jorge Fagali Neto, irmão de José Jorge Fagali, atual presidente do Metrô; o ex-secretário de Energia de São PAulo e ex-genro de Fernando Henrique Cardoso, David Zylberstajn e o homem de confiança de Serra, Andréa Matarazzo."

FONTE: cabeçalho da 1ª página de hoje (23/04) do site "Carta Maior". Texto elaborado revisitando arquivos e nomes que o próprio jornal pró-Serra Folha de São Paulo publicou e esqueceu [título colocado por este blog].

Do Blog Democracia & Política

E Ciro vira mesmo Coriolano?

Por Miguel do Rosário, no Blog Oleo do Diabo

Meu artigo sobre Ciro, modéstia à parte, acertou na mosca. O nobre parlamentar continua flertando com o personagem de Shakespeare, o general romano Caio Márcio, também conhecido pelo nome Coriolano. A figura existiu historicamente, e foi biografada por Plutarco.

Deixem-me, portanto, terminar de contar a história da peça. Coriolano, um patrício reacionário que odiava a plebe, é banido da cidade. Cheio de ressentimento, ele se dirige à Ancio, cidade dos Volscos, os piores inimigos de Roma, apresenta-se a Tulo Aufídio, até pouco seu adversário número 1, e se oferece para ajudar a destruir sua antiga pátria.

Esperemos, naturalmente, que Ciro Gomes seja mais esperto que isso. A mídia vem atiçando, sutilmente, o lado mais inflamável do ex-candidato. Hoje a Dora Kramer nos conta que Ciro, de fato, evitou deliberadamente criticar Serra, para ganhar o eleitorado antilulista. O cálculo é válido, inteligente até se considerarmos que Ciro quase se lançou candidato ao governo de São Paulo, o estado mais conservador do país. Mas é perigoso também. Cativando o cidadão conservador, o próprio Ciro se tornou um.

O comportamento de Ciro mostrou-se errático, esquizofrênico. Ele iniciou seu périplo eleitoral fazendo críticas extremamente duras à Serra e à big press, que se popularizaram muito através da internet. Depois disso, no entanto, o parlamentar mudou de estratégia. Passou a criticar o PT, o que lhe abriu as portas da mesma mídia que ele havia criticado tão acerbamente.

Tudo bem, política é assim mesmo. Um jogo de morder e assoprar o tempo todo. Não se pode ser ingênuo, todavia. A mídia é vingativa e só não é mais brutal com Ciro justamente porque anseia que ele ao menos não auxilie Dilma Rousseff. E está conseguindo. Por meio de elogios, chantagens, ofensas, a mídia conseguiu manipular a vaidade de Ciro e intrigá-lo com a campanha da ministra.

Alguém deve lembrar a Ciro que o final de Coriolano é triste. Movido por seu rancor vingativo, ele se junta aos volscos para atacar Roma, mas quando, já no acampamento militar diante de sua cidade natal, recebe a visita de sua mãe instando-o a não cometer um ato de traição tão vil, ele se comove e desiste. De volta à Ancio, é linchado pelos populares, furiosos com sua indecisão.

As atitudes de Ciro, intempestivas, coléricas, solitárias, não repercutem bem em nenhuma parte. O roçado de escândalos, frase que o parlamentar proferiu num dia de Roberto Jefferson, atravessou a cerca e chegou à sua própria horta. Afinal, depois de tantos rasgados elogios ao presidente Lula, a omissão de Ciro Gomes na luta eleitoral deste ano, não é nada menos do que escandalosa.