sábado, 10 de outubro de 2009

Batalha da mídia na América Latina: confronto aberto na Argentina, jogo de bastidores no Brasil

Vou escrever aqui sobre a Lei de Comunicações que acaba de ser aprovada na Argentina; e também sobre a nova pesquisa “DataFolha” que aponta grande aprovação à TV Brasil. São dois fatos importantíssimos, são parte da batalha da mídia na América Latina.

Mas, antes de entrar no tema, peço licença para abrir parêntesis e falar um pouco sobre nossa história. No enfrentamento com a mídia mais conservadora, há uma diferença clara de estilos entre o governo Lula e outros govenos progressistas do Continente. De forma despretensiosa, faço a seguir algumas reflexões sobre o tema: essas diferenças teriam a ver com nossas raizes históricas?

Se você preferir, pode pular os próximos 9 parágrafos, e ir direto para o tópico “Batalha da Mídia na América Latina”.

RAIZES DO BRASIL
É comum ouvir por aí que na História do Brasil não há espaço para revoluções, enfrentamentos, derramamento de sangue. Nosso povo teria uma “índole pacífica” – diziam os livros de Educação Moral e Cívica no fim dos anos 70 e início dos anos 80, quando eu tomei contato com o assunto nos bancos da escola.
Trata-se de grossa mentira. Índole pacífica? Trezentos anos de Escravidão foram resultado de “índole pacífica”. O massacre de Canudos revela também nossa índole pacífica? E o Quilombo de Palmares? E tantas outras rebeliões ou revoluções populares – com a dos Alfaiates na Bahia, ou a de Pernambuco em 1817?
Parece-me evidente que a tese do “povo pacífico”, ou da “história sem revoluções”, cumpre um papel puramente ideológico: esconder os conflitos, jogar pra debaixo do tapete a energia reformista ou revolucionária de nosso povo.
Os conflitos existiram, e seguem existindo no Brasil. Isso é uma coisa. Outra coisa é reconhecer que a forma brasileira de enfrentar os conflitos é – quase sempre – dissimulada. Mais um exemplo: há um sujeito por aí que quer convencer os brasileiros de que “Não Somos Racistas”; ele acha que assim vai evitar debates sobre nossa triste herança escravista. Coitado...
De onde vem essa tradição de esconder o conflito? Imagino que de nossa colonização portuguesa. E, nesse caso é bom frisar: de nossa colonização “portuguesa”, e não ibérica. Portugueses e espanhóis, nesse ponto, são muito diferentes.
Portugal, um Estado pequeno, sempre às voltas com o risco de virar mais uma província espanhola, passou séculos tratando os conflitos com habilidade e dissimulação. O professor Fernando Novais, numa obra clássica – “Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial”-, dedica um capítulo inteiro a mostrar como a Coroa portuguesa jogava com interesses diversos para conseguir sobreviver como Estado independente: aproximava-se dos franceses para enfrentar espanhóis, depois aproximava-se dos ingleses para enfrentar franceses. E chegou ao cúmulo de mudar a sede do Império para o Brasil, em 1808, pra evitar o confronto com as tropas de Napoleão.
Os orgulhosos (e poderosos) espanhóis prefeririam morrer todos em combate do que fugir assim. Mas Portugal não podia se dar ao luxo do enfrentamento. Não tinha forças pra isso.
Esse é só um exemplo.
Essa tradição portuguesa, de alguma forma, se incorporou ao Estado brasileiro independente. Nossas elites preferem - sempre - levar os conflitos em banho-maria. É apenas uma tática. Não quer dizer que os conflitos sejam menos violentos. Quando necessário, usam a violência de forma aberta.
BATALHA DA MÍDIA NA AMÉRICA LATINA
Falo de tudo isso porque acabo de ler que mais um país vizinho, a Argentina, comprou briga com a mídia conservadora. Os argentinos aprovaram a nova Lei de Comunicações. Ela restringe o poder das grandes corporações de imprensa. Leia mais aqui – http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=117320&id_secao=6.
O jornalista Altamiro Borges tem um livro muito interessante em que mostra como – na América Latina – a mídia se transformou num partido político que formula e repercute as teses mais conservadoras. Altamiro retoma Antonio Gramsci (o notável pensador marxista italiano), que costumava dizer: quando os partidos conservadores entram em crise, a imprensa assume esse papel de partido político da burguesia.
É o tal PIG (Partido da Imprensa Golpista), que o Paulo Henrique Amorim popularizou.
Na América Latina isso é evidente: na Venezuela o confronto é permanente (TVs e jornais participaram do golpe contra Chavez em 2002), na Bolívia, os jornais conservadores tratam Evo Morales com desprezo e, em alguns casos, com indisfarçado racismo; no Equador, Rafael Correa enfrenta dilemas semelhantes.
Equador, Bolívia e Venezuela decidiram enfrentar o problema de frente. Na melhor tradição espanhola. Agora, os Kirchner fazem o mesmo na Argentina.
É pau a pau. Conflito aberto. Batalha campal.
Pois bem. E no Brasil?
No Brasil o conflito é tão (ou mais) grave. Até porque aqui o capitalismo é mais sofisticado. Aqui a batalha não se resume a jornais e TVs conservadores de um lado contra governo progressista de outro. Há as teles (que podem se aliar a governo contra a mídia tradicional). Há um Estado com força pra investir (Lula anuncia a disposição de botar estrutura estatal pra levar banda larga até os rincões mais pobres do país).
No Brasil, o jogo é mais sofisticado, mais sutil, mais dissimulado.
Lula come pelas beiradas. Pulverizou verba de publicidade, fortalecendo a mídia regional. Isso irritou a imprensa tradicional. Um articulista de jornal paulista passou recibo, e escreveu um texto revelador. Leiam aqui - http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/doi-no-bolso-bateu-o-desespero-na-turma-da-ditabranda.
Tudo isso está em jogo. Mas vejam agora que grande ironia: Lula (depois dos ataques sofridos durante a campanha de 2006) percebeu que precisava investir numa forte TV estatal. Criou a TV Brasil.
A imprensa conservadora detesta a TV Brasil. A “Folha” chegou a escrever editorial pedindo o fechamento da TV.
O que fez Lula? Foi pro confronto? Não. Mandou a TV Brasil encomendar à própria “Folha” uma pesquisa sobre a TV estatal.
É a típica saída brasileira. E qual a suprema ironia: o “DataFolha” acabou por atestar que a TV Brasil é querida pelo público, aprovada por 80% dos que assistem sua progamação.
Leiam mais sobre a pesquisa aqui - http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/tv-brasil-80-dos-que-assistem-aprovam-programacao/.
A TV Brasil tem muitas falhas. Problemas sérios de transmissão. Em São Paulo, é quase impossível captar a emissora, a não ser por TV a cabo... Mas trata-se de um projeto que precisa ser melhorado, e não destruído como quer o PIG.
Chavez, Correia, Evo e Cristina vão para o confronto. No melhor estilo espanhol. Lula é herdeiro da tradição luso-brasileira: come pelas beiradas, dissimula, e ataca sem dizer que está atacando.
São diferenças de estilo. Mas, lá como cá, a direção é a mesma: o consórcio conservador que dominou as comunicações no continente está sob ataque.
A batalha da mídia, hoje, é a mãe de todas as batalhas.

Do Blog ESCREVINHADOR

Escândalos invisíveis

A destruição de 2 hectares de um laranjal, plantado me extensa área pública da União ocupada ilegalmente por uma grande empresa privada, orquestrada pela mídia e pelos interesses do agronegócio, escandaliza.

Enquanto isso, milhares de famílias estão acampadas em beira de estradas, trabalhadores são escravizados em pleno século 21 e trabalhadores rurais, líderes sindicais, religiosos e advogados são assassinados no Brasil.

Mas isso não escandaliza.

Milhares de processos estão travados na justiça emperrando as desapropriações para fins de reforma agrária e deixando sem solução os crimes do latifúndio e de sua pistolagem.

Mas isso não escandaliza.

As denúncias sobre casos de trabalho escravo contemporâneo atingem um recorde histórico no Brasil, de acordo com o relatório "Conflitos no Campo Brasil 2008", elaborado pela Comissão Pastoral da Terra, que registra 280 ocorrências no ano passado.Ao todo, os casos relatados pela CPT envolveram sete mil trabalhadores, 86 deles crianças e adolescentes, tendo havido 5,2 mil libertações.

Mas isso não escandaliza.

Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, de 1995 a 2002, a Fiscalização do Trabalho do ministério realizou 177 operações em 816 fazendas, lavrando-se 6.085 autos de infração. Já no período de 2003 a 2008, foram realizadas 607 operações, envolvendo 1.369 fazendas fiscalizadas, onde foram lavrados 16.981 autos de infração, o que significa um incremento anual de 272,1% em relação ao período anterior.

Mas isso não escandaliza.

O recorde nas denúncias foi acompanhado da intensificação da ação fiscalizadora do governo federal, que declarou a erradicação e a repressão ao trabalho escravo contemporâneo como prioridades do Estado brasileiro. O Plano prevê a aprovação da PEC que altera o art. 243 da Constituição Federal, dispondo sobre a expropriação de terras – sem indenização - onde forem encontrados trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão e que, em muitas situações, tentam fugir da fazenda e são impedidos pelo fazendeiro. Mas os ruralistas escravocratas reagem e impedem a sua aprovação pelo Congresso Nacional.

Mas isso não escandaliza.

Ideólogos do agronegócio escravocrata tentam explicar o injustificável, chegando a afirmar que "o principal objetivo desse trabalhador em eventual fuga da fazenda e posterior retorno trazendo a fiscalização trabalhista não seria apenas evitar o pagamento da dívida contraída com o empreiteiro, mas, talvez muito mais importante, receber a ‘multa’ de vários milhares de reais, comumente imposta pelo fiscal ao agricultor e em favor do trabalhador, sob a acusação de prática de ‘trabalho escravo’ por parte do fazendeiro. Além disso, os trabalhadores ‘libertados’ passam a receber seguro desemprego, sendo possível que, depois, passem a receber também Bolsa Família".

Mas isso não escandaliza.

Após mais de século da assinatura da Lei Áurea, o Brasil ainda convive com as marcas deixadas pelo regime colonial-escravista e por disparates escritos por seus neoideólogos. Conforme apresentação do Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, de 2003, assinada pelos então ministros Nilmário Miranda (Direitos Humanos) e Jacques Wagner (Trabalho e Emprego), "a escravidão contemporânea manifesta-se na clandestinidade e é marcada pelo autoritarismo, corrupção, segregação social, racismo, clientelismo e desrespeito aos direitos humanos".

Mas isso não escandaliza.

Apesar do grande aumento da produção agrícola de 1975 pra cá, os ruralistas tentam impedir a atualização dos índices de produtividade da terra para fins de reforma agrária e ameaçam o governo e os sem terra com retaliações.

Mas isso não escandaliza.

Os ruralistas querem reinventar uma CPI para criminalizar o MST e intimidar o governo. Eles não querem a democracia e a justiça social. Eles querem continuar escravizando os trabalhadores rurais e impedir a reforma agrária no Brasil.

Mas isso não escandaliza.

Joaquim Nabuco, O Abolicionista, dizia que a Abolição da Escravatura era indissociável da democratização do solo pátrio. Monarquistas e republicanos não lhe deram ouvidos e a concentração das terras em poucas mãos continua escandalosa.

Mas isso não escandaliza.

Antes da Abolição, a rebeldia dos escravos escandalizava, mas o açoite neles não.

Osvaldo Russo, ex-presidente do INCRA, coordenador do Núcleo Agrário Nacional do PT.

Do site Correio da Cidadania

Jarbas Vasconcelos: o senhor-intolerância


Senador Jarbas Vasconcelos: não entendeu ou esqueceu as aulas sobre democracia


Prof. DiAfonso

O Senador-Coronel Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) possui um estranho conceito de democracia: igualdade política e social só se passar pelo crivo dele.

Em fevereiro de 2009, criticou a presença da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no carnaval de Recife. O seu veneno foi expelido sob as bênçãos de um argumento pouco sólido: "Não vejo problemas da Dilma passar o Carnaval no Estado. O problema é quando ela usa dinheiro público para fazer campanha", comentara o senador naquela oportunidade. A essa pouca solidez argumentativa nas palavras do senhor-intolerância, junta-se uma flagrante contradição que daria o ar de sua graça em agosto de 2009 quando o presidenciável José Serra (PSDB-SP) - a quem Jarbas defende com unhas e dentes (talvez deseje um ministério num futuro e improvável governo serrista) - foi a Exu-PE visitar o Museu do Gonzagão. Ora, lá estavam o afilhado de Jarbas, deputado federal Raul Henry (PMDB-PE), e o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) a ciceronear o governador de São Paulo. O que José Serra estava fazendo lá? Estava em férias e resolveu passear com seus próprios recursos? Não, claro que não. Ele estava querendo, ao visitar o famoso município pernambucano, angariar a simpatia do povo nordestino com fins desbragadamente político-demagógicos. E com dinheiro do cidadão paulista.

Agora, como a corroborar a tese de que Jarbas Vasconcelos concebe a ideia de democracia a seu bel-prazer, ele sugere a morte do PCdoB e desdenha da história de lutas desse partido cujo norte nunca deixou de vislumbrar os princípios democráticos, de fato.

Convoco a blogosfera a repudiar, veementemente, as declarações fascistas desse senador que nos enganou quando fora para o front defender as liberdades democráticas num período difícil na vida do bravo povo brasileiro. Talvez o senador Jarbas Vasconcelos (o senhor-intolerância) creia que o termo "ditabranda", cunhado pela Folha de S. Paulo, esteja mais adequado àqueles sanguinolentos tempos. Tempos de dor e ranger de dentes. Tempos em que pais e mães choravam a morte de seus filhos, quando eles próprios não figuravam como vítimas da insanidade de um Estado autoritário e fratricida.

Para alguns, ele fora apenas infeliz na declaração feita ("muita gente diz que, com a cláusula de barreira, vão acabar os partidos pequenos, vai acabar o PCdoB... Que mal há em acabar o PCdoB?", palavras do senador Jarbas Vasconcelos). Eu opino de maneira diferente: ele não foi infeliz, ele sentiu-se em estado de êxtase ao proferir tal declaração, pois a forma truculenta como vem se posicionando diante de qualquer evento que lhe desagrade parece integrar o seu mutante dna.


do Blog Terra Brasilis

Para saber mais sobre o Senador Jarbas Vasconcelos, clique AQUI.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Fim de linha para Ricardo Kotscho


Na longa e penosa marcha da luta do povo por um novo mundo, não tenho a ilusão de que contaremos sempre com aliados de igual pensamento. Compreendo e aceito a existência da diversidade de idéias nesta labuta. Mas há momentos onde os passos de antigos cúmplices deixam claro que não chegaremos aos mesmos objetivos. Hoje, afirmo que não mais caminharei ao lado de Ricardo Kotscho. Decido ao mesmo tempo em que o experiente jornalista afirma que o MST acabou para ele esta semana em Iaras, na fazenda da Cutrale, com atos da vandalismo, furto, destruição e pichações.

Não aceito que alguém que conhece muito bem nossa mídia, a sociedade, as forças em disputa, não queira pensar, e acabe aliado às forças mais atrasadas de nossa história. Como jornalista, ele deveria estar agora ajudando a divulgar as perguntas contundentes que faz a Comissão Pastoral da Terra, em nota divulgada hoje:

1) Por que a imprensa não dá destaque à grilagem da Cutrale?

2) Por que a bancada ruralista se empenha tanto em querer destruir os movimentos dos trabalhadores rurais?

3) Por que não se propõe uma grande investigação parlamentar sobre os recursos repassados às entidades do agronegócio, ao perdão rotineiro das dívidas dos grandes produtores que não honram seus compromissos com as instituições financeiras?

4) Por que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), declarou, nas eleições ao Senado em 2006, o valor de menos de oito reais o hectare de uma área de sua propriedade em Campos Lindos, Tocantins?

5) Por que por um lado, o agronegócio alardeia os ganhos de produtividade no campo, o que é uma realidade, e se opõe com unhas e dentes à atualização dos índices de produtividade?

6) Por que a PEC 438, que propõe o confisco de terras onde for flagrado o trabalho escravo nunca é votada?

7) E por fim, por que o presidente Lula que em agosto prometeu em 15 dias assinar a portaria com os novos índices de produtividade, até agora, mais de um mês e meio depois, não o fez?


São perguntas que se feitas e respondidas levariam a uma bela pauta para reportagem de um jornal, uma revista. Mas, infelizmente, mesmo que talvez merecedora de um futuro Prêmio Esso, não será feita. Para tal seria necessário existir jornalismo e jornalistas que façam estas perguntas e tentem apurar as respostas.

Talvez esta reportagem começasse comparando o histerismo do cartel da mídia em defesa dos pés de laranja da Cutrale com o burocratismo em noticiar o ataque recente aos guaranis kaiowás no Mato Grosso do Sul, que tiveram acampamentos incendiados e foram baleados por proprietários rurais e seus capangas na região, como lembra Leonardo Sakamoto.

Para laranjas, plantadas em terra grilada, toda uma comoção. Para índios sendo baleados por grileiros, notícias de pé de página, sem um único editorial.

Sinto, Kotscho. Você escolheu as laranjas. Eu fico com a heróica luta do povo brasileiro e o MST.

Do Blog Jurandir

“O PSDB está perdidinho da Silva”. E o Zé Pedágio cria a “entrega programada”

O que é pior: banana a quilo ou entrega programada ?

O que é pior: banana a quilo ou entrega programada ?

Saiu na Folha (*), pág. A8

“O tucanos estão perdidinhos da Silva e desconhecem o Brasil”, disse Ciro Gomes.

“O PSDB vive em uma redoma.”

“O PSDB distribuiu uma cartilha em Natal para provar que ele criou o Bolsa Família e, não, o Lula.”

“De vez em quando acontece dessas contra mim, sempre da mesma fonte, mas o Serra sempre nega que tenha sido ele”, sobre a tentativa – que Zé Pedágio nega – de tirar o mandato de Ciro, porque transferiu no título para São Paulo.

“A Roseana Sarney também acredita que não foi ele que tentou”, destruir a candidatura dela em 2002.

Do Blog ConversaAfiada

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Leitor diz quem fez imagens do laranjal

deputado Rosinha e o cartel da laranja

Eu respondo às indagações do doutor Rosinha. O nome do cinegrafista amador é Flávio Jun Kitazume. Ele é oficial da Polícia Militar em Bauru. Foi ele quem fez as imagens e as enviou para a imprensa (inclusive a TV TEM, afiliada local da Rede Globo, de propriedade de J Hawila). Em 2007, Kitazume chegou a ser afastado de Bauru, pois integrava um grupo de policiais que cometiam sérios abusos contra os direitos humanos. Alguns desses PMs participaram das mortes de dois jovens inocentes naquele ano (uma das vítimas foi executada com bala na nuca, ao passo que a outra foi eletrocutada numa sessão de tortura). Depois de vazar as imagens para a imprensa, o nobre policial pediu a gentileza de que a autoria das mesmas não fosse divulgada. Na certa, pegaria mal o fato de a Polícia Militar usar helicóptero Águia para filmar a mutilação dos pés de laranja de um grileiro de terras. É deprimente, mas os PMs da região Bauru estão agindo como capitães-do-mato, para defender os interesses de um ladrão de terras que lucra às custas da miséria alheia.

Para completar a informação do comentário anterior. Os juízes da comarca de Lençóis Paulista (que determinou a desocupação da área pelos sem terra) são extremamente afinados com grandes grupos latifundiários, entre eles a Lwart e a Zillo Lorenzetti (de propriedade de familiares da prefeita de Lençóis, Bel Lorenzetti, do PSDB; aliás, ambas as empresas também grilam terras públicas). A promiscuidade é tamanha que a Lwart chega a ceder aeronaves para ações da polícia. Também costuma bancar a reforma o fórum da cidade, de quando em quando.

Não espanta que o juiz Mário Ramos dos Santos tenha determinado a desocupação da área. Estranho seria decidir o contrário.

Quanto ao Incra condenar a ação do MST, endossando discursos pseudo-democratas, é interessante notar que esses hipócritas se condoem por tratores danificados e pés de laranja destruídos. E os danos ambientais que a monocultura provoca? E a fuligem de cana queimada que transforma numa imundície o ar que respiro? E os milhões de famintos, vítimas da concentração fundiária?

Isso não é violência? Cadê a polícia? Cadê o Kitazume e seus colegas para nos defender? Cadê o juiz Mário Ramos para defender meus direitos? Cadê o PIG para clamar por democracia e falar em idéias ambientalmente sustentáveis?

A Cutrale não tem nada de santa. Pelo contrário, está mais para bandida nessa história. Quem afirma isso é o próprio PIG. Leiam essa reportagem da "Última Flor do Fáscio": http://veja.abril.com.br/140503/p_038.html

publicado em 07/10/2009 - 23:58 por Roberto Pires

Para ler o que o dr. Rosinha escreveu a respeito, clique aqui

Para ler a denúncia do MST contra a Cutrale, aqui

Do Blog VIOMUNDO

Lobby hondurenho em Washington tenta derrubar indicação de embaixador americano no Brasil

Leader Ousted, Honduras Hires U.S. Lobbyists

por GINGER THOMPSON e RON NIXON, no New York Times

Published: October 7, 2009

WASHINGTON —Primeiro, deponha um presidente. Depois, contrate um lobista.

Nos meses desde que soldados depuseram o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, o governo de fato e seus apoiadores resistiram a pedidos dos Estados Unidos para que o presidente deposto fosse restaurado ao poder. Argumentando que o esquerdista Zelaya representava uma ameaça a sua frágil democracia ao tentar estender ilegalmente seu mandato, eles argumentaram em Washington usando uma tática costumeira: uma campanha de lobby de alto nível.

A campanha teve o efeito de forçar o governo Obama a mandar sinais ambiguos sobre sua posição ao governo de fato, que os lê como sinais de encorajamento. Também teve o efeito de adiar duas indicações-chave do Departamento de Estado para a região.

Custando pelo menos 400 mil dólares até agora, de acordo com registros oficiais, a campanha envolve escritórios de advocacia e agências de relações públicas com ligações próximas à secretaria de Estado Hillary Rodham Clinton e ao senador John McCain, a voz mais importante dos republicanos em política externa.

Também obteve apoio de vários ex-integrantes de alto escalão responsáveis por definir a política externa dos Estados Unidos na América Central nos anos 80 e 90, quando a região lutava para se livrar das ditaduras militares e das insurgências guerrilheiras que definiram a guerra fria. Duas décadas depois, essas ex-autoridades -- incluindo Otto Reich, Roger Noriega e Daniel W. Fisk -- encaram Honduras como o principal campo de batalha em sua luta contra Cuba e Venezuela, que eles caracterizam como ameaças à estabilidade da região em linguagem similar a que foi usada no passado para descrever a União Soviética.

"A atual batalha por controle político de Honduras não é apenas sobre uma pequena nação", o sr. Reich testemunhou em julho no Congresso. "O que acontece em Honduras poderá um dia parecer como o ápice das tentativas de Hugo Chávez de subverter a democracia no hemisfério ou como o sinal verde para a expansão do autoritarismo chavista", ele afirmou, se referindo ao presidente venezuelano.

O sr. Noriega, co-autor do Ato Helms-Burton, que apertou o embargo dos Estados Unidos contra Cuba e que serviu recentemente como lobista de um grupo empresarial de Honduras, se negou a comentar este artigo.

O sr. Reich, que serviu em postos-chave para a América Latina sob os presidentes Ronald Reagan e George W. Bush, disse que não atuou oficialmente como lobista para nenhum grupo hondurenho. Mas ele disse ter usado suas conexões para promover a agenda do governo de fato, liderado por Roberto Micheletti, por acreditar que o governo Obama tinha cometido um erro.

E o sr. Fisk, cuja carreira política incluiu passagens pelo Conselho de Segurança Nacional e como subsecretário-assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental no governo Bush, promovia as ideias do governo Micheletti até duas semanas atrás como assessor do senador aposentado da Flórida, Mel Martinez.

Além do apoio dos veteranos da guerra fria -- e parcialmente por causa deles -- o governo de fato de Honduras mobilizou apoio de um grupo determinado de legisladores republicanos, liderados pelos senador Jim DeMint, da Carolina do Sul. Eles estão segurando a indicação de dois integrantes do Departamento de Estado como forma de pressionar o governo Obama a suspender as sanções econômicas contra Honduras.

"Erramos aqui", disse o sr. DeMint em uma entrevista à Fox News depois de voltar de uma viagem a Honduras na sexta-feira. Em referência ao governo de fato, ele disse, "esse é provavelmente nosso melhor amigo no hemisfério, o país mais pró-americano, mas estamos tentando estrangulá-lo".

Chris Sabatini, editor do Americas Quarterly, um jornal de política que focaliza a América Latina, disse que os lobistas confundiram a posição de Washington sobre o golpe. O governo disse publicamente que vê o golpe de Honduras como um acontecimento perigoso em uma região que não faz muito tempo era praguejada por golpes, ele diz.

Mas, acrescentou, para aplacar seus oponentes no Congresso, e ter as nomeações aprovadas, o Departamento de Estado às vezes enviou mensagens por canais secretos a legisladores expressando apoio a Zelaya de forma menos clara.

"Houve um vácuo de liderança no governo sobre Honduras e essas pessoas preencheram o vácuo", Sabatini disse dos apoiadores do governo Micheletti. "Eles não tem muito apoio, mas o suficiente para manter o governo refém".

Depois do golpe de 28 de junho, o presidente Obama se juntou a líderes regionais para condenar a ação e pedir a volta do presidente Zelaya ao poder, mesmo sendo o presidente hondurenho um aliado do sr. Chávez, o maior adversário dos Estados Unidos na região.

Mas assessores parlamentares disseram que menos de dez dias depois do golpe contra Zelaya, os srs. Noriega e Lanny J. Davis, um homem de confiança de Hillary Clinton e lobista do empresariado de Honduras, organizaram uma reunião de apoiadores do governo de fato com integrantes do Senado.

Mr. Fisk, que participou do encontro, disse que ficou espantado com o comparecimento. "Nunca vi oito senadores na mesma sala para falar sobre a América Latina em toda a minha vida", ele afirmou.

Quando o presidente Obama impôs sanções cada vez mais duras contra Honduras, o lobby se intensificou. O Grupo Cormac, liderado por um ex-assessor do senador McCain, John Timmons, aderiu ao lobby, de acordo com registros oficiais, assim como a firma de relações públicas Chlopak, Leonard, Schechter & Associates.

De sua parte, o sr. Reich comunicou seus pensamentos a integrantes do Congresso por e-mail. "Deveríamos comemorar", ele escreveu para um integrante do Comitê de Relações Exteriores do Senado, "que um dos aliados do proclamado socialismo do século 21 de Chávez foi legalmente deposto por seus conterrâneos".

Como normalmente acontece nos esforços de lobistas, algumas das mensagens foram mandadas sem remetente. Em escritórios do Senado nas últimas semanas, por exemplo, havia uma lista de "argumentos" preparada para solapar a indicação do secretário-assistente de Estado Thomas A. Shannon como embaixador no Brasil. Dois assessores, que pediram anonimato para falar sobre questões relativas ao golpe, disseram que o sr. Fisk escreveu o documento.

O sr. Fisk negou. Ele também desmentiu a noção de que está operando pelas regras antigas. "Pode ter gente lutando ainda nos anos 80", ele disse. "Eu não estou".

Do Blog VIOMUNDO

O ponto fraco do Brasil

Quem lê este blog desde ao menos a eclosão da crise econômica mundial nesta época do ano passado e acreditou no que leu, saiu ganhando. Deve ter deixado de agir precipitadamente demitindo empregados, postergando investimentos ou meramente perdendo o sono.

Fiquei bradando no deserto durante meses neste blog. Muitos acharam que eu não estaria captando a dimensão do problema. E não os culpo. O mundo entrou em pânico por razões absolutamente justificáveis – os ricos estavam perdendo fortunas e a conta seria empurrada aos pobres (pessoas e países).

A sorte do Brasil, porém, foi a de que a tal da globalização, apesar dos esforços do grupo político que governava o Brasil antes do grupo atual, não se impôs aqui como em muitos outros países.

Isso aconteceu devido ao nosso espetacular mercado interno. Protegendo-o dos importados, podemos comercializar entre nós mesmos por muito tempo. O Brasil não precisa do mercado externo para o comércio das empresas, mas para gerar os dólares necessários nas trocas comerciais com o exterior.

Todavia, se o mercado lá fora estiver ruim, um país com o mercado que tem este pode simplesmente redirecionar seus negócios para dentro. E como temos essa montanha de dólares, produto de investimentos de médio e longo prazo e atraída pelo bom momento de nossa economia, não haveria por que a crise se manter aqui dentro.

Hoje ninguém se surpreende ao ler isto que acabo de escrever. Todos já aceitam a explicação. Contudo, ela foi dada aqui já em setembro do ano passado, quando até aqueles que partilham minhas posições políticas duvidaram do que agora todos aceitam.

Contudo, não sou só otimismo quanto ao Brasil. E agora não falo mais de política, mas de macroeconomia. Independentemente de quem vencer a eleição presidencial do ano que vem, este país tem um ponto fraco que ainda é insuficiente para provocar maiores problemas, mas que terá que ser tratado.

Como muitos sabem, ganho a vida com comércio exterior. Na verdade, trabalho bem mais com exportações, ainda que também dê alguma assessoria sobre importações, processo que acompanho até para me manter ciente dos movimentos dos mercados mundiais.

Apesar de o dólar estar caminhando para vir a deixar de ser a principal moeda do comércio exterior mundial, ninguém ainda pode se dar ao luxo de permitir uma valorização tão rápida e intensa dessa moeda quanto temos permitido.

Neste momento, temos uma montanha de reservas em dólares e a tendência dessas reservas é aumentar. A crise econômica ainda detém as importações, por mais que estejamos nos recuperando. Esse freio nas importações, contudo, decorre mais de incertezas do que de desinteresse dos importadores.

Mas de uma coisa podemos ter certeza: o Brasil, em questão de meses, deverá estar importando muito mais do que hoje.

O dólar, valorizando-se nesse ritmo, está encarecendo os produtos brasileiros no exterior, prejudicando violentamente nossas exportações. Cada vez mais o necessário saldo positivo em nossas contas externas começará de novo a ser debilitado pelo desequilíbrio cambial.

Só não estamos voltando a ter sérios problemas cambiais tão cedo por conta da incerteza residual dos importadores e do crescente consumo de nossas commodities (produtos primários) sobretudo pela China.

Antes que os críticos do governo se alegrem e atribuam a ele a culpa pelo que relatei, perguntemo-nos o que é que o governo pode fazer para impedir que o dólar continue despencando em um país para o qual o mundo está redirecionando seus investimentos na moeda americana.

Não tenho essa receita. O Banco Central compra dólares, mas não consegue impedir a queda da cotação da moeda. A taxa Selic (taxa básica de juros, baliza do custo do dinheiro no país) está no patamar mais baixo desde que foi criada. Nada tem funcionado.

Os críticos do governo dizem que os investimentos em dólar vêm para o país em busca dos juros altos que este país paga ao mercado, mas, ao menos agora, isso não é mais verdade. Recomeça a chover dólares no Brasil porque nossa economia é uma das raras hoje que estão bem, que estão seguras.

Finalmente, os incentivos do governo aos exportadores, que poderiam compensar o câmbio baixo, vêm se mostrando insuficientes para suprir a barreira cambial às nossas exportações, uma barreira que logo se converterá em via rápida para a entrada de importações.

O câmbio, pois, continua sendo o ponto fraco do Brasil. Era o nosso problema na década passada e continua sendo nesta.

O que me preocupa é que governo nenhum jamais irá mexer com o câmbio em anos eleitorais ou pré-eleitorais. Moeda valorizada gera sensação de bem estar na sociedade. Pavimenta o caminho dos negócios. Concede poder de compra à população.

Temos um colchão de condições macroeconômicas que nos permitirá agüentar bastante antes de termos um problema cambial como aqueles que tínhamos nas décadas passadas. Contudo, é bom que o governo, que ainda tem mais de um ano pela frente, comece a pensar não só no que fazer, mas se não é irresponsabilidade não fazer já.

Do Blog CIDADANIA.COM

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Uma bola de borracha escada abaixo

Boletim de análise de conjuntura do GEAB (Global Europe Anticipation Bulletin) sobre a crise econômica global, datado de 16 de setembro de 2009:


Antes deste verão [no hemisfério norte, de junho a agosto], nossa equipe anunciou que não haveria recuperação à vista em setembro de 2009 e não antes do verão de 2010. De fato, contrariando os círculos midiáticos, financeiros e políticos, confirmamos nossa previsão.

A redução do ritmo do colapso da economia global, na base da origem das "boas notícias", é resultado do enorme financiamento público mundial dos últimos doze meses. Mas o dinheiro dos contribuintes usando em todo o mundo deveria ter sido dedicado a redesenhar o sistema monetário internacional que está no coração da atual crise sistêmica. Ainda assim, para além de umas considerações cosméticas e dos grandes presentes dados a bancos dos Estados Unidos e europeus, nada de sério foi feito e, quando se trata do futuro, a regra do "cada um por si" prevaleceu.

Agora, que o verão de 2009 está terminando e as três ondas começam a impactar na economia global (desemprego, falências e choques monetários), a hora de consertar o sistema ou de preparar um pouso suave em direção a um novo sistema global, acabou. Os primeiros sinais de um grande descompasso estão começando a aparecer: o resto do mundo está rapidamente se movendo da zona do dólar. Como mostra o gráfico abaixo, há uma chance de 95% que um trilhão de novos dólares serão impressos num futuro próximo... não muito atraente para a zona do dólar.

grafico1.jpg

Linha contínua: produção; linha pontilhada, volume de comércio; linha serrilhada, preços ao consumidor

Estamos caminhando diretamente para uma fase de deslocamento geopolítico que se espera terá início no quarto trimestre de 2009. Nesse número do GEAB nossa equipe analisa as tendências em funcionamento (mercado imobiliário, questões estratégicas...) dentro do caos corrente que resultou da enchente de gastos públicos e de um sistema financeiro persistentemente descontrolado em um contexto de estatísticas crescentemente inconsistentes.

Paradoxalmente, o deslocamento se tornou, de acordo com nossos pesquisadores, a única forma de recuperação econômica (uma recuperação que vai acontecer em torno de uma arquitetura global e de interação entre esferas econômicas, sociais e financeiras profundamente diferentes de qualquer coisa que vimos nas últimas décadas). Nossa equipe acredita que os primeiros traços do "mundo pós-crise" deverão aparecer até o verão de 2010 e, nos próximos meses, vão se dedicar a identificá-los.

Enquanto isso, como antecipamos nas edições anteriores, ninguém pode construir um retrato da situação econômica global hoje diante de dados macroeconômicos contraditórios ou simplesmente absurdos. As informações e instrumentos para coletar informações foram de tal forma manipulados e limitados ao uso do dólar como referência que nenhum governo, organização internacional ou banco pode dizer em que direção o sistema global está caminhando. A mídia reflete esse caos e contribui para o espanto dos leitores, ouvintes e telespectadores: dependendo do dia, mesmo da hora, dão informações contraditórias sobre finanças, a economia e as moedas. Políticos, empresários, empregados... economistas ou analistas... estão reduzidos a uma aposta de Pascal para avaliar o que vai acontecer nos próximos meses.

1590534_2132864.jpg

Queda no preço de aluguel de contêineres

De acordo com o LEAP/E2020, o gráfico acima mostra fatos que não podem ser ignorados: os sistemas econômico, financeiro e monetário global estão sem rumo e suas fraquezas atingem baixas nunca vistas na história moderna e o menor choque (financeiro, geopolítico ou mesmo natural) pode quebrá-los. O espetacular mergulho dos Estados Unidos em dívida pública sem fundo (os governos sentem que, sem o apoio do dinheiro público, as economias do mundo voltariam ao colapso) está criando uma situação literalmente explosiva, trazendo aumentos maciços de impostos no Japão, na Europa, nos Estados Unidos...

Se houver qualquer recuperação à vista, é a dos impostos. De fato, confrontado com desemprego histórico e uma economia em mergulho, os eleitores japoneses decidiram demitir seus líderes de décadas: eles provavelmente inauguraram a grande reviravolta política da próxima fase da crise. Neste verão, o governo Obama foi pego de surpresa ao descobrir a importância do ódio público que se focalizou na reforma do sistema de saúde (embora ela seja necessária).

Aqui está uma analogia bem instrutiva sobre a crise de hoje que se impôs sobre nossos pesquisadores: uma bola de borracha em uma escada. Parece se recuperar a cada degrau (dando a impressão de que a queda acabou) mas ela cai mais no próximo degrau, retomando seu colapso.

Jogadores econômicos e autoridades "desorientadas"

Naturalmente, tudo isso não cria um clima favorável aos negócios. A capacidade de produção está sendo subutilizada em proporções históricas. As ações são renovadas a conta-gotas (eliminando qualquer esperança de uma recuperação baseada em sua substituição). Os consumidores se tornaram realistas economicamente: sem dinheiro, sem compras. Os salários deles caíram, quando não foram perdidos para o desemprego, os bancos não emprestam mais por saberem que estão insolventes (apesar do pó dourado que atiraram nos olhos da opinião pública nos últimos meses). O Estado em si, por si, não pode substituir o consumismo desenfreado do passado.

Nos Estados Unidos, um retorno ao estado prévio requereria 2,5 trilhões de dólares injetados por ano à economia. O pacote de estímulo de Barack Obama, menos de 400 bilhões de dólares por ano em dois anos, é muito menor do que seria necessário para substituir os domicílios e negócios que deixaram de gastar.

Mas os Estados Unidos não estão sós nisso. A Ásia e a Europa também enfrentam desemprego drástico e o aumento da manipulação estatística não conseguirá esconder: desempregados sem o salário-desemprego, jovens empregados como estagiários ou desempregados convocados para serviços públicos de curto prazo, demissões postergadas por medidas de redução da carga horária, empresas mantidas artificialmente funcionando graças a fundos públicos... de Pequim a Paris, em Washington, Berlim ou Tóquio, todos os truques foram usados para esconder essa situação tanto quanto possível... até a chegada da recuperação. Infelizmente, a recuperação não vai chegar a tempo. Em vez de uma recuperação em setembro, o mundo sofrerá o impacto dessas três ondas:

-- Desemprego em massa para pessoas que em breve perderão os direitos a benefícios e suas consequências desastrosas para a estabilidade política e social estão começando a aparecer;

-- O número de falências (companhias, cidades...) e os déficits de toda sorte estão explodindo;

-- E, naturalmente, o impacto disso no dólar americano e nos papéis do Tesouro (com o Reino Unido sofrendo os danos colaterais).

A primeira onda já atingiu a margem no fim do verão de 2009. A segunda está a caminho. A terceira começa a aparecer no horizonte.

De qualquer forma, se a Eurozona e a Ásia estão em melhor situação para enfrentar o impacto dessas ondas (como já analisamos no GEAB 28 de outubro passado), a situação delas não é tão boa que possam esperar uma recuperação. Será nos Estados Unidos, no dólar e nos papéis do Tesouro, de um lado, no Reino Unido e na libra, de outro, que as consequências dessas três ondas baterão mais fortes. Os sonhos de uma noite de verão podem acabar!

Mas para aqueles que ainda tem algum dinheiro para viajar, as férias podem ir em diante num momento em que hotéis, companhias aéreas e recantos de férias estão dando descontos nunca vistos. Outro sinal de que a recuperação chegou!

Original, em inglês, aqui

Do Blog viomundo

terça-feira, 6 de outubro de 2009

MST acusa Cutrale de grilagem de terras da União

Após imagens divulgadas pelos principais jornais televisivos do país mostrando um trator dirigido por integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) derrubando plantações de laranja da empresa Cutrale, a justiça concedeu liminar de reintegração de posse à empresa da fazenda Santo Henrique, na divisa dos municípios de Iaras e Lençóis Paulista, em São Paulo. O MST lançou nota dizendo que o terreno na verdade pertence à União.

Na nota, o MST alega que o terreno pertence à União. Acusam a Sucocítrico Cutrale de utilização irregular de terras públicas para a monocultura de laranja e tentativa de "legitimar a grilagem" com a plantação. Afirmam ainda que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já havia reconhecido a posse da União das terras em questão.

"Não há motivo para continuar essa invasão, pois se trata de propriedade privada, extremamente produtiva e que gera centenas de empregos para as pessoas da própria comunidade local", diz a curta nota da Cutrale enviada à imprensa.

Em contraponto, a nota do MST diz que a área da fazenda Capim faz parte do chamado Núcleo Monções, um complexo de 30 mil hectares divididos em várias fazendas e de posse legal da União. É nessa região que está localizada a fazenda da Cutrale, e onde estão localizadas cerca de 10 mil hectares de terras públicas reconhecidas oficialmente como devolutas, além de 15 mil hectares de terras improdutivas. Cerca de 250 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) permanecem acampadas desde a semana passada (28/09), na fazenda Capim.

"A derrubada dos pés de laranja pretende questionar a grilagem de terras públicas, uma prática comum feita por grandes empresas monocultoras em terras brasileiras como a Aracruz (ES), Stora Enzo (RS) entre outras", justifica a nota do movimento.

Carlos Otero, representante da empresa, disse à Folha Online estar otimista na liberação da área e no cumprimento da ordem judicial, mas o MST informou que a decisão de reintegração de posse é de um juiz local e que só deixa a fazenda após uma decisão da Justiça Federal, já que o caso foi transferido.

"Os invasores que ali se encontram de forma ilegal, estão destruindo construções, moradias de funcionários e pomares de laranja produtivos, além de provocarem outros estragos, 'atitudes essas incompatíveis com o verdadeiro homem do campo', desrespeitando até mesmo o trabalho que foi realizado pelos empregados da mesma comunidade assentada, que foram contratados pela empresa para gerar renda também em benefício de seus familiares", ataca Carlos Otero, representante da empresa.

Em resposta, o MST afirma que "o local já foi ocupado diversas vezes, no intuito de denunciar a ação ilegal de grilagem da Cutrale. Além da utilização indevida das terras, a empresa está sendo investigada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo pela formação de cartel no ramo da produção de sucos, prejudicando assim os pequenos produtores. A Cutrale também já foi autuada inúmeras vezes por causar impactos ao ecossistema, poluindo o meio ambiente ao despejar esgoto sem tratamento em diversos rios".

Enquanto a mídia televisiva expõe o MST sem entrar no debate sobre a polêmica acerca da propriedade das terras noticiadas, partidos de direita tentam emplacar nova CPI do MST após destruição de laranjal.

Leia a íntegra da nota do MST

De São Paulo, Luana Bonone, com Folha Online e MST

Do Portal do Vermelho.org

Polícia Federal encerra inquérito e indicia cinco por vazamento do Enem

Só faltou indiciar os agentes do PIG envolvidos na tramoia.

PF diz que ninguém ficará preso e que investigação aponta Felipe Pradella como mentor do esquema


Felipe Pradella, que tentou vender prova do Enem para repórteres por R$ 500 mil; ele e outras quatro pessoas foram indiciadas.

.A Polícia Federal informou nesta quarta-feira (6) que encerrou o inquérito que investiga o vazamento da prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e indiciou cinco pessoas: Felipe Pradella, o empresário e publicitário Luciano Rodrigues, o DJ Gregory Camillo de Oliveira Craid, Felipe Ribeiro e Marcelo Senna, os dois últimos dois funcionários da Cetro, uma das três empresas do consórcio que ia aplicar a prova. Pradella é o mentor do esquema, disse a PF.

Todos foram indiciados por violação de sigilo funcional, com pena de dois a cinco anos. Gregory também foi indiciado por extorsão [pena de 4 a dez anos] contra a jornalista do Estado de S. Paulo, exigindo R$ 10 mil dela depois que a reportagem sobre o vazamento foi publicada. Pradella e os outros dois funcionários foram indiciados ainda por peculato [pena de dois a 12 anos].

Nesta quarta-feira, o ministro da Educação, Fernando Haddad, confirmou que a nova prova será nos dias 5 e 6 de dezembro e informou que a Força Nacional de Segurança - grupo de elite formado por policiais e bombeiros de todo o país - e a Polícia Federal vão acompanhar a preparação e aplicação do Enem para evitar novas fraudes.

A aplicação do exame, inicialmente marcada para acontecer no último fim de semana (3 e 4 de outubro), foi cancelada na última quarta-feira (30) após denúncia do jornal O Estado de S.Paulo, que foi procurado por pessoas interessadas em vender a prova.

A Polícia Federal investiga o vazamento da prova e já indiciou cinco pessoas que estariam envolvidadas no furto da prova da gráfica responsável pela impressão dos cadernos. A principal suspeita dos policiais é que ela tenha sido furtada por funcionários de uma empresa contratada para trabalhar na gráfica. R7.

Do Blog Terror do Nordeste

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

As palavras exatas

Não existe hoje nos jornais coisa mais irritante do que ler que em Honduras existe um tal de "governo de fato" - ou "de facto", como, pomposamente, escreve o Estadão. Para que esse cuidado? Por que não informar logo ao leitor o que é o governo "de fato" (ou "de facto") dessa miserável nação centro-americana - um bando de golpistas que defenestrou um presidente que ousou "trair" a sua gente?Os irmãos Castro são "ditadores". Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa são "populistas". Os golpistas de Honduras são governantes "de fato" (ou "de facto"). O presidente Lula, que já afirmou ter azia quando lê os jornais brasileiros, percebeu a distinção com que os golpistas hondurenhos são tratados e passou um sabão na turma que foi entrevistá-lo em Nova York. Para que essa ginástica que vocês fazem, perguntou?A questão de Honduras parece ser a bola da vez dessa turma que não se cansa de tentar criar embaraços para o governo brasileiro. Ex-embaixadores notoriamente ligados aos tucanos viraram especialistas em legislação internacional e, com a maior cara de pau, dão pareceres sobre o "erro" que, para eles, foi o abrigo que a embaixada brasileira em Tegucigalpa deu ao presidente deposto. Na "análise" desses ressentidos, o Brasil deveria ter fechado as portas na cara do mandatário. Para eles, isso sim seria uma atitude que dignificaria a diplomacia do país. Nada a comentar.E, enquanto procura arranjar mais e mais opiniões para corroborar a tese de que o Brasil se meteu numa grande embrulhada - e há sempre gente disposta a trocar sua dignidade por umas linhas de jornal, uns segundos na televisão - a imprensa se esquece do fundamental: a atitude do governo americano em relação à crise de Honduras.Pois se quisesse, o tão incensado Barack Obama acabaria com a aventura dos golpistas em questão de horas. Honduras, um país com um PIB de US$ 15 bilhões, três vezes menos que a fortuna estimada de Bill Gates, dominado por meia dúzia de famílias e imerso num pântano de corrupção, depende quase exclusivamente dos americanos, que compram 80% do que ele produz. Obama precisaria apenas dar alguns telefonemas, algumas ordens ao seu pessoal de lá para fazer os golpistas correrem ao aeroporto.Em vez disso, prefere, com meia dúzia de frases feitas, posar como democrata e defensor da liberdade - deixando para o Brasil a tarefa de resolver o problema.Por essas e por outras é que a imagem de Lula está se consolidando, em todo o mundo, como a do mais popular líder político da atualidade.

Do Blog Crônicas do Motta

As Investigações sobre o caso ENEM

Vamos a algumas considerações sobre o caso do furto das provas do ENEM, a partir do que saiu hoje nos jornais.

Primeiro, as conclusões. Depois, o raciocínio por trás delas:

  • A probabilidade maior foi a de uma operação política. O pedido de dinheiro foi despiste.
  • Quem atuou foi uma quadrilha organizada, que procurou dois veículos não estigmatizados por dossiês – Estadão e Record – para passar o furo.
  • Dois trombadinhas-laranja foram escalados para oferecer o material para a Folha no mesmo momento. Mas foi uma óbvia manobra de despiste.
  • Os bandidos deixaram claro que o sigilo de fonte era a maior garantia de impunidade para essas jogadas, reafirmando aquilo que detalhei à exaustão em “O Caso de Veja”: todo esquema de quadrilha especializada em dossiês tem, na ponta, a contraparte jornalística.
  • Foi uma operação paulistana, não brasiliense, embora não se descarte a possibilidade dos bandidos terem vindo de Brasília.

Vamos ao detalhamento, a partir das matérias publicadas (clique aqui).

1. Há duas maneiras de se fazer dinheiro com o ENEM. O usual – conhecido por esquemas que fraudam provas de vestibulares – é vender para cursinhos ou pais de aluno. É mais rentável mas supõe um esquema prévio armado. O outro modo é explorar politicamente o episódio. E, aí, há duas hipóteses a serem investigadas. Ou o esquema pretendia dinheiro oferecendo o dossiê a jornais (com o intuito de criar escândalos políticos) ou atuava a serviço de alguma organização política.

2. Na explicação dos bandidos aos repórteres do Estadão, fica claro que a melhor maneira de gerar escândalos criminosos é em parceria com veículos propagadores de dossiês (não é o caso do Estadão). Eles dizem claramente que o sigilo de fonte garante a impunidade, razão para não terem procurado o PSDB. Pode ser uma tentativa algo canhestra de explicar porque procuraram o jornal; pode ser uma tentativa de despiste.

3. Três veículos foram procurados: Estadão, Record e, pelo que se sabe hoje pela leitura dos jornais, a própria Folha. Os que procuraram o Estado e a Record (não se sabe se são os mesmos) tinham claro conhecimento de fontes especializadas, sabiam das implicações políticas do caso e “adoçaram” a boca dos jornalistas acentuando que o caso poderia derrubar Ministros ou procurando legitimar o vazamento com toques moralistas. Os que procuraram a Folha precisaram se valer de um dono de pizzaria para conseguir o telefone do jornal.

4. O objetivo final era obviamente o Estadão ou a Record, mas por qual razão? Uma possibilidade seria o fato de ambos não terem se queimado com armações e dossiês falsos. Outra possibilidade é que as duas portas óbvias – Folha e Veja - estavam impedidas de serem acionadas. A Folha devido ao fato de controlar a Gráfica Plural (que recebeu a gigantesca encomenda do MEC de imprimir as provas); a Veja pelo fato da Abril ser grande fornecedora do Ministério da Educação.

5. Qual a intenção de colocar dois trombadinhas para procurar a Folha, então? Uma possibilidade (não a única) é de despiste, soltar penas ao vento para dificultar o trabalho da Polícia Federal, ou colocá-la no encalço de trombadinhas-laranja desviando o foco dos verdadeiros autores.

6. Foi uma manobra paulistana, não se tenha dúvida. No caso da Record e do Estadão, havia uma posição dos bandidos em, sempre, colocar Brasília como fonte do vazamento. Eram os filhos de deputados, ora o delegado da Polícia Federal, ora o funcionário do INEP. Ora, há todo um mercado de dossiês já estruturado em Brasília, em torno de sucursais ou dos próprios jornais locais. Uma possibilidade é que tenham atuado em São Paulo para fugir dos esquemas marcados em Brasília. Mas, sendo assim, a troco de quê a insistência em jogar os holofotes sobre supostas fontes brasilienses? Típica manobra de despiste: a operação foi paulistana, reforçada pelo fato de que o material que os repórteres do Estadão viram já eram provas impressas, e o INEP tinha apenas o print das questões em seus cofres. (Fonte: Luis Nassif)

Do Blog TERRA BRASILIS