sábado, 23 de janeiro de 2010

Morales toma posse destacando derrota da velha república colonial

Do Portal Vermelho.org

O líder indígena Evo Morales assumiu, nesta sexta-feira (22), seu segundo mandato presidencial consecutivo na Bolívia, proclamando o nascimento do novo Estado Plurinacional, em substituição à velha república colonial, e ratificando o resultado das lutas dos movimentos sociais e indígenas. Ele afirmou que governará os próximos cinco anos para promover o desenvolvimento, a unidade e a integração do país.
Morales prometeu igualdade, justiça e maciços investimentos públicos para colocar a Bolívia no caminho do desenvolvimento e de uma acelerada industrialização.

O mandatário, reeleito em dezembro, tomou posse na primeira sessão bicameral da Assembleia Plurinacional, órgão que substitui o antigo Congresso em aplicação à nova Constituição. Na solenidade, ele enumerou os avanços conquistados pela sua primeira adminsitração.

Alvo de inúmeras investidas da oposição durante os primeiros anos de mandato, Morales relembrou que não foi fácil governar a Bolívia, com adversários que usavam todos os instrumentos e etratégias para desestabilizar a democracia e um governo que decidiu pôr fim à sinecura de grupos de poder econômico que se fortaleceram durante as ditaduras militares e governos neoliberais.

“Eles pensaram que o túmulo do índo seria uma inflação semelhante à que se produziu no governo da Unidade Democrática e Popular (1982-1985), mas não foi assim. Rompemos todos os recordes de gestão econômica ao registrar percentagens inflacionárias mínimas e um aumento de captações por exportação”, disse.

O líder indígena agregou que a oposição tentou derrubar o governo com um referendo revogatório, em agosto de 2008, do qual saiu perdendo, porque o povo ratificou o apoio ao presidente com uma votação acima do esperado.

Ressaltou ainda que a oposição de direita e a serviço das oligarquias chegou a conspirar para desencadear um golpe cívico-prefeitural em algumas regiões, que deixou um rastro de violência e mais de uma dúzia de camponeses massacrados no estado de Pando, mas não conseguiu seu objetivo.

Morales ressaltou que “tudo só foi possível – as conquistas econômicas, políticas e sociais -, pela consciência social e o respaldo popular”. Ele disse ainda que houve progressos na luta contra a corrupção, mas reconheceu ainda há muito a fazer para que “estas práticas coloniais e neoliberais sejam superadas completamente”.

Estado Plurinacional

Ele e o também reempossado vice-presidente Alvaro García devolveram à Assembleia os antigos símbolos republicanos de mando e receberam em troca outros com a denominação de Estado Plurinacional da Bolívia, e a bandeira multicolor indígena "wiphala" ao lado da bandeira nacional.

O presidente boliviano disse que a entrada em vigência do novo Estado Plurinacional era essencialmente um acontecimento "popular", destacando o papel dos movimentos sociais na resistência à colonização e às ditaduras "para recuperar e refundar a pátria".

"Sinto que chegou a hora de buscar a igualdade, a dignidade, a unidade na base da solidariedade de todo o nosso povo", expressou, convocando a Assembleia Legislativa Plurinacional a trabalhar com celeridade para aprovar leis que permitam a aplicação pontual da nova Carta Magna.

Nesse sentido, ele deu como exemplo, a necessidade de que se promova uma revolução no Poder Judiciário, “para que a justiça deixe de estar submetida aos poderosos e a lei se aplique a todos os cidadãos”.

No discurso do presidente, também teve espaço para o reforço às críticas contra a postura imperialista dos Estados Unidos. Evo queixou-se da ingerência norte-americana na diplomacia boliviana, advertindo que os EUA não podem proibí-lo de se relacionar com países como Cuba, Irã ou Venezuela. "Que não venham os EUA nos dizer com que países devemos ter relações e com quem não devemos",colocou.

García Linera

Já o vice-presidente García Linera, que também renovou o cargo, em seu discurso, afirmou que o horizonte do país é o socialismo. "Nossa modernização estatal, que vamos construir e que já estamos construindo com a liderança popular, é muito diferente da modernidade capitalista. É preciso colocar nome: nosso horizonte estatal é um horizonte socialista", disse García Linera.

O vice - um ex-guerrilheiro que foi preso nos anos 90 e acompanha Morales desde o primeiro mandato - destacou a "via democrática ao socialismo" que o país tomou. "O socialismo é bem-estar, é dividir a riqueza. É o que faziam nossos antepassados, só que em uma escala maior com tecnologia e produtividade", disse.

Milhares de correligionários de Morales, muitos indígenas de diversas regiões do país, se concentraram na Praça Murillo para acompanhar a posse. Estiveram presentes os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez; do Equador, Rafael Correa; do Chile, Michelle Bachelet; e do Paraguai, Fernando Lugo. També particparam o herdeiro da Coroa espanhola, o príncipe Felipe de Borbón; o presidente da República Saaráui, Mohammed Abdelaziz; e altos representantes dos Governos de Cuba, Colômbia e Peru.

Com agências

Leia também: Após melhorias econômicas e sociais, Morales toma posse para 2º mandato

ZÉ ALAGÃO UMA TRAGÉDIA

A desumanização do Haiti

Quando os haitianos são saqueadores e quando apenas estão com fome?

por Natalie Hopkinson, no The Root

Em 17.01.2010

looters3.JPG

Uma chamativa foto de Damon Winter de uma criança haitiana está na capa do New York Times

A legenda parece fazer uma narração "objetiva" dos fatos. "Haitianos fogem de tiros que foram dados no centro de Porto Príncipe no sábado. Toneladas de ajuda chegaram para distribuição". Fica por conta do leitor conectar os pontos e conectá-los com outro artigo de primeira página abaixo da dobra: "Saques aparecem onde não existe ordem".
deste domingo. Um menino de cerca de 10 anos vestindo uma camisa polo maior que ele, vermelha, é flagrado em meio a um passo, correndo pelas ruas de Porto Príncipe, com os olhos mirando o horizonte, segurando um saco plástico branco.

A criança era saqueadora?

Cinco anos atrás, quando você podia comparar as legendas de fotos de sobreviventes brancos do furacão Katrina [em Nova Orleans] lado a lado com fotos de sobreviventes negros, o padrão duplo da cobertura da tragédia catastrófica ficou evidente. Famintos e desesperados sobreviventes brancos estavam "encontrando comida", negros desesperados estavam "saqueando" comida.

Desde que o terremoto atingiu o Haiti, não sei qual me preocupa mais: Se o fato de que muitos observadores, inclusive a estrategista política e nativa de Nova Orleans Donna Brazile, tem traçado paralelos fáceis entre as duas cidades. Ou se muitas dessas comparações acabam se revelando verdadeiras.

Comecemos com o negócio da "maldição do diabo" [ela se refere ao televangelista Pat Robertson, que disse que o terremoto foi punição por um suposto pacto com o diabo que os haitianos teriam feito para derrotar os franceses, na rebelião dos escravos que esteve na origem da independência do país].

Já discuti a verdade sobre como os haitianos conseguiram derrotar o exército francês sem qualquer ajuda satânica em outro artigo. E Kathleen Parker descobriu a fonte dessa lenda urbana (teria sido uma cerimônia de voodoo em 1791).

Mas o papo sobre o diabo também surgiu depois do Katrina. Outro assim chamado cristão, pastor John Hagee, um dos apoiadores do [senador] John McCain [depois candidato à Casa Branca pelo Partido Republicano], disse a Terry Gross da rádio NPR [a rádio pública dos Estados Unidos] que o furacão Katrina foi, na verdade, um julgamento de Deus contra a cidade de Nova Orleans. "Nova Orleans tinha um nível de pecado que era ofensivo a Deus", Hagee disse, porque "deveria ter havido um desfile homossexual lá na segunda-feira em que o Katrina veio".

Philip Kennicott do Washington Post acredita que o furacão Katrina abriu caminho para o abandono dos padrões de imagens chocantes que podem ser publicadas pela mídia. Ele diz que a natureza chocante das imagens que chegam de Porto Príncipe é desumanizante. "Corpos enfiados em poeira e concreto, rostos cobertos de sangue, os mortos empilhados nas ruas sem lençóis para cobrí-los -- estas são violações do código não escrito de como a morte pode ser vista, na etiqueta estabelecida pela mídia corporativa", ele escreveu em um texto recente.

"[O Haiti] era um país descartado, aparentemente consignado ao status de um morador de rua cujas necessidades são intratáveis... A câmera está gravando coisas que vão afetar tudo que tiver a ver com o futuro desse país atribulado. Está perguntando se essa gente é gente como nós. Está perguntando se nós acreditamos que eles são humanos".

Estou inclinada a achar que as imagens de Porto Príncipe até agora são mais iluminadoras que explosivas. Mas o argumento principal de Kennicott sobre o jeito que a câmera vê gente morena é totalmente válido. A cena de linchamento descrita no New York Times de domingo é revoltante. Uma coisa é "encontrar" pão, outra é invadir lojas e furtar pedaços de carpete e malas enquanto se intimida gente com facões e revólveres.

Testemunhas disseram aos jornalistas Simon Romero e Marc Lacey que a polícia prendeu um homem acusado de saquear um caminhão e assistiu enquanto ele era espancado até a morte e queimado por uma multidão furiosa. Já que não existe prova fotográfica e os repórteres narraram a cena de segunda mão, é difícil saber com certeza absoluta o que aconteceu.

Mas o fato 100% verdadeiro é que a cena terrível não tem nada a ver com a criança da camisa vermelha cuja foto foi feita quando suprimentos e comida estavam sendo distribuídos. A foto representa a imagem da anarquia negra, ou seja, O Horror [referência ao "The horror, the horror", frase que encerra o livro de Joseph Conrad, Heart of Darkness, ficção baseada na viagem do autor ao Congo; livro que inspirou o filme Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola, que retrata a barbárie 'branca' no Vietnã].

Talvez mais significativo quando se trata de paralelos entre o Katrina e o terremoto do Haiti é o debate sobre como chamar os desabrigados. Nos primeiros dias depois do Katrina, a mídia americana, pequena e grande, estava chamando os cidadãos americanos desabrigados pelo furacão de "refugiados".

Eu estava ensinando jornalismo em uma universidade na época e um de meus estudantes defendeu vigorosamente o uso da palavra "refugiados" naquele contexto. Quando o pressionei por uma definição de refugiado, que o [dicionário] Webster diz ser "uma pessoa que foge de um país ou poder estrangeiro para escapar de perigo ou perseguição", ele se manteve firme: "Eles são refugiados. Eu vejo na CNN; sei com que se parecem os refugiados".

É bom ter isso em mente nos próximos meses e anos, quando verdadeiros refugiados vierem para as fronteiras dos Estados Unidos. Eles serão morenos. Eles serão pobres. E desesperados.

O que quer que os chamemos, as imagens que a mídia faz deles contarão sua própria verdade.

Nota do Viomundo: Este site, leitor de boa parte do que já foi publicado sobre o imperialismo europeu e a ocupação da África, insiste que o padrão de racismo embutido na mídia de hoje reflete, ainda, as teorias da superioridade racial que justificaram a barbárie que acompanhou a ocupação do território africano; está tudo lá, nas teorias pseudocientíficas que mediam o cérebro dos africanos para provar que eram inferiores, nos hábitos "selvagens", na completa negação da cultura africana por parte dos exploradores e missionários europeus.

Do blog Vi o Mundo

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Médicos de Cuba en Haití: la solidaridad silenciada

cubainformacion.tv

Sérgio Guerra: babaca sim; privatista não, por favor! Direita mira no Chile, mas Lula não é Bachelet

http://www.viomundo.com.br/img/alckmin.jpg

Lula chamou presidente tucano de "babaca": algo a ver com essa foto de 2006?

por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador

Colunistas do partido da imprensa passaram uma semana a comemorar os resultados eleitorais no Chile. Lá, a presidenta Bachelet – com ampla aprovação popular - não conseguiu eleger o candidato da "Concertacion" (coligação de centro-esquerda), Eduardo Frei.

Seria um sinal de que o mesmo pode se passar no Brasil, onde Lula – mesmo com alta aprovação – poderia ver sua candidata derrotada. Essa é a torcida dos colunistas a serviço de Serra. Foi o que martelaram na imprensa nos últimos dias.

Acontece que Lula não é Bachelet. A presidenta chilena quase não participou da campanha de Frei. Só deu apoio ostensivo na última semana antes do segundo turno.

Lula está em campo desde agora, e seguirá em campo ao lado de Dilma.

Já escrevi aqui que a tática de Serra e dos tucanos é não polemizar com Lula. Por isso Serra quer fazer campanha só a partir de março. Assim, ele não vai brigar com Lula, mas com Dilma. É a única saída possivel para Serra e os tucanos. Mas falta combinar com os russos. Falta combinar com Lula.

O que quero dizer com isso?

Vejam o episodio do Sergio Guerra, glorioso presidente do PSDB. Deu uma entrevista desastrada na "Veja", dizendo que o PSDB, se vencer, vai acabar com o PAC. A Dilma criticou a fala do Guerra, aí os tucanos vieram com os dois pés no peito da Dilma: mentirosa, dissimulada etc.

A tática é essa: bater na candidata, esquecer Lula. Ok. Acontece que Lula não aceitou a brincadeira. Devolveu a pancada, chamou Sergio Guerra de "babaca".

Voces acham que o povo vai acreditar em quem? No Guerra (um sujeito que talvez nem consiga se reeleger pro Senado em Perrnambuco) ou no Lula (o presidente com 80% de aprovação)?

Cada vez que os tucanos baterem na Dilma, Lula vai responder, como a dizer: "atacar minha candidata é atacar a mim". Lula fará a polarização. Queiram ou não os tucanos. Será sinuca de bico.

Essa é só uma diferenca entre Brasil e Chile.

A outra é que no Chile o centro e a esquerda estiveram juntos por vinte anos. É como se aqui no Brasil, ao fim da ditadura, tucanos e petistas tivessem feito uma coligação para enfrentar a direita. No Chile, a Concertacion é isso.

Se no Brasil achamos o governo Lula moderado demais, no Chile o quadro é ainda mais amorfo. Os governos pós Pinochert mantiveram a política economica da ditadura, pouco avancaram em polílticas sociais. Tinham um compromisso claro com a democracia que marcava a diferença com a direita. Isso é fato. Mas faltou delimitar o campo com a direita nas outras áreas. Por isso, depois de 20 anos, o eleitorado olhou para os candidatos e decidiu: pra que votar na centro-esquerda, de novo, se o programa é praticamente o mesmo da direita?

No Brasil, tucanos tentam mostrar que não há diferença entre os governos de FHC e Lula. Mas aqui é mais dificil embaralhar o jogo.

Lula tem quatro marcas que ajudam a delimitar o campo com os tucanos:

- politica externa independente (com reflexos na economia, por isso não sofremos tanto na crise; o Brasil já não tira os sapatos nem depende tanto dos EUA);

- diiálogo com os movimentos sociais (ao contrário dos tucanos e seus alidos da imprensa, que detestam sindicatos e povo mobilizado, Lula dialoga e respeita centrais sindicais e todo o movimento organizado);

- fortalecimento do papel do Estado (com fim das privatizaçoes, aumentos salariais para o funcionalismo, fortalecimento dos bancos púplicos e estatais; tudo isso teve papel fundamental na hora de enfrentar a crise);

- políticas sociais massivas (Bolsa-Família, recuperação do salario-mínimo).

Essas diferenças são o calcanhar de aquiles da campanha tucana.

Por isso, Sérgio Guerra ficou nervoso quando Dilma tentou colar nele o rótulo anti-PAC. Anti-PAC= anti-Estado=liberal privatista. Os tucanos sabem que esses rótulos pegam.

Acho que o Sérgio Guerra prefere ser chamado de babaca do que de privatista anti-PAC.

Temo que o Serra tenha que usar um boné do Banco do Brasil, feito o Alckmin em 2006 (lembram da foto ridícula?), para provar que não retomará o programa privatista de FHC – marca tucana no imaginário popular.

Se o Serra não usar o boné, talvez o Sérgio Guerra use. Aí, definitivamente merecerá o apelido que ganhou de Lula.

Babaca, sim! Privatista, não! Por favor…

José Dirceu: o preconceito do Estadão e o esforço inútil da Globo

Estadão tenta explicar porque a Japan Air Lines (JAL) quebrou, apesar de socorrida pela quinta vez pelo governo japonês. A despeito do título dado ao texto — “O que a JAL nos ensina” —, parece que o jornal não aprendeu sua própria lição ao pretender nos convencer de que não foi a privatização a responsável pela falência endêmica da empresa, mas sim a má gestão e interferência política dos governos.

Por José Dirceu, em seu blog

Estado de S. Paulo aproveita para criticar o governo Lula pela interferência política na Petrobras e na Vale. Mas os fatos — para o jornal, “ora os fatos”! — o desmentem. Todas as empresas de aviação do mundo, exceção das chinesas, vivem situação similar a da JAL. O setor é altamente subsidiado em todos os países a começar pelos Estados Unidos.

A maioria das empresas já foi estatal e suas privatizações não resolveram nada. Basta ver os casos da Ibéria (Espanha), Alitalia, Air France, British Airwais (Reino Unido), Swissair, TAP (Transportes Aéreos Portugueses). Na prática, elas constituem até hoje um monopólio.

Assim, por causa de preconceito do jornalão paulista contra a presença do Estado na economia, apesar das boas intenções, o editorial não consegue explicar a realidade. Estatais podem e devem existir em muitos setores e em muitos momentos da vida das nações, sem preconceitos e sem esse dogma de que tudo deve ser privado.

Já que falei sobre um editorial de O Estado de S. Paulo, aproveito para destacar outro, publicado há dois dias (4ª feira, 20/01). Este também um primor de defesa das posições conservadoras do jornalão paulista que enaltece de forma ampla, geral e irrestrita, sem quaisquer reparos ou ponderações, a eleição do homem mais rico do Chile, Sebastián Piñera, para a presidência do país.

“O Chile hoje se equipara ao que o mundo tem de melhor em matéria de civilidade política”, disse o Estadão naquela 4ª feira, três dias após o pleito chileno. É bom o Estadão assumir abertamente que é de direita — e das bravas! — e que defendeu e apoia um magnata na sucessão presidencial no Chile. É raro acontecer isso e é melhor do que escamotear suas posições em editoriais ou editorializando as notícias.

Esforço inútil da Globo

Bem que a Rede Globo tenta, mas não consegue esconder a revolta e a sensibilidade popular na cidade mais rica do país e no estado mais desenvolvido, há 16 anos governado pelos demo-tucanos. O povo não é bobo. Sabe que é a grande vítima das enchentes. No final são só vaias, como aconteceu ontem ao prefeito Gilberto Kassab (DEM-PSDB) no bairro do Grajaú.

Os governos tucanos não investiram na infra-estrutura da cidade e não conseguem resolver um problema simples e corriqueiro como o trazido pelos alagamentos. Kassab aplicou no ano passado menos de 10% das verbas programadas para obras contra enchentes e menos de 8% das previstas para piscinões.

Resultado: não fazem canalização e limpeza de córregos nem piscinões — esses, aliás, foram abandonados por Serra quando prefeito e por Kassab que diante das novas cheias desse ano, anunciou a retomada da construção de cinco sem dizer quando inicia e conlui essas obras. Também não investiram nas áreas de risco e nem combateram os loteamentos clandestinos, a especulação imobiliária e a ocupação desordenada da cidade.

Isso sem falar nos bilhões gastos no rebaixamento da calha do rio Tietê na capital para nada! Faltam governo, eficiência, compromisso com o povo, sensibilidade social e sobram tecnocracia, elitismo e soberba. O resultado só podia ser mesmo o que estamos vendo.

Falta ao governo Serra-Kassab humildade para pedir desculpas ao povo e reconhecer os erros que cometeu. Essa atitude é até mais grave do que a incompetência já comprovada com os fatos. Mas é isso que o país terá se cometer o erro de eleger Serra presidente da República em outubro. Diante de crises, mais cortes de gastos e mais juros. Como sempre...

E na imprensa nacional, nada...

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC) pediu autorização à Assembleia Legislativa para prosseguir com o inquérito em que o vice-governador tucano Leonel Pavan é acusado, dentre outros delitos, de corrupção passiva. Pavan ia assumir o governo do Estado dia 5 e não pode. Além disso, viu o PSDB rifar, também, sua candidatura a governador esse ano.

Agora, caberá à Assembleia autorizar ou não a abertura do processo contra Pavan. A decisão sobre enviar o pedido à Casa foi unânime: os 27 desembargadores do estado votaram a favor e eles só discordaram quanto ao envio imediato, ou se o protelariam — mas 19 votaram pela solicitação já.

Pavan foi denunciado pelo Ministério Público também por advocacia administrativa e violação do sigilo funcional. Está envolvido, ainda, em denúncias de lavagem de dinheiro do narcotráfico e fraudes em licitações milionárias. Ele nega as acusações.

O inquérito a que responde foi instaurado mediante investigação da Polícia Federal. Esta o acusa de ter recebido R$ 100 mil de propina para ajudar empresários de uma distribuidora de combustíveis a recuperar a inscrição estadual cancelada por sonegação fiscal.

Do Portal Vermelho.org

Urariano: Nabuco do futuro

Urariano Mota, no Direto da Redação

O centenário da morte de Joaquim Nabuco tem originado muitos artigos e reportagens em nossa imprensa. Em quase todas as matérias, o destaque se faz ao papel de homem liberal, personagem olímpico, ilustrado, de Quincas, o belo. Nas breves menções às idéias mais radicais de Nabuco, tem-se pulado rápido para o conceito de “homem complexo”, que pode ser manipulado à direita, à esquerda ou não, como um texto bíblico.

Entre os textos comemorativos, a revista Veja, num esforço máximo de não difamar uma vez mais a história, publicou na edição número 2147 um perfil do abolicionista. Mas à sua maneira, de revista de sala de espera de consultório médico oncologista:

“As mulheres não resistiam a Nabuco. Aliás, os homens também não...(já o abolicionismo) foi uma história de homens tomados de paixão por uma causa justa e, entre eles, nenhum mais apaixonado do que o jovem pernambucano de família ilustre, pai, avô e bisavô senadores do Império, com muito berço e quase nenhum dinheiro, que se tornou o que de mais parecido poderia existir no século XIX com uma celebridade ao estilo contemporâneo, aclamado, paparicado e adorado... (Nabuco) era assumidamente metrossexual, ou, como se dizia no século XIX, um dândi, o tipo masculino preocupado com a aparência e sensível a modismos.”

Notem que as coisas mais graves se dizem assim, entre amenidades e atualizações que vulgarizam ou difamam. A paixão de Nabuco pela causa abolicionista, como uma extensão de galã de filme capa-e-espada (Stewart Granger em Scaramouche?), não se devia fazer, não é justo que se faça pelo obscurecimento de homens tão fundamentais quanto Luiz Gama, André Rebouças, José do Patrocínio, José Mariano. Homens, enfim, talvez menos belos e apurados no vestir, mas cheios de amor e entrega absoluta à igualdade das gentes. Mais, pior: dar a entender que a abolição formal da escravatura se realizou pelas mãos delicadas e puras do homem que despertava o furor feminino. Menos telenovela à Janete Clair, por fav or.

E no entanto, notem, o perfil panegírico, ou, mais sério, uma atualização da grandeza de Nabuco não exigiria tais anestesias desviantes. Ele, as suas idéias, o seu pensamento radical, a sua visão de futuro, a percepção aguda do Brasil até hoje não superada, está no que escreveu, na belíssima e permanente escrita que nos legou. Sem esforço, anotamos:

“A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”. Quem anda pelo interior do Brasil, aquele que a Folha chama de Brasil profundo, quem vê as pacientíssimas filas de doentes sob a chuva nas cidades, sabe o quanto Nabuco acertou.

Ou então:

"Acabar com a escravidão não nos basta; é preciso destruir a obra da escravidão" Quem vê a quantidade de negros, menos negros e mestiços nos presídios, sabe, a obra da escravaria não acabou.

Ou mesmo:

“A emancipação não significa tão-somente
o termo da injustiça de que o escravo é mártir,
mas também a eliminação de dois tipos contrários,
e no fundo os mesmos: o escravo e o senhor”.

Que definição bela e definitiva da dialética entre escravos e senhores! Quanta precisão do que diminui, do que avilta a pessoa no jogo e conflito entre o machucado e o machucador.

Em Joaquim Nabuco se integram em um só corpo a ética e a estética. Mas isso não está bem no perfil físico do Belo Quincas de um metro e oitenta e seis. Está em linhas lapidares em que o pensamento dá um salto, ilumina como um raio uma situação que todos julgavam conhecida, mas que se vê concreta pela primeira vez quando escrita. Isso porque Nabuco foi um homem culto e de gênio, que escrevia no papel as linhas da vida do Brasil. A divisão estúpida e burra que dá aos ficcionistas o grau único de escritores, aqui, em Nabuco, comete o seu maior crime. Pois ele é aquele que gravou esta profecia, que todo homem é obrigado a carregar:

“O traço todo da vida é para muitos um desenho da criança esquecido pelo homem, mas ao qual ele terá sempre que se cingir sem o saber”.

Desse desertor de sua casta, de sua classe, de sua raça, como o percebia Gilberto Freyre, sabemos hoje que fez o diagnóstico de Brasil que continua urgente, cem anos depois. Pois continuamos sem reforma agrária e sem o fim da escravaria, nos campos, nas cidades. Para esse verdadeiro Quincas, nada mais próprio que o seu pedido ao médico, no último leito:

"Doutor, pareço estar perdendo a consciência... Tudo, menos isso!"

Sorte nossa que ele não a perdeu. A sua consciência ficou nas linhas, no traço da criança de 8 anos que nunca esqueceu um escravo fugido no engenho Massangana. Mais que belo, Quincas ficou eterno.

Do blog Vi o Mundo

Evo Morales: A Bolívia reelegeu um projeto anticapitalista

O presidente da Bolívia, Evo Morales, toma posse para um novo mandato nesta sexta-feira (22). Nesta entrevista exclusiva ao Granma, ele fala sobre sua ampla vitória nas urnas, apesar da dificuldade inicial que enfrentou para socializar suas ideias por falta de acesso aos meios de comunicação. Morales fala ainda sobre a transparência de sua plataforma e pontua: "o voto de mais de 64% foi por um projeto anticapitalista".

O homem que está diante de mim nesta manhã de janeiro conta que, em 1971, quando tinha 14 anos, no ‘ayllu’ (área demarcada camponesa indígena), onde cresceu, houve uma seca persistente.

"Minha família tinha somente um saco de milho. Não nos faltava a carne de llama e de ovelha, mas era o único que tínhamos. Meu pai decidiu tirar-me da escola e fui com ele e mais umas cinquenta llamas buscar mais milho no outro extremo do país. Viajamos sempre a pé durante uma semana desde nossa terra, Orinoca, até Oruro e, de lá, caminhamos uma semana mais até a região do vale. Um dia, chegamos à estrada que liga Oruro a Cochabamba e quando atravessávamos passou um ônibus; os passageiros jogavam cascas de laranja pelas janelas. Nós as recolhemos e as comemos. Em nossa região chegava uma laranja por ano e os três irmãos disputávamos cada pedacinho. Desde então, meu grande desejo foi poder um dia viajar naqueles ônibus, jogando cascas de laranja pela janela".

O testemunho revela tanto a origem como a sensibilidade de quem, de maneira oficial, neste dia 22 de janeiro tomará de novo posse como primeiro mandatário de seu país: a Bolívia.

Em 2005, ganhou com 53,7% as eleições gerais e converteu-se no primeiro indígena a encabeçar um governo nessa nação sulamericana. Quatro anos depois - após ter lutado duras batalhas pela dignificação dos seus e de vencer ataques ingerencistas, divisionistas, desestabilizadores e até um plano terrorista urdido pela oligarquia e pelo imperialismo estadunidense -, obteve nas urnas no passado 6 de dezembro o respaldo de 64,22% dos eleitores que o validam para o mandato presidencial de 2010 a 2015.

Evo nos recebe no Palácio Quemado, sede do Executivo, no centro de La Paz, em frente à Praça Murillo. Como é habitual, veste uma ‘chompa’ e irradia simplicidade no tratamento. Tem diante de si uma agenda carregada de compromissos e deve despachar assuntos urgentes; porém, sempre organiza tudo de maneira a satisfazer as exigências de um breve questionário.

Granma: Como o senhor interpreta a amplíssima votação recebida por vocês e pelos candidatos do Movimento ao Socialismo (MAS), Instrumento Político pela Soberania dos Povos, nas eleições do 6 de dezembro?

Evo Morales: Ganhamos com 64,22% dos votos; porém, se fosse permitido que as crianças votassem, estou certo de que uns 75 ou 80% da população teria nos respaldado. Somente estavam contra pequenos grupos de oligarcas; de latifundiários, que ainda existem; de caciques, que não querem ao povo e nem à sua pátria. E somente querem a pátria por interesse próprio. Aproximam-se do povo somente para explorá-lo.

Esse processo aconteceu com muita força, apesar das dificuldades que tivemos para socializar as ideias por falta de acesso aos meios de comunicação. Porém, mais cedo do que tarde, o povo boliviano aprendeu a expressar-se e a manifestar sua verdade democraticamente de maneira legítima e com muito sentimento humano, com muita consciência social. A isso deve-se o triunfo.

Desde 2005 até essas eleições, essa demonstração da vontade popular tem crescido. É como uma locomotiva. E essa é a qualidade dos princípios desse movimento político de libertação, de reivindicação; porém, também, de questionamento a um modelo que tanto prejudica a humanidade. Nossa orientação ideológica defende a vida; defende a Mãe Terra. Portanto, é um movimento político do povo pensado, primeiramente, para resistir; depois, para derrotar o capitalismo.



Isso foi dito claramente na campanha. Somos sinceros. Não vamos fazer concessões de princípios somente para captar votos. Não temos que comprar votos, como fazem outros partidos. Essa mensagem contra o capitalismo a proclamamos e o voto de mais de 64% foi por um projeto anticapitalista.

Grama: O respaldo é somente quantitativo ou tem um componente qualitativo?

Evo: Os que votaram a nosso favor o fizeram com a consciência de que promovemos dignidade, uma ética no governo, um compromisso de luta contra a pobreza e a exclusão. Votaram sabendo que nos pronunciamos contra a ingerência do imperialismo. E, claro que votaram pela unidade da Bolívia; esse país que certos elementos separatistas tentaram prejudicar, ao ponto de urdir um plano terrorista para atentar contra a vida. Os que votaram a nosso favor o fizeram também pela honestidade e pela transparência.

Granma: O que o senhor sente quando submete suas ideias e projetos ao voto popular?

Evo: Creio na democracia participativa. Os que cremos nesse conceito de democracia, que nada tem a ver com as práticas dos neoliberais e nem com a demagogia, não temos medo de expor nossas ideias. Mas existem outros que, sim, têm medo das mudanças que estamos gerando a partir do governo, mudanças respaldadas pela maioria dos bolivianos/as.

Granma: Durante a campanha, pulsaram novos sentimentos entre as pessoas?

Evo: Percorri todo o país várias vezes durante o primeiro mandato. Portanto, não foi algo novo fazê-lo durante a última campanha. Foi muito estimulante para mim verificar como nossa mensagem se estendeu até lugares tradicionalmente manipulados pela oligarquia; como os jovens, as mulheres, os profissionais de classe média nos aceitaram como a única alternativa válida para desenvolver o país e construir uma sociedade inclusiva, com verdadeiras oportunidades para todos. Porque em nosso programa foram levadas em consideração todas as propostas possíveis.

Granma: Em que medida a nova etapa de governo aprofundará a transformação do país?

Evo: Primeiro, quero recordar o que me aconteceu há alguns anos. Em uma oportunidade, apesar de que estava de passagem, não me deixaram entrar em um hotel em Sapahaqui, a 57 km de La Paz. Quando me explicaram as razões, soube que naquele momento ali estava acontecendo uma reunião na qual o então candidato presidencial Gonzalo Sánchez de Lozada escutava a um grupo de assessores estadunidenses para elaborar seu programa de governo.

Como vês, antes, os governos neoliberais escutavam recomendações de assessores estrangeiros para elaborar seus programas; enquanto que hoje recolhemos as reivindicações e sugestões do povo em todas as regiões para construir uma proposta que fortaleça um processo de mudança que beneficie a todos os bolivianos e não a setores privilegiados.

Contamos com uma nova Constituição Política, aprovada por referendo popular, em janeiro de 2009. A Assembleia Legislativa Plurinacional tem diante de si, como tarefas intransferíveis, a aprovação de leis que, inspiradas nessa Carta Magna, aplainem o caminho de nosso processo.

Granma: O senhor acredita totalmente na fortaleza do Instrumento Político?

Evo: Em sua origem, o MAS partiu de um dos setores mais abandonados, mais desprezados, mais vilipendiados: o setor camponês indígena. Na realidade, o que fundamos em 1995 foi o Instrumento Político pela Soberania dos Povos. Porém, como o movimento tinha que ser legalizado, usamos as siglas de um partido pequeno que já estava formalizado no registro eleitoral. Esse novo movimento propõe um novo país, com novos procedimentos políticos e ideológicos; um novo programa de governo e também com novos atores: os movimentos sociais.



Buscamos um novo modelo de país, com dignidade, com igualdade, com humanismo, com unidade, com solidariedade, com reciprocidade e, sobretudo, com complementaridade. E isso tem sido compreendido e apoiado cada vez mais pela sociedade boliviana.

Granma: O senhor foi surpreendido pelo domínio dos dois terços dos lugares na nova Assembleia Legislativa Plurinacional?

Evo: Eu sabia que conquistaríamos os dois terços da Assembleia. Se essa mesa onde estamos agora tivesse boca falaria dos cálculos que fizemos aqui mesmo. Com os deputados, não teríamos problemas para garantir a ampla maioria. Porém, ao dar seguimento à possibilidade de ter esses dois terços no Senado, percebemos semanas antes que poderíamos obter entre 24 (no pior dos casos) e 28 lugares (no melhor dos casos). O que aconteceu, por fim, foi a média dessas estimativas: conquistamos 26.

Granma: Como o senhor vislumbra a Bolívia da próxima década?

Evo: A Bolívia não seria vista no futuro como o último ou penúltimo país da América do Sul. Uma Bolívia onde os direitos humanos sejam respeitados pelo Estado Plurinacional. Que garanta ao cidadão habitação, educação, saúde, água, energia, direitos humanos. E algo tão sagrado como a alimentação. Lutamos pela soberania alimentar.

Uma Bolívia em combate permanente contra o capitalismo. Será uma luta longa a médio ou largo prazo. Porém, sinto que estamos muito bem posicionados junto a outros países onde se gestam processos de emancipação. O resultado das eleições nos obriga a redobrar responsabilidades, para atender demandas. Porém, também para corresponder a esse sentimento libertador de nosso povo.

Fonte: Granma

Leia também: Evo Morales toma posse para 2º mandato na Bolívia

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Vanguarda do atraso


Cynara Menezes

"O moderno aqui ficou só nos edifícios", constata tristemente o geógrafo gaúcho Aldo Paviani, pousando o olhar sobre Brasília, aonde chegou em 1969. Prestes a completar 50 anos, a capital criada por Juscelino Kubitschek, Lucio Costa e Oscar Niemeyer transformou-se numa melancólica contradição de si própria. O arrojo de sua arquitetura contrasta com uma prática política digna dos grotões mais atrasados do País: roubalheira, enriquecimento ilícito, domínio da mídia e do Legislativo, violência policial subjugando a população, voto de cabresto.

Como é que a moderna Brasília, nascida para tirar o Brasil do arcaísmo, projetada para incluir o País no Primeiro Mundo, se tornou terra de coronéis? No discurso de inauguração da capital, em abril de 1960, JK vislumbrava um destino civilizador para a recém-nascida “capital da esperança”, como a definiu o escritor francês André Malraux. Brasília, disse Juscelino, seria um “índice do alto grau de nossa civilização”. Nem podia imaginar que, cinquentona, sua criação seria, ao contrário, lançada à barbárie e às bestas-feras da política mais rastaquera.

As imagens de vídeo em que o governador José Roberto Arruda e auxiliares diretos recebem dinheiro e os acontecimentos subsequentes evidenciam que ingredientes típicos do velho coronelismo são utilizados pelos detentores do poder na capital. Na semana que passou, requintes de desfaçatez. Arruda conseguiu colocar aliados no domínio das comissões que vão investigá-lo. Como se não bastasse, o deputado distrital que apareceu para todo o Brasil colocando notas de dinheiro na meia, Leonardo Prudente, voltou a presidir a Câmara Legislativa para ajudar a salvar a pele do chefe.

No fim de 2009, policiais a cavalo apareceram nas telas de tevê pisoteando -manifestantes. “É a polícia mais bem paga do Brasil e uma verdadeira guarda pretoriana do governador”, diz o cientista político Paulo Kramer, da Universidade de Brasília (UnB). Nos últimos dias, os soldados voltaram a reprimir as manifestações contra o governador, agarrando estudantes pelo pescoço em cenas dignas do auge do domínio de Antonio Carlos Magalhães sobre a Bahia. Não à toa, o finado coronel ACM e Arruda foram comparsas no episódio da violação do painel eletrônico do Senado, em 2001, que motivaria a renúncia e as lágrimas de crocodilo do atual governador do Distrito Federal.

Diante das denúncias reveladas pela imprensa nacional, causaram espécie as manchetes anódinas do Correio Braziliense, principal jornal da capital, que evitou até o último momento citar o nome do governador na primeira página. Na terça-feira 12, após a dominação por Arruda das comissões de investigação, o Correio titulava simplesmente: “Distritais instalam CPI”. A ligação umbilical do diário com o governador foi explicitada por CartaCapital em julho, na reportagem que revelou o contrato no valor de 2,9 milhões de reais entre o GDF e o Correio para a distribuição de exemplares do jornal nas escolas públicas.

“O que se pratica hoje em Brasília é um coronelismo de asfalto”, define Paulo Kramer, para quem a razão do atraso político da capital está em seu próprio status de cidade-Estado. “Como ela vive basicamente da administração pública, reproduz uma estrutura onde o Estado é forte e a sociedade é fraca”, argumenta. “É de certa forma similar ao que aconteceu nos países do Leste Europeu na época da União Soviética.”

Arruda é aprendiz de coronel, mas o grande mandachuva do Cerrado é outro. Deve-se a seu antecessor no cargo, Joaquim Roriz, a instalação e proliferação em Brasília da forma retrógrada de fazer política que tomou conta do DF. Eleito em 2006 com a promessa de fazer o oposto de Roriz, Arruda não só recaiu nas mesmas práticas como as aprimorou. “Pelo que se viu nas investigações, ele aperfeiçoou o modus operandi de Roriz”, afirma o cientista político David Fleischer, também da UnB.

Segundo Fleischer, a deterioração da política do DF pode ser explicada principalmente pelo baixo nível do eleitorado, com dois terços oriundos de outros Estados, baixa renda e baixa escolaridade. Presenteados com lotes por Roriz em quatro mandatos como governador, tornaram-se presa fácil de suas promessas, numa espécie de voto de cabresto onde a terra pública é o objeto de barganha. “No Nordeste, dão chinelos, dentaduras. Aqui deram terras”, compara o geógrafo Aldo Paviani.

De fato, desde que se tornou governador biônico, em 1988, e eleito outras três vezes, em 1990, 1998 e 2002, o goiano Joa-quim Roriz pautou suas administrações pela farta distribuição de lotes. Ele mesmo se orgulha de ser o responsável pela “construção” de sete novas cidades-satélites – na realidade, não houve planejamento urbano algum, apenas ocupação do espaço.

O mineiro José Aparecido, que o antecedeu como governador nomeado, havia feito o oposto, ao realizar a desastrada campanha Retorno com Dignidade, em 1987, que consistia basicamente em dar um banho no migrante ainda na rodoviária, cortar os cabelos e embarcá-lo de volta ao estado de origem. Roriz não só deu terra pública como atraiu mais migração ao defender uma política de “cada cidadão, um lote”, causando o inchaço da capital, atualmente com cerca de 2 milhões de habitantes.

No plano original de Lucio Costa, Brasília teria 600 mil habitantes no ano 2000, quando então começariam a surgir as cidades-satélites. Fora do papel, a primeira delas, Taguatinga, teve de ser criada para abrigar operários em 1958, antes mesmo de a capital ser inaugurada. Hoje, são 16 cidades ao redor do plano piloto, a maioria não planejada e por isso mesmo cheia de problemas. A ponto de Oscar Niemeyer dizer em entrevista recente que, ao se chegar às satélites saindo da cidade cheia de jardins que criou, “é uma merda”.

A estratégia de dominação de Roriz deu resultados. O número de eleitores na capital simplesmente dobrou nos últimos 20 anos. Eram cerca de 900 mil em 1990, quando ele se elegeu governador pela primeira vez. Em 2009, havia 1,7 milhão de eleitores. Índice bem superior à média nacional, em que o eleitorado aumentou 55,6% em idêntico período. Um exemplo do inchaço é a cidade-satélite de Samambaia, criada em 1989 e que possui agora mais de 200 mil habitantes e índices de violência igualmente crescentes.

“Brasília foi construída literalmente sobre o nada, sobre o vazio demográfico e social”, analisa o historiador José Murilo de Carvalho, da UFRJ. “É uma cidade ainda sem povo político ou com povo político reduzido. É formada, no andar de cima, por funcionários públicos, dependentes dos governos federal e distrital, e, no andar de baixo, pelos herdeiros dos candangos que a construíram. Residentes em cidades-satélites, em precárias condições de emprego, são alvo fácil de políticas populistas.”
Roriz que o diga. Envolvido em denúncias de corrupção em 2007, renunciou ao mandato de senador para evitar o processo de cassação, mas, ante as acusações contra Arruda, já aparece como franco favorito à sucessão. Na última pesquisa do Datafolha, divulgada em dezembro, tinha entre 44% e 48% dos votos, com possibilidade de eleição no primeiro turno. Único governador a não ter sido envolvido na bandalheira reinante, o atual senador Cristovam Buarque, não acredita, porém, que o baixo nível dos políticos na capital se deva apenas aos beneficiados por lotes.

“Não são só pobres querendo lotes que elegem essa gente. São ricos querendo viadutos, também”, diz Buarque. Derrotado por Roriz em sua campanha à reeleição, em 1998, Cristovam chegou à conclusão de que água e esgoto não dão votos. Ele lembra que, com sua gestão voltada ao saneamento, à educação e à saúde, foi muitas vezes cobrado: “Cadê suas obras?”

O senador, que diz não pretender se candidatar a governador novamente, conta a história ouvida de uma amiga ao perguntar a um rapaz que fazia campanha a favor de Roriz por que iria votar nele. “Porque Cristovam fez muito por onde moro, mas a mim mesmo não deu nada.” No DF, afirma o ex-governador, “infelizmente não há cidadania coletiva, é cada um querendo o benefício próprio. A população do plano piloto quer obras, as empresas de construção querem obras. E, como se vê, estão dispostas a pagar por fora se for preciso”.

“Em Brasília existe uma relação muito íntima, viciada, entre o poder público e a iniciativa privada”, confirma o cientista político David Fleischer. Para ter um exemplo, foi divulgado agora que a mesma Via Engenharia responsável pela obra – superfaturada, diga-se – da nova sede da Câmara Legislativa do DF, teria doado 300 mil para a campanha de Arruda a governador. A sede, orçada em 23,6 milhões de reais, será inaugurada em fevereiro a um custo final de 100 milhões.

A Câmara Distrital é um caso à parte na Sucupira que se tornou a Brasília de Juscelino. Trata-se do Legislativo mais caro do País. Os deputados distritais recebem uma verba de gabinete maior do que a dos deputados federais, para fazer não se sabe bem o quê. “Não há político de Brasília que tenha contribuído com uma ideia, nada. É a política mais chã, mais primária, a que se pratica aqui”, opina o professor aposentado de Ciência Política da UnB Octaciano Nogueira.

Alguém pode argumentar que tampouco as demais câmaras e assembleias legislativas País afora funcionam a contento, e que são todas dominadas pelo Executivo, mas a de Brasília consegue se superar. Pelo menos nove dos 24 distritais tiveram os nomes e imagens envolvidos nas denúncias do mensalão do DEM. Dois deles, Benício Tavares e Júnior Brunelli, por incrível que pareça, já carregavam nas costas acusações de pedofilia e de ter ameaçado um colega de morte, respectivamente.

Até 1990, não havia eleição para governador e deputados distritais em Brasília, somente, a partir de 1986, para senadores e deputados federais. O administrador de Brasília era indicado pelo presidente da República, e as questões da cidade, decididas por uma comissão do Senado. Foi durante a Constituinte de 1988 que os brasilienses conseguiram a autonomia política para a capital.

O relator do projeto, o ex-deputado Sigmaringa Seixas, recorda que foi preciso vencer a enorme resistência dos parlamentares de outros estados, que comparavam a criação de uma Câmara Distrital com a histórica Gaiola de Ouro, como foi apelidada a Câmara de Vereadores do Rio quando era Distrito Federal.

“Lembro que, nas reuniões finais, alguém virou-se para mim e disse: ‘Vamos aprovar este texto, mas um dia você terá um profundo arrependimento disso’”, conta Sigmaringa, garantindo não ter se arrependido. “Não tem sentido um governante sem ser eleito e é razoável a necessidade de uma Câmara Legislativa. O que ninguém imaginava é que houvesse tantos problemas.” Após as denúncias contra Arruda, não foram poucos os que levantaram a voz para defender que era melhor antes de haver eleições.

Todos os intelectuais ouvidos para esta reportagem disseram ter dúvidas sobre a eficiência do modelo adotado por Brasília, com governador e Câmara Legislativa. Os moradores de Washington, nos EUA, por exemplo, elegem o prefeito, mas há apenas conselheiros municipais, não deputados ou vereadores. Além do mais, embora autônoma, a capital obteve a es-drúxula vantagem de continuar recebendo repasses da União, cerca de 8 bilhões por ano. Ou seja, administrar a capital seria moleza se os políticos locais não se dedicassem a atividades menos nobres.

Curiosamente, quatro anos antes da promulgação da Carta que daria autonomia a Brasília, o pernambucano Fernando Lyra cunharia a expressão “vanguarda do atraso” para definir José Sarney quando este, oriundo da velha Arena, foi indicado a vice de Tancredo Neves. Tornado presidente, seria ninguém menos que Sarney o inventor de Joaquim Roriz, a quem foi buscar nos rincões de Goiás para nomeá-lo governador da capital.

Sigmaringa Seixas lembra, a culpa pela vinda de Roriz deve recair também sobre os parlamentares locais. “Imaturos”, recorda, os senadores e deputados da capital rejeitaram o primeiro nome indicado por Sarney, o do ex-senador Alexandre Costa, que exigia uma emenda constitucional para que pudesse voltar ao Senado depois que a primeira eleição direta se realizasse. Se fosse Costa, ficaria só dois anos. Roriz instalou-se no Distrito Federal para não mais sair. Por ironia do destino, desde então o epíteto “vanguarda do atraso” passou a caber em Brasília como uma luva.

Fonte:CartaCapital

Do blog O Terror do Nordeste

Por que eu não voto José Serra?

Por que você não vota no Serra? Os personagens desse vídeo dizem seus motivos.



Fonte: Portal Vermelho.org

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Mentirosos e Covardes, a marca dos tucanos

Sérgio Guerra, o presidente do PSDB, perdeu mais do que compustura. Perdeu a vergonha e revelou toda sua covardia política.

Ele disse na revista Veja isso aí abaixo. Está escrito, registrado e comprovado nas páginas da revista Veja, edição 2147:



A ministra Dilma Rousseff apenas defendeu o PAC, contra a intenção do PSDB acabar com ele.

A ministra contestou legitimamente as declarações que saíram da boca de Sérgio Guerra.

A ministra não inventou nada. Quem disse que iria acabar com o PAC foi o próprio tucano, com sua própria boca.

José Serra (PSDB/SP) percebeu que o povo não quer que ninguém acabe com o PAC, porque o PAC é do povo e para o povo.

Então Serra exigiu que o presidente de seu partido, Sérgio Guerra, consertasse a lambança que disse.

Guerra poderia ser civilizado e digno, e ter a CORAGEM de admitir que errou, reconhecer que falou bobagem, e consertar suas declarações. Ou admitir que ele, o PSDB e Serra querem mesmo detonar o PAC.

Mas coragem não é coisa para políticos COVARDES. Políticos COVARDES se escondem, outros vão além: recorrem à CAFAJESTAGEM de querer atribuir seus erros aos outros.

José Serra se escondeu e perguntado sobre as declarações da ministra, disse que ficará longe do "bate-boca eleitoral".

Sérgio Guerra foi além: quis atribuir a SUA MENTIRA como se fosse da ministra Dilma.

Que coisa feia!

No nordeste de Lampião, os homens e as mulheres não costumam perdoar políticos covardes que se escondem do "tiroteio" atrás da saia de uma Maria Bonita.

No resto do Brasil, brasileiros e brasileiras também não costumam perdoar, nem aqueles que falam as covardias, nem quem MANDA falar.

E o MANDANTE é Serra.

Serra já disse que não vai fazer declarações de oposição à Lula (pelo jeito está com medo de fazer um embate direto também com Dilma); e disse que escalaria "o partido" (Sérgio Guerra) para fazer oposição.

Do blog Os Amigos do Presidente Lula

População de São Paulo, revoltada com o Governador José Serra, depreda e queima ônibus na Zona Sul

Do blog Oni Presente

Protesto contra enchentes e contra o Governador.
Ataque ocorreu no bairro Cidade Dutra.



Centenas de pessoas depredou e ateou fogo a um ônibus na Zona Sul de São Paulo, no fim da tarde desta quarta-feira (20). O motivo é a revolta com José Serra, devido às enchentes que têm causado estragos na cidade.

O protesto ocorreu na Avenida Belmira Marin, altura do número 5.000, no bairro Cidade Dutra. A PM diz que os manifestantes fecharam a avenida com pedaços de madeira. Até as 19h, meia hora antes do início do tumulto, não havia informações de feridos. O helicóptero Águia foi enviado ao local para acompanhar a manifestação.

Governador envia Polícia para reprimir protesto

Foram mais de cinco horas de confronto na Zona Sul da capital.
Moradores dizem que urbanização de córrego e descaso de José Serra está causando alagamentos.

Voltou a chover forte na noite de terça-feira (19) em vários pontos da região metropolitana de São Paulo. Resultado, além de enchentes em várias regiões, um protesto de moradores foi reprimido pela Polícia Militar na Zona Sul da capital. Foram mais de cinco horas de confronto.


Os manifestantes se reuniram no bairro Cidade Dutra, na Zona Sul, logo depois da chuva que começou a cair no final da tarde em São Paulo. Uma hora e meia de chuva e o córrego urbanizado transbordou. Em pouco tempo, a água tomou ruas.

Com água pelos joelhos, os moradores reclamavam que a urbanização do córrego passou a provocar alagamentos. Revoltado com as enchentes, um grupo fechou a principal avenida do bairro. Quando a polícia chegou, houve confronto.


O grupo que fechou as pistas se escondeu atrás das casas. Quando viraram a esquina, os PMs foram recebidos com fogos de artifício. Muitos disparos foram feitos.

Depois do espetáculo

Do blog do Eduardo Guimarães, Cidadania.com

Leiam, abaixo, a nota oficial do PSDB emitida hoje (20 de janeiro de 2010) e assinada pelo presidente do partido, o senador tucano por Pernambuco, Sérgio Guerra.

"Dilma Rousseff mente. Mentiu no passado sobre seu currículo e mente hoje sobre seus adversários. Usa a mentira como método. Aposta na desinformação do povo e abusa da boa fé do cidadão.

Mente sobre o PAC, mente sobre sua função. Não é gerente de um programa de governo e, sim, de uma embalagem publicitária que amarra no mesmo pacote obras municipais, estaduais, federais e privadas. Mente ao somar todos os recursos investidos por todas essas instâncias e apresentá-los como se fossem resultado da ação do governo federal.

Apropria-se do que não é seu e vangloria-se do que não faz.

Dissimulada, Dilma Rousseff assegurou à Dra. Ruth Cardoso que não tinha feito um dossiê sobre ela. Mentira! Um mês antes, em jantar com 30 empresários, informara que fazia, sim, um dossiê contra Ruth Cardoso.

Durante anos, mentiu sobre seu currículo. Apresentava-se como mestre e doutora pela Unicamp. Nunca foi nem uma coisa nem outra.

Além de mentir, Dilma Rousseff omite. Esconde que, em 32 meses, apenas 10% das obras listadas no PAC foram concluídas – a maioria tocada por estados e municípios. Cerca de 62% dessa lista fantasiosa do PAC – 7.715 projetos – ainda não saíram do papel.

Outra característica de Dilma Rousseff é transferir responsabilidades.

A culpa do desempenho medíocre é sempre dos outros: ora o bode expiatório da incompetência gerencial são as exigências ambientais, ora a fiscalização do Tribunal de Contas da União, ora o bagre da Amazônia, ora a perereca do Rio Grande do Sul.

Assume a obra alheia que dá certo e esconde sua autoria no que dá errado.

Dilma Rousseff se escondeu durante 21 horas após o apagão. Quando falou, a ex-ministra de Minas e Energia, chefe do PAC, promovida a gerente do governo, não sabia o que dizer, além de culpar a chuva e de explicar que blecaute não é apagão.

Até hoje, Dilma Rousseff também se recusou a falar sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos, com todas barbaridades incluídas nesse Decreto, que compromete a liberdade de imprensa, persegue as religiões, criminaliza quem é contra o aborto e liquida o direito de propriedade. Um programa do qual ela teve a responsabilidade final, na condição de ministra-chefe da Casa Civil.

Está claro, portanto, que mentir, omitir, esconder-se, dissimular e transferir responsabilidades são a base do discurso de Dilma Rousseff. Mas, ao contrário do que ela pensa, o Brasil não é um país de bobos."

Ao contrário do que alguns podem ter pensado, não pretendo responder ao senador tucano. Por que? Simplesmente porque não sou porta-voz nem advogado de defesa de Dilma Rousseff.

Se eu estivesse no lugar dela, desmontaria cada afirmação do tucano. Ele confunde fatos, mente, inventa, omite, exagera, minimiza, enfim, faz tudo o que o modus operandi dessa direita incapacitada latino-americana manda fazer ao atacar.

A questão nem é essa, portanto. É saber o que irá acontecer. É num momento como este que se percebe se um partido tem ou não estratégia. O PT está se defendendo ou está atacando? Creio que quem começou a briga, no nível em que está, foi Guerra nas Páginas Amarelas da Veja. Creio, não tenho certeza.

Sinceramente, confesso que não ficaria batendo boca com Sergio Guerra. Eu o desafiaria para um debate público, ou a quem ele indicasse. Ou, então, não responderia mais aos ataques. Na verdade, nesta segunda opção não teria respondido desde a primeira vez... Ou adotaria a opção anterior.

Enfim, só quero lamentar que seja nesses termos que a campanha eleitoral acontecerá no Brasil. Sabem quem ganha com isso? Ninguém. Se um dos lados, de partida, já criminaliza o outro, chama-o de mentiroso, insulta-o de todas as formas, pouco restará ao debate das propostas para o país. Como debater assunto de tal importância nesse clima?

É evidente que não há criminosos pretendendo disputar a eleição presidencial deste ano. Nem mitômanos. Não dá para travar o debate político nesse nível. Isso é briga de rua. O eleitor não quer saber se Lula enche a cara ou se Dilma é mitômana ou se Guerra é um débil mental; quer saber como influirão na vida dele.

Acho que, neste momento, cabe a todos os que têm um pingo de responsabilidade e desejo de ver este país progredir chamarem a atenção de tucanos e petistas exigindo respeito a nós, eleitores. Não é isso o que espero ver durante este ano.

Também à mídia, quero dizer que não estou interessado em denúncias de última hora sobre Dilma ou sobre Serra. Passamos os últimos sete anos e tanto sendo bombardeados com denúncias-bomba contra um na grande mídia e contra outro na mídia alternativa. Agora queremos saber o que eles pensam sobre cada assunto que nos interessa.

Acho que chegou o momento de este país exigir daqueles que debatem em larga escala os seus rumos que respeitem a platéia, pois esta, ao final, repleta de eleitores que está, irá se pronunciar em definitivo sobre o “espetáculo” que lhe foi oferecido.

Mercadante: crítica ao PAC vai tirar voto de tucanos


Agencia Estado

SANTOS - O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) disse hoje em Santos, na Baixada Santista, que o PT vai mostrar na propaganda eleitoral gratuita todos os benefícios que os projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) trouxeram ao Brasil e que se os tucanos não recuarem em relação às críticas ao programa "vão perder votos".

"A primeira coisa que a gente deve fazer quando cai no buraco é parar de cavar. Eu acho que eles (oposição) estão pegando na pá, não só dizendo que vão acabar com o PAC, como diziam antes que iam acabar com o Bolsa-Família porque é uma política assistencialista e tiveram que fazer uma autocrítica, como estão dizendo também que vão mudar a política econômica", afirmando que o PSDB governou o País com uma política econômica que o Brasil não cresceu.

"Apesar da contribuição que eles tiveram para a estabilidade da moeda, a inflação foi maior do que é hoje e não tinha distribuição de renda. Então que política econômica é essa? Espero que eles apresentem propostas para o debate, porque se eles forem nessa linha acho que eles vão aprofundar o isolamento", disse o senador em relação às críticas do presidente nacional do PSDB Sérgio Guerra ao PAC.

Vazio

Antes de se reunir na Vila Belmiro com o novo presidente do Santos Futebol Clube, Luiz Álvaro Ribeiro, eleito em dezembro, Mercadante, que é santista, enalteceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, destacando o prêmio de Estadista Global que Lula vai receber em Davos, na Suíça. O senador aproveitou também para defender a pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff.

"A única forma de preencher o vazio que o Brasil vai ter com a saída do Lula, inclusive internacional, é eleger a Dilma. Eu acredito que é isso que vai acontecer", respondeu Mercadante, ao ser questionado se acredita que mesmo tendo altos índices de aprovação, Lula pode não transferir seus votos para Dilma, como aconteceu com a presidente do Chile, Michelle Bachelet, que mesmo sendo popular, não elegeu o seu sucessor no último domingo.

Ainda sobre as eleições, Mercadante afirmou que é candidato à reeleição ao Senado, mesmo que Ciro Gomes (PSB) não seja candidato em uma coligação com o PT ao governo paulista.

Do blog O Terror do Nordeste