sábado, 17 de outubro de 2009

Diário do Povo: Por que a China escapou da "teoria do colapso"?

É claro é que a China ainda não tem a força e poder para tanto. No entanto, o rápido desenvolvimento econômico ao longo dos últimos trinta anos, e uma atitude enérgica e vigorosa face à atual situação de retrocesso na economia mundial, fazem o mundo refletir seriamente sobre o segredo que mantém o dinamismo e vitalidade da China.

Não foi fácil para o país enveredar pelo caminho de desenvolvimento hoje garante seu sucesso. Na busca de uma via que realmente se adapte à realidade da China e propicie o desenvolvimento, o Partido Comunista da China (PCCh) sofreu muitos reveses, percorreu um caminho repleto de dificuldades, obstáculos e tropeços e enfrentou incontáveis desafios.

Durante as seis décadas desde o advento da nova China [com a vitória da revolução em 1949], houve quem sempre manifestasse dúvidas sobre este país socialista, o mais populoso do mundo, apontando a ameaça iminente de um 'naufrágio' ou 'colapso'.

Já na fundação da República Popular da China, muitos questionaram a capacidade desse partido político, que representa principalmente o proletariado, a classe operária, cujos membros são principalmente camponeses, pudesse dirigir um país tão grande e populoso.

Dentro do Partido Kuomintang [derrotado pela revolução], afirmava-se que a China Vermelha iria desmoronar de uma hora para outra e o principal motivo seria a incapacidade de seus líderes para alimentar e sustentar uma população de 500 milhões de habitantes. Por outro lado, o regime revolucionário vermelho carecia de experiência de exercício do poder e não tinha praticamente nenhum conhecimento sobre como construir um possante país, moderno e industrializado.

Desde então, a China passou por severos testes em na sua construção e desenvolvimento, tais como a Guerra da Coreia, o "Grande Salto Adiante" e três anos de desastres naturais. Entre os muitos desafios que o país atravessou, a "Grande Revolução Cultural", que durou dez anos, conduziu a nação para a borda do precipício e ela esteve muito perto de desmoronar...

Durante a Guerra Fria, a existência da China foi ameaçada pelos países que praticavam o hegemonismo e tinham em mente um ataque nuclear contra ela.

Mas a China continuou a existir. E foi capaz de produzir o milagre do desenvolvimento.

O professor Wang Yukai, do Instituto Nacional de Administração indica que, na realidade, desde o aparecimento precoce da nova China, e inclusive nos períodos do 'Grande Salto Adiante', da 'Revolução Cultural' e outros, a China não se empenhou em refutar a ideia do mundo exterior que a situava na iminência do colapso. Naquele momento, segundo Wang, a China eo Ocidente eram antagonistas que se opunham. A China era relativamente fechada e se concentrava em resolver seus problemas internos,superar as dificuldades que a assaltavam de todos os lados.

Em 1978, a China optou por um novo caminho para garantir o seu futuro. Desde então, a emergência da China produziu furtivamente não poucas mudanças no cenário internacional. Sob a liderança de Deng Xiaoping, os reformadores chineses tomaram a decisão de abrir a China ao mundo exterior e desenvolveram um novo modo de desenvolvimento econômico, que mais uma vez atraiu a atenção geral.

Embora a China tenha alcançado notável sucesso em seu desenvolvimento econômico, as pressões e os desafios nunca desapareceram.

No fim da primavera e início do verão de 1989, a agitação política que eclodiu em Pequim, a capital, fez o mundo ocidental pensar que era um sinal do colapso e da derrocada do Poder Vermelho na China.

O desmoronamento e aniquilamento da antiga União Soviética, em 1991, convenceu muitos ocidentais de que seria impossível que a via do "socialismo com características chinesas" pudesse continuar a existir.

Lester R. Brown, fundador e diretor do instituto americano Earth Policy Institute, publicou em 1994 um artigo intitulado Quem fará a China viver?, no qual descreve uma situação angustiante e sombria. Segundo ele, o país mais populoso do mundo não teria como evitar grandes dificuldades, principalmente a penúria de alimentos, em especial de cereais, que provocaria distúrbios e acarretaria grandesdesgraças para toda a humanidade.

A adesão da China à OMC (Organização Mundial do Comércio), em 2001, provocou mais uma vez contestações de alguns estudiosos e especialistas ocidentais, que puseram em dúvida a continuidade e durabilidade do desenvolvimento econômico acelerado na China. Alguns deles disseram que "as empresas estatais chinesas, fracas, vulneráveis e esclerosadas", seriam "incapazes de sobreviver" após a adesão da China à OMC e seu colapso, certamente, provocaria um pânico generalizado na sociedade chinesa.

Gordon Chang, um advogado norte-americano de ascendência chinesa, que trabalhou vinte anos na China, previu o colapso repentino da China em um prazorelativamente curto.

Chang chegou mesmo dizer que o sistema político e econômico implementado pela China permitiria, na melhor das hipóteses, uma sobrevida de cinco anos... Asseverou que a economia chinesa já estava em declínio, começando a entrar em colapso, e afundaria antes, não depois, dos Jogos Olímpicos de 2008 em Pequim!

Com o tempo, que se move inexoravelmente, a economia chinesa mantém seu rápido crescimento. Especialmente agora, que a economia global fraqueja e se deprime, ela continua a se comportar com vigor. Esta realidade nega e refuta a 'previsão' de Gordon Chang e seus semelhantes, que tombaram por terra por si sós.

Wang Yukai disse que os frequentes erros de julgamento sobre a China nos países ocidentais residem num problema da "posição". Os países ocidentais ainda observam a China sob um prisma cheio de idéias preconcebidas, que não permitem constatar clara e explicitamente a lógica indutiva interna do desenvolvimento chinês.

O professor agrega ainda que o mundo ocidental também que pensa que a política de reforma e abertura da China fará com que seu sistema econômico gradualmente se converta num sistema econômico de mercado, que mudará radicalmente o sistema político, e no fim das contas a China aderirá ao modelo ocidental. Mas o que é certo e seguro é que a China tem um modelo específico de desenvolvimento, que se adapta à sua realidade.

Antes um país relegado ao ostracismo pelo Ocidente, a China é agora uma nação que avança e progride, em passos seguros, para se tornar uma potência mundial. Seu modelo de desenvolvimento é cada vez mais aceito e reconhecido pelo mundo.

Fonte: http://french.people.com.cn

Do Portal Vermelho.org

Países da Alba criam a própria moeda e aplicam sanções a Honduras

Do Portal Vermelho.org

A 7ª Cúpula da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas) termina neste sábado (17), na boliviana Cochabamba, após a aprovação na véspera de uma moeda regional e de “sanções econômicas e comerciais” a Honduras. Na sexta-feira (16), os presidentes de Bolívia, Cuba, Equador, Venezuela, Dominica, Antigua e Barbuda e São Vicente e Granadinas decidiram “aplicar sanções” contra o “regime golpista” de Roberto Micheletti, que derrubou em junho o legítimo presidente hondurenho, Manuel Zelaya.

A própria Honduras faz parte do bloco, ao qual aderiu em 2008. Na sexta, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse que a Alba tem “obrigação” de reverter o golpe. Pouco depois da deposição de Zelaya, em 28 de junho, Chávez já havia anunciado a medida punitiva mais importante — o fim do envio a Honduras de 20 mil barris de petróleo/dia, vendidos a preços subsidiados.

O regime golpista de Micheletti já sofre com o congelamento da ajuda internacional — cerca de 17% do Orçamento do país. É consenso entre analistas que, a essa altura, falta uma posição mais firme dos Estados Unidos, que compram 70% das exportações hondurenhas. Washington, titubeante, tem preferido ações quase irrisórias, como a pressão diplomática e o cancelamento de vistos de políticos e empresários envolvidos no golpe.

A resolução da Alba também recomenda um pedido urgente à ONU por um envio de representantes a Honduras para exigir o “respeito à inviolabilidade da missão diplomática (do Brasil) e condições de segurança e humanitárias adequadas para a permanência do presidente Zelaya” na sede diplomática. Zelaya está refugiado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa há três semanas.

Criada em 2004 por Cuba e Venezuela, a Alba reúne nove nações da América Latina e do Caribe que seguem princípios de soberania nacional e de esquerda, opondo-se aos tratados de livre comércio com Estados Unidos e Europa. “A Alba tem que buscar medidas mais severas contra os golpistas que estão matando e atropelando os Direitos Humanos diante do mundo”, disse Chávez durante a reunião.

Nova moeda

A Alba também aprovou a assinatura do tratado constitutivo do Sucre — um sistema virtual de pagamento para o intercâmbio intrarregional que busca substituir o dólar nas transações comerciais entre os países membros. Após a sua implementação, que será gradual, os países da Alba pretendem aplicar posteriormente, também sem data definida, uma moeda comum, assim como o euro na Europa.

Definido por Chávez como “um passo para a nossa soberania monetária para nos libertarmos da ditadura do dólar, que o império ianque impôs ao mundo”, o Sucre ainda deve ter seu regulamento submetido a debates. Para que ele entre em vigência, os países terão que fazer depósitos em suas respectivas moedas locais no Banco da Alba, cuja sede fica localizada em Caracas.


Da Redação, com agências

O egoísmo cego da elite




Do blog do Eduardo Guimarães,(Cidadania.com)

Quando vejo cenas de guerra como essas que mostra o vídeo acima, contendo reportagem da Globo sobre o helicóptero da Polícia que foi abatido a tiros por traficantes no Rio de Janeiro neste sábado, o que me espanta não são as cenas ou o fato em si, mas a reflexão sobre como é possível que a elite branca não entenda que, sem progresso social, tais cenas continuarão se tornando cada vez mais comuns, e a ameaça aos que “têm”, cada vez mais intensa.

A casta social a que me refiro pode ser encontrada em retrato fiel nas novelas da Globo, por exemplo. São 90% de brancos de olhos claros e nomes europeus, os quais, em certos círculos sociais, parecem muitos, mas que não correspondem a 10% da população misturada deste país, e que, de forma absolutamente inacreditável, ficam com quase todas as vagas no ensino superior público (o de melhor qualidade no país), com as melhores oportunidades no mercado de trabalho, que ocupam os poucos bairros “nobres” das grandes cidades, que têm acesso ao melhor da Segurança Pública, das obras urbanísticas etc.

A elite racial brasileira é dona de jornais centenários, canais de televisão – transformados em propriedade eterna apesar de serem concessões públicas – e de todo o resto do grande aparato de comunicação de massa do país. Além disso, é dona das maiores empresas, ocupa os melhores empregos, domina a dramaturgia, a literatura, as ciências e tudo mais de melhor e mais avançado que o Brasil produz.

Essa concentração anômala de riqueza e de oportunidades foi o que provocou, nas massas empobrecidas, um sentimento de desesperança quanto às possibilidades do homem do povo de crescer na vida, fazendo com que jovens negros e favelados, por exemplo, declarem serenamente que preferem morrer jovens nas mãos da polícia ao cometerem crimes, contanto que tenham dinheiro para desfrutar dessa breve vida numa sociedade consumista, na qual, sem dinheiro para carros, roupas e baladas, o jovem se sente uma nulidade.

Os programas sociais de gastos vultosos e as políticas afirmativas deste governo e o próprio discurso igualitário do presidente da República têm servido como uma espécie de colchão amortecedor das tensões sociais. Sem a esperança de vencer na vida com honestidade que o Estado tem dado a essa massa empobrecida nos últimos anos, tenho certeza absoluta que a guerra civil que o vídeo acima mostra já teria sido deflagrada oficialmente – e em nível muito mais alto.

Mas o egoísmo, a vontade de ser uma casta em meio a uma ralé ignara e desqualificada profissional, cultural e intelectualmente, impede essa elite de enxergar o que está acontecendo neste país que mantém um nível de confronto social como o que se vê na reportagem sobre a derrubada do helicóptero da Polícia por traficantes no Rio.

Há, sim, o criminoso mau-caráter, aquele que não caiu na criminalidade pela pobreza e pela necessidade inclusive de sobreviver, sendo ele muitas vezes de classe média. É a mentalidade consumista, importada sobretudo dos Estados Unidos e que tanto encanta essa elite racial brasileira, o que enlouquece uma juventude que vê na posse de bens materiais o verdadeiro sentido da vida.

Todavia, ouso afirmar que a quase totalidade da “criminalidade” brasileira é oriunda da pobreza e até da miséria. Em suma, da falta de perspectiva de ascensão social por vias normais que leva legiões de jovens a buscar por qualquer meio tal ascensão, nem que seja por meio da criminalidade.

Enquanto isso, os ideólogos dessa separação por castas que exclui as massas morenas e negras das universidades, dos clubes, dos bairros etc., permitindo nesses lugares apenas amostras do biótipo predominante no país, continuam elaborando a sustentação desse estado de coisas através até da afirmação estupefaciente de que “não somos [a elite branca] racistas”, dizendo que políticas inclusivas como a de cotas para negros nas universidades seriam o que separaria uma sociedade que sempre esteve separada.

Não há nação socialmente injusta, neste nível da nossa, que conheça a paz social. Não há nação que viva essa sonegação de oportunidades a setores étnicos tão majoritários que não esteja mergulhada na violência e na criminalidade. E não há segurança para os brancos ricos em sociedades assim.

Em Julho, estive na África do Sul e pude constatar in loco a que ponto a opressão racial pode levar uma nação. Naquele país no qual a minoria branca oprimiu a maioria negra de uma forma como a minoria branca brasileira sonha oprimir a maioria negra e mestiça, os brancos ou fugiram ou vivem praticamente escondidos em bunkers. Quando têm que sair às ruas, o medo em seus rostos é quase palpável.

No Brasil, porém, a elite branca, racista e socialmente separatista continua acreditando que poderá manter a maioria negra (sobretudo os jovens) conformada em seus guetos sem ousar aspirar o sucesso e o bem estar social da casta racial dominante. Inverte os fatos e acusa políticas afirmativas como as cotas de “discriminatórias”, chama o Bolsa Família de “esmola” etc. E combate Lula com ódio apesar de ser ele quem está mantendo as belas cabeças loiras da elite unidas aos seus alvos pescoços.

A privatização da consciência

Do blog Terror do Nordeste

"Crueldade, indiferença, egoísmo e assemelhados não são uma novidade, tampouco burrice, alienação e hipocrisia. Já grandeza ou dignidade continuam escassíssimas"

Márcia Denser*


Lendo no blog do Miguel do Rosário a respeito do novo cinismo e a ausência absoluta de espírito solidário dos jovens das classes médias urbanas, filhotes do espírito neoliberal (sobretudo no Rio e em São Paulo), sinto que, no limite, eles estão em sintonia com as novas (e tão velhas) concepções históricas das guerras como um negócio. Ou das guerras como permanentes – “guerra é paz”, já escrevia George Orwell em 1984, um livro de 1934. A crueldade, a indiferença, o egoísmo, a injustiça e assemelhados não são exatamente uma novidade no mundo, tampouco burrice, alienação e hipocrisia. Já grandeza ou dignidade continuam escassíssimas. Sem contar que o Brasil é um país com poucas guerras em seu passado histórico, o que torna tais cínicas posições neoliberais especialmente alienadas.


Autor do livro O negócio da guerra (ainda não traduzido no Brasil), o pesquisador italiano Dario Azzelini argumenta que "a guerra não é mais para instalar outro modelo econômico, ela é o modelo". Em entrevista ao jornal argentino Página 12, divulgada esta semana em
www.cartamaior.com.br, ele traça um painel bastante preciso de como a idéia da guerra se transformou sob a lógica neoliberal: "O sentido da guerra mudou. Tradicionalmente, era para trocar as elites e o controle das economias, ou introduzir outro modelo de domínio econômico ou político. Agora, em muitos casos, as guerras são permanentes. Não se faz a guerra para implementar outro modelo econômico, mas a guerra mesmo é o mecanismo de lucros".

No debate acadêmico e político, a expressão “novas guerras” foi introduzida para denominar o fato de que mais e mais guerras não se dão mais entre países, mas no interior dos países (a guerra contra os civis!) ou, pelo menos, entre um Exército regular e um irregular. Não é que tenham acabado as guerras entre Estados. Ao contrário, na última década, houve aumento. Mas elas mudaram, e a porcentagem das guerras irregulares em comparação com as regulares está crescendo. Isso obedece à lógica neoliberal de aumentar lucros. Agora, em muitos casos, as guerras são permanentes.

Por exemplo, os lucros da Colômbia se devem ao fato de ser um país em guerra permanente há anos. Aliás, durante os últimos 20 anos, a passagem da pequena e média agricultura para a agroindústria se fez com uma guerra. Não fosse assim, não teria sido possível expropriar as terras de milhões de camponeses e fazer “uma reforma agrária ao contrário”, na qual os latifundiários e paramilitares se apropriaram de 6 milhões de hectares de terra. Naomi Klein já discorreu extensamente sobre o “Plano Marshall ao contrário” implantado pelo governo Bush no Iraque.

Segundo Azzelini, as primeiras companhias militares privadas (CMPs) nasceram imediatamente depois da II Guerra Mundial, porque o Exército dos Estados Unidos tinha tão grande capacidade de mobilização que passou a privatizar parte do transporte. Porém, o verdadeiro boom dessas empresas começou em fins dos anos 80 e foi reforçado de forma maciça nos 90. Na primeira guerra dos Estados Unidos contra o Iraque, a relação entre os empregados das CMPs e os soldados regulares era de 1 para 100. No Afeganistão, de 1 para 50. Agora, no Irã, há 180 mil empregados das CMPs, segundo dados do próprio Exército norte-americano.

Essas companhias exercem dezenas de atividades. O uso de armas sofisticadas (como aviões não tripulados, radares ou mísseis de navios estadunidenses) na primeira onda de ataques ao Iraque foi realizado por especialistas de empresas privadas. Distribuem a correspondência, cozinham, lavam a roupa dos soldados, montam os acampamentos militares, as prisões. No caso da prisão de Abu Ghraib, houve julgamentos e investigações contra menos de dez soldados dos Estados Unidos, quando deveria haver muitos mais implicados. A verdade é que a prisão era administrada em todas as suas funções por duas empresas privadas: Caci e Titan.

As vantagens da terceirização para as CMPs? Como seus empregados são civis, não podem ser julgados pela Justiça militar. Ao mesmo tempo, em seus contratos lhes é assegurado que não podem ser submetidos à Justiça civil dos países em que atuam. Praticamente se criou um campo de impunidade. E a única via para fazer algo contra tais crimes é iniciar processos nos Estados Unidos contra as empresas. E quantas vítimas têm a possibilidade de fazer isso? Quase nenhuma.

Na entrevista, Azzelini observa sintomaticamente: “Legaliza-se todo o negócio dos mercenários com esse marco de impunidade. Além disso, terceiriza-se a responsabilidade. Milles Frechette, ex-embaixador dos Estados Unidos na Colômbia, disse que é muito cômodo trabalhar com essas empresas porque se morrem, não são soldados norte-americanos e, se fazem algo errado, a responsabilidade tampouco recai sobre os Estados Unidos. É a possibilidade de os EUA intervirem militarmente em outros países sem que apareçam como tais, porque não são seus soldados que atuam. Desde o Vietnã, sabe-se o impacto público que causa a imagem de soldados mortos que regressam cobertos pela bandeira ianque, mas isso não acontece se morre o empregado de uma empresa privada. Não causa indignação pública, porque é como se morresse um empregado da IBM em Cingapura. Ninguém se importa com isso.”

Realmente ninguém se importa. É o que eu chamaria de “privatização da consciência”: uma espécie de salvo-conduto para os jovens neoliberais exercerem seu próprio cinismo à vontade. Da mesma forma que, cinicamente, ninguém irá lamentá-los no futuro.


*A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango Fantasma (1977), O Animal dos Motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora (1986), A Ponte das Estrelas (1990), Toda Prosa (2002 - Esgotado), Diana Caçadora/Tango Fantasma (2003,Ateliê Editorial, reedição), Caim (Record, 2006), Toda Prosa II - Obra Escolhida (Record, 2008). É traduzida na Holanda, Bulgária, Hungria, Estados Unidos, Alemanha, Suiça, Argentina e Espanha (catalão e galaico-português). Dois de seus contos - O Vampiro da Alameda Casabranca e Hell's Angel - foram incluídos nos 100 Melhores Contos Brasileiros do Século, sendo que Hell's Angel está também entre os 100 Melhores Contos Eróticos Universais. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUCSP, é pesquisadora de literatura, jornalista e curadora de Literatura da Biblioteca Sérgio Milliet em São Paulo. Congresso em Foco.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Os objetivos escusos da extrema-direita ruralista












Os desejos ocultos dos donos da terra

Uma estrutura social equânime é o inferno de Caiado e Kátia Abreu. Para eles, o paraíso é o Estado Patrimonial que, como no tempo do Império, funcione como repassador de terras e do dinheiro do setor público para o privado. É com essa restauração que sonham diariamente.

*Por Gilson Caroni Filho

A nova operação da direita para viabilizar a instalação de uma CPI para investigar supostos repasses de recursos públicos a entidades vinculadas ao Movimento dos Sem Terra (MST) nada mais é que um embuste com objetivos nítidos: a criminalização dos movimentos sociais e, com um claro viés eleitoreiro, o desgaste do governo visando ao processo eleitoral de 2010.

O eixo central da ação da senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), ex-presidente da UDR, é retroceder o processo democrático a níveis anteriores ao do governo petista. Com apoio da grande imprensa, o que se pretende é o estabelecimento de uma agenda que aceite a imposição dos que gritam mais forte e que por mais de 500 anos mandaram no país.

Um projeto de poder que abandone o país moderno, dos segmentos novos da cidade, do operariado urbano e rural, dos pequenos e médios proprietários das classes médias, dos empresários modernos e progressistas para abraçar uma opção pelo passado. No que ele tem de mais retrógado, no que ele garante a preservação de práticas clientelistas e oligárquicas.

A pesquisa do Ibope, encomendada pela CNA, “que constata a favelização dos assentamentos rurais do INCRA" não vai de encontro apenas aos dados do Censo Agropecuário de 2006 que demonstram que a agricultura familiar é mais produtiva do que a tradicional e em grande escala. Vai além. Vai contra todas as classes e frações que sabem que sua sobrevivência depende de um país igualitário, solidário, a ser construído por uma intervenção decidida na questão da terra. Uma estrutura social equânime é o inferno de Caiado e Kátia Abreu. Para eles, o paraíso é o Estado Patrimonial que, como no tempo do Império, funcione como repassador de terras e do dinheiro do setor público para o privado. É com essa restauração que sonham diariamente.

Sob os holofotes da CPI o que se quer manter é a luta contra a Reforma Agrária por parte de pecuaristas e dos que ganham com monoculturas extensas. Nos casos de desapropriações já decididas, apela-se, como sempre, para os amigos cartoriais, transferindo gado de uma fazenda para outra enquanto se pede revisão dos processos.

O "aggiornamento" da imprensa é peça fundamental dessa estratégia. Há mais de duas décadas, durante a eleição de Caiado para a presidência da UDR, o então vice-presidente da entidade, Altair Veloso, garantia que “os jornalistas da imprensa escrita são todos vermelhos. Os da televisão são todos homossexuais".

Hoje prevalece a afinidade de classe, e os "vermelhos" carregam nas tintas contra movimentos organizados, enquanto os "homossexuais" divulgam, no horário nobre de uma emissora paulista, "editoriais" contra Lula e o MST. O amadurecimento de pessoas e instituições é surpreendente. Revela pulsões que nunca ousaram dizer o nome.

Em entrevista para a Agência Ibase, o líder sindical José Francisco da Silva, ex-presidente da Contag, disse que “houve avanços com o governo Lula, justiça seja feita. Fernando Henrique investiu R$ 2,3 bilhões no Pronaf. Lula já alcançou R$ 13 bilhões no decorrer de seis anos. Foi um bom investimento, mas é bom que se diga que o agronegócio recebe quase R$ 70 bilhões do governo e é a agricultura familiar que abastece o país, que gera empregos." É uma distorção a ser corrigida.

Para Kátia e Caiado a correção aponta para outra direção: a da redução dramática da população rural, da formação de um contingente de semicidadãos entregues à própria sorte. Para eles, essa é a democracia possível. O padrão estético é coerente com a história dos antigos donos do poder.

Eldorado de Carajás é uma imagem a ser esquecida. Pés de laranja arrancados, um crime imperdoável.

*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

**Fonte: Agência Carta Maior

(Foto: Ronaldo Caiado, ex-pres. da UDR, dep. federal do Democratas - ex-PFL)

Rumo à Confecom, centrais realizam seminário de comunicação em SP

Seminário centrais

Do Vermelho.org

As seis centrais sindicais fecharam acordo e vão elaborar uma pauta conjunta dos trabalhadores e do movimento sindical para a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). É com esse intuito que, na próxima quarta-feira (21), CTB, CUT, Força Sindical, UGT, CGTB e NCST realizam, em São Paulo, o Seminário Nacional de Comunicação das Centrais Sindicais.

A apresentação do seminário ficará por conta do jornalista Altamiro Borges, o Miro, editor do Vermelho e autor do recém-lançado A Ditadura da Mídia. Miro abordará a monopolização das empresas de comunicação e a perspectiva de construção de uma nova ordem no setor. Já a secretária de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, membro titular da Comissão Organizadora da Confecom, fará um informe sobre os trabalhos de organização desenvolvidos até agora para a conferência.

A Confecom está marcada pata os dias 14, 15, 16 e 17 de dezembro, em Brasília. As etapas municipais e estaduais estão em andamento, e as centrais avaliam que é decisivo apresentar propostas comuns, para garantir avanços e a efetiva democratização da comunicação.

Um dos objetivos do seminário é justamente que todas as centrais sindicais possa apresentar suas propostas. Cada entidade pode participar do seminário com até seis representantes. As propostas formarão um documento com as bandeiras comuns, que serão reforçadas pela 6ª Marcha da Classe Trabalhadora a Brasília, marcada para o dia 11 de novembro.

Eduardo Navarro, secretário de Comunicação e Imprensa da CTB, deseja que o evento seja reproduzido em todos os estados. “A conferência é um fórum privilegiado para as centrais atuarem conjuntamente, levando bandeiras que ampliem os espaços de participação da sociedade nos meios de comunicação”, declarou Navarro ao Portal CTB.

O Seminário Nacional de Comunicação das Centrais Sindicais vai ocorrer na sede nacional da UGT (União Geral dos Trabalhadores), na rua Formosa, 367, 4º andar, região central de São Paulo.


Da Redação, com agências e centrais

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Direitos fundamentais de favelados – abordagem policial

Do Correio da Cidadania

Escrito por Antonio Visconti

Dr. Oscar Vilhena Vieira, que tem se dedicado à concretização dos direitos humanos, conta episódio bem ilustrativo da diferença de tratamento de policiais aos bem nascidos e aos pobres e miseráveis. No trajeto para o local em que proferiria palestra em evento do Ministério Público Democrático teve um problema qualquer, de pequena monta, com um motoqueiro. Logo adiante estava um policial militar, que não presenciara o fato, mas teve a atenção despertada e se dirigiu aos condutores. A ele: "Tudo bem, Doutor. Passar bem", e foi liberado. Já o motoqueiro foi posto imediatamente com as mãos na parede.

Pe. Agostinho Duarte de Oliveira, velho combatente pelos direitos humanos dos desvalidos, em especial adolescentes infratores e presos, há alguns meses trouxe o problema de jovem anteriormente processado por tráfico de drogas e absolvido; não mais deveria ser molestado em razão desse triste episódio.

No entanto, quase sempre que avistado por policiais militares na favela em que mora, algum deles aponta o revólver para a cabeça e indaga de seus antecedentes criminais. Admitindo já ter sido processado por tráfico de drogas, torna-se suspeito de seguir metido na criminalidade; negando, o miliciano tem condições de em pouco tempo saber da existência do mesmo processo e mais avolumada se torna a suspeição apontada. Se correr, o bicho mata, se ficar, o bicho pega ...

Soube recentemente de que jovens favelados andam com a nota fiscal de compra de celular no bolso, sob pena de se presumir que o tenha obtido criminosamente quando revistado por policial militar, o que é fato corriqueiro.

Muitos outros episódios semelhantes poderiam ser lembrados, ilustrativos de deplorável abuso de autoridade.

Mas nas ruas de uma metrópole sempre estão marginais perigosos, em vias de praticar crime ou que o cometeram há pouco tempo. E muitas vezes há mandado de prisão contra eles; precisam ser imediatamente presos. Espera-se da Polícia que realize essa tarefa e a Militar mais comumente se defronta com esses casos.

Não há como negar, pois, que em certas situações, na qual o policial razoavelmente anteveja a necessidade de deter alguém, proceda de modo a preservar a própria integridade física, o que justificaria que se aproxime desse indivíduo já portando seu revólver.

Isso, porém, não justifica que se suspeite a torto e a direito de alguém por sua cor, aparência ou por estar pilotando moto, multiplicando buscas pessoais a pretexto de apreender arma ou droga. Enquanto as revistas vexatórias diuturnamente têm por alvo pessoas, sobretudo jovens, cuja aparência indique morar na favela ou na periferia, raramente se ouve falar de tal procedimento contra os bem nascidos.

Todos quantos almejam ver respeitados os direitos fundamentais de todas as pessoas, de todas as classes sociais, precisam empreender movimento de grande envergadura com vistas a regular devidamente a ação de policiais, delimitando com rigor as hipóteses nas quais podem e devem averiguar a prática atual ou iminente de um crime ou sua realização há pouco tempo ou se contra alguém pende mandado de prisão. E fora delas, o abuso há de ser reprimido com o necessário rigor. Tarefa, sobretudo, de entidades dedicadas à concretização de direitos fundamentais e que não andam muito ativas nestes últimos tempos. O caminho a percorrer é longo e áspero.

Noticiário recente da TV mostrou comportamento violento de policiais militares contra jovens dos quais vizinhos reclamavam por estar promovendo algazarra em seu apartamento. Um deles espancou covardemente um dos moços e ameaçava dar tiro na cara de outro. Havia câmera no local, o que possibilitou filmar a cena.

Entrevistado, oficial da PM afirmou tratar-se de "armação" daqueles moços, cujas tropelias já haviam determinado diligências anteriores dos milicianos e que na ocasião foram atraídos para aquela cilada, culminando no escândalo mostrado pela Globo. Ou seja, as arbitrariedades exibidas não tinham maior importância, condenável era o comportamento dos jovens, contumazes perturbadores do sossego alheio e que ainda se permitiam documentar a diligência policial para comprometer os que a realizavam...

Não será acobertando abusos em razão de corporativismo que se obterá o respeito aos direitos fundamentais de todo e qualquer cidadão, seja qual for sua condição social.

Há um longo caminho a percorrer. Porém, quanto mais se demora a encontrar meios para fazer de todos que vivem neste país cidadãos de verdade, mais tardará a realização desse objetivo.

Antonio Visconti é Procurador de Justiça aposentado e vice-presidente do Movimento do Ministério Público Democrático.

Mídia ‘desconstrói’ MST na exata medida em que movimento ameaça Status Quo

Escrito por Rodrigo Mendes – Da Redação

A maior ameaça à estrutura fundiária no Brasil e, consequentemente, ao Status Quo da elite brasileira, hoje, é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, o MST. Não pelo seu grau de radicalidade, mas pela densidade e volume que tomou.

A campanha que a mídia em geral faz para desconstruir o MST para um público mais amplo - e que poderia pender para a simpatia para com o movimento ao analisar de maneira mais objetiva a causa da distribuição de terra e produção de alimentos - é proporcional ao tamanho da ameaça e do potencial que esse movimento representa.

Para isso, todos os grandes jornais de circulação nacional que abordaram, por exemplo, o caso da fazenda da Cutrale se utilizaram de uma linguagem que condenava a priori o MST, que tratava o "vandalismo" dos militantes do movimento como fato dado. Para em seguida postar algo como "outro lado" e dar um ar de debate democrático.

É claro, esse método não é novidade, ele é utilizado em todas as coberturas relativas ao MST e aos movimentos sociais em geral, em particular os mais contestadores da ordem vigente. A forma como os textos, especialmente nos jornais Folha de S. Paulo e Estado de São Paulo, são construídos cria uma série de pressupostos que são assimilados ao senso comum como verdade na base da inércia. Pressupostos como: o agronegócio é bom para a população, para a economia e representa o progresso; o MST se associa com tudo que há de arcaico, ultrapassado no Brasil; propriedade é para ser respeitada, cada um faz o que quer com a sua, entre outros.

E esse método vem ainda acompanhado pelo mito da imparcialidade na mídia, que mais uma vez mostra a força que tem. Os veículos de comunicação de massa têm a capacidade de criar um senso comum, uma base "mínimo denominador" para a formação do ideário do grande público, com o verniz de debate isento e factual.

A Cutrale e os fatos

Vamos aos fatos: a Cutrale grilou as terras da fazenda que teve seus pés de laranja destruídos. A empresa que hoje detém 30% do comércio de suco de laranja no mundo está assentada, há anos, sobre solo grilado, de maneira criminosa.

A Cutrale impõe condições de trabalho absurdamente degradantes aos seus trabalhadores, em desacordo com qualquer lei trabalhista.

Entre os movimentos sociais campesinos e o agronegócio, que tem como um de seus maiores representantes a Cutrale, há dois projetos de produção de alimento. O agronegócio trata comida como uma commodity, um produto a ser comercializado. O modelo de agricultura familiar vê a produção como forma de alimentar a população com comida de qualidade, livre de agrotóxicos e venenos. Ao contrário do senso comum que vê a "modernidade" da produção, ou seja, o uso de aditivos químicos, adubos etc. como algo por essência positivo, o modelo dos movimentos questiona essa noção.

Segundo a nota do MST após a incessante exibição das imagens da fazenda depredada – aliás, uma das formas corriqueiramente adotadas pela mídia para incutir uma determinada visão da realidade -, "a Constituição Federal estabelece que devem ser desapropriadas propriedades que estão abaixo da produtividade, não respeitam o ambiente, não respeitam os direitos trabalhistas e são usadas para contrabando ou cultivo de drogas". E o movimento afirma, pela mesma nota, que "as leis a favor do povo somente funcionam com pressão popular".

Quanto à versão construída pela mídia, a partir das imagens pretensamente vinculadas à depredação da fazenda e intensamente veiculadas, a direção estadual do movimento de São Paulo admitiu que os militantes derrubaram pés de laranja e fizeram algumas pichações para deixar registrado o protesto contra a grilagem da área. Porém, fez várias ressalvas às acusações relativas à destruição e roubo de casas, depredação de tratores e roubo de combustíveis e venenos. "Como tudo isso poderia ter sido feito por famílias que estiveram o tempo todo cercadas pelas tropas da Policia Militar, sempre munida de câmeras filmadoras, com apoio de helicópteros, e que, no despejo, foram colocadas em cima de dois caminhões da própria multinacional Cutrale? (...) Por que tendo recebido imagens da destruição dos pés de laranja ainda no dia 28 de setembro, somente no dia 5 de outubro a Rede Globo resolveu exibi-las e o fazer de forma tão apelativa? Os representantes do agronegócio e a bancada ruralista precisavam de algum argumento que justificasse mais uma tentativa de instalação de uma nova CPI contra o MST".

No que se refere à depredação de tratores, a direção estadual acrescenta ainda que as imagens que vêm sendo veiculadas mostram tratores e peças que já estavam abandonados e desmontados antes de as famílias chegarem lá. Ademais, "como seria possível as famílias furtarem 15 mil litros de combustíveis e toneladas de veneno sendo escoltadas pela PM e transportadas em cima de uma carroceria de caminhão?", indaga a direção estadual.

A ocupação é a arma mais eficaz de pressão popular ao alcance do movimento. E justamente por ser tão poderosa é atacada com tanta ferocidade pela mídia grande, que não é imparcial e isenta, mas precursora dos interesses das elites, dentre os quais os grandes latifundiários.

Rodrigo Mendes é jornalista; Correio da Cidadania.

Sobre laranjas e pessoas

Do Blog do Eduardo Guimarães(cidadania.com)

O processo civilizatório ainda tem muito que caminhar no Brasil, pois uma sociedade só é civilizada quando os interesses comerciais de grupos econômicos não se sobrepõem ao bem estar social.

No Velho Mundo, por exemplo, atingiu-se um estágio civilizatório em que esse bem estar social se sobrepõe aos interesses comerciais e corporativos. Não existe um país considerado civilizado em que pessoas valem menos do que frutas destinadas à comercialização.

No dia 24 de agosto, para atender demanda judicial de uma empresa de ônibus de São Paulo, a Polícia Militar, sob ordem do governador José Serra, derrubou barracos de OITOCENTAS famílias numa favela incrustada no bairro de Capão Redondo.

As famílias (crianças, mulheres, idosos) foram jogadas na sarjeta, puseram-se a perambular pelas ruas da cidade em pleno inverno, passando frio e fome, e ninguém pediu CPI, muito menos a mídia. Uma mulher favelada chegou a ter o filho roubado no meio da confusão.

Na semana passada, porém, a indignação midiática foi às nuvens com a destruição de pés de laranja por membros do MST em terra invadida pela empresa fabricante de suco de laranja Cutrale.

O Incra diz que a Cutrale invadiu aquela terra e ali cultiva laranjas ilegalmente, pois, tanto quanto as famílias do Capão Redondo, não pagou pela terra. Na reintegração de posse popular, porém, a mídia e os partidos de direita no Congresso defendem os invasores.

Este é o sistema capitalista mais selvagem que se pode conceber, no qual o ser humano vale menos do que pés de laranja. Em nenhum país civilizado famílias inteiras são jogadas na sarjeta sem que o Estado manifeste a menor preocupação com o destino delas.

É possível uma sociedade capitalista respeitar mais as pessoas do que os interesses comerciais. Vários países fazem isso. Esses episódios de destruição de pés de laranja e de moradias de famílias pobres mostram quão distantes ainda estamos da civilização plena.

Os desejos ocultos dos donos da terra

Publicado no site da Carta Maior

A nova operação da direita para viabilizar a instalação de uma CPI para investigar supostos repasses de recursos públicos a entidades vinculadas ao Movimento dos Sem Terra (MST) nada mais é que um embuste com objetivos nítidos: a criminalização dos movimentos sociais e, com um claro viés eleitoreiro, o desgaste do governo visando ao processo eleitoral de 2010.


O eixo central da ação da senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), ex-presidente da UDR, é retroceder o processo democrático a níveis anteriores ao do governo petista. Com apoio da grande imprensa, o que se pretende é o estabelecimento de uma agenda que aceite a imposição dos que gritam mais forte e que por mais de 500 anos mandaram no país.

Um projeto de poder que abandone o país moderno, dos segmentos novos da cidade, do operariado urbano e rural, dos pequenos e médios proprietários das classes médias, dos empresários modernos e progressistas para abraçar uma opção pelo passado. No que ele tem de mais retrógado, no que ele garante a preservação de práticas clientelistas e oligárquicas.

A pesquisa do Ibope, encomendada pela CNA, “que constata a favelização dos assentamentos rurais do INCRA" não vai de encontro apenas aos dados do Censo Agropecuário de 2006 que demonstram que a agricultura familiar é mais produtiva do que a tradicional e em grande escala. Vai além. Vai contra todas as classes e frações que sabem que sua sobrevivência depende de um país igualitário, solidário, a ser construído por uma intervenção decidida na questão da terra. Uma estrutura social equânime é o inferno de Caiado e Kátia Abreu. Para eles, o paraíso é o Estado Patrimonial que, como no tempo do Império, funcione como repassador de terras e do dinheiro do setor público para o privado. É com essa restauração que sonham diariamente.

Sob os holofotes da CPI o que se quer manter é a luta contra a Reforma Agrária por parte de pecuaristas e dos que ganham com monoculturas extensas. Nos casos de desapropriações já decididas, apela-se, como sempre, para os amigos cartoriais, transferindo gado de uma fazenda para outra enquanto se pede revisão dos processos.

O "aggiornamento" da imprensa é peça fundamental dessa estratégia. Há mais de duas décadas, durante a eleição de Caiado para a presidência da UDR, o então vice-presidente da entidade, Altair Veloso, garantia que “os jornalistas da imprensa escrita são todos vermelhos. Os da televisão são todos homossexuais".

Hoje prevalece a afinidade de classe, e os "vermelhos" carregam nas tintas contra movimentos organizados, enquanto os "homossexuais" divulgam, no horário nobre de uma emissora paulista, "editoriais" contra Lula e o MST. O amadurecimento de pessoas e instituições é surpreendente. Revela pulsões que nunca ousaram dizer o nome.

Em entrevista para a Agência Ibase, o líder sindical José Francisco da Silva, ex-presidente da Contag, disse que “houve avanços com o governo Lula, justiça seja feita. Fernando Henrique investiu R$ 2,3 bilhões no Pronaf. Lula já alcançou R$ 13 bilhões no decorrer de seis anos. Foi um bom investimento, mas é bom que se diga que o agronegócio recebe quase R$ 70 bilhões do governo e é a agricultura familiar que abastece o país, que gera empregos." É uma distorção a ser corrigida.

Para Kátia e Caiado a correção aponta para outra direção: a da redução dramática da população rural, da formação de um contingente de semicidadãos entregues à própria sorte. Para eles, essa é a democracia possível. O padrão estético é coerente com a história dos antigos donos do poder.
Eldorado de Carajás é uma imagem a ser esquecida. Pés de laranja arrancados, um crime imperdoável.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro.

Mello: Globo admite que somos racistas

O Globo desmente Ali Kamel: Brasil é racista, sim

por Antonio Mello, no blog do Mello

Muita gente acha que Ali Kamel é o bambambam das Organizações Globo. Mas, como já afirmei aqui, ele é apenas um empregado. Não é ele quem dita as regras, mas sim a família Marinho. Ele é a bola da vez, o cara que representa (na verdade, o escudo) tudo aquilo que os Marinho (e seus pares – Mesquita, Civita, Frias) pensam.

Esta semana, O Globo publicou uma reportagem que desmonta todo o raciocínio de Kamel (e também de seu alter-ego, Magnoli) de que no Brasil não há racismo.

Sob título “Mulheres e minorias para trás”, o repórter Gilberto Scofield Jr. mostra que a tese de que não há racismo no Brasil é conto da Carochinha e que o Brasil é racista, sim.

A reportagem saiu na segunda-feira. Mas deveria, por sua importância, ter saído no domingo. Essa já é uma rendição aos desejos da famiglia.

Se isso não bastasse, para tentar diminuir o impacto da revelação de que somos um país racista, o foco da reportagem foi a discriminação de gênero (mulheres ganham menos do que homens) e não a de raça (indígenas e negros ganham menos do que brancos), mesmo, como afirma o texto, “considerando grupos com a mesma idade e nível de instrução”.

Ainda para tentar manter de pé a tese de que não somos racistas, o repórter coloca no final da matéria a afirmação de que o fator decisivo é a educação. Só que, contraditoriamente, no corpo da matéria ele afirma que mulheres recebem menos do que homens, “a despeito de as mulheres serem mais instruídas”.

Afinal, a educação é ou não fator fundamental para explicar a disparidade salarial? Num momento (o de gênero), eles afirmam que não. Em outro (de raça), que sim.

No fundo, é a velha manipulação, que vem sendo denunciada pela blogosfera. O Globo, a Veja, o Estadão, a Folha publicam para seus pares, enquanto o mundo ao redor se desmancha como bolhas de sabão.

Leia a íntegra da reportagem:

Mulheres e minorias para trás

Brasil é um dos países com maior disparidade salarial da América Latina, diz BID

Gilberto Scofield Jr.

A falta de projetos educacionais com foco em mulheres e minorias, especialmente entre os mais pobres, além da discriminação pura e simples, colocam o Brasil na incômoda posição de um dos mais desiguais da América Latina se levadas em consideração as defasagens salariais de gênero e entre brancos e outras raças/minorias, diz estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ao qual o GLOBO teve acesso com exclusividade e que será divulgado hoje.

No Brasil, as mulheres ganham, em média, 29,7% menos do que os homens, a maior diferença encontrada entre os 18 países avaliados pelo BID e quase o dobro da média da região (17,2%). A defasagem salarial por raça no Brasil é ainda maior, de 30%, e também a mais gritante entre as nações que estão no estudo do BID.

O relatório, intitulado “Novo século, velhas disparidades: diferenças salariais entre gêneros e etnias na América Latina”, preparado pelos economistas Hugo Ñopo, Juan Pablo Atal e Natalia Winder, mostra que, na média da região, negros e indígenas ganham 28% a menos que os trabalhadores brancos, enquanto homens ganham 17,2% a mais que mulheres. Isso considerando grupos com a mesma idade e nível de instrução.

— A desigualdade salarial por gênero não chega a ser um problema grave em países desenvolvidos da Europa ou nos Estados Unidos, mas é uma realidade grave no Oriente Médio e, num segundo patamar, na América Latina, que é uma das regiões mais desiguais, do ponto de vista econômico, do mundo. O Brasil não tem tantas etnias diferentes como as 21 da Guatemala, mas, nem por isso, é menos desigual quando comparamos a remuneração de brancos com negros e descendentes de índios — comenta o economista Hugo Ñopo.

Diferença é maior no topo da pirâmide

O modelo de comparação salarial foi criado por Ñopo há sete anos, mas os dados dos 18 países latino-americanos envolvidos na pesquisa começaram a ser cruzados efetivamente há dois anos e tomaram como base, no Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (Pnad) e levantamentos semelhantes em outros países.

O relatório mostra que a defasagem salarial por gênero é alta, a despeito de as mulheres serem mais instruídas. As trabalhadoras têm, em média, 0,8 ano a mais de estudo do que os homens na América Latina, o que não impede que elas recebam bem menos mesmo em cargos semelhantes.

A defasagem salarial por gênero também é mais alta entre trabalhadores autônomos, em comparação com os que mantêm vínculos empregatícios formais nas empresas. A autonomia, dizem, é um ponto positivo e negativo neste caso. É bom porque dá flexibilidade para as mulheres dedicarem mais tempo aos filhos, mas, sem o apoio do parceiro, é também uma forma de afastá-las do mercado de trabalho, reduzindo sua renda.

No caso das etnias e raças, o BID incluiu no estudo apenas sete países onde havia informações étnicas disponíveis em suas pesquisas domiciliares: Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Guatemala, Peru e Paraguai. Segundo as estatísticas, há entre 28 milhões e 34 milhões de indígenas na América Latina (cerca de 10% da população) e, em todos os países, este grupo representa a maior fatia entre os pobres e miseráveis, apesar de todos os avanços sociais dos últimos anos.

Porém, curiosamente, as maiores diferenças salariais estão nos extremos da distribuição de renda, ou seja, entre os maiores e menores salários. E entre os homens, os mais velhos e os moradores de áreas rurais. O Equador é o país com menor diferença salarial: apenas 4%.

De certo modo, o estudo do BID evidencia, dentro dos países latino-americanos, o mesmo padrão de uso de mão de obra de minorias de países desenvolvidos. Esses trabalhadores estão empregados em ocupações de baixos salários. O que os economistas chamam de “segregação ocupacional” permeia o mercado de trabalho latino-americano, onde as minorias estão em posições de chefia ou de empregadores, que recebem os maiores salários.

— No caso de raça e etnia, o diferencial é notadamente a educação. E o que se diz aqui é a qualidade da educação, porque a má qualidade educacional das minorias, uma fatia da população mais pobre, dá a negros e índios menos condições de competir no mercado de trabalho — explica Ñopo.

Solidariedade ao Nassif

do blog do Nassif

A Abril consegue a primeira condenação

Ainda não tenho os dados à mão. Mas, pelo que sou informado, fui condenado a pagamento de 100 salários mínimos pelo juiz Vitor Frederico Kümpel, da 27ª Vara Cível, em processo movido por Mário Sabino e pela revista Veja. No primeiro processo – de Eurípedes Alcântara – fui absolvido.

Pode haver apelação nas duas sentenças.

Ao longo dessa longa noite dos celerados, a Abril lançou contra mim os ataques mais sórdidos que uma empresa de mídia organizada já endereçou contra qualquer pessoa. Escalou dois parajornalistas para ataques sistemáticos, que superaram qualquer nível de razoabilidade. Atacaram a mim, à minha família, ataques à minha vida profissional, à minha vida pessoal, em um nível só comparável ao das mais obscenas comunidades do Orkut.

Não me intimidaram.

Apelaram então para a indústria das ações judiciais – a mesma que a mídia vive criticando como ameaça à liberdade de imprensa. Cinco ações – quatro em nome de jornalistas da Veja, uma em nome da Abril – todas bancadas pela Abril e tocadas pelos mesmos advogados, sob silêncio total da mídia.

Não vou entrar no mérito da sentença do juiz, nem no valor estipulado.

Mas no final do ano fui procurado por um emissário pessoal de Roberto Civita propondo um acordo: retirariam as ações em troca de eu cessar as críticas e retirar as ações e o pedido de direito de resposta. A proposta foi feita em nome da “liberdade de imprensa”. Não aceitei. Em nome da liberdade de imprensa.

Podem vencer na Justiça graças ao poder financeiro que lhes permite abrir várias ações simultaneamente. Quatro ações que percam não os afetará. Uma que eu perca me afetará financeiramente, além dos custos de defesa contra as outras quatro.

Mas no campo jornalístico, perderam para um Blog e para a extraordinária solidariedade que recebi de blogueiros que sequer conhecia, de vocês, de tantos amigos jornalistas que me procuraram pessoalmente, sabendo que qualquer demonstração pública de solidariedade colocaria em risco seus empregos. Melhor que isso, só a solidariedade que uniu minhas filhas em defesa do pai.

Nota do Viomundo: Toda a minha solidariedade ao Luís Nassif nessa briga desigual.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Os Frias defendem democracia contra as crianças brasileiras

Na semana passada a empresa democrática prestou mais um serviço à democracia brasileira, ao desmascarar o governo federal, que pretende – de forma demagógica, populista, com recursos públicos – cometer mais um crime contra a democracia: doar gratuitamente uniformes escolares para 50 milhões de crianças.

Por Emir Sader, no Blog do Emir


A família Frias é uma família democrática. O pai, democraticamente, legou ao filho a direção da empresa que dirigia há décadas, para garantir que continue sendo uma empresa defensora da democracia.

O filho, desde então, é democraticamente reeleito pelo Comitê Editorial para dirigir a empresa do seu pai. Escreve democraticamente os editoriais do jornal para expressar a opinião da empresa, sem consulta aos jornalistas – que ele mesmo escolhe e demite para democraticamente trabalhar na empresa.

Em nome da democracia, a empresa emprestou graciosamente seus carros para serem usados pela Oban – Operação Bandeirantes -, que zelava, durante a ditadura militar, pela democracia, em nome da qual – com o apoio entusiasta dos jornais da empresa – deu o golpe militar de 1964 -, seqüestrando, torturando, fuzilando, desaparecendo pessoas que se opunham à democracia. Assim a democracia brasileira foi salva de um governo eleito – antidemocraticamente – pela maioria do iletrado (tanto assim que não consome os produtos da empresa Frias) povo brasileiro.

Na semana passada a empresa democrática prestou mais um serviço à democracia brasileira, ao desmascarar o governo federal, que pretende – de forma demagógica, populista, com recursos públicos – cometer mais um crime contra a democracia: doar gratuitamente uniformes escolares para 50 milhões de crianças. Não importa o fato, mas que, alem de gastar recursos dos impostos que a empresa não paga ao governo, fazê-lo em ano eleitoral (dois dos quatro anos do mandato são eleitorais, o que deveria fazer com que um governo democrático se abstivesse desses atos populistas pelo menos durante a metade do seu mandato, cumprindo com os mandatos democráticos do Estado minimo).

Danem-se os 50 milhões de crianças. Afinal, não são consumidores das mercadorias produzidas pelas empresas Frias, não consomem automóveis do ano, não viajam três vezes por ano ao exterior, não bebem uísque importado – em suma, não são leitores que interessem às agencias de publicidade que mantêm, com a propaganda dos seus produtos, a família e suas empresas. Danem-se então. As grandes empresas têm o direito democrático de seguir recebendo isenções, subsídios, créditos, etc., durante os quatro anos dos mandatos, porque seus proprietários e acionistas são pessoas isentas, que só pensam nos interesses do Brasil, não se deixariam levar, de forma mesquinha, nas suas preferências eleitorais, por medidas justas que um governo democrático deve tomar, para resguardar as empresas privadas, democraticamente.

Mas as criancinhas, os seus pais, sedentos de vantagens governamentais para venderem seus votos, sem consciência cívica, serão vitimas dessas medidas que só prejudicam a classe média dos jardins paulistanos, quando acabam tendo que pagar algum imposto, para vê-lo ser desviado para uma obra assistencialista.

Bem fez o candidato democrático dos Frias à presidência, que quando passou fugazmente pela prefeitura de São Paulo, teve tempo de corrigir o abuso dos recursos públicos da sua sucessora petista, que havia doado gratuitamente os uniformes para as crianças das escolas municipais. Esse desperdício foi rapidamente corrigido pelo democrático tucano – perdão pela redundância, tucano é sinônimo de democrata -, que instituiu a publicidade nos uniformes das crianças das escolas públicas.

Mas como se trata de um democrata com critério, proibiu que esses uniformes portassem publicidade de bebidas alcoólicas e de cigarros. As crianças poderiam circular com publicidade de bancos, do McDonald, de empresas de telefonia, dos jornais e revistas dos Frias. Poderiam assim, além de contribuir para as arcas da prefeitura, democraticamente, para que fossem construídos viadutos e tuneis para o eleitorado tucano, se sentir como corredores de Fórmula 1, povoados de publicidades. Esse o destino que o serrista-friista promete para as 50 milhões de crianças que venham a receber os uniformes que, de forma antiditatorial, o governo federal, na sua ânsia incontida de corromper o espírito do povo ignorante e conquistar seus votos, pretende com essa medida que, felizmente para a democracia, a democrática família Frias denunciou.

Fonte: Blog O Terror do Nordeste

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Como se manipula a informação

, no Blog Fazendo Media

A TV Globo está dando, diariamente, exemplos grosseiros de manipulação da informação. O último caso diz respeito à plantação de laranja da empresa Sucocítrico Cutrale, onde, para chamar a atenção da opinião pública, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promoveu uma ação. A Globo, que é associada ao agronegócio, conforme pode ser comprovado no site desse setor, está fazendo um escarcéu, mas esconde um fato importante: a Cotrale ocupa ilegalmente a área e, além disso, a empresa está sendo investigada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo pela formação de cartel no ramo da produção de sucos, prejudicando assim os pequenos produtores. Tem mais: a Receita Federal detectou que a Cutrale contabiliza parte dos seus lucros através de uma empresa sediada no paraíso fiscal das ilhas Caimã e, com isso, consegue realizar uma manobra contábil pagando menos imposto de renda.

Agora, cerca de 250 famílias do MST permanecem acampadas desde o dia 28 de setembro, na fazenda Capim, que abrange os municípios de Iaras, Lençóis Paulista e Borebi, região central do Estado de São Paulo. A área possui mais de 2,7 mil hectares, utilizadas ilegalmente pela Sucocítrico Cutrale para a monocultura de laranja, que demonstra o aumento da concentração de terras no país, como apontou o censo agropecuário do IBGE.

Ainda segundo a denúncia, também não divulgada pela Rede Globo – porque se fosse anularia o escarcéu contra o MST – a Cutrale também já foi autuada inúmeras vezes por causar impactos ao ecossistema, poluindo o meio ambiente ao despejar esgoto sem tratamento em diversos rios. Mas com a proteção e o silêncio da mídia, nenhuma medida foi tomada contra a empresa.

Por estas e muitas outras, em vez de criminalizar o MST com o visível objetivo de fazer o jogo do agronegócio, a Rede Globo deve ser denunciada diante da opinião pública por estar fazendo um jornalismo manipulativo e que serve a interesses escusos. É assim em todas as editorias. Naquela empresa jornalística o que importa é o lucro fácil.

Com raras e honrosas exceções, os espaços midiáticos nacionais aceitam o jogo das Organizações Globo, como se tudo o que é divulgado pelo grupo fosse considerado uma verdade absoluta. Afinal, que poder tem este grupo jornalístico que raramente é contestado? De fato, o que acontece na área midiática hegemônica destas bandas está longe de ser democrático. Na hora em que alguém contesta esse poder, imediatamente os proprietários e diretores sabujos saem em campo para denunciar uma campanha contra a liberdade de imprensa.

Na verdade, os barões midiáticos misturam alhos com bugalhos, ou seja, confundem liberdade de imprensa com liberdade de empresa, uma estratégia que ajuda a escamotear e alcançar o lucro fácil. E para enganar os incautos, ainda por cima aparecem como justiceiros e até mesmo benfeitores em comunidades carentes.

Pauta para os presidenciáveis

É hora, portanto, de a sociedade brasileira refletir e começar a ser informada sobre o que está acontecendo no setor midiático. Em poucos meses começará para valer no Brasil a corrida eleitoral para a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. É preciso que os candidatos a Presidente da República se posicionem e sejam perguntados pelos jornalistas sobre o mundo da mídia.

A mídia hegemônica, seja Rede Globo, Record, Bandeirantes e outras menos votadas, tentará de todas as formas evitar que o tema entre na pauta das discussões dos presidenciáveis. Como nem só de mídia hegemônica vive uma campanha política, se o tema for colocado nos mais diversos espaços midiáticos, nos blogs, em sites progressistas, em TVs e rádios comunitárias, o tema acaba entrando na pauta e obrigará os candidatos a emitirem alguma opinião. É assim que se poderá furar o bloqueio do silêncio sobre o tema, até que em alguma hora algum repórter mais ousado decida, talvez até por conta própria, fazer alguma pergunta sobre isto aos candidatos.

A sociedade brasileira, em suma, precisa ser informada, afinal de contas, no mundo encantado da televisão, é obrigação informar que os canais eletromagnéticos não pertencem a particulares, mas sim ao Estado brasileiro. Portanto, a renovação do canal não pode ser automática, sem que seja exigido um relatório sobre o tipo de atividade que a empresa concessionária do canal realiza. Isso faz parte do jogo democrático, quer queiram ou não os barões da mídia, que se reúnem periodicamente para denunciar quem questiona o poder midiático manipulativo.

A pedagogia oficial paulista e o seu “manual para vigiar e punir”

O tucanato paulista parece mesmo insuperável quando se trata de administrar a educação pública, especialmente sob a batuta do indefectível Paulo Renato de Souza. Por pouco afundavam as universidades públicas federais de uma vez por todas entre 1994 e 2002. A obra só não foi concluída porque faltou-lhes mais um mandato presidencial, que perderam para Lula e o PT em 2002. Não fosse isso, hoje estaríamos entregues à sanha dos empresários que deitaram e rolaram na era FHC, abrindo uma “faculdade” a cada esquina, como quem abre uma quitanda.

Agora vemos do que são capazes em São Paulo. Divulga-se que as escolas estaduais daquele estado contarão com um novo e poderoso aliado na luta contra a indisciplina e a violência no ambiente escolar: um manual de normas e condutas, direitos e deveres para os alunos. A grande novidade do referido instrumento “didático-pedagógico” é que prevê punições para os alunos.

A pergunta que não quer calar é: quem vai punir? Ora, é evidente que essa tarefa recairá sobre os ombros de professores, funcionários e diretores que serão desta forma estimulados a partir para o confronto com os alunos. O senhor Paulo Renato não está a inventar a roda, é claro. Retoma um velho hábito das primeiras décadas republicanas em que os problemas sociais eram tratados pelas autoridades como caso de polícia. Talvez tenha esquecido que professor não veste farda, não usa cassetete e nem anda armado. Sua arma é a palavra.

Por que diachos esses doutos senhores não se perguntam porque as escolas são depredadas e destruídas, seus professores desrespeitados e agredidos e o espaço que outrora destinava-se à educação vai se transformando num cenário de guerra em que dos dois lados tombam vítimas – enquanto o secretário assiste do alto de seu confortável gabinete a barbárie campear?

Enquanto faltar de tudo um pouco para esses jovens que não têm outra alternativa a não ser estudar numa falida rede pública, a escola será o lugar onde a revolta e a indignação continuarão a aflorar. Sem condições de moradia decente, sem renda, sem emprego, sem transporte público de qualidade, sem atendimento digno na rede pública de saúde, mal alimentados e cotidianamente desrespeitados, o que esses estudantes encontram nas escolas? Prédios deteriorados, condições precárias de estudo, falta de professores, mestres desestimulados e pauperizados. E agora um código disciplinar de conduta travestido de manual de direitos e deveres!

Ora, esquece – propositalmente – o governo do estado de São Paulo que professores não são carcereiros e que escola não é presídio. Confunde-se aquele que um dia escolheu o ofício de educar, estimulando-o a punir. Educar não é punir, é gesto de amor, dedicação, compreensão, diálogo e orientação. A cúpula da educação paulista parece que não viu o belo documentário de João Jardim, “Pro dia nascer feliz”. Se viu, não entendeu ou não quis entender. A cúpula da educação paulista parece que nunca ouviu falar de um certo Paulo Freire, não é mesmo?

A garotada que freqüenta a escola pública estadual em São Paulo certamente gostaria de estudar numa escola bonita, dotada de toda infraestrutura e recursos tecnológicos, com professores bem remunerados e motivados, tal como os filhos da burguesia paulistana usufruem diariamente. Na falta disso e de tudo o mais, sentem-se ali mais uma vez oprimidos e desrespeitados, dentro e fora da escola.

A escola que deveria ser um espaço acolhedor e de diálogo, onde os jovens possam se manifestar livremente e ser ouvidos sobre suas angústias e sonhos, há muito tempo já perdeu o sentido. O gesto derradeiro do manual de conduta a respaldar punições – até multas são previstas – passa longe da tarefa de educar. Talvez lembre o delírio tirânico do panopticon em que Foucault viu o espaço por excelência para vigiar e punir. Jamais para educar.

Desse jeito, a iniciativa do governo paulista funcionará como um instrumento ainda mais eficaz não do ponto de vista disciplinar, mas do aprofundamento de uma luta de classes que o tucanato insiste em fomentar. Hoje joga professores contra alunos, amanhã ambos voltarão toda a sua fúria e indignação contra seus verdadeiros carrascos. Quem fomenta o ódio de classe, certamente há de colher os seus frutos.

PS – Em tempo, estaria o tal “manual de conduta” em conformidade com o Estatuto da Criança e do Adolescente? Ou às favas com a lei?

(*) Denilson Botelho é professor de história e autor de A pátria que quisera ter era um mito.

Do Blog Fazendo Média

Emir Sader: A sabedoria popular de Evo Morales

“Melhor um mafioso de sapato que um ignorante de sandália.” O comentário preconceituoso foi feito por uma mulher branca, no vôo de Santa Cruz de la Sierra a Cochabamba. Dá uma idéia do sentimento dessa minoria branca, que sempre governou a Bolívia, durante séculos, ao sentir que o país lhes tinha sido expropriado pelas mãos da grande maioria de povos indígenas.


Por Emir Sader

Sessenta e quatro porcento da população se reconhecem como de origem indígena - aymaras, quéchuas, guaranis ou de outras nacionalidades -, mas nunca tinham governado o país.

Na época da campanha eleitoral havia uma charge em um jornal boliviano, em que quatro mulheres brancas jogavam baralho, quando uma delas pergunta:

- Mas um índio pode ser presidente?

Ao que respondeu uma outra:

- Sim, da Índia.

A forma usual de se dirigir a Evo Morales, presidente da república, é chamá-lo de “esse índio de merda”. No ano passado, na praça central de Cochabamba, estudantes brancos submeteram índios e índios a vexames públicos, violentamente. O racismo da direita, da imprensa e dos governos da região oriental é extremado.

Esse sentimento se aguçou quando as pesquisas eleitorais confirmam o que as eleições do ano passado já haviam revelado: o governo de Evo Morales goza de ampla maioria no país e desta vez deve conseguir não apenas a reeleição e repetir a maioria na Câmara de Deputados, mas conquistar a maioria do Senado, talvez até com 2/3 dos parlamentares. A oposição, derrotada politicamente, concorre com vários candidatos, sempre muito atrás – mesmo somados – da votação prevista para Evo.

Um deles, candidato também nas eleições passadas, Samuel Doria, é quem detêm a marca da Burger King na Bolívia. Seu lema, pintado nas paredes daqui de Cochabamba: “Fazer Bolívia voltar a trabalhar”. Expressa outro preconceito: o de que a região ocidental do país, em que está La Paz e os estados de maioria esmagadora de indígenas, vivem do Estado, de políticas sociais, de subsídios, etc., enquanto o dinamismo e o trabalho ficariam por conta da região majoritariamente branca – a região oriental.

Depois de tentativas de deslegitimação do governo, promovendo projetos autonômicos nas províncias, de forma violenta, a direita se viu derrotada na consulta sobre confirmação de mandatos em agosto do ano passado. Diante dos resultados, promoveu atos violentos de ocupação de prédios do governo federal, agressão a fucnionarios públicos, até que um dos governadores da região oriental, do estado de Pando -, reprimiu uma mobilização de camponeses, matando a vários deles. Isso por si só já gerou seu isolamento, mas o governo passou a atuar, com a prisão do governador e uma grande mobilização de 100 mil pessoas dirigidas por Evo Morales em La Paz. A oposição passou à defensiva, derrotada politicamente. Um dos reflexos dessa derrota é não ter conseguido se unificar e lançar vários candidatos.

A vitória de Evo Morales, com maioria – com a possibilidade de chegar a 2/3 no Senado – permitirá que todo o processo, recém iniciado, de refundação do Estado boliviano, com todo o novo embasamento legal que isso requer, poderá ser feito conforme as orientações do governo. A direita ainda não está derrotada economicamente, dispõe de grande poder econômico – ainda que enfraquecido – e do poder midiático, graças ao monopólio que exerce, tal como acontece nos outros países do continente.

Mas, a três anos e meio da sua primeira eleição, o governo boliviano caminha, seguro, para a sua consolidação. Elabora neste momento uma lei de gestão pública do novo Estado multinacional e autonômico, avançando no projeto de refundação do Estado boliviano. O ex-presidente Sanchez de Losada, refugiado nos EUA, com pedido de extradição pelo governo boliviano para responder na Justiça pelas dezenas de mortes de responsabilidade do seu governo, quando tentava evitar sua queda, representa bem o “mafioso com sapato”. Evo, de sandálias, a sabedoria indígena, camponesa, popular, que para os preconceitos racistas aparece como “ignorância”.

Do Portal Vermelho.org

ENEM 2009: Fraude ou Armação Política?


Felipe Pradella: Corretor de imóveis, de 32 anos, contratado pela Cetro, uma das empresas terceirizadas pelo MEC para a impressão do Enem.
O serviço era feito na gráfica Plural


A matéria publicada na revista Época, assinada por Ana Aranha e Victor Ferreira, é o retrato fidedigno do jornalismo brasileiro: tendencioso, inconsistente e pouco investigativo. Há de se perguntar se a cara e o caro jornalistas investigaram efetivamente os fatos ou foram dissuadidos a não publicarem o resultado de tais investigações ou, ainda, se são realmente incompetentes (em respeito ao trabalho e ao papel profissional que ambos sonharam desempenhar, quero acreditar que não). Mas, cá para nós, por que a matéria não faz menção à Lei de Licitações, de numero 8666/93, artigo 87, Seção II, “Das Sanções Administrativas”? Por que os jornalistas não entrevistaram os responsáveis pela gráfica Plural?

Abaixo a matéria da Época (com as dúvidas expressas da editoria do Terra Brasilis) e, em seguida, o que diz o artigo 87, Seção II da Lei de Licitações:

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Felipe Pradella: "Todo mundo tinha acesso à prova"

Um dos indiciados pelo roubo do Enem (sic) (acho que roubaram as provas, não é isso?!?) conta sua versão dos fatos relativos ao vazamento do exame

Ninguém saiu ileso. O novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) prometia transformar a educação e gerar um sistema mais justo e transparente para escolher os alunos mais capazes de frequentar as universidades brasileiras. Em vez disso, tornou-se um festival de trapalhadas que lembra um filme de pastelão. Quem conseguir acompanhar a complexa trama que precedeu e se seguiu ao vazamento da prova chegará a uma conclusão inescapável: uma quadrilha de amadores (a gráfica Plural contrata amadores para um serviço sério como esse?!?! Será que não existem as mãos e mentes de um expert ou vários por trás de tudo isso?!?!) atrapalhou a vida de 4,1 milhões de estudantes, revelou a fragilidade do sistema de segurança das provas (a gráfica Plural não se cercou da devida e imperativa segurança para que tais fatos não viessem a ocorrer?!?!), convulsionou o calendário educacional brasileiro e trouxe embaraço para as autoridades – tanto aquelas que sonhavam em criar um novo vestibular mais justo quanto os investigadores da polícia cuja missão é simplesmente prender os culpados (cabe às autoridades e à Polícia Federal desfazer o embaraço, exigindo responsabilidades da gráfica Plural e de quem mais tenha neglicenciado no que diz respeito à execução desse contrato!).

Na madrugada da última sexta-feira, numa entrevista que durou uma hora e meia, aquele que é acusado de ser o mentor do vazamento trouxe ingredientes fundamentais para entender a confusão. Pela primeira vez, um envolvido narra sua versão dos fatos.


[...]

O corretor de imóveis Felipe Pradella parece não ter noção da gravidade da situação em que se envolveu. Indiciado pela Polícia Federal como um dos cinco responsáveis pelo vazamento e roubo da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Pradella diz que estava tentando ajudar milhões de estudantes. “Um monte de gente ia passar por uma fraude”, afirma. “Consegui delatar, mas eu queria ter ganhado o mérito.” Nervoso, Pradella só aceitou dar entrevista na madrugada da sexta-feira dia 9, ao lado da advogada. Durante uma hora, contou como eram as condições de segurança na preparação do exame, como aconteceu o vazamento e falou sobre a tentativa de vender a prova para a imprensa.


Entrevista: Felipe Pradella

ÉPOCA – Qual era sua função na gráfica que imprimia o Enem?
Felipe Pradella –
Fui contratado como conferente, mas não tinha uma função específica. A gente embalava caixas, conferia mercadoria, retirava pallets, que é onde ficam as provas lacradas.

ÉPOCA – Quantas pessoas faziam isso?
Pradella –
Trinta ou 40, sem função definida.

ÉPOCA – Todos tinham acesso à prova?
Pradella –
Todo mundo tinha acesso à prova. A gente não tinha um local específico para ficar e para trabalhar. Só na impressão a gente nem passava perto.

ÉPOCA – As provas já vinham lacradas dentro de um envelope?
Pradella –
Não, vinham num papel com a capa. Depois, no final, para levar as provas para as escolas, é que estavam lacrando e colocando nas caixas.

ÉPOCA – Quais eram as instruções de segurança?
Pradella –
Não podia entrar com celular e bolsa. No dia em que o rapaz contratou a gente, disse:“Não pode falar em bares e lanchonetes, não pode divulgar o que vocês estão trabalhando”. Fui saber no segundo ou terceiro dia que era o Enem.

ÉPOCA – Onde ficavam bolsa e celular?
Pradella –
Deixava no carro. A instrução é que não podia entrar com celular. E muitas vezes eu mesmo esqueci e entrei, atendia lá dentro, normal. Às vezes, eu até falava (para colegas) que não era para ficar atendendo celular toda hora. Mas todo mundo atendia namorada, esposa, filho. Não tinha alguém que vigiasse.

ÉPOCA – Faziam revista? Os funcionários eram revistados na entrada e na saída?
Pradella –
Nunca teve.

ÉPOCA – Não havia seguranças?
Pradella –
Tinha pessoas que eu não sei dizer se eram da Polícia Federal ou Civil. Eu conversei com um que é policial civil. Eram cinco, que trocavam de turno, ficavam sentados, olhando se tinha alguém mexendo na provas.

ÉPOCA – Quando você percebeu que a prova poderia ser vazada?
Pradella –
Na hora em que ela chegou na minha mão e contei para o meu amigo, o Gregory (o DJ Gregory Camillo). Ele falou: “Como arrumou?”. Eu falei: “Foi o moleque que trabalha lá (Felipe Ribeiro) que me deu”. Ele disse: “Isso dá o maior furo jornalístico, vamos divulgar”. Eu falei: “Se está comigo, com quantas pessoas não está? Vamos fazer uma denúncia”. “Vamos, dá até para ganhar um dinheiro.”

ÉPOCA – Como foi o vazamento?
Pradella –
Não sei. Recebi a prova no carro, indo embora do serviço. Como o Felipe (Ribeiro) pegou, não perguntei. Eu estava quase para descer do carro, e ele falou: “Estou com a prova aqui”. Ela estava meio fechada, dei uma olhadinha. Ele falou: “Fica a prova aí com você”. Eu guardei na bolsa. Isso foi dia 23 ou 24.

ÉPOCA – A polícia disse que a prova vazou no dia 21 de setembro. Ela ficou com o Felipe esse tempo todo?
Pradella –
Não sei.

ÉPOCA – Você ficou sozinho com a prova?
Pradella –
A prova ficou na bolsa, eu fui para casa dormir. Na hora de ir trabalhar, peguei a bolsa, e ela ficou no carro. No outro dia, encontrei com esse meu amigo (Gregory, o DJ). Na hora em que ele ouviu do Enem, já cresceu o olho. Ele falou que conhecia umas pessoas que dava para divulgar. Pensei na segurança (da gráfica). Tem uma hora que para um ônibus, com gente que vem trabalhar duas ou três vezes por semana, e desce (sic) dois ônibus cheios, tudo entrando na gráfica. Pensei em quanta gente já devia ter essa prova.

ÉPOCA – Depois a prova ficou com quem?
Pradella –
Com ele (Gregory), que foi fazer os contatos. No dia seguinte, o Gregory falou que estava resolvendo. Aí ele foi me buscar. Disse que tinha um colega que ia auxiliar. Chegamos lá, era uma pizzaria desse rapaz (Luciano Rodrigues). Ele viu e falou: “O negócio é sério, dá para vocês fazerem um furo legal”. Ele ligou para um monte de gente. Acho que já ligou para a Renata (Cafardo, repórter de O Estado de S. Paulo, jornal que divulgou o vazamento da prova). Ele anotou um monte de telefones e deu na mão do Gregory.

ÉPOCA – Como surgiu a questão do dinheiro? Luciano teria parte no dinheiro?
Pradella –
Não, ele não falou a respeito.

ÉPOCA – O contato com a imprensa foi no dia seguinte?
Pradella –
Eu estava na casa da minha namorada, ele ligou e disse: “Vem para cá, a gente precisa conversar”. Já tinha entrevista com um fulano. A gente encontrou com três pessoas, até um rapaz da Globo (Editora Globo, um repórter de ÉPOCA). O primeiro contato foi com o rapaz da Record. Eu cheguei e eles (Gregory e o repórter) já estavam conversando. O cara estava falando: “R$ 500 mil é um negócio interessante, interessa para mim, vou entrar em contato”. O Gregory deu um telefone para ele.

"A instrução (da gráfica) é que não podia entrar com celular.
Muitas vezes eu mesmo esqueci e entrei, atendia lá dentro, normal"

ÉPOCA – Você já sabia quanto seria?
Pradella –
Não. Aí ele disse que tinha que ir porque já tinha marcado com o cara da ÉPOCA. No momento em que eu cheguei, ele (Gregory) falou para perguntar se interessava comprar matéria. Ele (repórter) falou: “O que vocês têm?”. Eu falei e disse que a Record acabou de oferecer R$ 500 mil. Aí o Gregory chegou e perguntou se interessava. Fui saindo, não sei, ele (o repórter) falou que a Globo não comprava.

ÉPOCA – E depois?
Pradella –
Estava quase no horário da entrevista com a Renata. Chegamos, e o Gregory falou que ia estacionar. Num primeiro momento, não vi os dois (jornalistas do Estado de S. Paulo). Peguei meu celular porque ele (Gregory) demorou, e fui lá fora ligar. Foi a hora da foto do jornal. Deu um minuto, ele apareceu. Ela (a repórter) falou: “E aí, o que vocês têm?”. Gregory falou: “Tô com o Enem, é um furo, a gente quer vender”. Ela falou: “Quanto é?”. Ele falou: “O cara da Record ofereceu R$ 500 mil”. O Sérgio (Pompeu, o outro repórter de O Estado de S. Paulo) se interessou. Esse cara falou: “A gente se interessa, mas a gente quer exclusividade e preciso ligar para o meu diretor”. Ela pediu para dar uma olhada na prova. Acho que os dois ficaram meio abismados. Falaram: “Até as 11 horas eu ligo para o Gregory”.

ÉPOCA – Como foi sua reação quando saiu a primeira reportagem?
Pradella –
Acordei cedo na minha namorada, 8 horas, passou no jornal, na TV. Eu estava tomando café, quase engoli o copo. “Vazou informação...” “Dois rapazes...” Quase morri do coração. Primeiro, fiquei revoltado, passou na TV que melou o Enem e eu vi minha foto. Pensei: “Meu Deus, eles falaram que iam comprar uma informação, não entendi”. Liguei para o Gregory e falei: “Meu, você viu o que ela fez?”. E ele disse: “Depois te ligo, não posso falar no telefone”. Desligou. Liguei à tarde, ele não atendeu mais.

ÉPOCA – Como foi sua reação quando soube que o Enem havia sido cancelado?
Pradella –
Consegui o que eu queria, delatar o fato ocorrido. Mas eu queria ter ganhado o mérito. O que apareceu foi o contrário. Queria ter aparecido como o cara que fez uma denúncia, que salvou um monte de alunos.

ÉPOCA – Você achou que estava ajudando?
Pradella –
Achei não, eu ajudei os alunos. Se fosse depois da prova, do que ia adiantar? Um monte de gente ia passar por uma fraude. Mas não foi esse o mérito que eu ganhei.(ÉPOCA)

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ENEM: aplique-se a Lei 8666/93 ao Grupo Folha

No âmbito do direito cível e do administrativo, a gráfica Plural, que pertence ao grupo Folha de São Paulo, foi contratada por meio de licitação pública. Ou seja, comprometeu-se a cumprir todas as exigências do edital, pelo menor preço. E uma dessas exigências era o sigilo e a confidencialidade do trabalho, que era a impressão de provas de um concurso. E a essa exigência, evidente e notoriamente o grupo não cumpriu.

O roubo das provas do ENEM está sendo apurado pela Polícia Federal.
Três empregados da gráfica Plural já estão presos e confessaram terem participado da ação.

Um deles, disse que roubou para denunciar a falta de segurança.

Os outros dois disseram que era para “fazer um dinheirinho”.

No âmbito do direito cível e do administrativo, a gráfica, que pertence ao grupo Folha de São Paulo, de propriedade do senhor Otávio Frias, aquele que diz que eleições no Brasil não valem nada, foi contratada por meio de licitação pública.

Ou seja, comprometeu-se a cumprir todas as exigências do edital, pelo menor preço. E uma dessas exigências era o sigilo e a confidencialidade do trabalho, que era a impressão de provas de um concurso. E a essa exigência, evidente e notoriamente o grupo não cumpriu.

O prejuízo para milhões de jovens foi incalculável, pois todo o “stress” que é natural na preparação do aluno, terá que ser repetido.

O prejuízo financeiro para o governo, para imprimir novas provas, será de 34 milhões de reais.

Mas o prejuízo maior, aquele que foi causado pela quebra do sigilo, atinge ao próprio sistema educacional brasileiro, pois transmite a impressão de que exista falta de organização, de segurança e de confiabilidade no sistema do ENEM.

Consultando a Lei de Licitações, de numero 8666/93, verifica-se em seu artigo 87, na Seção II, “Das Sanções Administrativas”:

Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Administração poderá,
garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as seguintes sanções:

I - advertência;

II - multa, na forma prevista no instrumento convocatório ou no contrato;

III - suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de
contratar com a Administração, por prazo não superior a 2 (dois) anos;

IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida sempre que o contratado ressarcir a Administração pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da sanção aplicada com base no inciso anterior.


Nada mais normal e justo para com todos os outros fornecedores, que cumprem em dia com todas as suas obrigações, que em obediência à lei, o Grupo Folha de São Paulo seja proibido de prestar serviços para qualquer entidade da administração pública pelo prazo de dois anos.

Garantindo-se, é claro, o direito de defesa da Folha de São Paulo de tentar convencer os juízes e magistrados e principalmente à sociedade e principalmente aos estudantes e seus pais de que não foi de dentro de sua gráfica que as provas vazaram.

Afinal, não é porque seja de propriedade de um jornal de oposição ao governo federal que a Folha de São Paulo deveria ser poupada da punição legal. Uma punição administrativa prevista em lei, para fato tão bem caracterizado, nunca poderia ser tomada como “perseguição política” ou tentativa de calar a imprensa que faz oposição ao governo.

Transigir nessa hora seria contrariar a lei e os direitos de todos os demais fornecedores, inclusive de material didático, que cumprem cabalmente seus contratos e não permitem que esse tipo de incidente ocorra.

Com a palavra o Ministério da Educação e a Polícia Federal.

As famílias dos jovens fraudados em suas esperanças esperam que ambos os órgãos cumpram o seu dever, apurando com isenção e sem interferência da política, o ocorrido.

E punindo, na forma da Lei, não apenas aos autores materiais desse crime, mas aos seus autores intelectuais, se existirem e aos que possuem responsabilidades objetivas no caso, por força de contrato firmado com a Administração Federal.

Simples assim. (Carta Maior).

Do Blog TERRA BRASILIS