sábado, 25 de fevereiro de 2012

Para que serve a Grécia

Sanguessugado do blog do Miro

Por Isaac Rosa, no sítio Outras Palavras:

Já podem dormir tranquilos os gregos, porque a Europa não abandonará o país. Preferirá mantê-lo pendurado no abismo, agarrado pelos cabelos e sempre a poucos minutos da quebra total. Mas não permitirá que despenque, porque a Grécia cumpre hoje um papel essencial na Europa. A imagem de um país quebrado, asfixiado, submetido a chantagem, despojado de sua soberania, com a população sofrendo apertos sucessivos e as ruas incendiadas, tem diversas serventias.

Os governantes podem apoiar-se no caso grego para nos convencer de que precisamos nos comportar, fazer as “lições de casa” e pagar a dívida – do contrário, vejam os gregos onde acabaram, por terem cabeça fraca. “Observem o que se passa na Grécia agora mesmo”, dizia Sarkozy aos franceses segunda-feira, e completava: “Quem gostaria que a França estivesse na situação da Grécia?”

Os apóstolos do choque também tiram proveito da situação grega: é um laboratório em condições reais, com os cidadãos como cobaias, para testar até onde se pode liquidar, empobrecer e humilhar um país sem que estourem as costuras. Sim, queimaram edifícios, atiraram pedras, mas a vida segue. A Grécia está sob ruído e fumaça, mas ainda não passou por um levante social. Por isso, seguiremos apertando, para ver até onde aguenta.

Quanto aos cidadãos europeus, a lição os massacra por seu próprio peso: “Olhe para que serve protestar: apenas para quebrar tudo, sem conseguir nada”. “Por que faremos uma greve? Os gregos estão na enésima, e nada”. E, inclusive: “Bem, a reforma trabalhista é dura, mas não estamos tão mal. Pior estão os gregos…”

Não é certo que o plano tenha êxito. Os cortes de direitos e serviços públicos continuam, mas na última votação houve 43 deputados desertores. O premiê-tecnocrata Papademos sua para levar adiante seu plano. E na polícia, começam a surgir agentes que não estão dispostos a continuar reprimindo seus vizinhos, como o sindicato policial que pediu a prisão da Troika [designação cada vez mais frequente para União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional]. De qualquer forma, a lição para nós deveria ser outra: “Sozinhos, os gregos não podem. Precisam de nossa ajuda”.

* Tradução de Antonio Martins

A tolerância com os bandidos simpáticos

Extraído do blog O Esquerdopata

O crime organizado, carnaval e futebol 

Por mais importante seja a alegria do povo, nas arquibancadas dos estádios e das passarelas do carnaval, uma coisa não pode ser confundida com a outra. A corrupção e o jogo do bicho são atividades criminosas, e devem ser investigadas e punidas.
Mauro Santayana, Carta Maior
Conhecidos jogadores de futebol, ídolos do público, como Ronaldo e Neymar, defendem o Sr. Ricardo Teixeira das acusações que lhe estão sendo feitas. Para os dois profissionais, o presidente da CBF é um homem excepcional, que prestou grandes serviços ao esporte, e não deve ser afastado de seu cargo. Ao mesmo tempo, diretores de escolas de samba investem contra o governador Sérgio Cabral, que fez declarações contra a participação dos bicheiros no carnaval carioca. Ora, se se confirmarem as denúncias contra Teixeira e seu sogro, João Havelange, eles poderão ser qualificados como participantes de uma forma de crime organizado. E o jogo do bicho, até que haja leis em contrário, é uma atividade criminosa. 
Por mais importante seja a alegria do povo, nas arquibancadas dos estádios e das passarelas do carnaval, uma coisa não pode ser confundida com a outra. A corrupção e o jogo do bicho são atividades criminosas, e devem ser investigadas e punidas. O episódio nos conduz a pensar um pouco sobre a tolerância nacional para com os que violam as leis. Homens públicos de biografia conhecida se tornam facilitadores de negócios, sob o rótulo genérico de consultores. A atividade de consultores está ligada à especialidade de cada um deles. Um jornalista pode dar consultoria em divulgação de empresas: é sua especialidade. Um engenheiro calculista faz o mesmo, e o mesmo pode fazer um geólogo. Os médicos e advogados são consultores de tempo integral. Mas os lobistas não são consultores: são corretores de negócios – geralmente negócios com o poder público.
Os ídolos do público, jogadores de futebol ou sambistas, vivem em outra dimensão da realidade. Os craques de futebol, principalmente os de hoje, estão afastados da maioria da sociedade. Ganham fortunas, porque, com seu talento, geram fortunas ainda maiores. Fora alguns casos – e Romário é um deles -, distanciam-se das coisas cotidianas e vivem, como é natural, navegando nas nuvens da própria glória. Não deviam, sendo assim, imiscuir-se nas coisas políticas. 
É de se recordar a desastrada declaração de Pelé, a de que o povo não sabe votar, feita ainda durante o regime militar. Recorde-se que grande parte de sua carreira coincidiu com o auge da Ditadura, quando um dos presidentes, Garrastazu Médici, se jactava de ser o maior torcedor brasileiro, a ponto de dar palpites sobre o elenco da seleção e receber a corajosa resposta de João Saldanha: “ao presidente cabe escalar o Ministério, e, a mim, escalar o time”. 
É velha a tolerância nacional para com os bandidos simpáticos. Durante muitos anos reinou, absoluto, como o maior contrabandista do Rio, o célebre Zico, proprietário do famoso Bar Flórida, da Praça Mauá. O bar era o ponto mais conhecido da boemia carioca, freqüentado por prostitutas, marinheiros e malandros. Milionário, Zico era, como todos os sujeitos de sua estirpe, generoso por esperteza, a fim de angariar o apoio de parcelas da população, e financiador de vereadores cariocas. Conta-se que até mesmo Dutra, presidente de sua época, o recebia no Catete. Ao que se sabe, ele nunca foi incomodado pela polícia. 
Estamos em uma fase de saneamento moral na atividade política, com a aprovação definitiva da exigência de ficha limpa aos candidatos aos cargos eletivos. Alguns governos estaduais – e o primeiro deles foi o de Minas – já adotaram a exigência e se comprometem a não nomear quem não possa cumpri-la. Seria bom que as escolas de samba não se deixassem governar por notórios bicheiros, e que o futebol voltasse a ser o que foi no passado. Tudo isso é difícil, mas não podemos esmorecer.
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

Presidente de Cuba se reúne com senadores dos EUA

O presidente de Cuba, Raúl Castro, recebeu nesta sexta-feira sexta-feira (24) uma delegação de parlamentares norte-americanos que visita o país. Raúl reuniu-se com os senadores Patrick Leahy (Partido Democrata) e Richard Shelby (Partido Republicano).


Os dois se encontram em Cuba como parte de uma delegação de senadores e representantes do Congresso dos Estados Unidos. O ministro cubano das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez Parrilla, também participa das reuniões.

Os Estados Unidos instauraram a partir de 1962 um pesado bloqueio econômico, comercial, financeiro e bancário, causando danos à economia da Ilha que ultrapassam a casa de US$ 1 bilhão.

“Ao longo desses 50 anos, as diversas medidas do bloqueio custaram mais de um trilhão de dólares ao nosso país”, afirmou recentemente ao site brasileiro Opera Mundi o vice-ministro de Investimento Externo e Comércio Exterior, Orlando Guillén.

“Os EUA não apenas romperam unilateralmente com o comércio, mas congelaram ativos do Estado cubano e estabeleceram punições a empresas de outros países que queiram ter relações normais conosco.”

Com informações da Prensa Latina

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Senador do PR é réu no STF em ação sobre trabalho escravo


O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira (23), por 7 votos a 3, abrir ação penal contra o senador João Ribeiro (PR-TO) para apurar se ele tratou como escravos 35 trabalhadores de sua propriedade, a Fazenda Ouro Verde, localizada no interior do Pará.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a situação foi constatada entre janeiro e fevereiro de 2004, quando o político era deputado federal.

De acordo com a denúncia, os trabalhadores estavam em condições subumanas de trabalho e acomodação, sem sanitários ou água potável para beber, com jornadas que podiam chegar a 12 horas diárias. Os auditores do trabalho também constataram que as compras de alimentos e de material de trabalho eram descontadas dos salários, criando uma dívida impossível de ser paga. Em sua defesa, Ribeiro disse que nenhum empregado era proibido de sair da fazenda e que jamais sofreu qualquer espécie de coação ou ameaça.

O julgamento havia começado em 2010, com o voto da relatora Ellen Gracie, hoje aposentada, favorável à abertura da ação penal. Foi interrompido por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes, que devolveu o processo para julgamento. Hoje Mendes votou pela inocência de Ribeiro. “Se for dada à vítima a liberdade de abandonar o trabalho, rejeitar as condições supostamente degradantes, não é razoável pensar em crime de redução à condição análoga ao trabalho escravo”.

Acompanharam o entendimento de Mendes os ministros Antonio Dias Toffoli e Marco Aurélio Mello, alegando que a situação dos empregados era apenas degradante, e não semelhante à escravidão. O presidente do STF, Cezar Peluso, aceitou apenas a denúncia para apurar se houve tratamento de empregados como escravos. A denúncia também acusa os crimes de aliciamento fraudulento de trabalhadores e frustração de direito assegurado na legislação trabalhista.

O senador também responde a outra ação penal por peculato no STF e está sendo investigado em dois inquéritos – um para apurar crime de estelionato e outro relativo a crimes contra o meio ambiente.

Agência Brasil

Vídeo: tucano aplaude tucana que ataca Cerra

Extraído do blog Conversa Afiada


O Conversa Afiada agradece a sugestão dos amigos navegantes e exibe o vídeo em que a tucana Catarina Rossi, do diretório do PSDB de Indianópolis, bairro nobre de São Paulo, espinafra o Padim Pade Cerra e é aplaudida pelos tucanos.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

E se os sonegadores fossem expostos em praça pública?

Durante o Carnaval, um homem – que já havia bebido todas e mais uma – contava suas diabruras contábeis para outros amigos em uma mesa de bar na Vila Madalena, em São Paulo (juro que não queria ouvir, mas ele estava se esgoelando de gritar. Fazer o quê?). Em determinado momento, ele disse que só recolhia imposto previdenciário no Brasil quem era otário.
Que bonito isso! Ver sonegadores saindo do armário, sem vergonha de serem felizes, mostrando ao mundo sua cara de peroba.
Em primeiro lugar, se algumas empresas não sonegassem esses impostos ou, na melhor das hipóteses, não empurrassem seus débitos com o INSS com a barriga, o “déficit” previdenciário não seria do tamanho que é. Coloco sempre essa palavra entre aspas porque ela tem que ser entendida de outra forma. Previdência não é para dar lucro ou mesmo empatar, não é banco, apesar do desejo de muitos. Deve cumprir uma função social e ser um instrumento para garantia da qualidade de vida. De um lado, critica-se os “déficits”, de outro sonega-se. Lindo.
Mas, japa, daria para reduzir impostos em algumas áreas e facilitar a vida de quem produz e quer pagar os impostos conforme a lei, não?
Sim, há mudanças importantes que podem ser feitas – sem que seja preciso mexer na legislação trabalhista. Por exemplo, rebaixar a contribuição de trabalhadores e empregadores ao INSS, compensando com a tributação do faturamento de empresas que não são intensivas em mão-de-obra ou que não fazem recolhimento per capita do INSS de seus empregados, como instituições do sistema financeiro ou empresas que usam alta tecnologia. Quem contrata mais, deveria recolher menos à Previdência do que os que contratam menos. Uma redistribuição dos tributos também cai bem, zerando os que recaem sobre a cesta básica, por exemplo. Afinal de contas, o aumento da produtividade e o aumento na arrecadação devem levar à diminuição do custo de vida para o trabalhador e não ao enriquecimento de alguns.
Tenho um milhão de críticas ao atual governo venezuelano. Mas gostei de uma ideia que veio de lá. A placa acima estaria sendo colocada em empresas que sonegaram impostos previdenciários. Expostos ao público, talvez os empregadores pensariam duas vezes antes de dar um calote nos trabalhadores. Ou, pelo menos, o povo saberia quem atua dentro da lei e quem fica apenas no discurso.
Não temos um “impostômetro” para mostrar os tributos pagos pela sociedade? Pois bem, mais útil do que um “sonegômetro” que apontaria “quanto” é saber “quem” foi que (não) fez.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O embate ideológico por trás de Pinheirinho

por Miguel do Rosário
O principal argumento que tenho escutado para justificar a violenta reintegração de posse da comunidade de Pinheirinho é o de que a polícia tinha de cumprir uma determinação judicial. É a lei, estúpidos. Outro argumento, ligado a este, atribui a culpa à propriedade privada. É o capitalismo, estúpidos.
Não concordo com nenhum dos dois.
A questão judicial encontrava-se absolutamente confusa. Havia uma determinação da Justiça Federal para que a ordem não fosse cumprida. Enfim, o governador deveria pôr-se como o representante do povo e entrar com um recurso contra a reintegração.
A culpa é do governador, do prefeito de São José dos Campos e do PSDB de uma forma geral, por ter se tornado um partido de extrema-direita.
O governo federal tem culpa também, porque não impediu o desastre. Deveria ter feito alguma coisa mais enfática. É uma culpa secundária, porém, porque há informações de que havia um acordo em curso, que foi rompido unilateralmente pelo governo do estado, que usou inclusive artimanhas para enganar os negociadores.
O mais incrível é a urgência com que o governador mandou demolir todas as casas. Tanta, que sequer aguardaram alguns moradores tirarem seus pertences. Casas foram derrubadas com móveis e tudo. Um dos observadores da ONU disse estar tentando reverter a decisão judicial (o que duvido que aconteça), e se conseguir, quem pagará pelo patrimônio destruído?
A falta de sensibilidade é aterradora. As pessoas enfeitam suas casas com quadros, gravuras, fotografias. Trocam pias. Instalam chuveirinho. Fazem armários embutidos. Destruir casas é destruir uma propriedade privada.
O que vimos aqui foi um crime contra a propriedade privada de trabalhadores. O terreno em questão não era deles, mas poderia vir a ser, se houvesse vontade política das autoridades. Mas os imóveis construídos sobre os terrenos, estes lhes pertenciam por direito. Por isso, eles tem direito à uma indenização do Estado.
O anúncio de aluguel social, por parte do senhor Geraldo Alckmin, governador, é uma confissão de incompetência, falta de noção, desfaçatez e oportunismo. Se a remoção tivesse sido planejada com um mínimo de humanismo, os moradores deveriam ter saído pacificamente já com um contrato de aluguel social em mãos, para que não houvesse necessidade de passarem os próximos dias em acampamentos infectos. E o estado deveria se encarregar de translado dos pertences para um conjunto habitacional novo.
O prefeito de São José dos Campos persegue a comunidade do Pinheirinho há tempos. O blog do Nassif, que é na verdade uma extraordinária comunidade de leitores, trouxe informações aterradoras sobre decisões da prefeitura de cortar qualquer assistência social à Pinheirinho.
Soubemos também que SJC é uma das cidades mais ricas e prósperas do país, o que somente agrava o egoísmo de sua prefeitura e das forças políticas que a lideram.
Nem o capitalismo nem a lei justificam a violência em Pinheirinho. Países capitalistas como EUA, França, Suécia, Japão, jamais fariam algo assim. Nem contra imigrantes ilegais, que dirá contra seus próprios cidadãos.
A nossa Constituição tem dispositivos que impedem o Estado de executar esse tipo de ação bárbara. Há muitas leis que protegem o cidadão, por sua dignidade, outras que falam de uso social da terra. Pode-se usar até mesmo a lei da propriedade para defendê-los, já que os tijolos das casas, suas ferragens, suas fiações e instalações hidráulicas lhes pertenciam e foram destruídas a toque de caixa sem o mínimo respeito.
Enfim, não há desculpa para a reintegração de posse de Pinheirinho. Foi um crime e ponto final. Os moradores devem requerir indenização, e as autoridades devem ser responsabilizadas, inclusive a juíza que concedeu a liminar. Se tivéssemos uma imprensa decente, poderíamos realizar uma investigação sobre os bastidores dessa decisão. A especulação mobiliária é umas das principais fontes de corrupção. Uma ação que teria, naturalmente, repercussão tão negativa, inclusive eleitoral, só pode ser explicada por interesse pecuniário e propina.
Há uma coisa muito maligna sendo gestada junto ao poder paulista. Confiram essa foto que um colega tuiteiro tirou da página da secretaria de Segurança Pública de SP.

O relatório sobre o Afeganistão que o Pentágono não quer que você leia - Por Michael Hastings!

Afeganistão: Ecos do Vietnã - por Michael Hastings, da Rolling Stone, através do Viomundo

O relatório sobre o Afeganistão que o Pentágono não quer que você leia - Por Michael Hastings*
 
do site da Rolling Stone, tradução de Heloisa Villela

No começo da semana, Scott Shane, do New York Times, publicou uma matéria bombástica sobre o coronel Daniel Davis, um veterano do exército com 17 anos de experiência que voltou há pouco de uma segunda missão no Afeganistão.

De acordo com o Times, Davis, de 48 anos, escreveu um relatório de 84 páginas, que não é secreto, e também um segundo relatório, secreto, onde apresenta sua avaliação a respeito da guerra que já leva uma longa década. A avaliação, essencialmente, é de que a guerra é um desastre e que o alto comando militar não disse ao público norte-americano quão ruim ela tem sido.

“Quantos mais precisarão morrer dando apoio a uma missão que não está tendo sucesso?” Davis pergunta abertamente no artigo em que resumiu suas ideias, publicado no jornal das Forças Armadas.

No mês passado Davis submeteu o relatório – intitulado “Dereliction of Duty II: Senior Military Leader’s Loss of Integrity Wounds Afghan War Effort” – para revisão interna no Exército. Assim, o relatório poderia ser divulgado para o público. Porém, de acordo com oficiais militares que acompanharam de perto a história, o Pentágono se recusa a divulgar o documento.

A Rolling Stone conseguiu uma cópia da versão de 84 páginas, não secreta, que está circulando dentro do governo norte-americano, inclusive na Casa Branca. Decidimos publicar na íntegra; vale a pena ler por conta própria.

Na minha avaliação, é um dos documentos mais significativos já publicados por um oficial da ativa nos últimos dez anos.

Aqui estão as primeiras linhas do relatório: “Os oficiais militares mais graduados dos Estados Unidos, quando se comunicaram com o Congresso ou com o povo norte-americano, distorceram a verdade a respeito das condições no Afeganistão de uma maneira que a verdade se tornou irreconhecível.

Essa enganação prejudicou a credibilidade dos Estados Unidos entre nossos aliados e nossos inimigos, limitou severamente nossa habilidade de alcançar uma solução política para a guerra do Afeganistão”.

Davis segue em frente para explicar que tudo no relatório vem de “fontes abertas”, ou seja, informação não secreta. De acordo com Davis, o relatório secreto, que ele submeteu legalmente ao Congresso, é ainda mais devastador.

“Se o público tivesse acesso a esses relatórios secretos ele veria o abismo dramático que existe entre o que os nossos principais líderes dizem em público e o que é realmente verdadeiro por trás dos panos”, escreve Davis.

“Seria ilegal, da minha parte, discutir ou citar material secreto em um meio aberto, por isso não vou adiante; não sou o cara do WikiLeaks Part II.”

De acordo com a reportagem do Times, Davis deu um briefing a quatro congressistas e dezenas de funcionários do Congresso e mandou o relatório secreto para o inspetor geral do Departamento de Defesa e, claro, falou com o repórter do jornal; somente depois de tudo isso ele informou ao comando o que estava fazendo.

Evidentemente, a campanha de Davis pela verdade chacoalhou o Pentágono, levando oficiais anônimos a ameaçarem com a possibilidade de instaurar investigações por “possíveis violações de segurança”, de acordo com a [rede de televisão] NBC.

Apesar dos críticos tentarem desmerecer as afirmações de Davis como apenas opiniões de um “reservista” – como disse Max Boot – o relatório dele tem várias revelações, análises e dados que comprovam cada uma de suas afirmações.

Ele detalha o grande desastre do programa de treinamento do exército afegão, como o exército cruza a fronteira entre relações públicas e “operações de informações” (significa, essencialmente, propaganda), e a manipulação da mídia norte-americana por parte do Pentágono. (Ele contrasta, com conhecimento, as declarações públicas de altos oficiais militares com a realidade aguda no Afeganistão).

Davis conclui: “Minha recomendação é de que o Congresso dos Estados Unidos – as comissões das Forças Armadas da Câmara e do Senado, em particular – deve conduzir uma investigação bipartidária sobre as várias acusações de desonestidade e fraude contidas nesse relatório e audiências públicas também”, ele escreve.

“Essas audiências devem incluir os generais mais graduados e generais reformados aos quais me refiro neste relatório, para que possam ter todas as chances de dar ao público a versão deles.” Em outras palavras, colocar os generais sob juramento e, aí sim, ver que história eles contam.

*Michael Hastings é editor contribuinte da Rolling Stone e autor de “The operators: The Wild and Terrifying Inside Story of America’s War in Afghanistan”.

Aqui, para quem quiser baixar, o relatório completo em inglês:

http://www1.rollingstone.com/extras/RS_REPORT.pdf

Link:

 http://www.viomundo.com.br/politica/afeganistao-ecos-do-vietna.html

Chávez anuncia nova operação e chama o povo à luta

Pescado no Vermelho.Org

Nesta terça-feira, o presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo Chávez, informou que nos próximos dias terá que ser submetido a uma nova operação, depois que foi detectada uma lesão de dois centímetros de diâmetro no mesmo lugar em que foi extraído um tumor cancerígeno em junho do ano passado.


"Iremos adiante! Me operarão de novo, me extrairão essa lesão, se verificará se tem ou não relação com o tumor anterior, e com base nisso informaremos depois da operação", disse o presidente Chávez durante uma visita ao Complexo Industrial Santa Inês, no estado de Barinas, e confirmou que não houve metástase em órgãos de seu corpo, como circulou nas redes sociais.

"É uma lesão pequena de dois centímetros de diâmetro, claramente visível, o que obriga a extrair a lesão e a uma nova intervenção cirúrgica, que se supõe menos complicada que a anterior", explicou o presidente.

A lesão foi detectada em uma checagem médica que se realizou no sábado passado em Havana, Cuba. O mandatário lamentou esta nova situação médica. "Eu lhes peço perdão, não quero fazer meu povo sofrer, mas esta é a verdade”, disse.

"Há pessoas que querem que eu morra, porque me odeiam. Que fiquem longe, eles e seus maus desejos. Durante todos esses meses se encarregaram, com muita frequência, de difundir rumores. Começam a gerar todos esses rumores para tratar de criar angústia, e desestabilizar o país", expressou.

Chávez chamou o povo venezuelano à unidade, à batalha e à luta pela vida e a vitória. "É uma vida que peço a Deus estenda até quando ele queira, somente para servir cada dia mais e melhor ao povo venezuelano", afirmou.

Fonte: Agência Venezuelana de Notícias

A volta do rearmamento russo

Por Marco Antonio L.
Putin promete rearmamento da Rússia 'sem precedentes
'
  • Putin anunciou o "renascimento" da marinha russa, em particular no Extremo Oriente …
Vladimir Putin prometeu um rearmamento "sem precedentes" da Rússia diante dos Estados Unidos e um avanço do complexo militar-industrial que quer colocar, como na URSS, no centro do desenvolvimento do país, em um texto publicado nesta segunda-feira no âmbito da eleição presidencial.
O atual primeiro-ministro Vladimir Putin, que foi chefe de Estado de 2000 a 2008 e é candidato à presidência, põe como prioridade a necessidade de responder à implantação de um escudo antimísseis na Europa pelos Estados Unidos e Otan mediante o "reforço do sistema de defesa aérea e espacial do país".
"Na próxima década serão destinados 23 bilhões de rublos (590 bilhões de euros, 773 bilhões de dólares) a estes objetivos (de rearmamento)", informa este longo texto publicado pelo jornal oficial Rosiskaya Gazeta, consagrado totalmente à questão militar.
"Temos que construir um novo exército. Moderno, capaz de ser mobilizado a qualquer momento", escreveu, considerando que o exército russo foi deixado de lado nos anos 1990 "no momento em que outros países aumentavam constantemente suas capacidades militares".
"Temos que superar completamente este atraso. Retomar um status de líder em todas as tecnologias militares", destacou Putin, citando o terreno espacial, a guerra no "ciberespaço", assim como as armas do futuro com efeito "geofísico, por raios, ondas, genes, psicofísico".
"A renovação do complexo militar industrial se converterá em uma locomotiva para o desenvolvimento dos mais diversos setores", disse Putin, quase certo de voltar no dia 4 de março ao Kremlim, que precisou deixar em 2008 ao estar impossibilitado pela Constituição de conquistar um terceiro mandato.
"Pretende-se que o renascimento do complexo militar-industrial seja um jugo para a economia, um peso insuperável que em seu tempo teria arruinado a URSS", comentou.
"Estou convencido de que isto é um profundo erro", escreveu o ex-agente do KGB (serviço de inteligência soviético), que, em 2005, classificou a explosão da União Soviética como a "maior catástrofe geopolítica do século XX".
"A URSS morreu por ter esmagado as tendências do mercado na economia (...). Não temos que repetir os erros do passado", destacou Putin, considerando que os novos investimentos no campo militar desta vez devem ser o "motor da modernização de toda a economia".

No entanto, esta perspectiva foi colocada em xeque pelos especialistas. Segundo Alexander Konovalov, presidente do Instituto de Análises Estratégicas de Moscou, "a ideia de que se pode realizar um salto à frente na economia graças ao complexo militar-industrial está superada desde os anos 1950".

Putin anunciou o "renascimento" da marinha russa, em particular no Extremo Oriente e no Grande Norte.
Retomou também a acusação recorrente na Rússia contra os Estados Unidos sem nomeá-los, segundo a qual "ocorrem" deliberadamente conflitos ou zonas de instabilidade perto de suas fronteiras e o direito internacional nas crise mundiais é cada vez menos respeitado.
Putin também anunciou a entrega em dez anos de "400 mísseis balísticos modernos, 8 submarinos estratégicos, 20 submarinos polivalentes, mais de 50 navios de superfície, cerca de cem veículos espaciais com função militar, mais de 600 aviões modernos, mais de 1.000 helicópteros, 28 baterias antiaéreas S-400...".

Os salários dos militares foram "praticamente multiplicados por três" no dia 1 de janeiro, e o exército russo - 1 milhão de homens - se tornará profissional para ter apenas 145 mil recrutas em 2020, anunciou.

Há um ano, o governo russo já havia anunciado um amplo plano de modernização do exército por cerca de 500 bilhões de euros (cerca de 661 bilhões de dólares).

Os Piratas de Ontem e de Hoje

Pescado no Jader Resende


por The Pirate Bay, 

Mais de um século atrás, Thomas Edison conseguiu a patente de um dispositivo que poderia “fazer para o olho o que o fonógrafo faz para a orelha”. Chamou-o cinetoscópio [Kinetoscope]. Ele não só foi um dos primeiros a gravar um vídeo, ele também foi a primeira pessoa a possuir os direitos autorais [copyright] de um filme. 



Por causa das patentes de Edison para o cinema era quase financeiramente impossível conseguir criar filmes na costa leste dos EUA. Os estúdios de cinema, então, mudaram para a Califórnia, e fundaram o que hoje chamamos de Hollywood. O motivo foi principalmente porque lá não havia nenhuma patente. Também não havia nenhuma lei de proteção de direitos autorais que se tenha conhecimento, por isso os estúdios podiam copiar velhas histórias e fazer filmes baseados nelas – como Fantasia, um dos maiores sucessos da Disney.



Assim, toda a base desta indústria, que hoje está gritando com a perda de controle sobre os direitos imateriais, é que eles contornaram os direitos imateriais. Eles copiaram (ou em sua terminologia: “roubaram”) os trabalhos criativos dos outros, sem pagar por isso. Eles fizeram isso para terem um lucro enorme. Hoje, eles são todos bem sucedidos e a maioria dos estúdios está na lista Fortune 500 das empresas mais ricas do mundo.
A razão pela qual eles estão sempre reclamando sobre “piratas” hoje é simples. Nós fizemos o que eles fizeram. Nós contornamos as regras que eles criaram e criamos as nossas. Nós esmagamos o seu monopólio, dando às pessoas algo mais eficiente. Nós permitimos às pessoas terem uma comunicação direta entre si, contornando o rentável intermediário, que em alguns casos tomam mais de 107% dos lucros (sim, você paga para trabalhar para eles). É tudo baseado no fato de que estamos em competição. Nós temos provado que a existência deles na sua forma atual não é mais necessária. Nós somos apenas melhor do que eles são.
E a parte engraçada é que as nossas regras são muito semelhantes às ideias dos fundadores dos EUA. Nós lutamos por liberdade de expressão. Vemos todas as pessoas como iguais. Acreditamos que o público, não a elite, deveria governar a nação. Acreditamos que as leis deve ser criadas para servir o público, e não as corporações ricas.
The Pirate Bay é verdadeiramente uma comunidade internacional. A equipe está espalhada por todo o mundo – mas nós ficamos fora do EUA.
Temos raízes suecas e um amigo sueco disse o seguinte: A palavra SOPA significa “lixo” em sueco. A palavra PIPA significa “tubo” em sueco. Isto não é, obviamente, uma coincidência. Eles querem transformar a internet em um tubo de mão única, com eles em cima, empurrando o lixo para baixo através do tubo para o resto de nós, consumidores obedientes.
A opinião pública sobre este assunto é clara. Pergunte a qualquer um na rua e você vai aprender que ninguém quer ser alimentado com lixo. Por que o governo dos EUA querem que o povo norte-americano seja alimentado com o lixo está além da nossa imaginação, mas esperamos que você os detenha, antes que todos no afoguemos.
O SOPA não pode fazer nada para parar o TPB.
No pior caso, vamos mudar o domínio de alto nível do nosso atual .org a uma das centenas de outros nomes que nós também já usamos. Em países onde o TPB é bloqueado, China e Arábia Saudita vem à mente, eles bloqueiam centenas de nomes de nosso domínio. E funcionou? Na verdade, não. Para corrigir o “problema da pirataria”, a pessoa deve ir à fonte do problema. A indústria do entretenimento diz que está criando “cultura”, mas o que eles realmente fazem é vender coisas como bonecas caríssimas e fazem meninas de 11 anos de idade se tornarem anoréxicas. Quer a partir do trabalho nas fábricas, que cria as bonecas por basicamente nenhum salário, quer por assistir filmes e shows de TV que as fazem pensar que são gordas.


No grande jogo de computador criado por Sid Meiers, Civilization, você pode construir Maravilhas do Mundo. Uma das mais poderosas é Hollywood. Com ela você controla toda a cultura e mídia do mundo. Rupert Murdoch estava feliz com o MySpace e não tinha problemas com a sua própria pirataria até que falhou. Agora ele está reclamando que o Google é a maior fonte de pirataria no mundo – porque ele é ciumento. Ele quer manter o seu controle mental sobre as pessoas e claramente você consegue obter uma visão mais honesta das coisas na Wikipedia e no Google do que na Fox News.


Alguns fatos (anos, datas) provavelmente estão errado neste comunicado à imprensa. A razão é que não podemos obter estas informações quando Wikipedia está fora do ar. Por causa da pressão dos nossos decadentes concorrentes. Pedimos desculpas por isso.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Ron Paul: Estados Unidos se desliza hacia un sistema fascista

Via CubaDebate, mas extraído do blog Gilson Sampaio

ron-paul
El aspirante a la candidatura republicana, Ron Paul, cree que “Estados Unidos se desliza hacia un sistema fascista” dominado por el gobierno y el gran negocio, según advirtió ante miles de seguidores congregados cerca del museo de la Primera Guerra Mundial.
En su discurso Ron Paul afirmó que la nación se desvió de buen camino hace 100 años, cuando el presidente Woodrow Wilson involucró al país en la Primera Guerra Mundial y fracasó en su deseo de hacer que el país formara parte de la Liga de las Naciones, precursora de la ONU.
Mientras el congresista lanzaba su atrevisdo pronóstico, la cúpula del Partido Republicano degustaba una lujosa cena en la conferencia anual de los republicanos de Missouri al otro lado de la calle. Paralelamente, los republicanos de Kansas estaban reunidos en una convención similar en un suburbio al otro lado de la ciudad.
Según la cadena de televisión, Rusia Today, algunos miembros de la elite republicanos dejaron su comida para tomar parte en la actividad de Paul, entre ellos Ralph Munyan, miembro del Comité republicano de Kansas City. Munyan dijo estar de acuerdo con las advertencias de Ron Paul sobre el régimen fascista y sus llamamientos para evitar que la nación se involucre en guerras allende el océano. “Su política exterior es la de paz”, añadió.
Paul ha reiterado sus acusaciones al presidente Barack Obama por la aprobación de la ley que legitima la custodia militar de cualquier persona sospechosa de mantener vínculos con Al Qaeda. El candidato sostiene que la administración actual no está autorizada para practicar detenciones militares indefinidas de ciudadanos estadounidenses no autorizadas por un tribunal.
(Tomado de Rusia Today)

OS MASCATES DA PETROBRAS NÃO DESCANSAM

Sanguessugado do blog Democracia & Política


A LÓGICA DO CAIXEIRO

Por Fernando Brito, no blog “Projeto Nacional”

“O professor Rogério Furquim Werneck, um dos decanos do ninho neoliberal instalado na PUC do Rio de Janeiro, voltou à carga ontem, domingo (19), na sua coluna, contra a Petrobras.

O seu artigo anterior, prevendo uma Petrobras imobilizada, levou, no mesmo dia, uma tunda do pessoal que não confunde a profissão de economista com a de caixeiro, aqueles mascates tão simpáticos do passado, que se preocupavam em vender tudo, bem rápido, como melhor preço possível e voltar logo para encher de novo o baú de mercadorias, para repetir a dose, enquanto as costas aguentassem o fardo.

Levou uma tunda porque, no mesmo dia, a Petrobras vendia títulos em volume recorde – US$ 7 bilhões – e pagando os menores juros já obtidos em toda a sua história.

Porque, ao contrário dos caixeiros, o mercado “heavy-metal” está olhando a empresa no médio e longo prazo e sabe que suas perspectivas não são boas, são ótimas.

Porque a Petrobras tem as três coisas que são necessárias para fazer uma grande petroleira.

A primeira, é óbvio, é petróleo. E as jazidas brasileiras, no cálculo mais modesto, vão chegar a 40-50 bilhões de barris. Com otimismo, talvez ao dobro.

E a reserva estabelecida pelo regime de “partilha” estabelecido no lugar das “concessões” que antes vigiam garantem a ela o acesso a esse mar de petróleo.

A segunda, é capacidade técnico-operacional e tecnológica para explorar esse petróleo de águas ultraprofundas, bem diferente de furar no deserto de monarquias e regimes “domados”. Nem o mais sectário adorador das multinacionais é capaz de negar a liderança absoluta de empresa nesse segmento exploratório.

E a terceira, e é aí que a coisa começa a pegar com o nosso mascate intelectualizado, é capital. Porque ela tem um sócio controlador que não apenas pode capitalizá-la como, nesse processo, ampliar sua fatia na propriedade da empresa e, portanto, na absorção dos lucros que todos sabem – inclusive o professor Furquim – que ela vai gerar.

Curioso que o professor se escandalize com o fato de que o Governo Federal colocou nela – e não foi grátis, pois a cessão das jazidas já mapeadas de Franco e Libra é, como diz seu nome, onerosa, isto é, a União será remunerada por elas – “R$ 75 bilhões de preciosos recursos do Tesouro”.

Desculpe, professor, mas é da lógica do mercado que o sócio majoritário de uma empresa com perspectivas brilhantes coloque nela capital, porque está colocando onde terá retorno.

A alegação que esses recursos poderiam ser alocados em outras áreas é que se constitui, para usar suas próprias palavras, num “primitivismo estarrecedor”.

E não é preciso uma construção teórica para prová-lo. Basta perguntar - ao Dr. Furquim Werneck, inclusive – se ele pode apontar os benefícios que o povo brasileiro, dono da Petrobras, auferiu com a venda de parte de seu capital na Bolsa de Nova York, na forma de ADRs, no período FHC. Nem mesmo se abateu na dívida pública ou se acumularam reservas.
Trocamos um naco da Petrobras – só em parte recuperado com a capitalização – por um nada. Ou por despesas que – mesmo admitindo que não houvesse espertalhões de outro tipo de PAC, um “Plano de Acumulação no Caribe” – não deixaram nenhum benefício perene para o Brasil.

Como o tolo da história da galinha dos ovos de ouro, ele reclama que tudo está devagar demais. Que o ouro poderia vir mais depressa se a Petrobras não teimasse em usar o plano de investimentos que terá, obrigatoriamente, de realizar para explorar essas reservas num processo de compras nacionais que gere novas plantas industriais, emprego, riqueza e conhecimento dentro do Brasil.

No “primitivismo estarrecedor” do professor Furquim, por exemplo, teria sido um erro a Petrobras encomendar os navios que levantaram a indústria naval brasileira. Na lógica do mascate, se tem navio para vender lá fora, para entregar mais rápido e custando um pouco menos, é lá que temos de comprar.

Foi assim que o mascate mais festejado do Brasil, o Sr. Roger Agnelli, comprou a “Frota do Mico”, os supergraneleiros que, quando não racham, não podem aportar na China.

Ao professor Furquim, com a lógica do caixeiro, pouco se lhe dá, por exemplo, que a encomenda bilionária de três dezenas de sondas de águas ultraprofundas tivesse sido feita aqui. Ao contrário, ele é capaz de provar, e com razão, que se poderia comprá-las na Escandinávia ou na Coreia talvez até uns 10% mais baratas e com entrega mais rápida.

Ele se agarra na entrevista (ótima, por sinal) do ex-diretor de Exploração da empresa, Guilherme Estrella, de que há um ônus imediato na contratação de equipamentos aqui, que faz uma vinculação entre a velocidade de exploração e a capacidade nacional de prover, em boa parte, os equipamentos industriais que ela irá demandar para rebater uma resposta de empresa de que as compras nacionais não guardariam essa relação.

Ora, se algum texto de assessoria afirmou isso, dessa maneira, está mais que claro, nos discursos que fizeram a nova presidente da Petrobras, Graça Foster, e a própria presidenta Dilma Rousseff, que essa é uma orientação estratégica.

Aqui não se cometerá a tolice da história da galinha dos ovos de ouro, de correr loucamente para arrancar todo o petróleo, seja como for, para vender seja como for.

Porque nem mesmo o caixeiro, que pratica essa lógica na venda de quinquilharias, age assim quando se trata dos bens próprios, que pertençam à sua família. Ou aos “batricios”.

Quando se trata de riqueza imensa, não-renovável, estratégica, só pode praticá-la quem é outro tipo de vendedor.

Que geralmente são, ao contrário dos cansados caixeiros que viajavam pelo país, encantando as nossas cidadezinhas remotas, homens “cultos”, bem-vestidos e de modos sofisticados.

Mas, na sua alma de desamor a este povo e seu futuro, pensam com um lápis preso na orelha e oferecem-se como os mascates do Brasil.”

FONTE: escrito por Fernando Brito no blog “Projeto Nacional”  (http://www.viomundo.com.br/politica/fernando-brito-os-inimigos-da-petrobras-nao-descansam.html) [imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

O Confuso PSDB Paulista

Extraído do blog Com Texto Livre

O que se passa com o PSDB em São Paulo? Dito de outra forma: que falta faz Mario Covas!
Criado em 1988, o PSDB nasceu em São Paulo. Foi lá que um grupo de políticos da “ala do bem” do PMDB resolveu que havia limites para tudo: o começo da administração de Orestes Quércia, no ano anterior, mostrava que o partido era pequeno demais para eles e o governador.
Não querendo compactuar com o que imaginavam seria o restante de seu governo, preferiram sair. Estavam certos. Quércia foi tudo que temiam.
(Isso não impediu que, anos depois, um candidato tucano a presidente fosse cortejá-lo, obsequiosamente pedindo seu aval para outra aventura mal sucedida. Antes de falecer, em 2010, Quércia ainda teve tempo de se revelar um sincero e prestimoso aliado de José Serra).
Em São Paulo, o PSDB foi um sucesso. Mário Covas, seu candidato a presidente em 1989 - apenas um ano após a criação do partido -, ficou em quarto lugar e ganhou o respeito do país, pela campanha que fez e pela coerência de apoiar Lula no segundo turno.
(Isso não desencorajou alguns quadros tucanos paulistas a se dispor, alegremente, a integrar o ministério do adversário de Lula. Se não fosse o veto de Covas, o governo Collor teria tido, no mínimo, um tucano de alta plumagem no primeiro escalão. Convidado, havia dito sim).
Com pouco mais de cinco anos de existência, o PSDB paulista tinha feito o presidente da República, o núcleo de seu staff, vário ministros, e estava instalado no governo do maior estado da Federação. Uma trajetória espetacular.
Desde 1994, o PSDB administra São Paulo e bate todos os recordes de permanência de um partido à frente de um governo estadual – sem contar a República Velha.
Ao término do atual mandato, Alckmin completará duas décadas ininterruptas de ocupação tucana do Palácio dos Bandeirantes, coisa que nenhuma oligarquia contemporânea conseguiu em outro lugar do Brasil. Sarney e o finado Antonio Carlos Magalhães teriam muito que aprender com eles.
É verdade que, nesses 20 anos, o PSDB só governou a capital por 15 meses, na fase em que Serra fez uma rápida baldeação à frente da prefeitura - depois de perder a eleição presidencial de 2002, ganhar a municipal de 2004 e antes de renunciar para concorrer ao governo estadual em 2006.
Mas continuou representado na administração municipal, quando Kassab assumiu o lugar deixado por Serra e se reelegeu em 2008. São, portanto, oito anos de presença tucana na prefeitura.
Como entender que o PSDB paulista seja tão incapaz de definir o que vai fazer este ano na sucessão de Kassab? Justo na capital de seu reduto?
Consta que procuraram Serra para ser candidato. Ele disse que não queria – o que pode ser considerado normal em seu caso, pois nunca tem certeza de uma candidatura. Deram-lhe tempo e ele foi peremptório: não o seria em hipótese alguma.
Quatro nomes se ofereceram, todos qualificados. Era a situação clássica para uma prévia entre os filiados. Estão às voltas com ela - a primeira na história do partido -desde o ano passado e a data combinada para fazê-la se avizinha.
E agora? Ficou o dito pelo não dito. Serra fez saber que talvez queira. Os pré-candidatos estão sem saber o que fazer. E se Serra voltar a desistir – o que seria totalmente normal para ele? Aí aconteceriam as prévias? Entre quatro candidatos desmoralizados?
Uma forma de entender porque os tucanos paulistas batem cabeça é imaginar o que estaria acontecendo se Mário Covas estivesse vivo.
É difícil dizer com segurança, pois ele era imprevisível. Mas de uma coisa podemos estar certos: vexame, o PSDB paulista não estaria passando.
No estado, o partido tem hoje líderes demais e liderança de menos. Entre os solipsismos e as obsessões de seus principais quadros, o PSDB paulista não consegue dizer o que quer.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

IRÃ REDUZ EXPORTAÇÃO DE PETRÓLEO PARA A FRANÇA E O REINO UNIDO

Pescado no Democracia & Política


IRÃ ANUNCIA REDUÇÃO DA EXPORTAÇÃO DE PETRÓLEO PARA A FRANÇA E O REINO UNIDO

“O governo do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou ontem, domingo (19), a redução na venda de petróleo para a França e o Reino Unido. A decisão já passa a valer, segundo as autoridades iranianas. O ministro do Departamento de Relações Públicas, Ali Reza Rahbar, lembrou que, no começo deste mês, o ministro do Petróleo, Nikzad Rostam Qasemi, já havia comunicado a decisão.

Rahbar disse, ainda, que a decisão não afetará negativamente a economia do Irã. "Nós temos nossos próprios clientes e empresas britânicas e francesas podem ser substituídas por outras empresas", disse ele, ressaltando que as exportações de petróleo para a Europa representam 18% do total de vendas do Irã.

No último dia 16, o diretor do Departamento Europa do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Hassan Tajik, disse que, por “razões humanitárias”, o governo iraniano não suspenderá imediatamente a venda de petróleo para seis países europeus. Ele se referiu aos impactos do rigoroso inverno na Europa que registra baixas temperaturas. A ideia é que a medida passe a valer a partir de julho.

Na semana passada, as autoridades iranianas convocaram separadamente os embaixadores em Teerã de seis países europeus: França, Itália, Espanha, Grécia, Portugal e Holanda. Segundo a televisão estatal, esses países foram informados da intenção do governo iraniano de rever a venda de petróleo a eles.

Após a divulgação da decisão do governo iraniano, o preço do barril do petróleo sofreu leve aumento, reforçando as preocupações sobre o fornecimento de energia aos europeus, apesar da garantia da Arábia Saudita, primeiro exportador mundial, de compensar a redução das exportações iranianas.

Segundo país produtor da “Organização dos Países Exportadores de Petróleo” (OPEP), o Irã vende pouco mais de 20% de sua produção (cerca de 600 mil barris por dia) para a União Europeia, especialmente Itália, Espanha e Grécia. A reação é uma resposta à pressão dos europeus para aumentar as sanções ao Irã devido ao programa nuclear [pacífico, para energia elétrica e fins medicinais] desenvolvido no país.”

FONTE: Agência Brasil, com informações da agência estatal do Irã, IRNA  (http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-02-19/ira-anuncia-reducao-da-exportacao-de-petroleo-para-franca-e-reino-unido) [imagem do Google e trecho entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

AS MÁSCARAS DO "CANSEI" GENÉRICO

Extraído do blog Brasil's News

A intolerância social, sexual e política que experimentamos nos dias de hoje ainda é a herança imposta a várias gerações que cresceram e se formaram sob as mordaças da ditadura militar. Está presente na direita, na extrema esquerda e, mais ainda, nos que garantem ser apolíticos ou apartidários.

Os intolerantes de direita continuam sendo os mesmos: aquele percentual que não chega a dois dígitos do conjunto social há um bom tempo. Seus ícones-gurus são, por assim dizer, adversários honestos. Como nós, dão a cara a tapa; você sabe onde estão, para quem trabalham e como manipulam a opinião pública. Já os desmascaramos várias vezes e continuaremos a fazê-lo.

 
Imagine o espectro político como um círculo. Nele, os extremos ideológicos se encontram e muitas vezes descobrem interesses comuns. É o caso do PSOL e do DEM. Não se pode afirmar que Heloísa Helena seja uma fascista. Saiu do PT porque o PT se aproximou ao centro, fez alianças e, assim, viabilizou seu projeto de governo. Heloísa não gostou da mistura e cuspiu no prato que comeu.


DEM e PSOL se encontram nos extremos e derrubam a CPMF. Heloísa Helena vibra ao lado dos "colegas"

A associação do PSOL e DEM no combate ao “inimigo” comum resultou, por exemplo, na extinção da CPMF em 2008. Minorias estagnadas ou em franca decadência, seus eleitores não representam perigo algum para o projeto de governo encabeçado por Dilma Roussef.


Perigosos mesmo, são os que se dizem apolíticos ou apartidários. Gente que está, consciente ou não, a serviço da ultra-direita fascista. Estes, sim, estão em franca ascenção nas redes sociais e portais da Internet. Usam diversas máscaras. Repare naquele tipo cético, indignado, decepcionado com tudo à volta. Entra em qualquer roda – e o papo é mais ou menos o mesmo: “político é tudo ladrão, tem que fuzilar todos”, o clássico “este país não tem jeito – acorda Brasil” etc. Não conseguem formular uma frase que não tenha palavras como “corruptos” e “corrupção”. O curioso em relação ao estigma da corrupção é que não se interessam pelo sujeito oculto: o corruptor. Não mencionam nomes, generalizam para não revelarem seu propósito. Quando se referem ao passado com discreto saudosismo, recuam de 2002 direto para ditadura – sem escalas no mandato de FHC. Lamentam reconhecer que sob o regime militar “político ladrão não tinha perdão: morria em vala rasa”. Para não parecerem completos alienados, têm pequenos surtos de informação política e se aventuram em citar Fidel Castro ou Hugo Chavez em suposta conspiração comunista sob a “conivência da nossa imprensa” – como quem acha pouco ou nenhum o golpismo diário do PiG.

“Cansamos”, “Basta de”, “Fora os”… são expressões presentes na maioria de seus banners. A tática não é propor solução nem destacar algum político “bom”, mas desmoralizar TODA a classe política que aí está. Em sua lógica surreal, fica sub-entendido que depois de fuzilarmos os ocupantes do Palácio do Planalto, do Congresso e da Câmara, e varrermos assim toda a corrupção que nos corrói, o povo iluminado pela “nova era” descobrirá, espontaneamente, que ainda tem gente boa para nos governar. Quem? Ora, todos que não nos governam atualmente. Certo? Deixa eu adivinhar: Agripino Maia, Maluf, Serra, Kassab, Bolsonaro… Quem sabe o Tiririca – pior do que está não fica?

 
Todos conhecemos alguma pessoa que não liga pra isso, esse negócio de política. Gente que não dá a mínima, que não acredita nem se interessa por política e políticos. Uns são religiosos, outros praticam aeróbica. Uns são músicos, outros intelectuais. Uns viajam, outros meditam. Uns tem muita grana, outros nenhuma… Para um apolítico, não importa quem governa: sua vida segue sempre igual.

 
Mas quando alguém decide reunir um grupo para reivindicar, protestar ou difundir uma causa ou palavra de ordem, seja no condomínio onde mora, no seu bairro, ou nas redes sociais – estará fazendo política. Mesmo que não se dê conta disso.

 
Outro dia segui uma amiga no Facebook e cheguei a um grupo que propunha fazer abaixo assinado para “acabar com os corruptos que mamam nos impostos provenientes do nosso trabalho suado”. Ok, até aí eu concordo. Mas porque não citam nomes? Eis o x da questão! Deixam isso pro visitante “descobrir”. O dono do pedaço usa um avatar com aquela máscara do Anonymous e prega o voto nulo. Discordei, argumentei com o Zé Mané mascarado que não está certo fazer campanha para o voto nulo. Porque o voto é a única arma que temos para mudar as coisas, que é preciso distinguir os bons e maus políticos… 5 minutos de debate e o mascarado já me “acusava” de petista, comunista, de estar sendo pago pra falar bem do governo etc.

 
Aí me dei conta de que andei incorporando “amigos” no Facebook sem saber quem eram de fato. Me dei conta também, que a nova tática da direita é acusar a espécie política, o genérico. Porque os governos de Lula e Dilma são muito bem avaliados e de fato alavancaram o Brasil de cabo a rabo, dos bancos às favelas. Porque nem a imprensa deles tem como omitir e o jornalista tem que fazer uma ginástica enorme, criar factóides sem fundamento pra desmerecê-los. Lembrei de como a campanha de Serra evitou atacar Lula.

O movimento “Cansei” não cansa nunca. É um camaleão grotesco que se apropriou da máscara alheia.
 
Aliás, será que os verdadeiros hackers do Anonymous não pensaram que QUALQUER pessoa do planeta pode usar essa máscara e se fazer passar por eles? Se amanhã eu formar um grupo que se reúne aos sábados pra jogar boliche e usarmos essas máscaras, como saberão se somos ou não os hackers que invadem e derrubam o site do Pentágono? E mais: o que faz um fascistóide pensar que seus “ideais” são os mesmos do verdadeiro Anonymous?


Fonte: Original O que será que me dá? copiado para cá do Terror do Nordeste

domingo, 19 de fevereiro de 2012

García Linera: Bolívia vive maior revolução social!

García Linera: Bolívia vive maior revolução social - do Vermelho

Além de ser o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera é um dos mais importantes intelectuais de esquerda, latino-americano, no continente. Ainda que sua profissão inicial seja a de matemático (estudou na Universidade Nacional Autônoma do México), formou-se como sociólogo na prisão e na prática.


Ele teorizou a experiência boliviana de transformação como ninguém fez, ou seja, com originalidade, profundidade e desenvoltura. E a experiência boliviana atualmente é uma referência obrigatória e cada vez mais ascendente no movimento popular latino-americano. García Linera conhece e domina com profundidade o marxismo clássico, mas está muito longe de ser doutrinário. Seu pensamento é muito influenciado pela obra de Pierre Bourdieu.

Na entrevista para La Jornada, o vice-presidente assinala que o fato fundamental que se vive no atual processo, em curso, de transformação política é que os indígenas, maioria demográfica, são hoje ministros e ministras, deputados, senadores, diretores de empresas públicas, redatores de constituições, juízes máximos da justiça, governadores; presidente. Este fato, desde a sua fundação, significa a maior revolução social e igualitária que aconteceu na Bolívia.

García Linera caracteriza o modelo econômico de seu país como pós-neoliberal e de transição pós-capitalista. Um modelo que recuperou o controle dos recursos naturais, que estavam nas mãos de estrangeiros, para colocá-los nas mãos do Estado, dirigido pelo movimento indígena.

Eis a entrevista.

La Jornada: Faz seis anos que vocês governam a Bolívia. Houve, realmente, avanços na descolonização do Estado?
 
Linera: Na Bolívia, o fato fundamental que vivemos é que aquelas pessoas, a maioria da população de antes e de agora, os indígenas, a quem a brutalidade da invasão e os sedimentos centenários da dominação estabeleceram no próprio sentido de classes dominantes e classes dominadas que estavam predestinadas a serem camponeses, trabalhadores de postos inferiores, artesãos informais, porteiros ou garçons, hoje são ministros e ministras, deputados, senadores, diretores de empresas públicas, redatores de constituições, juízes máximos da justiça, governadores; presidente.

A descolonização é um processo de desmontagem das estruturas institucionais, sociais, culturais e simbólicas que subsumem a ação cotidiana dos povos aos interesses, às hierarquias e às narrativas impostas por poderes territoriais externos. A colonialidade é uma relação de dominação territorial que se impõe à força e com o tempo se ‘naturaliza’, inscrevendo a dominação nos comportamentos ‘normais’, nas rotinas diárias, nas percepções de mundo dos próprios povos dominados. Por conseguinte, desmontar essa maquinaria da dominação requer muito tempo. Em especial, o tempo que é necessário para modificar a dominação convertida em sentido comum, no hábito cultural das pessoas.

As formas organizativas comunais, agrárias e sindicais do movimento indígena contemporâneo, com suas formas de deliberação em assembleias, de giro tradicional de cargos, em alguns casos, de controle comum dos meios de produção, são atualmente os centros de decisão na política e em boa parte da economia na Bolívia.

Nos dias atuais, para influir nos pressupostos do Estado e para saber a agenda governamental não adianta andar de braços dados com altos funcionários do Fundo Monetário, do Banco Interamericano de Desenvolvimento e com as embaixadas estadunidenses ou europeias. Hoje, os circuitos do poder estatal passam pelos debates e decisões das assembleias indígenas, operárias e de bairros.

Os sujeitos da política e a institucionalização real do poder moveu-se para o âmbito do pobre e do indígena. Os anteriormente chamados ‘cenários de conflito’, como sindicatos e comunidades, hoje são os espaços do poder fático do Estado. E os antes condenados para a subalternidade silenciosa, atualmente são os sujeitos decisórios da trama política.

O fato da abertura do horizonte de possibilidade histórica dos indígenas, de poderem ser agricultores, operários, pedreiros, empregadas, mas também chanceleres, senadores, ministras ou juízes supremos, é a maior revolução social e igualitária que ocorreu na Bolívia desde sua fundação. ‘Índios no poder’, é a frase seca e depreciativa com que as deslocadas senhoras classes dominantes anunciam a hecatombe desses seis anos.

La Jornada: Como caracterizar o modelo econômico posto em prática? É uma expressão do socialismo no século 21? É uma modalidade do pós-neoliberalismo?
 
Linera: Basicamente pós-neoliberal e de transição pós-capitalista. Recuperou-se o controle dos recursos naturais que estava nas mãos estrangeiras, para colocá-los nas mãos do Estado, que é dirigido pelo movimento indígena (gás, petróleo, parte dos minerais, água, energia elétrica); enquanto outros recursos, como o imposto sobre a terra, o latifúndio e as florestas, passaram para o controle de comunidades e povos indígena-camponeses.

O Estado é, no momento atual, o principal gerador de riqueza do país, e essa riqueza não é valorizada como capital; ela é redistribuída na sociedade por meio de bônus, rendas e benefícios sociais diretos para a população, além do congelamento das tarifas dos serviços básicos, dos combustíveis e a subvenção da produção agrária.

Pretende-se priorizar a riqueza como valor de uso, acima do valor de troca. Nesse sentido, o Estado não se comporta como capitalista coletivo, próprio do capitalismo de Estado, senão como um redistribuidor de riquezas coletivas entre as classes trabalhadoras e um potencializador das capacidades materiais, técnicas e associativas dos modos de produção camponeses, comunitários e artesanais urbanos. Nesta expansão do comunitário agrário e urbano depositamos nossa esperança de transitar pelo pós-capitalismo, sabendo que essa também é uma obra universal e não somente de um país.

La Jornada: A partir da Bolívia, como se vê o processo de integração regional? Que papel desempenham os Estados Unidos e a Espanha? Que espaço tem China, Rússia e Irã?
 
O continente latino-americano atravessa um ciclo histórico excepcional. Grande parte dos governos é de caráter revolucionário e progressista. Os governos neoliberais tendem a mostrarem-se retrógados. E, ao mesmo tempo, a economia latino-americana desdobra iniciativas internas que a permite enfrentar de maneira vigorosa os efeitos da crise mundial. Em particular, os mercados regionais e a vinculação com a Ásia definiu uma arquitetura econômica continental de um novo tipo.

É necessário apostar no aprofundamento desta articulação regional e, se possível, projetarmos uma espécie de Estado regional de estado e nações. Comportarmo-nos como Estado regional no âmbito do uso e negociação planetária das grandes riquezas estratégicas que possuímos (petróleo, minerais, lítio, água, agricultura, biodiversidade, indústria semielaborada, força de trabalho jovem e qualificada...) e, internamente, respeitar a soberania estatal e as identidades nacionais regionais que o continente possui. Só assim poderemos ter voz e força própria no curso das dinâmicas de mundialização da vida social.

La Jornada: Existe um papel ativo de Washington para sabotar a transformação boliviana em curso?
 
Linera: O governo estadunidense nunca aceitou que as nações latino-americanas possam definir seu destino porque sempre considerou que formamos parte da área de influência política para sua seguridade territorial, e somos o seu centro de provisão em riquezas naturais e sociais. Qualquer dissidência neste enfoque colonial coloca a nação insurgente na mira de ataque. A soberania dos povos é o inimigo número um da política estadunidense.

Isso aconteceu com a Bolívia nesses seis anos. Nós não temos nada contra o governo estadunidense, nem contra o seu povo. No entanto, não aceitamos que nada, absolutamente que ninguém de fora nos venha dizer o que temos que fazer, dizer ou pensar.

E quando como governo de movimentos sociais começamos a assentar as bases materiais da soberania estatal ao nacionalizar o gás; quando rompemos com a vergonhosa influencia das embaixadas nas decisões ministeriais; quando definimos uma política de coesão nacional enfrentando abertamente as tendências separatistas latentes nas oligarquias regionais, a embaixada dos Estados Unidos não apenas apoiou financeiramente as forças conservadores, como as organizou e dirigiu politicamente, numa brutal ingerência em assuntos internos. Isso nos obrigou a expulsar o embaixador e depois a agência antidrogas desse país (DEA).

Desde então, os mecanismos de conspiração tornaram-se mais sofisticados: usam organizações não governamentais, infiltram-se por intermédio de terceiros nos agrupamentos indígenas, dividem e projetam lideranças paralelas no campo popular, como recentemente ficou demonstrado mediante o fluxo de chamadas da própria embaixada de alguns dirigentes indígenas da marcha do Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS), no ano passado.

De qualquer maneira, nós buscamos respeitosas relações diplomáticas, mas também estamos atentos para repelir as intervenções estrangeiras de ‘alta’ ou ‘baixa’ intensidade.

La Jornada: Alguns setores da esquerda apontam que o bloco conservador conseguiu rearticular-se e tomar a ofensiva, enquanto o movimento social que levou o MAS ao poder foi absorvido pela política institucional. É correta esta consideração?
 
Linera: Hoje, o bloco conservador de oligarquias estrangeirizantes não tem um projeto alternativo de sociedade capaz de articular uma vontade geral de poder. O horizonte da atual política boliviana está marcado por um tripé virtuoso: o pluralismo da nação (povos e nações indígenas no mando do Estado); a autonomia (desconcentração territorial do poder) e a economia plural (coexistência articulada pelo Estado dos diversos modos de produção).

Temporalmente derrotado o projeto neoliberal de economia e sociedade da direita, nesse momento o que caracteriza a política boliviana é a emergência de ‘tensões criativas’ no interior do mesmo bloco nacional-popular no poder. Passado os grandes momentos de ascensão das massas, quando se construiu o ideário universal das grandes transformações, o movimento social vive em alguns casos um processo de retrocesso corporativo.

Tendem a prevalecer, às vezes, interesses locais acima dos interesses nacionais, ou as organizações se enroscam em rivalidades internas pelo controle de cargos públicos. Porém, também emergem novas temáticas não previstas sobre como conduzir o processo revolucionário. É o caso do tema da defesa dos direitos da mãe terra, tensionados com a exigência também popular de industrializar os recursos naturais.

Como se pode notar, tratam-se de contradições no meio do povo, tensões que submetem ao debate coletivo o modo de levar adiante as mudanças revolucionárias. E isso é saudável, é democrático e é o ponto de apoio na renovação vivificante da ação dos movimentos sociais. Embora também se tratem de contradições que podem ser usadas pelo imperialismo e pelas forças de direita entocadas, que de modo ventríloquo e travestido projetam seus interesses, ao longo prazo, por meio de alguns sujeitos populares e de discursos aparentemente altermundistas e ecologistas.

La Jornada: Em setembro do ano passado, a marcha dos povos indígenas em defesa do TIPNIS e contra a construção de uma estrada foi reprimida pela polícia. O fato foi apresentado para a opinião pública como a perda de apoio indígena ao governo de Evo Morales. Foi afirmado que o governo boliviano obstinou-se em construir a estrada porque recebeu apoio econômico da empresa petroleira brasileira OAS. Isso está correto?

Linera: A população indígena na Bolívia, como na Guatemala, é majoritária em relação ao resto dos habitantes. São 62% os bolivianos indígenas. As principais nações indígenas são a aymara e a quéchua, com cerca de seis milhões de pessoas localizadas principalmente no altiplano, nos vales nas áreas de yungas e também em terras baixas. Outras nações indígenas são os guaranis, moxeños, yuracares, chiman, ayoreos e outras 29 que habitam a Amazônia, a Chiquitania e o Chaco, em terras baixas. A população total destas nações em terras baixas é estimada em 250 mil e 300 mil habitantes, no seu total.

O conflito sobre o TIPNIS envolveu alguns povos indígenas das terras baixas, mas se manteve o apoio dos indígenas das terras altas e vales, que são 95% da população indígena da Bolívia. E dos indígenas mobilizados, a maior parte eram dirigentes de outras áreas que não precisamente do TIPNIS, mas que contam com um apoio sistemático de organismos não governamentais ambientalistas, vários deles financiadas pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), além do respaldo das principais redes de comunicação televisiva privada, de propriedade de velhos militantes da oligarquia separatista, e com ampla influência na construção da opinião pública da classe média.

Esses dias chegou a La Paz outra marcha de indígenas das terras baixas e com maior presença de indígenas do TIPNIS, que demandam a construção da estrada para o parque, argumentando que não é possível que os deixem à margem dos direitos à saúde, educação e transporte, que atualmente só podem acessar depois de dias de caminhada.

O problema é complexo. Estão mesclados temas próprios do debate revolucionário, como o do difícil equilíbrio entre o respeito à mãe terra e a necessidade urgente de ligar o país após séculos de desarticulação isolacionista das regiões. Está, também, o debate entre a relação orgânica e a liderança dos povos indígenas das terras altas, no Estado de pluralidade nacional, diferente da relação ainda ambígua com o Estado plurinacional por parte dos povos indígenas das terras baixas.

Porém, também é por meio da estratégia da oligarquia regional de Santa Cruz para impedir essa estrada, que desvincularia a atividade econômica de toda a Amazônia de seu controle empresarial. É o interesse estadunidense de resguardar a Amazônia como seu reservatório de água e biodiversidade, e de promover divisões entre as lideranças indígenas para criar condições para a expulsão dos indígenas do poder estatal. É o interesse de algumas ONGs acostumadas a fazer grandes negócios privados com os parques.

Em todo caso, em meio a essa trama de interesses, como governo temos que ter a capacidade de resolver democraticamente as tensões internas, e de desvelar e neutralizar os interesses contrarrevolucionários que muitas vezes se vestem de roupagem pseudorrevolucionário.

Por que construir essa estrada apesar da oposição de uma parte da população? Por três motivos. O primeiro, para garantir à população indígena do parque o acesso aos direitos e garantias constitucionais: água potável para que as crianças não morram de infecções estomacais. Escolas com professores que ensinem em seu idioma, preservando sua cultura e enriquecendo-a com outras culturas. Acesso a mercados para levar seus produtos sem ter que demorar uma semana em balsas para vender seu arroz ou comprar sal dez vezes mais caro que em qualquer armazém do bairro.

O segundo motivo é que a estrada permitirá ligar pela primeira vez a Amazônia, que é uma terceira parte do território boliviano, com o resto das regiões dos vales e altiplano. A Bolívia mantém isolada a terceira parte de sua territorialidade, o que permitiu que a soberania do Estado fosse substituída pelo poderio do fazendeiro, do madeireiro ou do narcotraficante.

E o terceiro motivo é o caráter geopolítico. As tendências separatistas da oligarquia, que estiveram a ponto de dividir Bolívia, em 2008, foram contidas porque foram derrotadas politicamente durante o golpe de Estado de setembro desse ano, e porque parte de sua base material, a agroindústria, foi ocupada pelo Estado.

No entanto, há um último pilar econômico que mantém em pé as forças retrógadas de tendências separatistas: o controle da economia amazônica, que para chegar ao resto do país, obrigatoriamente, tem que passar pelo processamento e financiamento de empresas sob o controle de uma fração oligárquica assentada em Santa Cruz.

Uma estrada que ligue diretamente a Amazônia com os vales e o altiplano reconfiguraria radicalmente a estrutura de poder econômico regional, derrubando a base material final dos separatistas e dando lugar a um novo eixo geoeconômico no Estado. O paradoxo de tudo isto é que a história coloca alguns esquerdistas como os melhores e mais loquazes defensores dos interesses mais conservadores e reacionários que existe nesse país.

La Jornada: Dizem que a Bolívia segue sendo uma abastecedora de matérias-primas no mercado internacional e que o modelo de desenvolvimento na prática (que alguns analistas qualificam como extrativistas) não questiona este papel. Isso é correto? Trata-se de uma fase transitória de acumulação que é acompanhada de uma redistribuição de renda?
 
Linera: Nem o extrativismo, nem o não extrativismo e nem o industrialismo são uma vacina contra a injustiça, a exploração e a desigualdade. Em si mesmos, não são nem modos de produzir, nem modos de administrar a riqueza. São sistemas técnicos de processar a natureza mediante o trabalho. E dependendo de como se usam esses sistemas técnicos, de como se administra a riqueza assim produzida, poderá haver regimes econômicos com maior ou menor justiça, com exploração ou sem exploração do trabalho.

Fonte: La Jornada



Link:
http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=175635&id_secao=7

O livro Pedagogia do Oprimido, do educador brasileiro Paulo Freire, foi banido das escolas públicas do Arizona nos Estados Unidos.

Extraído do blog Debatendo a Educação

Por Ana Luzia Costa Santos

Segundo o Jornal Brasil, a justificativa do secretário da educação do Arizona John Huppenthal em abolir uma das obras mais importante para educação no mundo foi ao visitar uma escola em Tucson, notou que Che Guevara era tratado como um herói, inclusive com direito a pôster numa das salas de aula, enquanto que Benjamin Franklin era considerado racista pela turma. Huppenthal julgou intolerável que o termo “oprimido” do livro de Paulo Freire fosse inspirado no Manifesto Comunista de Marx e Engels, “que considera que a inteira história da humanidade é uma batalha entre opressores e oprimidos”.
Para o jornal, a suspensão do programa priva os alunos de compreenderem melhor os fatores históricos da ocupação do território onde vivem (parte do Arizona pertencia ao México e foi anexada pelos EUA), além de impedir o contato de uma inteira geração com o método emancipador de Paulo Freire. O que não percebem os que executam a educação “bancária”, no termo usado por Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido, é que nos próprios “depósitos” se encontram as contradições. E, cedo ou tarde, esses “depósitos” podem provocar um confronto com a realidade e despertar os educandos contra a sua ”domesticação”.
O Autoritarismo é contagioso! Em Sergipe temos, também, a imposição do ensino estruturado, um apostilado do instituto Alfa e Beto que remete a uma educação bancária/conservadora (burguesa) que nega os ensinamentos de Paulo Freire: Nesse método de pacotes/cartilhas condenado por Freire o educador é o que sabe e os educandos são os que não sabem; o educador é o que pensa e os educandos são os pensados; o educador é o que diz a palavra e os educandos são os que escutam docilmente; o educador é o que opta e prescreve sua opção e os educandos são os que seguem a prescrição; o educador escolhe o conteúdo programático e os educandos jamais são ouvidos nessa escolha e se acomodam a ela; o educador identifica a autoridade funcional, que lhe compete, com a autoridade do saber, que se antagoniza com a liberdade dos educandos, pois os educandos devem se adaptar às determinações do educador; e, finalmente, o educador é o sujeito do processo, enquanto os educandos são meros objetos.
Os apostilados/pacotes/cartilhas do instituto Alfa e Beto é o reprodução dessa educação conservadora onde os professores são meros facilitadores que fazem uso do material produzido pelo instituto. Os planos de aulas são apresentados em manuais de orientação que serve para gerenciamento pedagógico que permitem o acompanhamento, controle e avaliação do programa pela Secretaria.
“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.” Paulo Freire.