sexta-feira, 25 de maio de 2012

Luis Nassif: A Globo e o liberalismo de jabuticaba

Extraído no Vermelho.org


Há anos, por seu alcance, o sistema Globo tornou-se a principal influência na opinião pública, inclusive em questões econômicas. TV Globo, Globonews, CBN, jornal O Globo, portal G1, constituem-se na mais formidável caixa de irradiação de opiniões no país.

Por Luis Nassif, no Luis Nassif Online


Por isso mesmo, é um bom laboratório para se analisar como se formam consensos, especialmente em temas ligados ao mercado e à economia.

Em geral, o discurso assenta-se em bordões de fácil assimilação que, pela repetição, vulgarizam-se, podendo ser repetidos tanto por executivos com pouca formação econômica até em papos de boteco. Paradoxalmente, essa banalização de conceitos responde pela extrema superficialidade da análise e, ao mesmo tempo, por sua enorme eficácia.

Até agosto do ano passado, esse discurso mercadista era facilitado pelo sofisma da prioridade única. Todas as análises tinham como mote a inflação. Justificava-se qualquer nível de taxa de juros porque era anti-inflação. Criticava-se qualquer redução da Selic, por mínima que fosse, por acirrar a inflação.

Não havia a menor necessidade de pensar. Baixou a taxa, imediatamente rebimbava o coro anti-inflação. Aumentou em percentuais ínfimos gastos sociais, acordava o coro contra a gastança.

Quando, em fins de agosto passado, o Banco Central reduziu a Selic e a inflação continuou caindo, o discurso desmoronou. Seria preciso refazer o discurso, recriar bordões. E aí o sistema deu tilt.

Por exemplo, a boa análise econômica sabe que não é possível desenvolvimento sustentável sem dois eixos bem azeitados: consumo e investimento.

Primeiro, trata-se de montar o mercado – o interno, através da ampliação da base de consumo, e o externo, através de instrumentos de apoio à exportação.

Dado o mercado, garantir o investimento, através de ferramentas fiscais, financeiras e cambiais.

Cria-se o mercado interno. Estimula-se o investimento na produção. Amplia-se a capacidade produtiva do país, geram-se empregos mais qualificados e, por conseguinte, mais consumidores, completando o ciclo virtuoso do crescimento.

Sem o investimento, esse crescimento será apropriado pelo produto importado até o limite do estrangulamento externo. Não se completaria o ciclo. Mas não se investe sem dispor de um mercado de consumo em expansão.

No entanto, anos de defesa de juros altos criaram um pensamento anti-crescimento irracional – que é repetido de cabo a cabo por todo aparato midiático das Organizações Globo.

Ontem, as medidas de redução do custo do financiamento foram taxadas de temerárias por induzir o consumidor ao “endividamento irresponsável”.

Ora, o discurso econômico das Organizações é fundamentalmente neoliberal.

É princípio elementar do liberalismo o pleno direito de opção ao consumidor, ao investidor, à empresa. Ao Estado compete apenas criar condições adequadas, sem pretender tutelar os agentes econômicos. Mas nossos liberais de araque julgam que, em qualquer circunstância, consumidores, empresas, mercado preciam ser tutelados.

Na hora de criar o bordão, esquece-se o livre arbítrio do consumidor, as ferramentas de análise de crédito dos bancos, o monitoramento da inadimplência pelo Banco Central, o fato do financiamento de automóvel ser garantido pelo próprio veículo, aspectos técnicos e conceituais.

Em Wall Street – onde esse pessoal se espelha -, seria motivo de chacota.

“Tchutchucas” e “tigrões” vão ao enfrentamento na terça-feira


por Eduardo Guimarães, no blog da Cidania
A TV Senado transmitiu a sessão da CPMI do Cachoeira da última quinta-feira. O que gritou aos ouvidos e saltou aos olhos não foram as recusas de colaboração dos membros da quadrilha do bicheiro, mas o comportamento da oposição, que, grandiloqüência à parte, parece uma fera acuada.
Qualquer um que assista a um desses “espetáculos” parlamentares e tiver capacidade mínima de julgamento reconhecerá na postura oposicionista o discurso que enlameia as colunas, editoriais e artigos da grande imprensa.
Oposicionistas desqualificam os trabalhos da Comissão, põem governistas sob suspeita de manipulação e falam em “despolitizar” os trabalhos enquanto agem como se o governo e o PT estivessem no banco dos réus a despeito de que, até agora, os principais envolvidos no escândalo são demos e tucanos.
Os governistas se portavam com uma fleuma britânica até que, sob uma saraivada de acusações oposicionistas, ensaiaram reação.
As tevês se aproveitaram ontem e os jornais se aproveitam hoje do showzinho do deputado Fernando Fracischini (PSDB-PR), que acusou o sóbrio relator petista, Odair Cunha (PT-MG), de ser “tchutchuca” para fazer perguntas aos depoentes sobre petistas e “tigrão” para fazê-las sobre tucanos, ao que o deputado Doutor Rosinha (PT-PR) reagiu pedindo comedimento nos termos e acusando o adversário e outros membros oposicionistas da Comissão de se portarem de uma forma diante das câmeras nas sessões abertas e de outra nas sessões fechadas.
Todavia, existiram vários outros momentos polêmicos.
O Deputado Paulo Teixeira disse, sem meias palavras, o que tem sido dito aqui, que querem desmoralizar a CPMI do Cachoeira.
O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) desandou a falar em “mensalão”.
O senador Pedro Taques (PDT-MT) veio falar em “pizza” e desmoralizar os trabalhos da CPMI.
Deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) falou em membros da CPMI que quereriam “aparecer” e afirmou que tentam desmoralizar a investigação dizendo que terminará em “pizza”.
Deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF) insinuou que a oposição estaria tentando intimidar o relator, Odair Cunha (PT-MG), por ter feito perguntas aos depoentes silentes sobre o governador Marconi Perillo.
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) encampou a parte do discurso da oposição que pedia  investigação das operações da empreiteira Delta em nível nacional apesar de o presidente da CPMI ter avisado que haveria votação para decidir a questão.
O deputado Paulo Teixeira, então, visivelmente irritado, requereu a convocação do governador Marconi Perillo, ao que a senadora katia Abreu (PSD-TO) propôs convocar os governadores Sergio Cabral e Agnelo Queiroz.
Quem será ou não convocado vai ser decidido na terça-feira no braço, ou seja, em votação.
Apesar de ser minoria – em tese –, a oposição deixa claro que nem sob uma confissão escrita do governador Marconi Perillo aceitará que este seja convocado sem que os governadores aliados do governo federal também sejam, pouco importando a robustez das evidências contra o tucano.
Todavia – sempre em tese –, os governistas têm maioria que lhes permitiria mandarem a oposição lamber sabão folgadamente e convocarem só o governador pelo PSDB de Goiás. As defecções no campo governista, porém, ainda não podem ser dimensionadas.
Essa que foi a sessão mais acalorada da CPMI, até agora, mostrou que um acordo para abafar tudo ficou mais difícil. As negativas de acordos para impedir convocações incômodas foram comuns a todos os parlamentares. Na semana que entra, veremos muito menos “tchutchucas” e muito mais “tigrões”.