sábado, 13 de março de 2010

Sobre Cuba: Os fariseus e a dignidade

- por Emir Sader (www.cartamaior.com.br)

O que sabem os leitores dos diários brasileiros sobre Cuba? O que sabem os telespectadores brasileiros sobre Cuba? O que sabem os ouvintes de rádio brasileiros sobre Cuba? O que saberia o povo brasileiro sobre Cuba, se dependesse da mídia brasileira?

O que mais os jornalistas da imprensa mercantil adoram é concordar com seus patrões. Podem exorbitar na linguagem, para badalar os que pagam seu salários. Sabem que atacar ao PT é o que mais agrada a seus patrões, porque é quem mais os perturba e os afeta. Vale até dar espaco para qualquer mercenário publicar calúnias contra o Lula, para, depois jogá-lo de volta na lata do lixo.

No circo dessa imprensa recentemente realizado em São Paulo, os relatos dizem que os donos das empresas – Frias, Marinhos – tinham intervenções mais discretas, – ninguem duvida das suas posiçõoes de ultra-direita -, mas seus empregados se exibiam competindo sobre quem fazia a declaração mais extremista, mais retumbante, sabendo que seriam recolhidas pela mídia, mas sobretudo buscando sorrisinho no rosto dos patrões e, quem sabe, uns zerinhos a mais no contracheque no fim do mês.

Quem foi informado pela imprensa que há quase 50 anos Cuba já terminou com o analfabetismo, que mais recentemente, com a participação direta dos seus educadores, o analfabetismo foi erradicado na Venezuela, na Bolívia e no Equador? Que empresa jornalística noiticiou? Quais mandaram repórteres para saber como países pobres ou menos desenvolvidos conseguiram o que mais desenvolvidos como os EUA ou mesmo o Brasil, a Argentina, o México, náo conseguiram?

Mandaram repórteres saber como funciona naquela ilha do Caribe, pouco desenvolvida economicamente, o sistema educacional e de saúde universal e gratuito para todos? Se perguntaram sobre a comparação feita por Michael Moore no seu filme "Sicko" sobre os sistemas de saúde – em particular o brutalmente mercantilizado dos EUA e o público e gratuito de Cuba?

Essas empresas privadas da mídia fizeram reportagens sobre a Escola Latinoamericana de Medicina que, em Cuba, já formou mais de cinco gerações de médicos de todos os países da América Latina e inclusive dos EUA, gratuitamente, na melhor medicina social do mundo? Foi despertada a curiosidade de algum jornalista, econômico, educativo ou não, sobre o fato de que Cuba, passando por grandes dificuldades econômicas – como suas empresas não deixam de noticiar – não fechou nenhuma vaga nem nas suas escolas tradicionais, nem na Escola Latinoamericana de Medicina, nem fechou nenhum leito em hospitais?

Se dependesse dessas empresas, se trataria de um regime “decrépito”, governado por dois irmãos há mais de 50 anos, um verdadeiro “goulag tropical”, uma ilha transformada em prisão.

Alguém tentou explicar como é possivel conviver esse tipo de sociedade igualitária com a base naval de Guantánamo? Se noticiam regularmente as barbaridades que ocorrem lá, onde presos sob simples suspeita, são interrogados e torturados – conforme tantas testemunhas que a imprensa se nega em publicar – em condições fora de qualquer jurisdição internacional?

Noticiam que, como disse Raul Castro, sim, se tortura naquela ilha, se prende, se julga e se condena da forma mais arbitrária possível, detidos em masmorras, como animais, mas isso se passa sob responsabilidade norteamericana, desse mesmo governo que protesta por uma greve de fome de uma pessoa que – apesar da ignorância de cronistas da família Frias – não é um preso, mas está livre, na sua casa?

Perguntam-se por que a maior potência imperial do mundo, derrotada por essa pequena ilha, ainda hoje tem um pedaco do seu territorio? Escandalizam-se, dizendo que se “passou dos limites”, quando constatam que isso se dá há mais de um século, sob os olhos complacentes da “comunidade internacional”, modelo de “civilização”, agentes do colonialismo, da escravidão, da pirataria, do imperialismo, das duas grandes guerras mundiais, do fascismo?

Comparam a “indignação” atual dos jornais dos seus patrões com o que disseram ou calaram sobre Abu-Graieb? Sobre os “falsos positivos” (sabem do que se trata?) na Colômbia? Sobre a invasao e os massacres no Panamá, por tropas norteamericanas, que sequestraram e levaram para ser julgado em Miami seu ex-aliado e então presidente eleito do país, Noriega, cujos 30 anos foram completamente desconhecidos pela imprensa? Falam do muro que os EUA construíram na fronteira com o México, onde morre todos os anos mais gente do que em todo tempo de existência do muro de Berlim? A ocupação brutal da Palestina, o cerco que ainda segue a Gaza, é tema de seus espacos jornalisticos ou melhor calar para que os cada vez menos leitores, telespectadores e ouvintes possam se recordar do que realmente é barbarie, mas que cometida pela “civilizada” Israel – que ademais conta com empresas que anunciam regularmente nos orgãos dessas empresas – deve ser escondida? Que protestos fizeram os empregados da empresa que emprestou seus carros para que atuassem os servicos repressivos da ditadura, disfarçaados de jornalistas, para sequestrar, torturar, fuzilar e fazer opositores desaparecerem? Disseram que isso “passou de todos os limites” ou ficaram calados, para não perder seus empregos?

Mas morreu um preso em Cuba. Que horror! Que oportunidade para bajular os seus patrões, mostrando indignação contra um país de esquerda! Que bom poder reafirmar diante deles que se se foi algum dia de esquerda, foi um resfriado, pego por más convivências, em lugares que não frequentam mais; já estão curados, vacinados, nunca mais pegarão esse vírus. (Um empregado da família Frias, casado com uma tucana, orgulha-se de ter ido a todos os Foruns Econômicos de Davos e a nenhum Fórum Social Mundial.
Ali pôde conhecer ricaços e entrevistá-los, antes que estivessem envoldidos em escândalos, quebrassem ou fossem para a prisão. Cada um tem seu gosto, mas não dá para posar como “progressista”, escolhendo Davos a Porto Alegre.)

Não conhecem Cuba, promovem a mentira do silêncio, para poder difamar Cuba. Não dizem o que era na época da ditadura de Batista e em que se transformou hoje. Não dizem que os problemas que têm a ilha é porque não quer fazer o que fez o darling dessa midia, FHC, impondo duro ajuste fiscal para equilibrar as finanças públicas, privatizando, favorecendo o grande capital, financeirizando a economia e o Estado. Cuba busca manter os direitos universais a toda sua população, para o que trata de desenvolver um modelo econômico que não faça com que o povo pague as dificuldades da economia. Mentem silenciando sobre o fato de que, em Cuba, não há ninguem abandonado nas ruas, de que todos podem contar com o apoio do Estado cubano, um Estado que nunca se rendeu ao FMI.

Cuba é a sociedade mais igualitária do mundo, a mais solidária, um país soberano, assediado pelo mais longo bloqueio que a história conheceu, de quase 50 anos, pela maior potência econômica e militar da história. Cuba é vítima privilegiada da imprensa saudosa do Bush, porque se é possivel uma sociedade igualitária, solidária, mesmo que pobre, que maior acusação pode haver contra a sociedade do egoísmo, do consumismo, da mercantilizacao, em que tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra?

Como disse Celso Amorim, o Ministro de Relações Exteriores do Brasil: os que querem contribuir a resolver a situação de Cuba tem uma fórmula muito simples – terminem com o bloqueio contra a ilha. Terminem com Guantanamo como base de terrorismo internacional, terminem com o bloqueio informativo, dêem aos cubanos o mesmo direito que dão diariamente aos opositores ao regime – o do expor o que pensam. Relatem as verdades de Cuba no lugar das mentiras, do silêncio e da covardia.

Diante de situações como essa, a razão e a atualidade de José Martí:

“Há de haver no mundo certa quantidade de decoro,
como há de haver certa quantidade de luz.
Quando há muitos homens sem decoro, há sempre outros
que têm em si o decoro de muitos homens.
Estes são os que se rebelam com força terrível
contra os que roubam aos povos sua liberdade,
que é roubar-lhes seu decoro.
Nesses homens vão milhares de homens,
vai um povo inteiro,
vai a dignidade humana…

Veríssimo espinafra a mídia golpista

por Altamiro Borges(blog do Miro)

Reproduzo abaixo entrevista com Luis Fernando Veríssimo - cronista, romancista, novelista, quadrinista, saxofonista e tantas outras coisas criativas -, concedida ao jornalista Ayrton Centeno, do sítio Brasília Confidencial. Frasista brilhante – “às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data” -, Veríssimo espinafra o antilulismo da mídia brasileira. A entrevista é imperdível:


BC: Hoje, no Brasil, a mídia enxerga um país totalmente diferente daquele que a maioria da população vê. Enquanto a grande imprensa, pessimista, trabalha sobre uma paleta de escândalos, a população, otimista, toca a sua vida de modo mais tranquilo. Que país o Sr. vê?

Luís Fernando Veríssimo – A imprensa cumpre o seu papel fiscalizador, mas não há dúvida que, com algumas exceções, antipatiza com o Lula e com o PT. Acho que os historiadores do futuro terão dificuldade em entender o contraste entre essa quase-unânime reprovação do Lula pela grande imprensa e sua também descomunal aprovação popular. O que vai se desgastar com isto é a idéia da grande imprensa como formadora de opinião.

BC: A grande imprensa enaltece a diversidade de opiniões, mas, curiosamente, os principais jornais do Brasil têm a mesma opinião sobre os mesmos assuntos. Este pensamento único não compromete uma pluralidade de opiniões que a mídia costuma defender quando não está olhando para si própria?

LFV: O irônico é que hoje existem menos alternativas à imprensa “oficial” do que existia nos tempos da censura. Mas as alternativas existem, e o tal pensamento único não é imposto, mas decorre de uma identificação dos grandes grupos jornalísticos do país com alguns princípios, como o da economia de mercado, o governo mínimo, etc.

BC: O senhor defende na sua coluna a reforma agrária e questiona a criminalização dos movimentos sociais. Não se sente muito solitário na mídia tratando desses temas?

LFV: Meus palpites não são muito consequentes. Acho que me toleram como a um parente excêntrico.

BC: Todas as pesquisas indicam a queda da circulação dos grandes diários dentro e fora do Brasil. Com uma longa trajetória no jornalismo, como percebe esta queda persistente, que expressa também o afastamento de uma geração do hábito de ler jornais? E como acompanha o trânsito de boa parte do público para a internet?

LFV: Quem é viciado em jornal e revista como eu só pode lamentar que a era da letrinha impressa esteja chegando ao fim, como anunciam. Mas este é um preconceito como qualquer outro. Mesmo mudando o veículo ainda existirá o texto, e um autor. Vou começar a me preocupar quando o próprio computador começar a escrever.

BC: Atribui-se a um advogado famoso, dono de clientela de altíssimo poder aquisitivo, uma reação irada ao saber que seu cliente endinheirado fora preso: “O que é isso? No Brasil só vão presos os três Ps: preto, puta e pobre!”, reagiu indignado. Estamos no século 21, mas as elites parecem continuar no 19. Acredita que vá ver isto mudar?

LFV: As nossas elites não mudaram muito desde D. João VI. Vamos lhes dar mais um pouco de tempo.

BC: A atual política externa do Brasil, mais independente, colabora de alguma maneira para mudar este comportamento?

LFV: A política externa independente é uma das coisas positivas deste governo. Embora o pragmatismo excessivo possa levar a uma tolerância desnecessária com bandidos, às vezes.

BC: O escritor argentino Jorge Luís Borges dizia que a única notícia realmente nova em toda a sua vida foi a chegada do homem à Lua. O resto já tinha acontecido antes de uma ou outra forma. O que o surpreendeu, além disso? Borges tinha razão?

LFV: O sistema GPS. Finalmente, uma voz vinda do alto para guiar os nossos passos.

BC: Em que trabalha no momento ou pretende trabalhar? De outra parte, o que acha dos e-books?

LFV: Acabei de lançar um romance, chamado Os Espiões. Não tenho outro romance planejado no momento. Devem sair um livro para público juvenil, um de quadrinhos e um sobre futebol este ano, mas não sei bem quando. Quanto aos e-books, só vou aceitar quando tiverem cheiro de livro.

BC: Teremos eleições em 2010 e o governo Lula opera na proposta de um pleito plebiscitário – Nós x Eles – contrapondo os oito anos do PT contra os oito anos do PSDB. Se fosse fazer esta comparação o que diria?

LFV: De certo modo, este governo continuou o outro. E vou votar para que o próximo continue este.

Juiz esculhamba o promotor do caso Bancoop, mas a imprensa silencia: aperitivo do que virá em 2010

Do blog Escrevinhador(Rodrigo Vianna)

O promotor José Carlos Blat, do caso Bancoop, teve seu trabalho (?) desqualificado pelo juiz: e a imprensa?

É um escândalo. Para dizer o mínimo. São seis horas da tarde de sexta-feira. Dei uma passada pelas capas dos maiores portais da internet. Nenhum (com exceção do R-7 - com uma pequena chamada na parte de baixo da primeira página - http://noticias.r7.com/brasil/noticias/juiz-nao-ve-motivo-para-bloqueio-de-contas-da-bancoop-20100312.html) noticia o fato de o juiz responsável pelo caso Bancoop ter desqualificado a acusação apresentada pelo promotor José Carlos Blat.

Já havia escrito sobre o assunto na manhã de hoje - mas ainda não tinha em mãos o despacho do juiz. É devastador.

A grande mídia, claro, silencia.

O G-1 não tem lugar para o fato em sua capa, mas tem espaço para um título inacreditável - Navio tem surto intestinal pela segunda vez . É isso mesmo. Tá escrito lá. Fiquei a imaginar o surto intestinal do navio, algo monstruoso!

O IG acha também espaço para notícias fundamentais - Exorcista-chefe da Igreja Católica diz que há bispos ligados ao diabo. Mas nada sobre o caso Bancoop.

No Terra, no UOL, na FolhaOnline, claro, nada também sobre a decisão do juiz.

É evidente que - em respeito às pessoas que investiram seu dinheiro na Bancoop, e não receberam os imóveis - o caso precisa ser investigado, como já escrevi aqui - http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/fbi-justica-nega-bloqueio-de-contas-da-cooperativa-bancoop-e-questiona-a-atuacao-do-promotor-blat.

Mas a maneira atabalhoada como o caso voltou à mídia (claro, na capa da "Veja", com repercussão posterior no "JN") mostra que se trata de peça da campanha eleitoral. Serra precisa conter a sangria de votos. Escândalos forjados (ou requentados) não tiram voto de Dilma junto ao povão, mas podem fazer com que o eleitorado anti-PT, mesmo não engolindo muito Serra, permaneça ao lado dele. A tática é evidente.

E é evidente que o juiz notou a manobra, como veremos abaixo.

Sobre estranhas relações entre promotores e imprensa, sugiro a leitura de Marco Aurelio Mello, no cada vez mais fundamental "Doladodelá" - http://maureliomello.blogspot.com/2010/03/arte-de-tergiversar.html

Como em 2006, neste ano será importante buscar as informações em fontes alternativas. Eu acabo de encontrar o texto do juiz no blog do Eduardo Guimarães. Vejam: o Eduardo não é jornalista, está na Bolívia, a trabalho, mas achou tempo (ao contrário de IG, UOL, Terra, G1...) para reproduzir o texto.

Merece ser lido.

Só um aperitivo. Vejam o pito que o juiz passa no promotor, de forma muito elegante:

"O Ministério Público e o Poder Judiciário são, antes que tudo, instituições de Estado, e não de governo. Assim, é imprescindível que sua atuação fique acima de circunstâncias ou convicções políticas.

E não basta que cada integrante destas instituições exclua internamente suas convicções políticas de influência em suas atuações. É imprescindível também que fique absolutamente claro, para toda a sociedade, que suas atuações são isentas de outros interesses que não os decorrentes de suas próprias atribuições institucionais. "

Agora, fiquem com a íntegra do texto do juiz Carlos Eduardo Lora Franco, que reproduzo do blog Cidadania.com - http://edu.guim.blog.uol.com.br/.

Inicialmente não se pode desconsiderar a repercussão política que a presente investigação passou a ter a partir do momento em que o teor do requerimento do Ministério Público de fls. 5649 e ss. veio a ser divulgado pela imprensa no último final de semana, antes mesmo que fosse apresentado em juízo. E isso porque, faltando cerca de apenas sete meses para as eleições presidenciais, uma das pessoas de quem foi requerida a quebra de sigilo (João Vaccari Neto) estaria sendo indicado como possível integrante da equipe de campanha da virtual candidata do partido atualmente ocupante da Presidência da República.

Tal contexto, porém, apenas reforça ainda mais a necessidade de cautela e rigor no exame dos requerimentos formulados, justamente para que tal atmosfera política não venha a contaminar a presente investigação ou, noutro sentido, que esta não venha a ser utilizada por terceiros para manipulação da opinião pública por propósitos políticos.

O Ministério Público e o Poder Judiciário são, antes que tudo, instituições de Estado, e não de governo. Assim, é imprescindível que sua atuação fique acima de circunstâncias ou convicções políticas.

(segue...)

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Dilma deve superar Serra já na próxima pesquisa Ibope

Do Portal Vermelho.org

"Outra pesquisa, desta vez encomendada pelo PT, foi levada ao Planalto na sexta-feira. Deu pela primeira vez Dilma Rousseff 3 pontos à frente de José Serra", diz o jornalista.

As pesquisas CNI/Ibope são divulgadas de três em três meses. Na última pesquisa, divulgada em dezembro, Dilma tinha 17% e Serra, 38%. Ciro tinha 13% e Marina, 6%.

Sem Ciro na disputa, o Ibope mostrava Serra com 41% e Dilma com 28%. Marina conseguia 10%.

Em janeiro e fevereiro, outras pesquisas de institutos diferentes mostraram um rápido crescimento das intenções de voto na candidata petista. Os levantamentos do Datafolha, Sensus e Vox Populi mostraram situações de empate técnico, com Serra na frente. Caso seja confirmada a informação de Lauro Jardim, o Ibope será a primeira pesquisa de abrangência nacional a mostrar Dilma Rousseff na frente do tucano.

A pequisa Ibope/CNI foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número 5429/2010. Foram feitas 2002 entrevistas em todo o país, o que dá uma margem de erro máxima de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Pesquisa na Paraíba

Uma outra pesquisa, circunscrita à Paraíba, também foi divulgada esta semana. Realizada pelo Instituto Consult, contratado pelo Jornal Correio da Paraíba, mostra José Serra com 36,45% das intenções de votos dos paraibanos. Dilma tem 35,25%, em situação de empate técnico com o tucano. Ciro Gomes (PSB) vem em seguida com 7,45% e a senadora Marina Silva (PV), com 3,55%.

Leia também: Próximo Ibope vai medir influência de Lula entre eleitores

Déjà vu eleitoral

Do blog Cidadania.com

Déjà vu é uma expressão francesa que significa “já visto”. Trata-se de uma reação psicológica na qual o indivíduo intui que já vivenciou uma situação ou que já esteve em algum lugar, muitas vezes sem se dar conta disso racionalmente.

Não é preciso ser sociólogo ou psicanalista ou vidente para ter certeza de que cada brasileiro ao menos intui que a chuva de denúncias contra o PT, que eclodiu da semana passada para cá, guarda relação com o processo eleitoral de 2010.

Tenho absoluta certeza de que a maioria atribui às eleições o massacre acusatório a Lula, a Dilma e ao PT simplesmente porque, nos últimos vinte anos, eleição, no Brasil, é sempre assim.

Quantas vezes, este e outros blogs, disseram que viria um noticiário como o deste sábado? Era previsível e esperado. A mim, parece mais desespero do que tática, aliás. As manchetes são sintomáticas:

Veja: “Caiu a casa do tesoureiro do PT”

O Estado de São Paulo: “Lula inaugura obra inacabada e suspeita”

Folha de São Paulo: “Lula admite que Jefferson o alertou sobre mensalão”

Qual é a diferença para 2006, além de que não será Lula o candidato a disputar com o anti-Lula de plantão? Por que, desta vez, daria certo a surrada estratégia eleitoral da direita? Aliás, note-se que até ressuscitaram o “mensalão do PT”.

Só que, agora, a tática será muito menos eficaz, ainda que, no século XXI, jamais tenha tido maior eficácia. Ataques como o da Veja, baseados em meras acusações sem provas, sucedem a destruição do DEM-PFL. E, agora, a economia está bombando. As pessoas estão muito mais satisfeitas com o país.

As manchetes condenam os adversários políticos dos jornais e revista supra mencionados, entre outros, mas a Justiça, que é só quem pode condenar, diz que não há provas para tanto.

O despacho do juiz que julgou a ofensiva do partidarizado Ministério Público de São Paulo contra o “tesoureiro do PT” citado na capa da última edição da Veja, é muito claro. Revisemos o que disse o magistrado, pois:

“Não se pode desconsiderar a repercussão política que a presente investigação passou a ter a partir do momento em que o teor do requerimento do Ministério Público (...) veio a ser divulgado pela imprensa no último final de semana, antes mesmo que fosse apresentado em juízo.

(...)

Faltando cerca de apenas sete meses para as eleições presidenciais, uma das pessoas de quem foi requerida a quebra de sigilo (João Vaccari Neto) estaria sendo indicado como possível integrante da equipe de campanha da virtual candidata do partido atualmente ocupante da Presidência da República.

Tal contexto, porém, apenas reforça ainda mais a necessidade de cautela e rigor no exame dos requerimentos formulados, justamente para que tal atmosfera política não venha a contaminar a presente investigação ou, noutro sentido, que esta não venha a ser utilizada por terceiros para manipulação da opinião pública por propósitos políticos(...)

É preciso dizer mais alguma coisa? Poderia ser mais clara a acusação de um magistrado de que esses meios de comunicação estão fazendo uso político de uma denúncia sem provas?

Aliás, não me surpreenderei se o juiz Carlos Eduardo Lora Franco, autor do despacho reproduzido parcialmente acima, sofrer alguma acusação da mídia.

Mas estamos falando da Justiça. Por mais que ela possa ser instrumentalizada em instâncias regionais – nas quais os partidos de direita mantém uma ascendência construída ao longo do regime militar –, cedo ou tarde, nas instâncias superiores, a normalidade jurídica será reposta.

Mas o que interessa, nesse processo, é menos a Justiça do que o conjunto da sociedade. A maioria dos brasileiros, a meu ver, está vacinada.

O que importa é o que sentimos de concreto em nossas vidas. Essa tática de preservar Serra das montanhas de acusações que há contra ele enquanto se acusa seus dois principais adversários (Lula e Dilma), não funcionará. Tenho certeza absoluta.

Desde a primeira campanha eleitoral à Presidência da República depois do fim do regime militar – e lá se vão mais de vinte anos –, a tática é a mesma. Mas ela parou de funcionar em 2002...

A mídia de Serra está produzindo um Déjà vu eleitoral. Deve estar sendo fortíssima a sensação da sociedade de que a velha tática tucano-pefelê-midiática volta a ser usada. E quanto mais este processo eleitoral se parecer com os anteriores, melhor.