sábado, 18 de julho de 2009

Decifrando o mistério paulista

por Eduardo Guimarães no Cidadania.com

Quem não é de São Paulo, visita o Estado e constata a catástrofe paulista não consegue entender por que o povo do Estado mantém a direita tucano-pefelista no poder há tantos e tantos anos (quase duas décadas). A cada ano, o Estado vem perdendo, perdendo e perdendo. Perde qualidade de vida, investimento e pujança econômica, empregos etc. E o povo aplaude.

Basta olhar para os números da crise econômica para ver como em São Paulo ela é mais grave do que no resto do Brasil. E depois olhar para a Saúde, para a Educação, para o transporte público, para a Habitação ou para a Segurança pública.

Hoje, temos, os paulistas, indicadores entre os piores do país em todos esses quesitos apesar de sermos o Estado mais rico e industrializado.

Na economia, o desemprego resiste em São Paulo enquanto melhora rapidamente no resto do país. A produção industrial paulista, idem. Agora, apesar da isenção de impostos do governo federal, a famigerada “substituição tributária” do governo paulista anula a queda nos preços da “linha branca” (geladeiras, fogões etc), por exemplo.

Na Saúde, bem, na Saúde uma visita a um hospital público da capital mostra como em quase vinte anos de governos tucanos o paulista acabou tendo atendimento proporcionalmente pior do que o de Estados paupérrimos do Norte e do Nordeste, que vêm melhorando a cada ano enquanto o de São Paulo, no mínimo, fica estagnado.

Na Educação, São Paulo fica sempre nos últimos lugares nas avaliações nacionais. Os professores da rede pública paulista estão entre os mais mal pagos. Vivem em greve e levando “borrachada” da polícia do governador. Os alunos da rede estadual de ensino são verdadeiros analfabetos funcionais.

O transporte público é uma desgraça. O trânsito de São Paulo é o pior do país e um dos piores do mundo. Proporcionalmente, temos a menor rede metroviária. Uma cidade como Santiago do Chile, que tem a metade da população de São Paulo, dispõe de uma rede de metrô duas vezes maior. O povo da periferia passa duas, três horas espremido em ônibus lotados para ir ao trabalho ou voltar. No metrô, a situação é igualmente caótica. Nos horários de pico, a cena é surreal, com milhões de pessoas espremidas e se empurrando nas estações saturadas.

Na Habitação, sugiro a quem não acredita no que digo que dê uma volta pela capital de São Paulo para ver as favelas crescendo sem parar, os cortiços proliferando, os moradores de rua aumentando. Como se não bastasse, o governo do Estado ainda boicota o programa de moradias do governo federal. E como a imprensa paulista não informa a população, ela não sabe o que está perdendo.

A Segurança pública está em um nível de calamidade jamais visto. Os policiais ganham menos do que os do Piauí. Apesar da propaganda oficial, que a imprensa daqui abraça, o paulista vive cada vez mais apavorado com a criminalidade. Basta dar uma volta pelo centro velho da capital (pela Cracolândia, por exemplo) para comprovar. E se você, não-paulista, perguntar a qualquer paulista se acredita que a criminalidade está diminuindo, ele rirá na sua cara.

Paradoxalmente, há pouco o instituto Datafolha fez uma pesquisa sobre a avaliação do governo de José Serra e ele aparece com a mesma popularidade de quando foi eleito. E nas pesquisas sobre a sucessão presidencial, com o peso eleitoral de São Paulo Serra aparece isolado na liderança, ainda que tal liderança esteja caindo mês a mês. E só não cai mais rápido por conta dos paulistas, que são muitos e, portanto, influem fortemente no resultado das pesquisas.

Aparentemente, é um mistério o que acontece com o povo de São Paulo. Parece não haver explicação lógica. Mas há: ao perguntar a um paulista por que a Segurança Pública de seu Estado piorou tanto, via de regra ele dirá que a culpa é de Lula. E dirá o mesmo sobre todo o resto – Saúde, Educação, habitação, transporte...

O paulista não se lembra nunca do governo do Estado na hora de reclamar dos problemas locais porque o governo estadual deixou de ser fiscalizado e criticado pela imprensa de São Paulo há quase vinte anos. Vai daí que, para o paulista, tudo é responsabilidade do governo federal. E, como São Paulo só faz piorar, o povo desse Estado fica insatisfeito com o governo Lula em vez do governo Serra.

Se você que não é de São Paulo não acredita no que digo, pergunte a um paulista típico se a Saúde, a Educação, o Transporte, a Segurança etc estão bons. Ele responderá que está tudo horrível. Daí, pergunte de quem é a culpa e ouvirá só criticas a Lula.

Isso acontece porque a classe social esclarecida, que sabe de quem é a responsabilidade por cada quesito supra mencionado, é de direita, abastada e acha que, para manter seus privilégios, é preciso haver desigualdade social. E as camadas sociais que mais sofrem – ainda que todas sofram com problemas que não se resumem aos pobres – são incultas e não sabem que a vida em São Paulo é proporcionalmente pior do que no resto do país por conta do governo do Estado. E não sabem simplesmente porque este governo é invisível na mídia.

O mistério paulista está explicado. Agora, falta explicar como combater tal fenômeno.

Ano que vem, haverá que fazer uma campanha massiva em São Paulo explicando as responsabilidades de cada esfera de governo. Haverá que dizer, por exemplo, que São Paulo não tem metrô porque a esfera de governo encarregada de implantar a rede metroviária é a estadual e não investiu. E denunciar que a imprensa não discute o governo de São Paulo porque é aliada dele.

Parece-lhe uma tática óbvia? Sim, é óbvia. Contudo, nas eleições anteriores nada disso foi feito no âmbito do governo paulista.

O último suspiro de Serra

por Luis Nassif

Entenda melhor o que está por trás dessa escalada de CPIs, escândalos e tapiocas da mídia.

A candidatura José Serra naufragou. Seus eleitores ainda não sabem, seus aliados desconfiam, Serra está quase convencido, mas naufragou.

Política e economia têm pontos em comum. Algumas forças determinam o rumo do processo, que ganha uma dinâmica que a maioria das pessoas demora em perceber. Depois, torna-se quase impossível reverter, a não ser por alguma hecatombe - um grande escândalo.

O início da derrocada

O início da derrocada de Serra ocorreu simultaneamente com sua posse como novo governador de São Paulo. Oportunamente abordarei as razões desse fracasso.

Basicamente:

1. O estilo autoritário-centralizador e a falta de punch para a gestão. O Serra do Ministério da Saúde cedeu lugar a um político vazio, obcecado com a política rasteira. Seu tempo é utilizado para planejar maldades, utilizar a mão-de-gato para atingir adversários, jornalistas atacando colegas e adversários e sua tropa de choque atuando permanentemente para desestabilizar o governo.

2. Fechou-se a qualquer demanda da sociedade, de empresários, trabalhadores ou movimentos sociais.

3. Trocou programas e ideias pelo modo tradicional de fazer política: grandes gastos publicitários, obras viárias, intervenções suspeitíssimas no zoneamento municipal (comandado por Andrea Matarazzo), personalismo absurdo, a ponto de esconder o trabalho individual de cada secretário, uso de verbas da educação para agradar jornais. Ao contrário de Franco Montoro, apesar de ter alguns pesos-pesados em seu secretariado, só Serra aparece. Em vez de um estado-maior, passou a comandar um exército de cabos e sargentos em que só o general pode se pronunciar.

4. Abandonando qualquer veleidade de inovar na gestão, qual a marca de Serra? Perdeu a de bom gestor, perdeu a do sujeito aberto ao contato com linhas de pensamento diversas (que consolidou na Saúde), firmou a de um autoritário ameaçador (vide as pressões constantes sobre qualquer jornalista que ouse lhe fazer uma crítica).

5. No meio empresarial (indústria, construção civil), perdeu boa parte da base de apoio. O mercado o encara com um pé atrás. Setores industriais conseguem portas abertas para dialogar no governo federal, mas não são sequer recebidos no estadual. Há uma expectativa latente de guerra permanente com os movimentos sociais. Sobraram, para sua base de apoio, a mídia velha e alguns grandes grupos empresariais de São Paulo - mas que também (os grupos) vêem a candidatura Dilma Rousseff com bons olhos.

A rede de interes

O PSDB já sabe que o único candidato capaz de surpreender na campanha é Aécio Neves. Deixou marca de boa gestão, mostrou espírito conciliador, tem-se apresentado como continuidade aprimorada do governo Lula - não como um governo de ruptura, imagem que pegou em Serra.

Será bem sucedido? Provavelmente não. Entre a herança autêntica de Lula - Dilma - e o genérico - Aécio - o eleitor ficará com o autêntico. Além disso, se Serra se tornou uma incógnita em relação ao financismo da economia, Aécio é uma certeza: com ele, voltaria com tudo o estilo Malan-Armínio de política econômica, momentaneamente derrotado pela crise global. Mas, em caso de qualquer desgaste maior da candidatura oficial, quem tem muito mais probabilidade de se beneficiar é Aécio, que representa o novo, não Serra, que passou a encarnar o velho.

Acontece que Serra tem três trunfos que estão amarrando o PSDB ao abraço de afogado com ele.

O primeiro, caixa fornida para bancar campanhas de aliados. O segundo, o controle da Executiva do partido. O terceiro, o apoio (até agora irrestrito) da mídia, que sonha com o salvador que, eleito, barrará a entrada de novos competidores no mercado.

Se desiste da candidatura, todos os que passaram a orbitar em torno dele terão trabalho redobrado para se recolocarem ante outro candidato. Os que deram apoio de primeira hora sempre terão a preferência.

Fica-se, então, nessa, de apelar para os escândalos como último recurso capaz de inverter a dinâmica descendente de sua candidatura. E aí sobressai o pior de Serra.

Ressuscitando o caso Lunus

Em 2002, por exemplo, a candidatura Roseana Sarney estava ganhando essa dinâmica de crescimento. Ganhara a simpatia da mídia, o mercado ainda não confiava em Serra. Mas não tinha consistência. Não havia uma base orgânica garantindo-a junto à mídia e ao eleitorado do centro-sul. E havia a herança Sarney.

Serra acionou, então, o Delegado Federal Marcelo Itagiba, procuradores de sua confiança no episódio que ficou conhecido como Caso Lunus - um flagrante sobre contribuições de campanha, fartamente divulgado pelo Jornal Nacional. Matou a candidatura Roseana. Ficou com a imagem de um chefe de KGB.

A dinâmica atual da candidatura Dilma Rousseff é muito mais sólida que a de Roseana.

1. É apoiada pelo mais popular presidente da história moderna do país.

2. Fixou imagem de boa gestora. Conquistou diversos setores empresariais colocando-se à disposição para conversas e soluções. O Plano Habitacional saiu dessas conversas.

3. Dilma avança sobre as bases empresariais de Serra, e Serra se indispôs com todos os movimentos sociais por seu estilo autoritário.

4. Grande parte dessa loucura midiática de pretender desestabilizar o governo se deve ao receio de que Dilma não tenha o mesmo comportamento pacífico de Lula quando atacada. Mas ela tem acenado para a mídia, mostrando-se disposta a uma convivência pacífica. Não se sabe até que ponto será bem sucedida, mas mostrou jogo de cintura. Já Serra, embora tenha fechado com os proprietários de grupos de mídia, tem assustado cada vez mais com sua obsessão em pedir a cabeça de jornalistas, retaliar, responder agressivamente a qualquer crítica, por mais amena que seja. Se já tinha pendores autoritários, o exercício da governança de São Paulo mexeu definitivamente com sua cabeça. No poder, não terá a bonomia de FHC ou de Lula para encarar qualquer crítica da mídia ou de outros setores da economia.

5. A grande aposta de Serra - o agravamento da crise - não se confirmou. 2010 promete ser um ano de crescimento razoável.

Com esse quadro desfavorável, decidiu-se apertar o botão vermelho da CPI da Petrobrás.

O caso Petrobras

Com a CPI da Petrobras todos perderão, especialmente a empresa. Há um vasto acervo de escândalos escondidos do governo FHC, da passagem de Joel Rennó na presidência, aos gastos de marketing especialmente no período final do governo FHC.

Todos esses fatos foram escondidos devido ao acordo celebrado entre FHC e José Dirceu, visando garantir a governabilidade para Lula no início de seu governo. A um escândalo, real ou imaginário, aqui se devolverá um escândalo lá. A mídia perdeu o monopólio da escandalização. Até que grau de fervura ambos os lados suportarão? Lá sei eu.

O que dá para prever é que essa guerra poderá impor perdas para o governo; mas não haverá a menor possibilidade de Serra se beneficiar. Apenas consolidará a convicção de que, com ele presidente, se terá um país conflagrado.

Dependendo da CPI da Petrobras, aguarde nos próximos meses uma virada gradual da mídia e de seus aliados em direção a Aécio.

Luis Nassif Online

José Bonifácio: abolicionista no Brasil das senzalas


por Rodrigo Viana, no blog Escrevinhador

No começo dos anos 80, São Paulo já havia explodido como metrópole. Nas franjas da cidade - especialmente nas zonas sul e leste - surgiam bairros precários, onde os imigrantes que chegavam do Nordeste iam construindo suas casas e suas vidas. Meu primeiro contato com esses bairros foi pelos nomes das linhas de ônibus. Na volta da escola, do centro para a zona sul onde morava, eu costumava embarcar no "Jardim Miriam", ou no "Vila Joaniza". Eram linhas com nomes despretensiosos. Nomes simples, de gente simples.

No sentido inverso, para ir da zona sul ao centro, os nomes das linhas de ônibus eram mais pomposos: Largo General Osório, Duque de Caxias, Praça do Patriarca... Nomes que saltavam dos livros de história.

Àquela altura, eu não sabia direito quem era o tal Patriarca. Sabia que o nome dele era José Bonifácio, sabia que tivera um papel importante na Independência brasileira. E só.

Muitos anos depois, quando fui estudar História na Universidade, é que aprendi no curso da professora Maria Odila qual tinha sido o papel de Bonifácio.

Hoje em dia, se me pedem pra fazer uma lista dos brasileiros mais importantes eu incluo o Bonifácio.

E o curioso: natural de Santos, ele nem se via como um brasileiro, mas como um português nascido na América.

Mineralogista, homem de ciências nessa terra de fazendeiros e bacharéis, Bonifácio estudou em vários países da Europa antes de se fixar em Lisboa, onde foi funcionário do Estado português.

Quando Napoleão invadiu Portugal e a Coroa mudou-se para o Rio, em 1808, Bonifácio permaneceu na Europa, e lutou contra os invasores.
Só voltou ao Brasil em 1819.

Homem culto e respeitado, foi ele que ajudou a cimentar a idéia de um Império brasileiro - que mantivesse a unidade territorial. Era um projeto original, na comparação com os vizinhos de origem espanhola. Projeto que recebu uma mãozinha da história, com a vinda da corte para o Rio em 1808. Mas tudo isso poderia ter-se perdido...

Bonifácio pensou o Estado brasileiro, comandou o processo ao lado de Dom Pedro I.
Pensou o Estado, mas pensou também a Nação. E essa é sua maior grandeza.

Sim, pouca gente sabe mas Bonifácio era um reformista. Na época em que a maioria da elite brasileira apostou numa independência que mantivesse a estrutura escravista intacta, ele seguiu rumo oposto. Na Consituinte de 1823, Bonifácio pregou a Abolição da Escravatura. Apresentou um projeto corajoso e coerente com esse objetivo. Perdeu.

A Assembléia foi dissolvida pelo Imperador; a elite escravocrata era hegemônica e o Brasil demoraria mais de 60 anos para abolir a Escravidão. Em 1823, Bonifácio já escrevia, em seu projeto à Consituinte:
"que justiça tem um homem para roubar a liberdade de outro homem, e o que é pior, dos filhos deste homem, e dos filhos destes filhos? Mas dirão talvez que se favorecerdes a liberdade dos escravos será atacar a propriedade. Não vos iludais, senhores, a propriedade foi sancionada para o bem de todos."

Nessa frase, Bonifácio respondia aos liberias de araque brasileiros que, àquela altura, defendiam a Independência em nome do "Liberalismo" em moda na Europa; mas defendiam a Escravidão - acreditem - com base no mesmo "Liberalismo": abolir a escrvidão era atacar o sacrossanto direito à propriedade.

Bonifácio não era um revolucionário. Era só um reformista. Moderadíssimo. Nem republicano ele era. Defendia Monarquia Constitucional. Ainda assim, assustou os senhores dessa terra.

A historiadora Miriam Dolhnikoff organizou um livro muito interessante com os textos de Bonifácio. Chama-se "Projetos para o Brasil", da Companhia das Letras. Livro curto, leitura fácil e saborosa: Bonifácio não era de escrever muito. Deixou importantes anotações, avulsas, organizadas agora pela historiadora.

No livro, numa pequena Introdução, ela traça o perfil de Bonifácio. Interessante notar: o projeto dele para o Estado brasileiro vingou; mas o projeto de Nação foi derrotado.

Bonifácio acabou exilado pelo Imperador - aquele mesmo que ele ajudara a instalar no trono. Voltaria ao Brasil já no fim da vida, para assumir a tutoria de Dom Pedro II. Mas, de novo, parte da Corte entrou em choque com ele. Bonifácio era uma cabeça perigosa demais, livre demais, para elite tão tacanha.

Bonifácio isolou-se na Ilha de Paquetá, e morreu em 1838.

Sobre ele, escreveu a historiadora Miriam Dolhnikoff:

"Unidade, centralização e monarquia, em plena América fervilhante de idéias federalistas e republicanas: essas foram as conquistas da elite que se afirmava com a Independência, no interior da qual Bonifácio desempenhou um efêmero mas importante papel de liderança. Entretanto, é como derrotado que escreve no exílio. Seu projeto de nação e as reformas defendidas como único meio de construir na América um país moderno e civilizado não haviam se concretizado".

José Bonifácio morreu derrotado. Anos depois, a elite brasileira reconstruiu o mito do "Patriarca" da Independência. Era preciso ter um herói ilustrado para dar um verniz civilizado à nossa independência, feita aos tropeções.

Foi assim que José Bonifácio, o "Patriarca", virou nome de linha de ônibus, virou nome de praça...

Para a História oficial, ele é apenas isso: o "Patriarca". Não é bom lembrar que Bonifácio foi exilado, e morreu isolado por defender o fim da Escravidão numa terra de senhores que, até hoje, negam o racismo e tentam apagar a memória de nosso vergonhoso passado.

Viva Bonifácio, o Abolicionista. É desse que o Brasil precisa - ainda hoje.

Quem se interessar pela figura de Bonifácio pode ler também:

- "José Bonifácio, Projetos para o Brasil", capítulo do livro A IDÉIA DE REVOLUÇÃO NO BRASIL - E OUTRAS IDÉIAS, de Carlos Guilherme Mota (editora Globo); ou

- o volume escrito por Otávio Tarquínio de Sousa, sobre Bonifácio, para a coleção OS FUNDADORES DO IMPÉRIO (livro esgotado, mas fácil de encontrar nos sebos).

Charge de Bessinha para A Charge Online

Piratas do Sion: Obama perdeu o barco

por Alan Sabrosky, Alarab Online, Londres

Tradução: Caia Fittipaldi

O "Espírito da Humanidade"[1]

A evidência de que Israel abordou e capturou em águas internacionais o barco "The Spirit of Humanity", barco desarmado e carregado de suprimentos, alimentos e remédios para a atormentada população de Gaza, comprova que a pirataria de Estado é perigo real hoje. É mais uma violência contra as leis internacionais que se soma à folha corrida dos crimes de um Estado bandido [orig. rogue State] que, como Netanyahu reconheceu há algumas semanas, não é país igual aos demais. Mas a abordagem e captura desse navio foi também um modo de Netanyahu testar a determinação de Obama – teste no qual Obama fracassou, para seu descrédito e sua vergonha.

"O passado é prólogo"[2]

Não é a primeira vez que Israel pratica esse tipo de crime. Não há quem consiga chegar a Gaza e que não se sinta horrorizado pela destruição e pelo sofrimento que lá se vê. Gaza foi virtualmente reduzida a ruínas durante o selvagem ataque israelense de dezembro de 2008, há seis meses – massacre que foi comemorado no Congresso dos EUA e pelo governo Bush e sobre o qual Obama, já presidente eleito, não se manifestou. Todo o sofrimento em Gaza, antes e depois do massacre, é resultado do bloqueio que Israel impôs em Gaza, que reduziu o fluxo de comida, água e artigos de primeira necessidade e, depois do massacre de dezembro, impede qualquer trabalho de reconstrução.

Parte decisiva dessa política de estrangulamento é o bloqueio naval que Israel impôs no litoral de Gaza, com interceptação, remoção ou captura de vários pequenos barcos que tentavam levar socorro humanitário à população de Gaza. A captura absolutamente ilegal do barco "The Spirit of Humanity" foi relativamente pouco violenta, se comparada a outros casos – os israelenses impediram o avanço do barco e cercaram-no em águas internacionais, à noite; bloquearam todo o equipamento eletrônico de navegação e prenderam tripulação e passageiros entre os quais vários cidadãos norte-americanos. Em outros eventos semelhantes, os barcos foram alvejados, com clara intenção de fazê-los naufragar (como em dezembro de 2008) ou a tripulação foi espancada e torturada (como em fevereiro de 2009). Israel sempre nega ter feito o que fez e repete que estaria interceptando armas – como se as mudas de oliveiras que o "The Spirit of Humanity" transportava fossem mísseis camuflados.

O portento presente[3]

O bloqueio israelense no litoral de Gaza viola a lei internacional, é claro; é crime abordar barco civil em águas internacionais sob ameaça de armas – assim como é crime o tratamento que Israel dá à população que vive em Gaza. Não há dúvida quanto a isso, motivo pelo qual Israel jamais facilitou qualquer operação internacional de investigação – nem quando a comissão da ONU encarregada da investigação foi chefiada por jurista judeu (nascido na África do Sul), com credenciais impecáveis. Israel, como todos os Estados culpados em toda a história, resiste a ver suas ações oficialmente expostas. Para Israel, ter na gaveta a maioria dos votos no Congresso e a maior parte dos jornais e jornalistas dos EUA significa jamais ter de explicar coisa alguma ou pedir perdão.

O caso do barco "The Spirit of Humanity", porém, parece ser diferente e mais grave. Não se trata apenas de Israel ter praticado ato de pirataria e de a pirataria ser crime. Trata-se também de Israel ter agredido alguns dos princípios que norteiam toda a tradição dos EUA como protetores da liberdade e defensores da inviolabilidade dos cidadãos norte-americanos nos mares.

Algumas das primeiras vitórias históricas da Marinha dos EUA, há duzentos anos, quando a República Americana estava nascendo, foram vitórias contra piratas no Norte da África. Recentemente, a Marinha dos EUA combateu também os piratas somalis. Além disso, o próprio Obama, para Israel, continua a ser uma espécie de esfinge não decifrada – nem tanto pelo que fez, porque, de fato, nada fez contra Israel (Israel continua a receber todo o dinheiro e todas as armas que sempre recebeu dos EUA), mas, mais, por não ter deixado transparecer, até agora, o que realmente pensa sobre Israel. Não há dúvida de que Israel decidiu testar Obama. O teste foi o ataque ao barco "The Spirit of Humanity".

Os EUA sabiam oficialmente que o barco estava a caminho de Gaza e que havia cidadãos norte-americanos embarcados. Os EUA também sabiam que os barcos-patrulha de Israel (barcos de guerra) estavam a caminho para interceptar o "Spirit"; e sabiam, afinal, que a interceptação aconteceria em águas internacionais. Os EUA sempre souberam que Israel não poria em ação barcos de guerra para, depois, simplesmente os mandar retroceder; o retorno às bases é ação que Israel só ordenaria (se ordenasse), sob pressão dos EUA. Depois de os barcos armados de Israel terem iniciado a abordagem e o assalto ao "Spirit", a única questão aberta era se o "Spirit" seria saqueado e talvez afundado, ou invadido para capturar passageiros e tripulação: qualquer outra via de ação dependeria de haver clara intervenção dos EUA.

Se Obama estivesse seriamente decidido a alterar o papel dos EUA na Região e a dinâmica do conflito, ali estaria o momento perfeito para agir. Bastaria ter telefonado a Netanyahu, e o ataque teria sido abortado e não haveria norte-americanos prisioneiros em Israel.

Um único destróier dos EUA ou uma fragata da 6ª Frota, com ordens para garantir o cumprimento da lei internacional e proteger o "The Spirit of Humanity" e cidadãos norte-americanos em águas internacionais, teria bastado, com folga. Confronto aberto com um navio de guerra dos EUA não interessaria às patrulhas israelenses, custar-lhes-ia danos e abriria uma lata de vermes políticos que a ninguém interessa que o público norte-americano conheça. De fato, é pena que não tenha acontecido exatamente assim.

Pena ou não, não aconteceu. Obama manteve-se em silêncio, exatamente como durante o massacre de Gaza (talvez esteja escrevendo novo livro "Perfis em Silêncio"); a 6ª Frota nada fez; o mundo assistiu a mais um ato bem-sucedido de pirataria israelense e violação de leis internacionais. Netanyahu e Lieberman devem estar às gargalhadas. Menos felizes, hoje, devem estar os cidadãos norte-americanos abandonados pelo governo Obama numa prisão israelense. E infelizes também, como há tanto tempo, certamente, os palestinos oprimidos.

Que futuro?
O sofrimento de Gaza tem de ter fim, mas é preciso que o mundo dê-se conta de que nada se pode esperar dos EUA, pelo menos por hora. Obama talvez tenha boas intenções, fala bem, diz belas palavras, mas suas políticas pesam menos a cada dia e mentem aos palestinos. Talvez os crimes de Israel sejam excessivos para serem enfrentados só por Obama. O mais provável é que Obama seja politicamente impotente para o serviço que a Palestina espera dele. Se outro país, que não Israel, tivesse feito aqui e em Gaza o que Israel fez contra o "Spirit of Humanity", Obama provavelmente teria respondido como a um ato de guerra, ou, pelo menos, teria feito o que a Otan fez à Iugoslávia nos anos 1990s. Mas não Israel, não agora e com certeza não, havendo na Casa Branca mais um presidente pró-Israel.

* Alan Sabrosky, graduado pelo US Army War College e pela University of Michigan, é há dez anos veterano da Marinha dos EUA.

Notas:


[1]Nome do barco que levava alimentos e remédios para a população palestina confinada no ghetto de Gaza e que foi abordado por soldados de Israel dia 30/6, com sequestro de 21 pessoas de 11 países que nele viajavam. Para saber mais, ver, por exemplo http://www.islamtimes.org/vdce.o8fbjh8ezk1ij.html.

2]Orig. "What's past is prologe" é frase de "A tempestade", Shakespeare; está gravada sobre a entrada principal do prédio do Arquivo Nacional dos EUA, em Washington.
[3]Orig. "Present portent" são as palavras que Horácio usa para referir-se ao fantasma do pai de Hamlet, como 'aviso' de que há desgraça a caminho (em "Hamlet", Shakespeare).

Os barões da mídia

Mauricio Dias, CartaCapital

Depois de muita hesitação, o presidente Lula abriu caminho para a realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, marcada para dezembro. Entra em pauta, pela primeira vez no Brasil, a discussão sobre a imprensa, suas virtudes e vícios.

Dois livros, lançados recentemente, ajudam na reflexão sobre o papel da mídia no Brasil e em toda a América Latina e põem foco em uma questão crucial para a democracia: o monopólio da informação.

A Batalha da Mídia (Editora Pão e Rosas) é de Dênis de Moraes, jornalista e doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ. A Ditadura da Mídia (Editora Anita Garibaldi) é do jornalista e secretário de comunicação do PCdoB, Altamiro Borges.

Os dois textos abaixo, escritos pelos dois autores a pedido do colunista, iluminam melhor a compreensão dos livros que escreveram.

Dênis de Moraes:
“O cenário da batalha na América Latina está nítido: de um lado, elites conservadoras e grupos de mídia que querem manter seu poderio econômico e político; de outro, governos progressistas empenhados em reverter a exclusão social provocada por décadas de neoliberalismo. Pela primeira vez, está sendo contestada a absurda concentração dos setores de informação e entretenimento nas mãos de um reduzido número de corporações.

Os governos da Venezuela, da Bolívia e do Equador estão travando duras pelejas contra as violentas campanhas orquestradas, cujo objetivo é o de impedir mudanças nas regras de concessão de canais de rádio e televisão, as joias da coroa em termos de faturamento.

No Brasil, as turbulências entre mídia e governo federal são menos intensas, o que talvez se explique pela hesitação do presidente Lula em alterar a anacrônica legislação de radiodifusão. Lula parece temer a artilharia dos grupos midiáticos.

Quando resolveu enfrentar os surrados argumentos contra um suposto dirigismo que afetaria a liberdade de expressão, conseguiu criar a TV Brasil. Nem a programação decepcionante da TV Brasil faz diminuir as resistências, pois, no fundo, o que os adversários desejam desqualificar é um tipo de comunicação não mercantilizada e mais favorável à diversidade cultural”.

Altamiro Borges:

“A chamada ‘grande mídia’ exerce hoje brutal ditadura no mundo e no Brasil. Por aqui, cinco famílias monopolizam o setor. Com suas propriedades cruzadas, elas comandam emissoras de tevê, rádios, jornais, revistas, internet. Seu poder de manipulação também é brutal e sempre estiveram envolvidas nos episódios mais dramáticos da nossa história – seja na conspiração contra Getúlio Vargas, no golpe militar de 1964, nas iniciativas contra os direitos dos trabalhadores e contra a soberania nacional na Constituinte de 1988, na fabricação de ‘caçadores de marajás’ ou nas tentativas golpistas de desestabilização do governo Lula.

Esse poder ditatorial, porém, tem sofrido muitos abalos. Há queda na tiragem e a audiência das emissoras privadas despenca. A internet possibilita, parcial e temporariamente, outro tipo de comunicação, mais interativa; sites e blogs se multiplicam. Veículos alternativos, mais críticos ao pensamento único neoliberal, também ganham prestígio; rádios comunitárias permitem maior diversidade informativa e relação com a comunidade.

Na América Latina rebelde, laboratório do neoliberalismo e hoje na vanguarda da luta por mudanças, governantes progressistas apresentam propostas para democratizar os meios de comunicação. E enfrentam muita resistência”.

Zelaya já estaria em Honduras, dizem fontes da resistência a Laerte Braga; ABN, VTV e Telesur não confirmam a notícia

por Laerte Braga

Manuel Zelaya presidente constitucional de Honduras já está em território hondurenho e falou ao povo de seu país através de um telefone. O discurso de Zelaya chegou a todos os cantos do país. O governo golpista de Roberto Michelleti anunciou que não aceita a volta do presidente constitucional e os níveis da repressão beiram a bestialidade.

Pessoas são mortas nas ruas de Tegucigalpa, muitas são conduzidas às prisões e os postos de saúde controlados pelos golpistas negam atendimento a feridos. As principais vias de acesso para exportação de produtos hondurenhos estão bloqueadas pelo Movimento de Resistência Nacional.

O governo dos Estados Unidos censurou a volta de Zelaya. Para setores da resistência hondurenha o presidente Barak Obama não tem controle algum sobre as principais agências de informações e as forças armadas de seu país. Todas as decisões são tomadas em nítido confronto com suas políticas e ignorando posições públicas de Obama.

Os golpistas se valem disso e estão sustentados por militares ligados a norte-americanos, ao tráfico de drogas e de mulheres e ao jogo. As grandes máfias associadas aos empresários do país que operam no mercado de café, banana e indústria têxtil.

O governo da Nicarágua colocou tropas na fronteira com Honduras como medida preventiva para impedir qualquer ação de tropas golpistas do vizinho em seu território. A mesma medida foi tomada pelo governo de El Salvador.

No entendimento de forças populares há uma ação concentrada de embaixadores dos EUA na região, em conluio com o governo paralelo dos EUA para desestabilizar toda a área, provocar uma guerra civil e assim derrubar governos contrários aos interesses norte-americanos.

O presidente Chávez da Venezuela afirmou que é preciso com urgência que Obama decida e defina quem de fato governo os Estados Unidos. Se ele Obama, eleito pelo povo, ou os derrotados que controlam a máquina de espionagem e os militares daquele país. Chávez disse que a postura dos EUA é inaceitável quando o mundo inteiro condena o golpe. Acentua que figuras do governo de Obama estão em franca disputa com o presidente. Não refletem as declarações do presidente e acatam decisões de figuras do antigo governo de Bush.

Obama neste momento é um boneco, um objeto de decoração envolvido em tramas golpistas.

A população de Honduras permanece nas ruas. A Cruz Vermelha já contabilizou oficialmente pelo menos cinqüenta mortos nos últimos dois dias o que faz com que o número chegue a cento e cinqüenta no total. Mais de mil hondurenhos estão desaparecidos, a maioria líderes populares e de oposição ao governo golpista.

A forma como os militares estão agindo nas ruas, invadindo casas, promovendo saques, estuprando mulheres, torturando sem qualquer limite ou controle mostra que o golpe sobrevive sem comando efetivo.

Emissoras de tevê do exterior, neste momento, inclusive a CNN dos EUA, estão fora do ar. Não conseguem transmitir imagens de Honduras. A TELESUR, independente e bolivariana teve vários jornalistas detidos pelos militares.

A comunicação entre os grupos de resistência está sendo feito de forma precária via internet, celulares e por volta das 20 horas havia indícios que alguns chefes militares estavam se mostrando descontente com a boçalidade do comando golpista. Isso pode significar a perspectiva de um racha entre os militares e debilitar mais ainda a posição dos golpistas.

Há pelo menos quinhentos soldados dos EUA numa base em Honduras. Existe o temor que possam tentar intervir no país a pretexto de manter a ordem. Ordem de Washington evidente.

O governo do presidente Daniel Ortega da Nicarágua está acusando os golpistas de tentar forçar uma situação de guerra para justificar a intervenção militar norte-americana, mesmo que disfarçada com presença de tropas de outros países, como acontece no Haiti, onde norte-americanos depuseram o presidente Bertrand Aristides e até hoje, com ajuda de militares brasileiros controlam aquele país, num regime de terror e barbárie.

Setores da resistência falam em banho de sangue, tamanha a selvageria dos militares hondurenhos. Porta vozes da Cruz Vermelha mostram-se horrorizados com essa violência e a insegurança chega a todos. O caráter inumano dos militares hondurenhos assusta a observadores estrangeiros e a jornalistas.

Não há respeito a nada. Traficantes de drogas e mulheres ligados a quadrilhas com base em Miami estão em Honduras dando respaldo ao golpe e ocupam o ministério da justiça através de um representante de esquadrões da morte naquele país.

Há cidadãos de outros países detidos, principalmente da Nicarágua.

As comunicações da resistência com o exterior são precárias e neste momento acredita-se que daqui para a frente vão aumentar os confrontos. Para a resistência ao golpe a fraqueza política do presidente Barak Obama é o principal fator de força dos golpistas. Obedecem a um comando de Washington que ignora Obama. A ação do embaixador dos EUA em Honduras é francamente de colaboração com os golpistas.

Não está confirmada a notícia que Zelaya esteja acompanhado de um representante da OEA. Mas está confirmada a chegada do presidente constitucional ao país.

Vi o mundo

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Cloaca News: transações entre Yeda Crusius e Unibanco para terceirizar educação pública


EXCLUSIVO
Nem parece governo

do Cloaca News
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- As tenebrosas transações entre Yeda Crusius e Unibanco para terceirizar a Educação pública

- "Contrato" (que ninguém viu) foi assinado em agosto de 2008, mas banco já estava infiltrado nas escolas um ano antes

- Vigência da "cooperação" vai até 31/12/2010
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Conforme você lerá aqui, já em meados de 2007 estava em curso uma nebulosa parceria entre o governo despótico (e supostamente corrupto) da tucana Yeda Crusius e o Instituto Unibanco, fundação criada pela famiglia Moreira Salles voltada para a beneficência absolutamente desinteressada.
Batizada de Projeto Jovem do Futuro, a iniciativa da casa de agiotagem teria como compromisso despejar R$ 100 anualmente para cada aluno matriculado na rede estadual de ensino e fornecer às instituições "acompanhamento em seus planos de gestão administrativa e pedagógica, com a meta de melhorar em 50% o desempenho dos estudantes do Ensino Médio no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)".

O próprio website da Secretaria de Educação gaúcha alardeou insistentemente o pacto, como se constata por esta outra notícia , veiculada no dia seguinte ao do primeiro link que apresentamos.

Já estava claro ali que as tratativas vinham de tempos mais remotos, a julgar pela quantidade de escolas cadastradas para participar do projeto. Atente para a data da notícia do "sorteio": 29 de agosto de 2007.

Praticamente um ano depois, em 31 de julho de 2008, a governadora tucana recebeu em seu gabinete, no Palácio Piratini, a superintendente executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel. O objetivo do encontro, segundo esta nota , foi apresentar os resultados do Projeto Jovem de Futuro. Preste atenção a este parágrafo da notícia: "A parceria foi firmada em 2007, através da Secretaria Estadual da Educação e já resultou no repasse de aproximadamente R$ 6 milhões. O investimento total do projeto será de R$ 16 milhões até 2010". E atente para a confusão mental da governante, que diz: "Nosso governo quer investir no Ensino Fundamental o máximo possível...". Como a própria nota informa, o projeto do Unibanco beneficia apenas alunos do Ensino Médio.

Guardou as datas?

Anote esta outra: 20 de agosto de 2008. Nesta data, segundo informação da própria Secretaria da Educação gaúcha, foi feita a "formalização" do contrato (clique aqui para ler). Equivale dizer que, antes de 20 de agosto, fora tudo feito informalmente. Recursos da ordem de R$ 6 milhões já estavam vagando pela administração tucana sem que houvesse qualquer instrumento jurídico regulamentando a circulação da dinheirama.

Quer mais? Apenas no dia 4 de setembro de 2008, o Diário Oficial do RS fez menção ao acerto do governo estadual com o Instituto Unibanco. Ainda assim, o fez de maneira praticamente cifrada. Está na página 26:

"Assunto: Convênio
Expediente: 085592-1900/07-2
Súmula de Termo de Cooperação
PARTÍCIPES: Estado do Rio Grande do Sul, por intermédio da
Secretaria da Educação, e o Instituto UNIBANCO.
OBJETO: Visando à implementação do Projeto Jovem de Futuro-
Qualidade do Ensino Médio, objetivando a melhoria da qualidade
de ensino.
VIGÊNCIA: O presente Termo de Cooperação terá vigência até
31/12/2010, a contar da data da publicação da Súmula no Diário
Oficial do Estado, podendo ser prorrogado mediante Termos
Aditivos.
Código 432609"

Ninguém conhece os termos do "contrato" ou "Termo de Cooperação". Agora, pelo menos, ficamos sabendo que ele entrou em vigor apenas em 4 de setembro de 2008.

No entanto, este Cloaca News e as torcidas da dupla Grenal sabem, por experiência testemunhal, que os agentes do Unibanco já estavam dentro das escolas estaduais, ditando regras e cooptando professores e funcionários com presentinhos e jantares, desde meados de 2007.

Enquanto a mídia sabuja do Rio Grande do Sul, capitaneada pelos veículos do Grupo RBS, lambe as botas e as esporas da tucana supostamente corrupta, enaltecendo o "deficit zero" e reproduzindo press releases de "fatos relevantes", a blogosfera independente segue de olho vivo, desmascarando essa cambada que quer transformar o Brasil na Casa da Mãe Joana.
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(Aguardamos para as próximas horas documentos exclusivos que expõem, com mais detalhes, mais esta tramóia do governo tucano. Nossa fonte pede sigilo; não pretende aparecer boiando nas águas turvas do Guaíba...)

Para acompanhar as novidades deste caso, vá ao Cloaca News

Congresso da UNE: mídia ataca e criminaliza lutas

por Altamiro Borges, em seu blog

Após viajarem milhares de quilômetros em centenas de ônibus fretados, mais de 15 mil jovens de todos os recantos do país estarão reunidos em Brasília para participar do 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Durante cinco dias, eles esbanjarão energia, criatividade e garra em várias passeatas, em acirradas polêmicas nos 25 grupos de debate sobre temas candentes e em plenárias infindáveis. Não haverá cansaço ou desanimo, mas uma baita disposição para lutar por melhorias na educação e por mudanças profundas no país. Caso a mídia tupiniquim respeitasse a nossa juventude, o congresso seria manchete em todos os jornais e nas emissoras de TV e rádio.

Mas a mídia hegemônica prefere evitar qualquer engajamento dos jovens. Ela aposta sempre na alienação e ceticismo. Rejeita qualquer ação coletiva. Prefere estimular o consumismo doentio e o individualismo exacerbado. Por isso, o evento da UNE surge, no máximo, no pé de página dos jornalões tradicionais ou em rápidos flashes na TV. Quando ela trata do evento, é para atacar a organização juvenil e criminalizar suas lutas. Ela omite ou emite opiniões raivosas. Como nos ensina Perseu Abramo, no livro “Padrões de manipulação na grande imprensa”, a ocultação e a inversão da opinião pela informação são duas técnicas muito utilizadas pelos barões da mídia.

Padrões de manipulação da imprensa

“O padrão da ocultação se refere à ausência e presença dos fatos reais na produção da imprensa. Não se trata, evidentemente, de fruto do desconhecimento e nem mesmo de mera omissão diante do real. É, ao contrário, um deliberado silêncio militante sobre determinados fatos da realidade. Esse é um padrão que opera nos antecedentes, nas preliminares da busca da informação, isto é, no ‘momento’ das decisões de planejamento da edição, naquilo que na imprensa geralmente se chama de pauta... O padrão da ocultação é decisivo e definitivo na manipulação da realidade: tomada a decisão de que um fato ‘não é jornalístico’, não há a menor chance de que o leitor tome conhecimento de sua existência por meio da imprensa. O fato real é eliminado da realidade, ele não existe”, ensina o mestre na obra reeditada pela Fundação Perseu Abramo.

Já o segundo truque visa “substituir, inteira ou parcialmente, a informação pela opinião. O órgão de imprensa apresenta a opinião no lugar da informação, e com o agravante de fazer passar a opinião pela informação. O juízo de valor é inescrupulosamente usado como se fosse a própria mera exposição narrativa/descritiva da realidade. O leitor/espectador já não tem mais diante de si a coisa tal como existe ou acontece, mas sim uma determinada valorização que órgão quer que ele tenha de uma coisa que ele desconhece, porque o seu conhecimento lhe foi oculto, negado e escamoteado pelo órgão... Ao leitor/espectador não é dada qualquer oportunidade que não a de consumir, introjetar e adotar como critério de ação a opinião que lhe é autoritariamente imposta”.

O zumbido irritante da Folha

Estes e outros truques da manipulação estão presentes na cobertura do cativante evento da UNE. As emissoras de televisão, que falam para milhões de brasileiros, preferem ocultar o congresso; é como se ele não existisse. Já os jornalões tradicionais, que atingem pequenas faixas entorpecidas das camadas médias, optam por desqualificar os militantes estudantis e suas bandeiras. A opinião substitui a informação. Um caso emblemático é o da cobertura da Folha de S.Paulo, que ainda ilude os ingênuos com o seu falso ecletismo. Com o título “Patrocinada pela Petrobras, UNE faz manifestação contra a CPI”, um texto de pé de página investiu raivosamente contra o congresso.

Não há qualquer informação sobre a pauta do congresso, sobre os participantes ou sobre as lutas estudantis. O artigo hidrófobo destaca apenas que a Petrobras “direcionou R$ 100 mil ao evento” e que os universitários programaram uma manifestação contra a CPI do Senado. A exemplo dos ataques desferidos contra o MST e as centrais sindicais, que recebem verbas públicas para vários projetos culturais e educacionais, a Folha tenta caracterizar a UNE como “governista”. Também critica o fato dos líderes estudantis ocuparem postos no governo Lula. O cinismo é descarado.

Quem está de rabo preso?

Um simples anúncio publicitário da Petrobras na Folha custa muito mais do que o patrocínio ao congresso da UNE. Nem por isso, ela é governista. Pelo contrário. O jornal é um dos principais porta-vozes da oposição demo-tucana. Para ser coerente nas críticas ao uso das verbas oficiais, a Folha deveria rejeitar os milionários anúncios em suas páginas. O governo Lula também poderia ser mais ousado, evitando alimentar cobra. Quanto a tal CPI do Senado, o jornal não informa que ela foi instalada por imposição da própria mídia e serve aos propósitos da oposição demo-tucana. Já no que se refere aos líderes estudantis em postos do governo, a Folha confirma que tem nojo do povo. Para ela, trabalhador é para trabalhar; estudante é para estudar; e a elite é para governar.

No livro citado, Perseu Abramo desmascara a frase publicitária do jornal. “A Folha está de rabo preso com o leitor só tem seu verdadeiro significado desvendado quando recolocada de pé sobre o chão e lida com a re-inversão dos seus termos: o leitor é que está de rabo preso com a Folha, e por extensão com todos os grandes órgãos de comunicação. Recriando a realidade à sua maneira e de acordo com seus interesses político-partidários, os órgãos de comunicação aprisionam seus leitores nesse círculo de ferro da realidade irreal e sobre ele exercem todo o seu poder. O Jornal Nacional faz plim-plim e milhões de brasileiros salivam no ato. Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil e Veja dizem alguma coisa e centenas de milhares de brasileiros abanam o rabo em sinal de assentimento e obediência”.

Vá ao blog do jornalista Altamiro Borges.

Lula vai a evento da UNE e estudantes gritam 'Dilma presidente'


Aos gritos de "Dilma presidente" e "Lula, guerreiro do povo brasileiro", os cerca de 3 mil estudantes que se reuniram nesta quinta-feira, 16, na abertura do 51º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) mostraram uma adesão inquestionável ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com algumas poucas reivindicações e vários elogios, deixaram claro de que lado estão. Algum desavisado poderia pensar tratar-se de uma convenção petista.

Ovacionado ao se levantar para fazer seu discurso, o presidente chegou a pedir que parassem: "Vocês vieram aqui para trabalhar ou para gritar?", brincou. As vozes dissonantes foram poucas. De um lado, um grupo bastante minoritário contrapunha o nome da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, para a presidência em 2010 com o de Ciro Gomes - também aliado do governo. Mas mesmo esse grupo se entusiasmou e conmeçou a tirar fotos de Lula assim que o presidente entrou no auditório do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, ontem, em Brasília.

"O presidente Lula é o presidente brasileiro a participar de um congresso da UNE em 71 anos de história", destacou a presidente da entidade, Lucia Stumpf, ligada ao PC do B - não há registros, no entanto, de outro presidente que tenha sido convidado além de Lula. Lula e o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, foram convidados a pôr a mão no gesso que ficará exposto na nova sede da UNE, no Rio. Como Lula e Dulci demoraram muito, o gelo endureceu e os dois tiveram dificuldades para tirar a mão da massa.

Dominada há décadas pelo PC do B, que elegeu a maioria dos presidentes desde a reconstrução da entidade, em 1979, e pelo PT, que tem o segundo maior grupo, a UNE virou base do governo desde a primeira eleição de Lula, em 2002. Nunca antes a entidade teve uma relação tão próxima com o governo federal.

Essa proximidade se traduz em recursos. Desde 2004, a UNE já recebeu R$ 10 milhões da União. Desses recursos, R$ 7 milhões nos últimos 14 meses. O 51º. Congresso, que começou ontem em Brasília, teve o apoio de sete ministérios, a Caixa Econômica Federal, Correios, Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci) e Petrobrás. Um projeto de lei que tramita no Congresso ainda vai liberar recursos federais para a reconstrução da sede da entidade no Rio de Janeiro.

Em seu discurso, de pouco mais de meia hora, Lula elogiou a independência da UNE. "A Lucia (Stumpf) fez seu discurso como se eu não estivesse aqui. E fez mais forte porque eu estava aqui. Numa relação democrática,civilizada, ninguém pode ser dependente de ninguém", disse. "Eu sou amigo de vocês e vocês meus amigos. Vocês são uma entidade com autonomia e no momento em que vocês não concordarem comigo é para dizer na minha cara 'não concordo, sou contra' e vão para rua fazer passeata. Não tem nenhum problema".

Concentrados em pedir mais investimentos na educação, defender o petróleo do pré-sal e exigir mais vagas no programa Universidade para Todos, durante as cerca de duas horas em que Lula e seus 11 ministros estiveram no centro de convenções não se ouviu os gritos de "Fora Sarney", lançados mais tarde, em frente ao Congresso. A presidente da UNE aproveitou para dizer que a entidade não compartilha dos pontos-de-vista do presidente Lula, que tem defendido o presidente do Senado, José Sarney e, recentemente, abraçou até mesmo o presidente deposto com a ajuda de estudantes universitários - os caras-pintadas -, hoje senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL).

"Nós não nos somamos a ele (Lula) na defesa de Fernando Collor nem de Sarney. Nós repudiamos o que Collor representa na história do Brasil", afirmou Lucia. "Por isso vamos convocar um grande debate para exigir uma reforma política que dê acesso ao jovem ao Congresso Nacional. Os jovens estão lá hoje são os filhos, os netos, os juniores" (das oligarquias).

Oni Presente

Blog da CPI da Petrobras criado pela oposição proíbe comentários


A oposição (PSDB-DEM) criaram um Blog da CPI da PetrobraX para repercutir a tal CPI (já não basta sua parafernália midiática). Esta CPI tão gritada pela santa oposição quer paralisar o PAC da Petrobras, paralisar o Brasil, arruinar empregos gerados pelo PAC, para tomar o poder em 2010, e depois acabar de fazer o serviço da privatização entregando o pré-sal aos estrangeiros endinheirados (CPI patrocinada pelo mundo exterior malandro).
A exemplo do último blog “demo-tucano”, o do movimento CANSEI, pensamos em dar uma modesta contribuição nos comentários, pedindo a convocação do ex-genro de FHC para explicar por que a plataforma P-36 afundou, mas ... ...qual não foi nossa surpresa, ao ver que os “demo-tucanos” PROIBIRAM comentários.
Querem falar de bem longe, de dentro de seus castelos, de suas mansões, de seus tronos em seu gabinetes, longe do povo, escondidos atrás das lentes das câmaras da TV Globo. Nem através de blog deixam o povo chegar perto. É a velha forma conservadora de se expressar que chega ao mundo dos Blogs, que pena!
É o blog do "sim senhor". É blog de "coronéis" demo-tucanos para um curral eleitoral eletrônico que abaixa a cabeça, e se limita a ler sem poder sequer perguntar aquilo que tem dúvida.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Internet: amiga ou inimiga da educação?

por Eduardo Shinyashiki

A internet, muitas vezes, é vista como inimiga da educação. Retratada como um ambiente descontrolado onde sobra material pornográfico, inutilidades várias e artigos de cultura inútil. Mas alguns profissionais, atualizados com as evoluções no mundo da comunicação e da web, enxergam esse mundo possível com outro olhar: nessa terra sem lei, sobram oportunidades, mesmo que anárquicas, de conhecimento, ferramentas usáveis na sala de aula e fora dela, úteis na hora de manter o aprendizado dos alunos em momentos de diversão e descontração.

A Wikipédia é um dos exemplos mais claros de como o digital pode favorecer o conhecimento e o desenvolvimento intelectual. Com 7,5 milhões de artigos, o site colaborativo pode ser alterado por qualquer um e se apresenta como uma poderosa ferramenta educacional. O site possui vários portais de conteúdo educativo com materiais de Arte, História, Matemática e Filosofia.

Mas é importante deixar claro que a internet só é fonte de conhecimento quando o usuário procura por esse conhecimento. Caso contrário, a criança ou o jovem desviarão de todo e qualquer conteúdo interessante e atingirão materiais que não agregarão a sua formação.

É nesse momento que o educador entra em cena. Mostrando caminhos, abrindo trilhas pelas teias de informação e mostrando o alvo certo ao aluno. A escola deve ultrapassar as cadeiras tradicionais e invadir o espaço eletrônico, ensinando o aluno a utilizar com consciência o mundo de possibilidades que é a internet. Não podemos esperar que uma criança de nove anos prefira o site da TV Escola aos jogos do Cartoon Network, é função de pais e educadores mostrar que sites educativos podem ser interessantes e divertidos.

Quanto aos adolescentes, muito do que eles sabem sobre a internet foi aprendido de forma autodidata, e muito desse aprendizado não foca na qualidade, mas na facilidade. Um exemplo claro é o número de trabalhos feitos na base do “copia e cola”. Esse mau hábito pede por reeducação, conscientização dos jovens, no sentido de que o aprendizado acontece superficialmente com um método no qual uma pesquisa acontece apenas com o clique do mouse, e não com o bater do teclado e o giro do pensamento.

Cabe a pais e educadores, a partir das informações aqui contidas e em outros inúmeros artigos sobre internet e aprendizado, decidirem como usar essa poderosa ferramenta, a favor ou contra, amiga ou inimiga da educação e do desenvolvimento intelectual de seus filhos e alunos.

Eduardo Shinyashiki é consultor, palestrante e diretor da Sociedade Cre Ser. Autor do livro Viva Como Você quer Viver, da Editora Gente.

Para mais informações, acesse www.edushin.com.br.

Créditos ao site Olhar Digital

Cadê o agitador Simon?Protesto em frente à casa de Yeda acaba com seis prisões em Porto Alegre


Em Porto Alegre, um grupo de sindicalistas entrou em choque com a Brigada Militar na manhã desta quinta-feira (16) em frente à casa da governadora Yeda Crusius em um protesto organizado pela Fórum dos Servidores Públicos Estaduais. O saldo da confusão foi de seis prisões, entre elas a da vereadora Fernanda Melchionna (PSOL) e da presidente do Cpers-Sindicato (Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul), Rejane de Oliveira.

O protesto reuniu algumas dezenas de manifestantes antes das 8h em frente à casa da governadora, na zona norte da cidade. Os manifestantes colocaram réplica de uma escola de lata no local, em protesto contra a política educacional do governo. Também pediram, em palavras de ordem e faixas, o impeachment de Yeda.

"Enquanto o dinheiro da corrupção financia a mansão da governadora, as crianças estudam em escolas de lata", discursou a presidente do Cpers. A casa da governadora, comprada logo após o final da campanha eleitoral de 2006, é um dos principais alvos de protesto da oposição contra Yeda. A mansão, que oficialmente custou R$ 750 mil, teria sido paga com sobras de campanha.

Em função do protesto dos moradores, a Brigada Militar isolou os manifestantes e os deslocou para uma rua lateral. Na confusão, houve empurra-empurra e um princípio de tumulto. Os detidos foram encaminhados à 14ª Delegacia de Polícia da capital, para depoimento.

Segundo o comandante da Brigada Militar, coronel João Carlos Trindade, os manifestantes apresentaram "atitudes agressivas" e motivaram a reação dos policiais.

A governadora, em entrevista à rádio Gaúcha, classificou o protesto como "orquestrado" e disse que a situação "passou dos limites". Segundo ela, os netos começaram a chorar quando saíram de casa no carro da mãe para irem à escola. "Crianças de oito e 11 anos saem chorando de casa. Não são professores, porque professores não torturam crianças", disse Yeda Crusius.

Além disso, Yeda Crusius disse que os manifestantes foram pagos para fazer o protesto. "São treinados para isso, são pagos para isso. Tinha dois ônibus aqui, quem pagou? Estão cada vez mais desacreditados, repudiados", disse

Créditos ao blog Terror do Nordeste

FUNK CARIOCA - O batidão entre a perseguição e a resistência


Por Marcelo Salles


Um ano após a Lei estadual 5.265, que dificulta a realização de bailes funk, profissionais denunciam a repressão policial a cantores, compositores e até a quem simplesmente gosta de ouvir o ritmo popularizado nas favelas do Rio de Janeiro. Na outra ponta, surge a Associação dos Profissionais e Amigos do Funk, cujo objetivo é unificar e politizar a categoria que leva para as pistas centenas de milhares de jovens todos os fins de semana.

Cidade de Deus, domingo, 14 de junho. Chego à rua GG, que na verdade é um espaço vazio, de terra batida, entre cinco ou seis edifícios. Circundado por bares e mercearias, o lugar deve ter o tamanho de uma quadra poliesportiva, talvez um pouco maior. São três da tarde, faz sol e as crianças se divertem. Brincam de pula-pula e de bola. Não resisto e acabo jogando altinha com eles. De repente, a bola cai na lama, suja pouco, quase nada. Mesmo assim um pequeno a toma pela mão e diz: “Peraí, tio”. O menino, magrinho, uns 12 anos, esfrega a bola no meio-fio e completa: “Pra não sujar sua calça”.

Olho pra trás e vejo um policial militar se aproximando. Daí a dez minutos aparece uma blazer da PM, que promove um escândalo inominável: com fuzis – que são armas de guerra - apontados para fora, o carro faz uma ronda passando por vezes muito perto das crianças que ali brincavam.

Enquanto isso a turma montava a aparelhagem de som no final da rua. Ainda era dia quando o sargento Alcântara foi até o DJ e afirmou: “Dez horas tem que acabar”. Com um fuzil semi-automático a tira-colo, ele fazia cumprir a ordem do comando da polícia, que se baseia numa lei (ver quadro) que na prática inviabiliza a realização de bailes funk – a autoria é do ex-chefe de Polícia Civil e ex-deputado estadual Álvaro Lins (PMDB), cassado e preso sob acusações de formação de quadrilha, facilitação de contrabando e lavagem de dinheiro.

Na verdade, o DJ nem ficou tão aborrecido com o policial. Este era o primeiro evento de funk realizado na CDD, berço desse ritmo no Brasil, desde a ocupação policial, em novembro do ano passado. Aqui nasceram letras como “O povo tem a força, só precisa descobrir / se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui” – verdadeiro hino da classe trabalhadora –, escrita por Kátia e Julinho Rasta e popularizada pelos MCs Cidinho e Doca. Neste domingo, por insistência da Associação de Profissionais e Amigos do Funk (APAFunk), o comando da PM autorizou a realização de uma Roda de Funk, prestigiada por gente de todas as idades, incluindo meu parceiro de altinha.

A Lei 5.265, de junho de 2008, encerrou – direta ou indiretamente – bailes em pelo menos 60 casas no estado, segundo Tojão, dono da equipe de som Espião Choque de Monstro. Isso dificulta muito a vida de quem vive do funk – cerca de 10 mil pessoas no Rio de Janeiro, segundo as contas da APAFunk. São DJs, MCs, dançarinos, compositores e empresários, mas também técnicos de som, motoristas, auxiliares e toda uma gama de trabalhadores que, na década de 1980, segundo o antropólogo Hermano Vianna em seu livro “O mundo funk carioca”, mobilizavam mais de um milhão de jovens (cerca de 20% da população da capital fluminense) em 700 bailes todos os finais de semana em torno dessa mistura de soul (música negra estadunidense, cujo maior representante foi James Brown), miami bass (batida eletrônica) e percussão africana. O resultado é o batidão que hoje está entranhado na cultura do Rio de Janeiro, sobretudo nos espaços populares.

A professora Adriana Facina, do Departamento de História da UFF, acompanhou de perto o funk carioca durante um ano e meio para sua pesquisa de pós-doutorado. Entrevistou mais de cem pessoas, esteve em duas dezenas de favelas e foi a bailes da zona sul à zona norte. Após todo esse trabalho de campo, ela acredita que o que existe é uma perseguição à população afro-descendente. “Os que hoje querem proibir o funk são herdeiros históricos daqueles que, no passado, quiseram calar os batuques que vinham das senzalas”. A propósito, o brasão da Polícia Militar do RJ ainda ostenta os ramos de cana e café, produtos que sustentaram a economia brasileira – movida a trabalho escravo – num passado não muito distante.

“Como é comum acontecer numa sociedade de herança de três séculos de escravidão, a música diaspórica, elemento fundamental de identidade negra, forma comunicacional principal dos modos de vida, dos valores e de denúncia da população afro-descendente, é vista com grande desconfiança pelas elites”, complementa Adriana.

Além da dificuldade para a realização de bailes, o que termina por concentrar os eventos nas grandes casas de show ou por marginalizar os pequenos produtores, a perseguição ao funk extrapolou para a violência contra o cidadão favelado. Naquele domingo, na Cidade de Deus, ouvi denúncias como a proibição de jovens pintarem o cabelo de determinada cor ou de ouvirem funk dentro de suas próprias casas.

Um cantor e compositor com quem estive, e que prefere não se identificar por medo de represália, contou que um dia estava reunido com amigos numa esquina da favela. Chegou uma guarnição da polícia e perguntou o que estavam fazendo. “Compondo”, respondeu. “Então eles mandaram a gente dispersar e tomaram o CD com a batida de fundo”, disse entre irritado e envergonhado pela humilhação sofrida.

O tenente-coronel Luigi Gatto, comandante do 18º Batalhão de Polícia Militar, afirma que desconhece a proibição sobre a tinta no cabelo; em relação à música dentro das casas, diz que a polícia atua baseada na lei do silêncio e quando algum vizinho reclama. Quanto à proibição dos bailes, declara: “Não conheço baile funk em comunidade que não tenha tráfico de drogas, porte ilegal de armas, corrupção de menores e apologia ao crime”, mas afirma que se o evento for realizado dentro da lei 5.265 ele não se opõe.

O comandante da PM faz uma avaliação positiva da ocupação da favela: “Hoje a Cidade de Deus já está inserida no bairro de Jacarepaguá, os serviços públicos (luz, dragagem, coleta de lixo) estão funcionando, o espaço público foi devolvido pras pessoas que moram ali. Isso tudo era domínio do tráfico. Hoje em dia não há mais estado de exceção, a ordem pública foi restaurada”.

Organização do movimento funkeiro

Foi com o objetivo de enfrentar as dificuldades que MC Leonardo decidiu fundar a Associação dos Profissionais e Amigos do Funk. O compositor, nascido e criado na Rocinha, ganhou projeção nacional ao lado de seu irmão, MC Júnior, com letras como “Rap das Armas” e “Endereço dos Bailes”. “O Funk é uma das poucas diversões com preços acessíveis, criada dentro da favela, pelos favelados. O funk está sendo proibido de tocar no Rio de Janeiro!”, denuncia Leonardo.

Além de criticar muito a lei 5.265, o cantor relata outras formas de perseguição a quem gosta de ouvir o ritmo. “No interior do Rio a polícia está pegando e quebrando CDs de quem escuta funk”. Leonardo também rebate as acusações de que o ritmo é pornográfico. “O mercado pornográfico é o que mais cresce no mundo, dizer que o funk é o responsável por isso é no mínimo estranho. Uma parte do funk é o reflexo disso, não o espelho”. Mr. Catra, que tem feito até cinco shows por dia no Rio de Janeiro mas segue invisível aos olhos das corporações de mídia, também respondeu a estas acusações contra o funk no documentário “Sou feia, mas to na moda”: “Sacanagem é o coroa comendo a criancinha na novela das oito”.

O MC da Rocinha defende a unificação do movimento em torno da conscientização política. “Eu cobro dos artistas que eles usem a sua arte como ferramenta de mudança contra as injustiças que eles sofrem. O funk é preto, favelado, discriminado e por isso deveria ter um discurso mais engajado que todas as outras artes”, afirma. Muitas vezes as pessoas julgam o funk por aquilo que ouvem na mídia comercial, sem saber que ali prevalece o funk comercial, despolitizado, do jeito que o sistema capitalista gosta. Leonardo tem corrido os gabinetes da Assembléia Legislativa em busca de apoio para revogar a Lei 5.265 e aprovar um novo texto que reconheça e valorize o caráter cultural do funk.

Outro nó apontado por Leonardo é o duopólio exercido pelos empresários Rômulo Costa e DJ Marlboro, que segundo as contas da APAFunk controlam mais de 90% do mercado. Os dois possuem as maiores produtoras, editoras e equipes de som. E mais: mantêm programas em rádios (FM ODIA e 98FM, respectivamente) onde, segundo Leonardo, só divulgam seus próprios artistas. “Usam concessão pública em benefício próprio”, acusa. O MC também critica o modelo de contrato feito com os artistas. “Pagam 150 reais ao garoto e mais nada”. E pra aumentar o volume do batidão, dispara: “Estão sempre ao lado dos governos, fazem campanha, fizeram campanha para o [governador] Sérgio Cabral (PMDB)”.

Rômulo Costa não respondeu ao recado deixado em seu telefone celular. DJ Marlboro se defende: “Meu contrato artístico é igual ao de todas as editoras no mundo. O autoral é 75% do autor e 25% da editora. O artístico, que não exige obrigatoriedade, varia de 4 a 10%. Na produção, eu pego o garoto que recebe 50 reais na favela pra fazer a montagem com um computador e levo para o estúdio, dou oportunidade a ele de aprender com equipamento profissional, coloco o nome dele no direito conexo e ainda pago 150 reais, três vezes mais do que ele recebe na favela. Agora, tem produtores que são mais caros, a gente vive no capitalismo, cada um recebe de acordo com o retorno que dá. A música é um negócio”, diz. Marlboro também discorda da existência de um duopólio. “Ninguém é obrigado a assinar contrato comigo ou com o Rômulo. Tem vários meios, o cara pode ir pro meio da praça, para a internet... Agora, eu não vou colocar no meu programa de rádio artista de outras gravadoras, ninguém faz isso. Monopólio é quando não tem escolha. A gente não proíbe ninguém de ter iniciativa”. Sobre as idéias dos MCs Júnior e Leonardo, ele declara: “Eles acham que tem que ser comunismo, que todo mundo tem que ganhar igual. Querem o funk socialista”.
Talvez isso explique porque o Rap da Igualdade tenha sido declinado por Marlboro, que, segundo Leonardo, não quis divulgá-lo com o seguinte argumento: “Não é a hora de malhar a elite”.

Burocracia do preconceito

A lei estadual 5.265, de junho de 2008, determina que festas rave e bailes funk devem ser informadas com 30 dias de antecedência à Secretaria de Segurança Pública mediante a apresentação dos seguintes documentos: contrato social; CNPJ; comprovante de tratamento acústico; anotação de responsabilidade técnica das instalações de infra-estrutura do evento, expedida por autoridade municipal; contrato da empresa de segurança autorizada pela Polícia Federal; comprovante de instalação de detectores de metal e câmeras; comprovante de previsão de atendimento médico e nada a opor da Delegacia Policial, do Batalhão de Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros e do Juizado de Menores.
Além disso, o pedido de autorização deve informar a expectativa de público, o número de ingressos postos à venda, o nome do responsável pelo evento, a capacidade da área de estacionamento e previsão de horário de início e término do evento, que não poderá exceder 12 horas. Banheiros deverão ser disponibilizados na proporção de dois (um masculino e um feminino) para cada grupo de cinqüenta pessoas.
São exigências que tornam alto demais o custo de realização de um baile e impõem uma burocracia que inviabiliza o trabalho dos pequenos produtores.

Eu só imploro a igualdade pra viver, doutor
No meu Brasil (que o negro construiu)
Eu só imploro a igualdade pra viver, doutor
No meu Brasil

A injustiça vem do asfalto pra favela
Há discriminação à vera
Chega em cartão postal
Em outdoor a burguesia nos revela
Que o pobre da favela tem instinto marginal
E o meu povo quando desce pro trabalho
Pede a Deus que o proteja
Dessa gente ilegal, doutor
Que nos maltrata e que finge não saber
Que a guerra na favela é um problema social

(Trecho do Rap da Igualdade, MC Dolores)


Postado no site Caros Amigos