sexta-feira, 13 de abril de 2012

“Não houve o mensalão”

Pescado no blog Com Texto Livre

 En­tre­vis­ta com Aristides Junqueira 

Ex-procurador-geral da República critica o MP, ataca a mídia, diz que não houve pagamento mensal a deputados federais da base aliada nem desvio de recursos públicos para os cofres petistas, mas admite a utilização de caixa 2
O ex-procurador-geral da República Aristides Junqueira faz, em Goiânia, a defesa do ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares de Castro
Fernando Leite/Jornal Opção

O ex-procurador-geral da República Aris­tides Junqueira diz ao Jornal Opção que o mensalão, escândalo detonado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) que abalou a república petista em 2005, não existiu. “Não pode haver mensalão, já que não há repetição mensal de pagamento. Se houve um ou outro pagamento eles não foram contínuos durante meses”, afirma.
Após criticar o Ministério Público Federal, ele frisa que não houve desvio de recursos públicos para bolsos privados nem para abastecer os cofres petistas e de legendas aliadas. “A denúncia também não consegue provar isso. Não demonstrou nada disso. Evidentemente está provado nos autos que os recursos foram oriundos de empréstimos em bancos particulares”, explica.
Segundo ele, a denúncia do MP é improcedente.”Não se trata de uma crítica ao MP, mas um reconhecimento da improcedência dela quando se leva em conta a defesa feita por esse grupo de advogados, com relação a um réu apenas, já que são 40. Hoje, parece-me que são 38: um morreu e outro foi reconhecido que a denúncia contra ele era improcedente, que é o Luiz Gushiken”.
O advogado exorciza supostos pecados da mídia. “Ele já está condenado pela mídia. Aliás, não é só ele. É um grupo. Eu diria que eles já estão até demonizados. A defesa dele não quer que ele seja santificado, mas que não seja também demonizado eternamente. O fato é que com esse resultado todo falar em Delúbio Soares é um palavrão muito grande que a sociedade não pode admitir.”
Com ironia, o ex-procurador-geral de Justiça diz que o Ministério Público “coloca quadrilha em tudo”. Mais: avalia que não há risco de prescrição. “Não. Em pouco tempo não prescreve não. Isso não é interessante”, adianta. Ele ingressou no auditório do Bloco B da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) escoltado por Delúbio Soares e Marcus Vinícius de Faria Felipe, ex-presidente da Agecom.
Aristides Junqueira participou de fórum, na PUC, Câmpus 5, em Goiânia, ao lado do ex-prefeito de Goiânia Darci Accorsi, hoje secretário Legislativo do prefeito da Capital, Paulo Garcia (PT). O ato era para debater os aspectos jurídicos da denúncia do MP Federal e da defesa do matemático de Buriti Alegre Delúbio Soares, apontado como um dos chefes do mensalão do PT.
Qual é o objetivo do debate sobre a defesa jurídica de Delúbio Soares?
O objetivo do debate é saber se juridicamente a defesa apresentada pelos advogados de Delúbio Soares é uma peça satisfatória e que possa levar à improcedência da denúncia. Esse é o objetivo.
A defesa de Delúbio Soares diz que o mensalão não existiu. A tese tem fundamento jurídico?
Primeiro, eu quero saber o que é mensalão. Eu não sei. Nós temos de perguntar ao Roberto Jefferson, que inventou a palavra e não explicou direito o que é isso. E também ao Ministério Público. Para saber o que que é mensalão. A defesa do Delúbio, que não foi feita por mim, estou apenas apreciando, mas por um grupo de advogados capitaneado pelo advogado Arnaldo Malheiros Filho, de São Paulo, demonstra que não pode haver mensalão, já que não há repetição mensal de pagamento. Se houve um ou outro pagamento eles não foram contínuos durante meses.
Não houve pagamento regular pelo governo a deputados federais da base aliada?
Não houve. Não houve. Pelo menos dentro dos autos, a defesa diz que isso não está provado. Dentro dos autos ele não está provado. Não houve pagamento mensal a deputados da base aliada.
Houve desvio de recursos públicos para bolsos privados?
A denúncia também não consegue provar isso. Não demonstrou nada disso. Evidentemente está provado nos autos que os recursos foram oriundos de empréstimos em bancos particulares
Existem provas desse empréstimos?
Os empréstimos estão provados. Empréstimos de bancos particulares. Isso não é negado por ninguém.
Trata-se de uma crítica à denúncia do Ministério Público Fe­deral?
Não. Não diria que é uma crítica à denúncia do Ministério Público, mas um reconhecimento da improcedência dela quando se leva em conta a defesa feita por esse grupo de advogados de Delúbio Soares, com relação a um réu apenas, já que são 40. Hoje, parece-me que são 38. Já que um morreu e outro foi reconhecido que a denúncia contra ele era improcedente, que é o Luiz Gushiken.
A defesa de Delúbio Soares diz que os grandes conglomerados de comunicação querem condená-lo previamente...
Eu penso que ele já está condenado pela mídia. Aliás, não é só ele. É um grupo. Eu diria que eles já estão até demonizados. Penso que a defesa dele não quer que ele seja santificado, mas que não seja também demonizado eternamente como é hoje. O fato é que com esse resultado todo, falar em Delúbio Soares é um palavrão muito grande que a sociedade não pode admitir.
O advogado Luiz Eduardo Green­halgh admite a utilização de recursos não contabilizados.
E daí? Se forem ler a defesa que Arnaldo Malheiros faz de Delúbio Soares, ele confessa isso. Mas trata-se de um crime eleitoral cuja prescrição já ocorreu.
Há indícios de formação de quadrilha, como apontou o Mini­stério Público federal?
O Ministério Público Federal vê e coloca [formação de] quadrilha em tudo.
Existe risco de prescrição?
Não. Em pouco tempo não prescreve, não. Isso não é interessante.
Renato Dias
No Jornal Opção

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Refúgio de Canalhas

Extraído no blog Com Texto Livre

Sobre Censura e Pontapés

Theófilo Silva
Shakespeare nos diz em Tímon de Atenas, que “Nenhum homem vai para o túmulo sem levar no corpo a marca de um pontapé dado por um amigo”. Se os amigos nos dão pontapés, o que não podem fazer outras pessoas? Já levei tantos pontapés na vida que perdi a conta. Portanto, quando fui impedido de emitir minha opinião, como vinha fazendo semanalmente, há cinco anos no Site do Jornal O Globo, Blog do Moreno, não me assustei, encarei como mais um chute, desses que a vida nos dá de vez em quando.
Afinal de contas a verdade é dura, incomoda e dói! Cometi o mais imperdoável dos crimes no Brasil: mexi com uma corporação. Jornalista não critica jornalista, como disse o dono do Blog – citei o nome de um jornalista e sua revista (Policarpo Júnior e Veja), que estão na boca de todo mundo. O corporativismo é a maior praga do país. Aqui, mesmo o maior dos criminosos, se pertencer a alguma categoria, é protegido por uma guarda pretoriana, impossível de ser furada. Quando um deles é pego, a primeira declaração que a corporação dá é: “É preciso cortar na própria carne!”. E não cortam. Que carne, que corpo?
Não sou jornalista profissional. Escrevo, apenas. O jornalismo é uma escada para a literatura. Jornalistas podem se tornar grandes escritores, a história está cheia deles. Estão aí, Jonathan Swift, Mário Vargas Llosa e Gabriel Garcia Marquez para provar. Mas poetas, romancistas, ensaístas, embora não saibam montar pautas, matérias e entrevistas, sabem opinar.
É preciso denunciar o grande circo em que se tornaram as relações entre políticos e a imprensa. Um jogo danoso para a sociedade, do tipo “eu te protejo, tu me proteges e juntos nos protegemos todos, assim nos locupletamos”. Um jogo em que a informação é eivada de mentiras! Não faço parte desse jogo, nem sou franco atirador. Busco a verdade, o fato, “verum facto”, e com ela uso a imaginação para torná-la mais interessante aos olhos dos leitores. Para isso, conto com a ajuda do meu mestre William Shakespeare que, como um farol, ilumina o que escrevo para a alegria dos leitores.
Muitos lutam para pegar “os nacos jogados pelo chão”; luto para fazer algo legítimo! Algo que torne a vida, tão cheia de mentiras e embustes, algo digno de ser vivido. Sigo o lema do Dr. Johnson – o maior dos ensaístas em língua inglesa – “A mente só repousa na solidez da verdade”. Que é um princípio cristão. Já que Cristo disse: “E direis a verdade e a verdade vos libertará”. Sob este princípio somos todos cristãos.
A filosofia discute o que é a verdade, a literatura acredita nela. Nietzsche, em seus aforismos, afirma que “Nós precisamos de arte para que a realidade não nos esmague”. É a arte que suaviza essa vida “cheia de som e fúria” e armadilhas de que falava Shakespeare.
Quanto ás corporações, os grandes impérios da mídia, que manipulam e escondem os fatos, que não dizem a verdade, a tecnologia está se encarregando de dobrá-los. Os jornalistas de talento estão abandonando-os – algumas publicações são exceções – cansados de serem humilhados, e de cumprir uma pauta que os faz vomitar, impedidos que estão de mostrar os fatos, eles estão criando seu próprio espaço, os Blogs. O que não impede que muitos blogueiros não passem de pistoleiros pagos – falei deles no meu artigo Refúgio de Canalhas. Mas tem muita gente séria nesse negócio.
Minha resposta à censura é continuar no mesmo tom, e lançar o meu livro Shakespeare Indignado, uma coletânea de artigos que escrevi nos últimos cinco anos, em que fiz o que Cervantes recomendou: “Acertei contas relativas a ofensas e insultos, corrigi injustiças, puni arrogância, derrotei gigantes e pisoteie monstros”.
Quem pensa assim está comigo e com a verdade! E vamos em frente!
Theófilo Silva, autor do livro A Paixão Segundo Shakespeare.
 
 
 
A matéria "O Refúgio dos Canalhas", a que o Theófilo Silva se refere acima está aqui, e esta não foi censurada.

“Quem é Charles Augustus Milverton, Holmes? O maior canalha de Londres, Watson”, responde Sherlock Holmes. O maior detetive de todos os tempos não economizou no adjetivo ao qualificar o sujeito, cuja ocupação era achacar pessoas honradas.
Chamo também de canalhas, aqueles que maculam a honra alheia plantando mentiras em veículos de comunicação. A pistolagem moderna – mesmo que ainda existam pistoleiros – chama-se reportagem caluniosa, uma matéria jornalística, imputando um crime a alguém, sem nenhuma prova material. É de pensar que esses textos são feitos apenas por crápulas que escrevem em Blogs de aluguel. Mas não é. A prática está disseminada em grandes veículos de comunicação, que estão rompendo com as mais elementares regras do jornalismo. Não estou me referindo ao caso do ministro dos esportes, nem sobre comentários de leitores em artigos e matérias em geral.
Falo dos órgãos de imprensa que estão entrando no mesmo nível de marginalidade dos adversários que combatem; usando os mesmos métodos vergonhosos de seus acusados; a mesma prática suja dos homens públicos envolvidos em falcatruas, e isso é muito ruim. Governo é para apanhar. A imprensa tem que fiscalizar, escarafunchar, desmascarar, bater mesmo. Outra coisa é colocar pessoas honradas no mesmo saco dos sujos, imputando-lhes crimes para atingir outrem. Essa prática é mercenária.
Ninguém é ingênuo, ao ponto de pensar que órgãos de imprensa e jornalistas não têm lado e que, a verdade não seja sacrificada em nome de interesses, sejam eles quais forem. Mesmo nos EUA e Inglaterra, a imprensa age assim. O velho inescrupuloso, Rupert Murdoch, dono de um império de comunicações, é prova disso. A diferença é que, nesses países, a justiça funciona, e os caluniadores pagam caro por suas canalhices.
Costumo dizer em rodas de conversa, debatendo nossos problemas, que, no Brasil, você gira, gira, discutindo coisas e, no final, conclui que nossas desgraças são causadas pela ineficiência do nosso estado de direito. Nossa justiça é ruim, muito ruim. Não temos como deter a corrupção no Brasil, em suas múltiplas formas, se não punirmos as pessoas. A Inglaterra deu certo por isso, e a Grécia está agonizando por que é corrupta.
Difamadores de aluguel sempre existiram, jornais venais também. Há cinco séculos, um caluniador chamado Aretino vendia sua verve a quem pagasse mais. Era contratado por nobres para destruir a reputação de seus inimigos, com seus panfletos difamatórios. Aretino chegou a ser apunhalado e espancado por suas vítimas, várias vezes.
A imprensa é livre e deve permanecer assim. Tudo que for visto de errado deve ser denunciado, principalmente na esfera pública. Mas o que fazer com os caluniadores e defensores de bandidos, contratados para espalhar mentiras, escondidos nas redações? Infelizmente, o refúgio para esses canalhas, como diria o Dr. Johnson, no Brasil, é o poder judiciário, que, na sua incompetência, não os pune como deveria.
Que ninguém pense que estou atacando o trabalho fiscalizador da imprensa séria. Do mesmo jeito que bato em homens públicos corruptos, todas as semanas, neste espaço, é meu dever também acusar o jornalismo nefasto.
Shakespeare nos disse em Medida por Medida: “Nem a grandeza, nem o poder, neste mundo mortal, podem escapar da calúnia que fere pelas costas e ataca a mais branca das virtudes.”. E pergunta: “Que Rei é bastante poderoso para conter o fel de uma língua caluniadora?”. A resposta é, nenhum!
No passado, os ofendidos defendiam sua honra em duelos com pistolas, mas a lei proibiu a prática. Hoje, apenas os caluniadores podem usar pistolas e atirar pelas costas. No Brasil, a justiça garante!
Theófilo Silva, articulista colaborador da Rádio do Moreno

terça-feira, 10 de abril de 2012

Reino Unido, laboratório de catástrofes

Extraído no blog do Douglas Yamagata

Thatcher, Blair e agora Cameron. O Reino Unido vive há décadas no absurdo.

Por Vladimir Safatle

Da Carta Capital

Nos últimos 30 anos, o Reino Unido transformou-se em uma espécie de laboratório de catástrofes. Espaço das ideias “inovadoras” que pareciam quebrar consensos estabelecidos, chega hoje a uma situação social e econômica bem exemplificada na frase enunciada desesperadamente por seu ministro das Finanças, George Osborne, há mais de uma semana, à ocasião da aprovação do novo Orçamento: “Nós vamos assistir aos Brasis, às Chinas e às Índias como potências mundiais à nossa frente na economia global ou teremos a determinação nacional de dizer: ‘Não, não ficaremos para trás. Nós queremos liderar?”

Se Osborne tivesse um pouco de curiosidade especulativa, ele perceberia que a crise na qual seu país entrou, de maneira muito mais forte se comparada a vizinhos como a França e a Alemanha, é apenas o último capítulo de uma destruição há muito gestada. Sem parque industrial relevante, sem base agrícola, com a economia reduzida ao setor de serviços e finanças, o Reino Unido é o melhor exemplo de um país completamente vulnerável aos humores da economia mundial nesta época de desregulamentação.

As respostas a tal vulnerabilidade parecem mecanismos autistas de defesa que só conseguem piorar o quadro. Para começar, o primeiro-ministro David Cameron, bastião da moralidade britânica e amigo de cidadãos irrepreensíveis como o magnata da mídia Rupert Murdoch, apresentou um pacto recessivo baseado em cortes de gastos estatais, demissão de 400 mil funcionários públicos e privatização de fato do sistema universitário, com direito a fechamento de departamentos não alinhados ao novo padrão técnico de ensino.

Não é preciso ser um keynesiano radical para perceber que tal política apenas piora a capacidade da economia de contar com seu mercado interno, isto em uma época em que o Reino Unido nada tem a exportar. Sem lembrar que, ao desmantelar ainda mais os aparelhos de seguridade social, Cameron deu sua contribuição para colocar fogo na crise social que a Inglaterra assistiu não faz muito tempo: no ano passado, quando hordas de jovens da periferia quebraram e saquearam lojas.

Seu governo apresenta agora um inacreditável “plano de recuperação” baseado em corte de tributos para os mais ricos (cujo Imposto de Renda cairá de 50% para 45%) e aumento da idade para a aposentadoria. A justificativa para a redução do imposto dos ricos seria “incentivar o aumento do empreendedorismo”. Não, não se trata de uma piada. Cameron quer levar os britânicos a acreditar que os milionários não pegarão tal sobra de dinheiro e a aplicarão no sistema financeiro internacional, principalmente em países como o Brasil, onde eles terão muito mais retorno com juros do que empreendendo em uma economia combalida. O Reino Unido ganharia mais se tivesse um governo com os pés no chão, em vez de indivíduos que deliram mundos possíveis onde ricos investem na produção e bancos trabalham em favor da economia real.

A passividade britânica diante dos desatinos de seu governo vem, entre outras coisas, da sedação pela qual o país passou nestes últimos 30 anos. Primeiro, foi a era Thatcher com a tríade desregulamentação do sistema financeiro, privatização e flexibilização do mercado de trabalho, e a consequente Jihad contra os sindicatos. Estávamos na década de 1980 e Thatcher formava com Ronald Reagan o Casal 20 dos novos tempos. Impulsionada por fatos externos, entre eles a Guerra das Malvinas e o lento colapso do bloco soviético, Thatcher parecia seguir a direção do vento. Ninguém percebia como suas pregações por democracia escondiam amizades pessoais com Augusto Pinochet e afirmações medonhas como “a sociedade civil não existe”. Ninguém queria perceber a transformação da economia britânica em uma tênue vidraça a ser quebrada na primeira crise real.

Depois veio Tony Blair, que passou anos a tentar convencer o mundo sobre o mito da Terceira Via, que transformaria seu reino em uma Cool Britannia moderna e glamourosa. Enquanto Blair se preparava para seguir George W. Bush em suas mais delirantes intervenções internacionais, tínhamos de ouvir seu amigo Anthony Giddens nos dizer que o Estado de Bem-Estar Social havia acabado e que a sociedade de risco viria para ficar. Só faltou explicar que nesta sociedade os riscos são divididos de acordo com a boa e velha lógica de conflito de classe, como vemos claramente agora. Ou seja, riscos são muito diferentes quando estou autorizado a pegar dinheiro que o governo investe em bancos falidos e pagar minhas bonificações e stock options.

Choque neoliberal, Terceira Via: depois de décadas de predomínio de tais absurdos, fica realmente difícil para a sociedade britânica voltar a pensar em alternativas concretas. Resta ver seu governo tentar vender, como remédio, as próprias causas da doença. De nossa parte, diremos ao ministro Osborne: creio que essa história de liderança ficará apenas na vontade.

Fonte: Carta Capital

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Demóstenes e o ”duplipensar” da grande imprensa

As delicadas relações do senador goiano com o bicheiro Carlinhos Cachoeira - e a possibilidade de que o governador tucano Marconi Perillo venha a ser o próximo alvo- pôs em operação o "duplipensar" orwelliano que, desde a posse de Lula, está incorporado aos manuais de redação.

Qualquer pessoa de bom senso, que tenha lido os articulistas da grande imprensa, desde o surgimento dos escândalos envolvendo o senador Demóstenes Torres, concluirá facilmente que os trabalhadores das oficinas de consenso, aturdidos com o que lhes parece um ponto fora da curva, uma desconstrução dispendiosa e extemporânea, são como aqueles motoristas que imaginam poder dirigir um veículo com os olhos presos ao retrovisor. Não enxergam a clareza da realidade. O círculo do jornalismo de encomenda, minúsculo e cego, está só, murado no seu isolamento.

A pedagogia dos fatos, inexorável nas suas evidências, parece passar ao largo das redações. O que se faz ali não é jornalismo, mas um simulacro de literatura de antecipação marcada por profundo pessimismo e cenários de devastação. Talvez George Orwell e seu clássico “1984” expliquem melhor o suporte narrativo da fábula que não deixa de trazer uma concepção de história autoritária e retrógada.

As delicadas relações do senador goiano com o bicheiro Carlinhos Cachoeira - e a possibilidade de que o governador tucano Marconi Perillo venha a ser o próximo alvo- pôs em operação o "duplipensar" orwelliano que, desde a posse de Lula, está incorporado aos manuais de redação. Como o objetivo é afastar o ex-varão de Plutarco de cena, para prosseguir atacando o governo da presidente Dilma, os "cães de guarda" cumprem a tarefa com afinco.

No reduzido vocabulário da "Novilíngua", o “duplipensamento" é assim explicado por um dos personagens de “1984”: "capacidade de manter simultaneamente duas crenças opostas, acreditado igualmente em ambas(...). Saber que está brincando com a realidade mas, mediante o exercício de tal raciocínio, convencer a si próprio, que não está violentando a realidade. O processo deve ser consciente, pois do contrário não funcionará com a previsão necessária: mas, ao mesmo tempo, deve ser inconsciente para não produzir sensação de falsidade e culpa". Com esse trecho, cremos ter decifrado os sorrisos de Merval Pereira, Dora Kramer, Augusto Nunes, Eliane Catanhede, entre outros, quando confrontados com a palavra "ética".

Para eternizar a ordem que defendem com unhas e dentes o cenário político, submetido ao pensamento único, passa por processos de ocultamento e simplificação, visando a eliminar todas as possibilidades de pensar dos membros do Partido Imprensa.

Outra implicação do "duplipensar" da mídia corporativa é a constante alteração do passado. O registro – e consequentemente a memória - dos fatos ocorridos devem ser refeitos sempre, a fim de adaptarem-se ao presente. O trabalho de um "bom" editorialista é reescrever a visão dos veículos em que trabalha para que não contradiga a realidade de hoje. Assim, por exemplo, Folha, Globo e Estadão podem condenar o golpe de 1964, mesmo o tendo apoiado ostensivamente. Se um livro denuncia um líder político como Serra e outras figuras no seu entorno, a solução é simples: Ele nunca foi escrito e, portanto, jamais será resenhado, sendo passível de punição severa quem não entender como funcionam as "leis naturais".

Além da eliminação do passado como elemento de desarmonia com o presente e como instrumento de verificação das afirmações do Partido Imprensa, este recorre a outros meios, bem mais convencionais, para moldar a consciência de seus filiados e simpatizantes (leitores e telespectadores): educação permanente assegurada pela propriedade cruzada dos meios de comunicação, atividade coletiva sem intervalos, o que pode ser obtido mediante ampla oferta de blogs, sites, jornais e redes que digam sempre o mais do mesmo . Para concluir, vem a valorização do poder político como fim, não como meio.

O incômodo Demóstenes deve, após a sequência de denúncias, ter um diagnóstico clínico que despolitize o seu desvio. Merece, pelos serviços prestados, um roteiro que conte a tragédia do Catão caído, até que, finalmente, desapareça na lata de lixo reservada aos que fugiram da trama original. Assim agem os bons autores ao tomar como ponto de partida uma realidade familiar e palpável e transformá-la em espetáculo perecível. Em tempo: o DEM, assim como o PFL, nunca contou com o apoio das corporações midiáticas por um simples motivo: nunca existiu.

Vejam como operam nossos talentosos colunistas. Orwell ficaria tão contente que, com certeza, lhes arrumaria um lugar no Ministério da Verdade.

"Em um mês, o senador Demóstenes Torres passou de acima de qualquer suspeita para abaixo de qualquer certeza, num episódio que desafia os romances policiai s mais surpreendentes. Alem da atuação implacável contra a corrupção, ele tinha a cara, vestia o figurino e se comportava como um incorruptível homem de bem - e talvez seja mesmo sócio da holding criminosa de Cachoeira" (Nélson Motta, 6/04/2012, o Globo).

"Demóstenes Torres não seria beneficiado pelo "vício insanável da amizade" - expressão usada pelo notório Edmar Moreira (o deputado do "castelo") para definir o principal obstáculo a punições -, pois os amigos que fez ali estão entre as exceções e os demais confirmam a regra.Por terem sido alvos do senador na face clara de sua vida agora descoberta dupla, podem querer mostrar-se ao público em brios. O problema, porém, é a falta de credibilidade". (Dora Kramer, 6/04/2012, Estado de São Paulo)

"Esse personagem que o senador criou para si próprio não era uma mentira de Demóstenes, ele incorporou esse personagem e acreditava nele. Podia acusar com veemência seus colegas senadores apanhados em desvios, como Renan Calheiros, enquanto mantinha o relacionamento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira porque, como todo psicopata, não misturava as personalidades “(Merval Pereira, reproduzindo argumento do psicanalista Joel Birman, 30/03/2012, O Globo).

Admiráveis funcionários de um jornalismo inqualificável.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

Ernani José de Paula diz que vídeo do mensalão foi produzido por Cachoeira

Do R7.com

domingo, 8 de abril de 2012

Dilma baixa os juros. Pela primeira vez em décadas o Brasil enfrenta Bancos (lá vem porrada)

Pescado no blog O Terror do Nordeste

Desde que assumiu o governo, em janeiro do ano passado, a presidenta Dilma tem demonstrado sua preocupação com o desempenho industrial no Brasil e o crescimento econômico brasileiro.

Ano passado, a presidenta foi obrigada a conter a pressão inflacionária. Uma enxurrada de dólares invadiu o Brasil, atraída pela confiança na economia, índices altos de juros e com o desejo de imigrar os investimentos estancados nos países do centro.

Na prática, o Brasil sofreu indiretamente pela decisão dos governos dos países ricos de salvarem os banqueiros e especuladores em detrimento da massa de trabalhadores que continuaram desempregados e endividados.

O dinheiro do socorro financeiro ficou represado nos bancos e imigrou para investimentos nos países emergentes, como o Brasil.

A tarefa de estancar a alta da inflação custou caro para o crescimento econômico brasileiro que ficou muito abaixo do desejável. O governo cortou investimentos e o país quase estagnou.

Mas de todos os setores econômicos, a indústria foi a mais afetada.

O desenvolvimento da nossa indústria é fundamental para que tenhamos um crescimento robusto e sustentável.

Na indústria são gerados os empregos (formais) com maior potencial de desenvolvimento humano e onde as cadeias produtivas possibilitam um “crescimento em cascata” em diversos setores.

É um contrassenso um país com crescimento e consumo em alta com uma indústria decadente e defasada.

Muitos se dão conta das raízes econômicas da crise na indústria. Alguns têm na ponta da língua: juros altos, legislação tributária, custos trabalhistas.

Mas por que a indústria tem sido negligenciada nas últimas décadas?

Os industriais foram incapazes de construir uma representação política equivalente ao tamanho da importância econômica que o setor representa para o país.

Não se articularam politicamente como o setor financeiro e do agronegócio, por exemplo.

Pelo contrário, durante anos os industriais, por algum motivo muito estranho à simples compreensão, se aliaram ao projeto neoliberal.

O modelo que condenou a indústria a décadas de estagnação não foi enfrentado por nossos industriais que apoiaram o projeto político neoliberal, na maioria das vezes.

É um daqueles casos somente explicáveis à luz da psicologia em que o sequestrado demonstra apego e carinho pelo próprio algoz.

Semana passada a presidenta Dilma recebeu um grupo de industriais em Brasília.

Como parece ser tradicional na história brasileira, coube ao Estado “mobilizar as forças produtivas” e abrir os olhos do país para a necessidade de fortalecimento da indústria.

Nenhuma decisão de governo depende somente da boa vontade do governante.

É necessária a construção de condições políticas para que certas transformações sejam conduzidas.

Desde o governo Lula, o Estado vem fazendo esforços para fortalecer os setores produtivos da burguesia nacional.

Claro, durante anos os Estados nacionais vêm sendo cooptados pelo setor financeiro. Não é à toa que mundo afora os países estão impossibilitados de fortalecer os seus setores produtivos e contrariar os interesses do Mercado (com M maiúsculo).

Esta crise mundial, antes de ser uma crise econômica, é uma crise política.

Pois então.

As políticas do Estado brasileiro nos últimos anos ficaram restritas aos grandes setores produtivos, como o agronegócio e as grandes indústrias. As medidas de estímulo ao emprego e ao crescimento foram “focadas” nos setores automotivos e de eletrodomésticos e eletrônicos.

Mas e a pequena e média empresa?

A redução na taxa de juros nos bancos públicos foi recebida com espanto pelo setor financeiro, e por consequência necessária na velha mídia.

A influência direta da presidenta na baixa dos juros foi tratada como uma “interferência indesejável”. O mercado financeiro recebeu mal a “intromissão” da presidenta em algo que deveria ser regulado pelo próprio mercado.

Foi sem dúvida a medida mais importante da presidenta Dilma, desde que assumiu o governo no ano passado.

E já foi mandado o recado que a taxa SELIC também será pressionada para baixo.

Agora, os bancos privados terão de baixar suas taxas para competir com os bancos públicos.

As empresas e também as pessoas físicas poderão trocar suas dívidas nos bancos privados para os bancos públicos com taxas mais baixas.

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Muita gente que apoiou a eleição da Dilma em 2010 andou irritada com o atual governo.
 
Considera-se que a presidenta estava muito suscetível à pauta política da imprensa. A verdade é que a imprensa ocupou o espaço que deveria ser ocupado por uma oposição que aparenta ser incapaz de se articular nesse momento.

Os descontentes estão cada vez menos silenciosos.

Dilma como grande republicana, tem sentado em todas as mesas.

Mas não dá para duvidar em que lado da mesa ela está.

A presidenta é séria, firme e concentrada em seus objetivos.

Dilma começou a enfrentar os grandes interesses dos banqueiros.

Não tenham dúvidas que a retaliação está por vir.

Por favor, não deixem Dilma só!
 
Fonte:Blog do Rafael Castilho