
Por Alexandre Figueiredo
Os questionamentos acerca do brega-popularesco, a pretensa "cultura popular" da velha mídia, têm seu sentido reforçado quando pensamos que esse entretenimento que transforma o povo pobre numa multidão de "bobos alegres" através da chamada "Disneylândia do mau gosto" serve para desviá-los da atenção de seus reais problemas.
A intelectualidade associada - que entende tanto de periferia quanto uma típica drag queen entende de física nuclear - tenta desconversar, mas a verdade é que ela se empenha, uns por boa-fé, outros por cínico propósito, em marginalizar o debate público progressista apenas para uma minoria de sindicatos, ativistas sociais, parlamentares e jornalistas.
De resto, o povo que fique nos bares bebendo, em casa vendo TV, nas ruas ouvindo rádio. Para o intelectual que tanto "louva" os camelôs que vendem CDs de brega, pouco importa se nos dias seguintes os mesmos trabalhadores são reprimidos pela polícia por causa da instalação ilegal - mas necessária por óbvios motivos econômicos e políticos (no caso, omissão das autoridades) - de seus balcões improvisados.
Talvez seja preciso analisar por que essa intelectualidade toda (Milton Moura, Pedro Alexandre Sanches, Paulo César Araújo, Mônica Neves Leme etc), que assina embaixo em tudo que os barões da grande mídia lançam na música e no entretenimento "populares", tenta se associar, aparentemente, aos grupos progressistas. Mas dá para perceber o outro lado dessa "heroica" posição.
É porque essa intelectualidade, movida por interesses elitistas subliminares (eles não assumem tal posição e até costumam condenar o "elitismo" dos outros), teme que uma revolta popular tire o sossego da sociedade em que vivem. Esses intelectuais, que desde a infância se acostumaram com a "paz forçada", a "paz sem voz" do "milagre brasileiro", não querem que o povo participe do debate público que, por razões óbvias, é do próprio interesse popular.
Para esses intelectuais, que "generosamente" defendem a "cultura popular" numa aparente "solidariedade" ao povo pobre, as classes populares têm que exercer o papel de multidões obedientes ao mercado do entretenimento.
As classes populares, segundo essa intelectualidade, têm que aceitar sua condição subordinada e esperar que alguma melhoria de vida surja "de cima", enquanto fazem o seu recreio brega e popularesco, piegas ou grotesco.
Para essa intelectualidade, o povo pobre só é "autêntico" quando assume sua grosseria de forma sorridente e bondosa. É o princípio dos "bons selvagens", domesticados, infantilizados, abobalhados.
Mas se o povo recusa a assumir esse papel e parte para a organização sócio-política, pedindo melhorias, fazendo passeatas, resistindo contra ordens de despejo como as da favela Pinheirinho, em São José dos Campos, a intelectualidade sente um frio na espinha.
Eles não podem reagir. Afinal, esses intelectuais são "progressistas", eles têm um protocolo a cumprir. Por isso, a princípio, nenhum deles veio a público desmentir que defenda os interesses da Folha de São Paulo e da Rede Globo, nem mesmo o pupilo histórico de Otávio Frias Filho, o "filho" do Projeto Folha, Pedro Alexandre Sanches, cria do mesmo projeto que horrorizou os "caros amigos" Marilene Felinto e José Arbex Jr..
Também eles não vão condenar os protestos populares, as campanhas pela regulação da mídia, os movimentos pela reforma agrária. Esses intelectuais, quando muito, só reagem pela letra miúda, "condenando", por exemplo, os reacionários da "hora", os mesmos que esses intelectuais terão que recorrer um dia: seja Marcelo Tas, seja Eliane Cantanhede, seja Merval Pereira etc.
Mas o que se sabe é que essa intelectualidade que elogia o brega-popularesco achando que isso é o "novo folclore brasileiro" não entende realmente de povo pobre. São cientistas sociais e críticos musicais inseridos no contexto da classe média abastada, e eles mesmos é que são os verdadeiros preconceituosos, elitistas e higienistas.
Para eles, o povo mais parece miquinhos de realejo. Que o pobre permaneça banguela e mostre seu sorriso dentro dos salões da MPB e da cultura de vanguarda. Investir num implante dentário para esse sujeito, nem pensar. Para esses intelectuais, o povo não merece qualidade de vida, já lhes basta apenas o consumismo e o recreio brega-popularesco.
Por isso é que o brega-popularesco, que movimenta um mercado milionário - afinal, Michel Teló (substitua este nome por Ivete Sangalo, Tati Quebra-Barraco, Alexandre Pires ou É O Tchan, que dá no mesmo) não foi excursionar pela Europa por causa de donativos das ONG's ou de dinheiro colhido pelas ruas, mas por patrocínio de muito "peixe grande" - , desvia o povo pobre da consciência crítica de sua própria realidade.
Afinal, o brega-popularesco, como a "Disneylândia do mau gosto", aliena, anestesia, submete, subordina as classes populares, tidas formalmente como "responsáveis" por essa pseudo-cultura, mas reduzidas apenas a uma massa consumidora ou, quando muito, serva (no caso de cantores e grupos de presumida origem humilde) desse mercadão humilhante e constrangedor.
A cafonice cultural apenas acoberta os olhos das classes populares para elas mesmas. Só que os problemas são fortes demais para que o povo pobre esteja completamente alheio aos mesmos.
Os questionamentos acerca do brega-popularesco, a pretensa "cultura popular" da velha mídia, têm seu sentido reforçado quando pensamos que esse entretenimento que transforma o povo pobre numa multidão de "bobos alegres" através da chamada "Disneylândia do mau gosto" serve para desviá-los da atenção de seus reais problemas.
A intelectualidade associada - que entende tanto de periferia quanto uma típica drag queen entende de física nuclear - tenta desconversar, mas a verdade é que ela se empenha, uns por boa-fé, outros por cínico propósito, em marginalizar o debate público progressista apenas para uma minoria de sindicatos, ativistas sociais, parlamentares e jornalistas.
De resto, o povo que fique nos bares bebendo, em casa vendo TV, nas ruas ouvindo rádio. Para o intelectual que tanto "louva" os camelôs que vendem CDs de brega, pouco importa se nos dias seguintes os mesmos trabalhadores são reprimidos pela polícia por causa da instalação ilegal - mas necessária por óbvios motivos econômicos e políticos (no caso, omissão das autoridades) - de seus balcões improvisados.
Talvez seja preciso analisar por que essa intelectualidade toda (Milton Moura, Pedro Alexandre Sanches, Paulo César Araújo, Mônica Neves Leme etc), que assina embaixo em tudo que os barões da grande mídia lançam na música e no entretenimento "populares", tenta se associar, aparentemente, aos grupos progressistas. Mas dá para perceber o outro lado dessa "heroica" posição.
É porque essa intelectualidade, movida por interesses elitistas subliminares (eles não assumem tal posição e até costumam condenar o "elitismo" dos outros), teme que uma revolta popular tire o sossego da sociedade em que vivem. Esses intelectuais, que desde a infância se acostumaram com a "paz forçada", a "paz sem voz" do "milagre brasileiro", não querem que o povo participe do debate público que, por razões óbvias, é do próprio interesse popular.
Para esses intelectuais, que "generosamente" defendem a "cultura popular" numa aparente "solidariedade" ao povo pobre, as classes populares têm que exercer o papel de multidões obedientes ao mercado do entretenimento.
As classes populares, segundo essa intelectualidade, têm que aceitar sua condição subordinada e esperar que alguma melhoria de vida surja "de cima", enquanto fazem o seu recreio brega e popularesco, piegas ou grotesco.
Para essa intelectualidade, o povo pobre só é "autêntico" quando assume sua grosseria de forma sorridente e bondosa. É o princípio dos "bons selvagens", domesticados, infantilizados, abobalhados.
Mas se o povo recusa a assumir esse papel e parte para a organização sócio-política, pedindo melhorias, fazendo passeatas, resistindo contra ordens de despejo como as da favela Pinheirinho, em São José dos Campos, a intelectualidade sente um frio na espinha.
Eles não podem reagir. Afinal, esses intelectuais são "progressistas", eles têm um protocolo a cumprir. Por isso, a princípio, nenhum deles veio a público desmentir que defenda os interesses da Folha de São Paulo e da Rede Globo, nem mesmo o pupilo histórico de Otávio Frias Filho, o "filho" do Projeto Folha, Pedro Alexandre Sanches, cria do mesmo projeto que horrorizou os "caros amigos" Marilene Felinto e José Arbex Jr..
Também eles não vão condenar os protestos populares, as campanhas pela regulação da mídia, os movimentos pela reforma agrária. Esses intelectuais, quando muito, só reagem pela letra miúda, "condenando", por exemplo, os reacionários da "hora", os mesmos que esses intelectuais terão que recorrer um dia: seja Marcelo Tas, seja Eliane Cantanhede, seja Merval Pereira etc.
Mas o que se sabe é que essa intelectualidade que elogia o brega-popularesco achando que isso é o "novo folclore brasileiro" não entende realmente de povo pobre. São cientistas sociais e críticos musicais inseridos no contexto da classe média abastada, e eles mesmos é que são os verdadeiros preconceituosos, elitistas e higienistas.
Para eles, o povo mais parece miquinhos de realejo. Que o pobre permaneça banguela e mostre seu sorriso dentro dos salões da MPB e da cultura de vanguarda. Investir num implante dentário para esse sujeito, nem pensar. Para esses intelectuais, o povo não merece qualidade de vida, já lhes basta apenas o consumismo e o recreio brega-popularesco.
Por isso é que o brega-popularesco, que movimenta um mercado milionário - afinal, Michel Teló (substitua este nome por Ivete Sangalo, Tati Quebra-Barraco, Alexandre Pires ou É O Tchan, que dá no mesmo) não foi excursionar pela Europa por causa de donativos das ONG's ou de dinheiro colhido pelas ruas, mas por patrocínio de muito "peixe grande" - , desvia o povo pobre da consciência crítica de sua própria realidade.
Afinal, o brega-popularesco, como a "Disneylândia do mau gosto", aliena, anestesia, submete, subordina as classes populares, tidas formalmente como "responsáveis" por essa pseudo-cultura, mas reduzidas apenas a uma massa consumidora ou, quando muito, serva (no caso de cantores e grupos de presumida origem humilde) desse mercadão humilhante e constrangedor.
A cafonice cultural apenas acoberta os olhos das classes populares para elas mesmas. Só que os problemas são fortes demais para que o povo pobre esteja completamente alheio aos mesmos.
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