Anselmo Massad, via Futepoca. Lido no blog Limpinho & Cheiroso
Foi no longínquo ano de 2007 que um grupo de empresários, ricaços, celebridades e insatisfeitos de plantão tentaram promover um movimento de massas malsucedido, o “Cansei”. A mobilização era mais ou menos contra tudo, uma representação na sociedade, com dois anos de atraso, da “CPI do Fim do Mundo”, que deveria ter investigado os bingos em 2005 e 2006 no Congresso Nacional.
Passados quatro anos, a organização nem se tornou partido político, nem articulou organização social efetiva. Mas tem pelo menos dois pré-candidatos à prefeitura da maior cidade da América Latina. Eles concorrem por partidos diferentes, embora estejam provavelmente bem mais próximos do que muita gente dentro de cada uma das agremiações políticas – mas isso já são outras especulações.
O primeiro a ingressar na “pré-corrida” eleitoral foi o presidente (vitalício?) da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP), Luiz Flávio Borges D’Urso. Filiado ao PTB, ele foi o segundo nome a se auto-ungir na disputa pela sucessão do prefeito Gilberto Kassab (PSD), ainda em julho desse ano (o primeiro foi Netinho de Paula, vereador do PCdoB).
O segundo nome do “Cansei” lançado é alguém bem mais umbilicalmente conectado ao proto (pseudo?) movimento de massas de 2007. João Dória Júnior é empresário e apresentador de televisão. Há quem veja nele “a cara de São Paulo”. Outros preferem ver como a “cara de Campos do Jordão”, instância turística das montanhas, a “Suíça brasileira” para onde migra parte da elite endinheirada paulista nas férias de inverno.
Não foi por outro motivo que o “Cansei” chegou a ser carinhosamente apelidado pelo então ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo (ex-DEM, hoje no PSD) como “Movimento de Campos do Jordão”, das “dondocas enfadadas em suas vidas enfadonhas”.
Dória Júnior filiou-se ao PSDB, informa na quarta-feira, dia 30/11, o Valor Econômico. A decisão foi tomada antes do fim de outubro, para dar tempo de o empresário concorrer no pleito de 2012, a convite de outro que tem expressa na face a marca de São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Passados dois meses, foi de Alckmin a ideia de incluir Dória Júnior entre os prefeituráveis tucanos em uma pesquisa interna. Ladeado a outros quatro nomes da sigla previamente colocados – os secretários estaduais de Meio Ambiente, Bruno Covas; de Energia, José Anibal; e de Cultura, Andrea Mattarazzo, além do deputado federal Ricardo Trípoli – ele só topa disputar se tiver “densidade eleitoral”.
Se não tem a OAB/SP como suporte, o herdeiro de Roberto Justus como apresentador do Aprendiz, na Rede Record, comanda o Grupo Dória, além de apresentar o programa de entrevistas Show Business, na Band. Com figurões do PSDB, trabalhou como secretário de Turismo de Mário Covas, na prefeitura de São Paulo em 1983, oito anos antes da fundação da atual legenda dos tucanos. Democrata (mas não do Democratas, que fique bem claro), ele diz ter se envolvido no movimento pelas Diretas Já a pedido do ex-governador Franco Montoro.
(Ressalva: O fato de Covas ter morrido em 2001 e de Montoro ter partido desta para uma melhor em 1999 não representa, segundo supersticiosos consultados pelo Futepoca, qualquer maldição ou praga associada a quem quer que seja. Mesmo que o fosse, disseram as fontes, demoraria de 15 a 20 anos para surtir efeito.)
A coincidência dos nomes ex-Cansei na disputa mostra uma insatisfação da elite paulistana com os rumos adotados pela cidade. Resta saber se os 99% da população, para empregar um termo caro às turmas que andam ocupando partes do planeta com críticas ao capitalismo e ao mercado financeiro concentradores de renda, vai concordar que a mudança de que São Paulo precisa é nessa direção.
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