por Conceição Lemes, via blog vi o mundo
Na entrevista que o professor Estevão Rafael Fernandes concedeu ao Viomundo sobre a greve na Universidade Federal de Rondônia (Unir), ele denunciou a “visita” à casa de uma aluna, por homens encapuzados, que gritaram de um carro “você vai morrer!”. Denunciou também que ela foi seguida em outras ocasiões em Porto Velho.
Pois esta estudante é Talyta Soares, 25 anos, faz Psicologia e foi uma das primeiras a aderir ao movimento. Também integrou a comissão que foi ao Ministério da Educação (MEC), em Brasília, denunciar as irregularidades na instituição e negociar para que não houvesse intervenção.
Viomundo – Talyta, você fez parte da comissão que foi ao MEC discutir a situação da Unir. Quando isso aconteceu e com quem se reuniram?
Talyta Soares – Em 11 de outubro. Éramos dois estudantes, dois professores, representantes da reitoria e a bancada de deputados federais e de senadores de Rondônia. No MEC, nós apresentamos a nossa denúncia ao secretário de Educação Superior (Sesu), Luiz Cláudio Costa.
Viomundo – O que denunciaram?
Talyta Soares – A precaríssima situação da universidade e as irregularidades envolvendo a atual administração. Para comprovar o que estávamos falando, levamos um dossiê de 1.500 páginas, contendo as principais denúncias.
Viomundo – O que o secretário da Sesu fez ?
Talyta Soares – No mesmo dia, ele marcou uma reunião para Porto Velho, que aconteceu no dia 17 de novembro. Apesar de convidado, o reitor não compareceu. Nessa reunião, os estudantes de cada curso apresentaram os problemas existentes e os professores fizeram as suas principais denúncias. Diante disso, Luiz Cláudio, que esteve presente, formou duas comissões. Uma de apoio à Unir, para avaliar e atender as pautas do movimento. A outra, de sindicância, para investigar as denúncias.
Viomundo – O professor Estevão me contou que pessoas encapuzadas passaram pela sua casa, gritaram… É isso mesmo?
Talyta Soares – Sim. Era uma quarta-feira, chovia bastante, um carro Corollla preto parou na frente da minha casa e buzinou. Como estava chovendo, não fui até o portão. Quando abri a porta para olhar quem era, o vidro do carro abaixou e eu vi dois homens encapuzados. Não sei se tinha mais gente no banco de trás, porque o vidro era fumê. Aí, o homem que estava ao volante gritou pra mim “você vai morrer”. Fechei imediatamente a porta e liguei pra um dos meus professores.
Viomundo – Em que dia isso aconteceu?
Talyta Soares – 16 de novembro, mesmo dia em que deixaram os bilhetes com ameaça de morte no campus.
Viomundo – Aconteceu uma vez só?
Talyta Soares – De virem à minha casa, sim. Mas esse mesmo Corolla me seguiu pelo menos mais duas vezes; seguiu também outros estudantes. Outros carros até anteontem estavam também seguindo mais estudantes. Colegas e professores tiveram carros quebrados, pneus furados; a moto de um estudante teve o cabo cortado.
Viomundo – Você acha que tem conexão com a tua ida a Brasília?
Talyta Soares – Tudo indica que não só com a ida a Brasília mas também com a participação no movimento.
Viomundo – Que providências adotou?
Talyta Soares – Denunciei prontamente à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal (MPF), em Rondônia. Também, desde então, não fico sozinha em casa nem saio sozinha. Já dormi na casa de amigos…
Viomundo – Você também recebeu aquele bilhete com ameaça de morte, falando do rio?
Talyta Soares – Pessoalmente, não, mas o meu nome estava lá, era o primeiro da lista de alunos, e os bilhetes foram distribuídos por todo o campus da Unir.
Viomundo – Qual o objetivo desse bilhete?
Talyta Soares – Intimidar as pessoas que têm sustentado a greve.
Viomundo – Em relação ao bilhete, que medidas vocês adotaram ?
Talyta Soares – Fizemos denúncias nas polícias Civil e Federal e no MPF.
Viomundo – E agora que o reitor renunciou, a greve acaba?
Talyta Soares – A greve continua até a posse da vice-reitora, a professora Maria Cristina Victorino de França, no cargo de reitora. Está prevista para segunda-feira. Até lá vamos pintar as paredes internas da reitoria e deixar tudo limpo, para isso já começamos a arrecadar dinheiro. Nós queremos entregar o prédio totalmente em ordem.
Viomundo – E depois, como fica o movimento?
Talyta Soares – Não acaba. Tirar o reitor foi o nosso primeiro passo. Nós queremos, agora, paridade nos votos, que os conselhos aconteçam de fato, queremos transparência na utilização dos recursos e que a Unir seja tratada realmente como universidade. Teremos de cuidar dos nossos processos. O delegado me disse que vou ser processada por invasão de prédio público e outras coisas mais.
Viomundo – O fato de ” terem renunciado ” o reitor não é uma prova de que o movimento é legítimo e vocês estão com razão? Por que então o processo? Acha justo?
Talyta Soares – Concordo com o teu raciocínio, não acho justo sermos punidos porque fizemos greve para denunciar os desmandos do reitor. Agora, o delegado me disse que eu vou ser processada. O fato é que, com ou sem processo, vamos continuar nossa batalha para garantir qualidade, ética e transparência na Unir.
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