sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Tenham medo, muito medo



por Eduardo Guimarães

Depois do cinema-catástrofe, o jornalismo-catástrofe – aquele que produz o que o nome indica. Vejam bem a capacidade que essa grande mídia desvairada ainda conserva depois de perder a de governar por interpostas pessoas: se eu entrar em um restaurante e começar a pregar que votem na Dilma, terei sorte se for apenas ignorado; se entrar lá e gritar FOGO!!, podem ter certeza de que todos me darão crédito e sairão correndo.

Não é preciso muita credibilidade para alarmar. Você não irá avaliar o histórico profissional de quem estiver te avisando de que, se não sair correndo, poderá virar churrasquinho. Esse é o perigo do alarmismo: qualquer um pode empregá-lo.

A mídia já tem um currículo bastante “respeitável” nessa prática. Levou milhões de brasileiros a se vacinarem sem razão contra a febre amarela, causando mortes por reação adversa à vacina; fez pessoas perderem rendimentos da poupança difundindo que Lula pretenderia confiscá-la; fez a economia patinar ao alarmar os agentes econômicos com uma crise financeira que afundaria o país; provocou colapso nos Postos de Saúde no ano passado com alarmismo sobre a gripe suína...

Deve haver muito mais. Estou dizendo apenas os casos mais rumorosos.

Enfim, escrevo isto porque senti calafrios ao ler ontem coluna da eterna Musa da febre amarela, Eliane Cantanhêde, aquela que, em janeiro de 2008, sugeriu que todos se vacinassem contra a febre, “fossem de onde fossem e antes que fosse tarde”, o que fez com que, ao fim daquele mês, houvesse mais gente hospitalizada por reação adversa à vacina do que pela própria doença.

Eliane, agora, saiu da Saúde Pública e foi dar seus palpites na Defesa do país. Tem dado suas aulinhas sobre que aviões de caça o Brasil deve comprar. Aliás, seu texto em questão corrobora comentário de um leitor que se apresentou como piloto da FAB e que publiquei no post “PIG para presidente”, no qual tratei do absurdo que é a mídia querer decidir a compra no lugar do governo simplesmente por ela não ter todas as informações necessárias para tanto.

Vejam o que Eliane escreveu sobre os caças Rafale (francês) e Gripen (sueco) em sua coluna na página A2 da Folha de São Paulo de ontem:

“(...) do ministro francês Hervé Morin contra o Gripen NG: "O Brasil prefere um Mercedes [o Rafale] ou um fusquinha [o Gripen]?". (...) Um país rico, belicoso, que invade o Paquistão e o Afeganistão sem cerimônia, certamente prefere o Mercedes. Mas, no Brasil, bonachão e de Orçamento apertado, é um luxo caro e sem sentido. Talvez o mais adequado, como a FAB diz, seja um fusquinha mesmo: um avião menor, mais leve, pela metade do preço, custo de manutenção mais baixo e capaz de cumprir bem a função de vigilância e eventual ataque.

Que medo, gente! Da última vez em que essa moça deu sugestões desse tipo, pessoas adoeceram e até bateram as botas por dar ouvidos talvez não a ela, mas a alguém que disse a mesma coisa.

Mais adiante, porém, em reportagem sobre o mesmo assunto na página A4 do mesmo jornal, a mesmíssima Eliane Cantanhêde dá outra explicação para a escolha que aquele mesmíssimo jornal diz que a FAB teria feito (a do Gripen):

(...) o fato de a FAB ter colocado o preferido do governo em terceiro lugar, atrás do Gripen e do americano Boeing F-18, cria um incômodo político – não menos porque as Forças Armadas estão melindradas com a idéia do governo de levar ao banco dos réus os crimes cometidos apenas pelo lado dos militares durante a ditadura.

A rapadura é doce, mas não é mole não, pessoal. Então, agora, a matéria da própria Eliane desdiz o que ela dissera duas páginas de jornal antes. O acerto na escolha do avião que o Brasil deve comprar nada tem que ver com o assunto. Os militares estariam fazendo picuinha contra Lula. Foi Eliane que disse, não eu.

É por isso que eu lhes recomendo que, ao pensarem em seguir qualquer das recomendações desses alucinados que têm em suas mãos trêmulas essa verdadeira arma que é um grande meio de comunicação, tenham medo, tenham muito medo. E só espero ter explicado direitinho o por quê.

Do blog Cidadania.com

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