sábado, 19 de dezembro de 2009

A novela dos vices

Do blog Cidadania.com

O grande drama do público que busca informações sobre política, é e sempre foi encontrar algum veículo de comunicação que trate do assunto de forma eqüidistante. Da esquerda à direita, dos sites e das pequenas revistas de esquerda à mastodôntica mídia de direita, só se vê torcida pelos grupos políticos preferidos de cada um.

O resumo dessa ópera é o de que a sociedade fica no escuro sobre o quadro político até que as eleições decretem os fatos, pois nem aqueles que têm suas preferências políticas acariciadas pela mídia corporativa acreditam realmente nas previsões que ela faz sobre como, no final, seus candidatos triunfarão.

Para um outsider como este blogueiro, que intercala jornalismo cidadão com representação comercial de autopeças no exterior, é difícil fazer o que gostaria que a mídia fizesse, pois, de fato, é difícil separar a torcida da realidade. As mídias de esquerda e de direita – ainda que a de esquerda não possa ser chamada exatamente de mídia –, porém, teriam mais condições de fazer o jornalismo que é certo.

Como a mídia de direita vive em campanha política e a de esquerda acaba agindo da mesma forma, até por ser esse um necessário contraponto, vejamos o que se pode fazer aqui.

A mídia de direita pró José Serra (Globos, Folhas, Vejas, Estadões e penduricalhos) quer porque quer que Aécio Neves seja seu vice. E tem boas razões para isso. Ambos são bastante populares nos dois maiores colégios eleitorais do país, mesmo que Dilma Rousseff tenha o apoio daquele que talvez seja o presidente mais popular da história republicana brasileira.

Não tenho a menor dúvida de que a união de Serra e de Aécio formaria uma chapa muito forte. Talvez não imbatível, porque o Norte e o Nordeste, ainda que menos populosos, inclinam-se, de forma decidida e ampla, pela candidata do governo Lula. Com efeito, nem no eixo São Paulo-Minas Gerais há uma inclinação tão forte pelo governismo federal.

O que pode salvar o Brasil da ameaça dessa chapa muito forte à Presidência (tendo Serra como candidato a presidente e Aécio como vice) devolvê-lo ao século XX seria uma chapa para Dilma que não tivesse que carregar um peso morto como um Michel Temer ou qualquer outro peemedebista que terá que ser agregado por conta do tempo de tevê que o PMDB garantiria no horário eleitoral.

É claro, porém, que o tempo de tevê seria importante para Dilma, pois haveria que mostrar ao país, em algumas semanas, o que a mídia lhe sonegou durante todos os anos do governo Lula. Todavia, Michel Temer, repito, seria um peso morto na chapa da candidata do governo federal. Aliás, qualquer peemedebista será um risco, pois, seguramente, escândalos nesse partido é que não faltarão para se descobrir.

Devo abrir um parênteses antes de prosseguir: apesar de este texto pretender apresentar fatos sem alquimias retóricas e invenções, ele não esconde as preferências de seu autor. Eu estaria satisfeito se as mídias fizessem o mesmo, pois o problema não é ter preferência política, mas dissimulá-la.

Se você, leitor de esquerda, ficou triste com a perspectiva sombria para o lado que torce por conta da possibilidade (maior do que estão dando a entender os veículos tucanos) de Serra e Aécio se unirem, digo-lhe que Dilma poderia ter uma chapa tão forte quanto a que seu adversário tucano poderá ter, e que, para se consolidar, tem os mesmos problemas que a dele.

Assim como Aécio tem um excelente naco das intenções de voto, outro aspirante tanto a vice quanto a candidato cabeça de chapa poderia se agregar à campanha de Dilma. Acho que todos já sabem a quem me refiro, mas, assim mesmo, explico que esse possível vice agregador para Dilma é Ciro Gomes, no mínimo tão forte quanto Aécio.

Todavia, é muito mais fácil para o PSDB resolver esse problema com sua chapa à Presidência do que para o PT, pois este está conseguindo atrair o PMDB para o seu lado devido à popularidade de Lula e os tucanos não têm esse “problema”.

Se você, leitor simpatizante do PT, continua triste, não fique. De uma forma ou de outra, Dilma não só deverá ter na mão um enorme tempo de tevê – ainda que tenha que arrastar um Michel Temer – como também terá a máquina administrativa federal, muito mais abrangente do que a máquina paulista, sem falar do fenômeno Lula ao seu lado.

É por essas e por outras que acredito, no ano que vem, em uma campanha disputada palmo a palmo pelos únicos dois candidatos que interessam, Dilma e Serra. A disputa será entre eles. O resto dos candidatos só estará se prestando a um papel lamentável de linha auxiliar das candidaturas principais.

Fazer prognósticos, num quadro desses, é balela. A vantagem estatística de Serra não vale um tostão a esta altura, mas dizer que está escrito em algum lugar que ele perderá a eleição não vale mais do que isso. Serra pode vencer, sim. Principalmente se tiver Aécio ao seu lado. Por isso não se falou de outra coisa nesta semana.

Os próximos capítulos da novela dos vices serão emocionantes. Haja corações, à direita e à esquerda.

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