quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Ex-agente da ditadura revela: Rubens Paiva foi esquartejado, e Franklin estava marcado pra morrer

por Rodrigo Vianna

Recebo a matéria (publicada no CMI - Centro de Mídia Independente) que traz a informação: o ex-agente Marival Chaves informou ao cineasta Jorge Oliveira que o deputado Rubens Paiva (foto abaixo) teve o corpo esquartejado pelos agentes da ditadura militar.

O documentário de Oliveira, que traz esse depoimento, será apresentado no Festival de Brasilia.

Confiram o texto, que traz também outras revelações de Marival Chaves - http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/11/458712.shtml.

Marival Chaves será chamado para depor no Senado Federal.

Aqui, o deputado Brizola Neto (PDT-RJ) informa quem era Rubens Paiva (deputado que desafiou a ditadura, era companheiro do velho Leonel Brizola, na ala mais combativa do antigo PTB) - http://tijolaco.com/?p=6059.

rubenspaiva_arquivo

(texto do CMI)

Ex-agente do Doi-Codi diz que Rubens Paiva foi esquartejado
Por O GLOBO 18/11/2009 às 16:35

A afirmação, como antecipou nesta terça-feira Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, foi feita por Marival Chaves, ex-agente do DOI-Codi, em depoimento ao cineasta Jorge Oliveira para o filme "Perdão, Mister Fiel", de 95 minutos, cujo tema principal é a morte sob tortura do operário Manoel Fiel Filho, em São Paulo.

RIO - Um documentário inédito, a ser exibido na quinta-feira à noite no Festival de Cinema de Brasília, contém uma revelação macabra feita por um ex-agente do DOI-Codi, o órgão de inteligência e repressão da ditadura militar: a de que vários de seus inimigos, que se tornaram presos políticos - e cujos nomes passaram a figurar na lista de desaparecidos do regime - tiveram os corpos esquartejados. Um deles, segundo um ex-agente, era o deputado Rubens Paiva.

A afirmação, como antecipou nesta terça-feira Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, foi feita por Marival Chaves, ex-agente do DOI-Codi, em depoimento ao cineasta Jorge Oliveira para o filme "Perdão, Mister Fiel", de 95 minutos, cujo tema principal é a morte sob tortura do operário Manoel Fiel Filho, em São Paulo.

- O que me surpreendeu foi que o sujeito contou várias atrocidades de cara limpa, com a maior tranquilidade. Ele disse que havia inclusive uma espécie de disputa entre os torturadores: a de apostar quantos pedaços iam render os corpos de cada uma das vítimas - disse Oliveira.

Oliveira: "Chaves sabe muito mais do que já contou"

Segundo o cineasta, Marival Chaves revela no filme a identidade de torturadores, inclusive a de um coronel:

- Ele conta que esse sujeito dava nos presos uma injeção de matar cavalos. E, para desaparecer com os corpos, mandava esquartejá-los.
Meu pai foi preso, torturado e morto pelo DOI-Codi do Rio, e enterrado no Rio


Ao receber essa informação, na tarde desta terça-feira, o escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado morto pela ditadura, reagiu de forma resignada, e relembrou as informações apuradas até hoje, de forma extraoficial:

- Bem, ele (o pai) pode ter sido esquartejado. Como saber? A única certeza é a de que ele foi morto dois dias depois de preso e torturado, e que sumiram com seu corpo. Meu pai foi preso, torturado e morto pelo DOI-Codi do Rio, e enterrado no Rio - disse ele.

O diretor do filme disse que chegou a Chaves através de um processo simples. Ele tinha em mãos nomes de vários oficiais do Exército que participaram da repressão. E começou a abordá-los:

- Eu fui descendo a lista hierarquicamente, um a um. Ninguém queria falar. Até que cheguei no Chaves, que, na época da repressão, era sargento do Exército, com vinte anos de serviços prestados. E ele decidiu falar. Ele me deu a impressão de que foi uma espécie de desabafo - disse o diretor.

Chaves é velho conhecido do Grupo Tortura Nunca Mais, do Rio de Janeiro. A presidente da ONG, Cecília Coimbra, disse que Chaves era analista de informações do DOI-Codi em São Paulo, e não participava de torturas. Ela e outras pessoas do grupo já conversaram várias vezes com o ex-sargento:

- Ele embromava muito em nossos encontros. Dizia que estava sendo ameaçado de morte. Eu acho que ele só fala o que lhe permitem falar. Mas, sem dúvida, sabe muito mais do que já contou. Cabe agora ao governo intimá-lo a depor. Chaves mora em Vila Velha (ES) - disse ela.

Repressão mandou queimar arquivos, diz ex-agente

O diretor do documentário contou que, no filme, Chaves faz outras duas revelações. Uma delas é a de que, no fim do ciclo da repressão, quando o país caminhava para a retomada da democracia, ele foi convocado por seus superiores no Exército para dois serviços: primeiro, esconder e depois queimar documentos que registravam torturas e outras atrocidades.

- O governo anda exibindo na mídia uma propaganda pedindo que as pessoas que têm informações sobre aquela época que as entreguem às autoridades. Espero que, uma vez exibido o documentário, o governo se mobilize para ouvir Chaves. Se o governo quiser, chama, convoca e apura - disse Oliveira.

Outra revelação do filme, também a partir de depoimento de Chaves, é a de que o atual ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, que na época militava no grupo MR-8, seria assassinado em São Paulo:

- Acho que Franklin até hoje não sabia que estava para ser morto, num determinado dia, na capital paulista. Ele vai saber disso ao ver o filme, pois Chaves também conta detalhes dessa perseguição - disse Oliveira.

Do blog do Rodrigo Vianna, O Escrevinhador

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