terça-feira, 3 de novembro de 2009

Deputados de Honduras ganham tempo com manobra

A mesa diretora do Congresso de Honduras resolveu nesta terça-feira (3) consultar a Corte Suprema de Justiça e outras instituições sobre a devolução da presidência a Manuel Zelaya. A manobra, adotada por maioria, é vista como uma tentativa de protelar a solução da crise, acordada na sexta-feira entre o regime golpista e os partidários do presidente constitucional.

Populares pró-Zelaya diante do Congresso

Os líderes do Parlamento resolveram consultar a Corte, assim como o Ministério Público e a Procuradoria Geral da República. Só depois será convocada uma sessão extraordinária do Parlamento para submeter o retorno de Zelaya a votação. A informação foi dada à agência Reuters por Antonio Rivera, vicelíder da bancada do Partido Nacional. "Vamos nos reunir assim que tivermos os relatórios dos três órgãos", prometeu ele.

Desafio ao acordo negociado

A decisão é um desafio ao o acordo fechado na semana passada entre os negociadores de Zelaya e dos golpistas, mediada por um emissário de Washington, cujo ponto central é que o Congresso decida sobre a volta ao poder do mandatário deposto. "Estamos simplesmente diante de uma forma de ganhar tempo por parte dos golpistas", denunciou Victor Meza, o chefe da representação de Zelaya na mesa de negociações.

A decisão da direção da mesa do Congresso não foi unânime. Três dos 13 membros votaram contra o pedido de opinião à Suprema Corte e tentaram fixar um prazo de 24 horas para que os órgãos consultados dessem seu parecer e, assim, pudesse ser convocada a sessão para votar o futuro de Zelaya.

"A maioria votou por enviar à Corte Suprema, mas houve votos contra dos que queriam que se votasse a restituição imediatamente", disse à Reuters o deputado Marvin Ponce, do movimento Unificação Democrática, pró-Zelaya.

As manobras protelatórias deixam um ponto de interrogação quanto ao cumprimento do acordo de sexta-feira. Segundo o que foi acordado, um governo de unidade e reconciliação nacional seria formado até quinta-feira. Zelaya, porém, advertiu que antes disso deve ser reconduzido ao cargo para o qual foi eleito, e de onde o derrubaram no golpe de 28 de junho. Ele disse que se até quinta-feira não for restituído na presidência, a comunidade internacional não reconhecerá as eleições.

A Suprema Corte, declarou anteriormente que o golpe de Estado que destituiu Zelaya no fim de junho foi legal devido ao fato de o mandatário ter violado a Constituição ao querer forçar a reeleição presidencial.

Mais manifestações populares

A decisão da direção do Congresso incomodou a comissão de verificação da Organização dos Estados Americanos (OEA), que chegou a Tegucigalpa pouco antes da votação com a esperança da rápida aplicação de um acordo.

Além disso, indignou os simpatizantes de 'Mel' – o apelido do presidente deposto –, que convocaramuma manifestação em frente ao Congresso para pressionar por sua restituição. Os simpatizantes de Zelaya gritavam "Mel, aguente, que o povo se manifesta", com os braços para cima. Desde o golpe de junho, a Resistência, como é chamada, realiza manifestações todos os dias pela volta dop presidente eleito.

A comissão da OEA é liderada pelo ex-presidente chileno Ricardo Lagos, que mais cedo nesta terça-feira disse a uma rádio de seu país que acredita que o caminho para sair da crise é "restabelecer o presidente Zelaya pelo escasso tempo que lhe resta na Presidência".

Mas admitiu que o Congresso levará seu tempo. "Não acredito que (a votação) seja hoje (terça-feira). O ideal para mim seria que o fizessem já".

Zelaya permanece abrigado na embaixada brasileira desde 21 de setembro, depois de voltar clandestinamente ao país. O edifício está cercado por tropas de choque com escudos e bombas de gás lacrimogêneo, e bombardeado por operações de guerra de nervos.


Do Portal Vermelho.org

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