sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Fazendo Media entrevista a cônsul de Honduras: "meios de comunicação apoiaram os golpistas"

Do blog do Rodrigo Vianna (Escrevinhador)

Quando fui demitido da TV Globo, depois de discordar da linha de cobertura da eleição presidencial, em 2006, o primeiro a me procurar para uma entrevista foi Marcelo Salles. O jornalista - que vive em Niterói (RJ) - mantém, com outros bravos colegas, o ótimo site Fazendo Media - que cobre de forma crítica os bastidores da imprensa brasileira.

Agora, a turma do Fazendo Media faz uma bela entrevista com a cônsul de Honduras no Rio - que foi demitida pelo governo golpista.

Para ir ao Fazendo Media, clique aqui - http://www.fazendomedia.com/?p=531.

Confira abaixo a entrevista...

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Entrevista concedida a Marcelo Salles, Raquel Junia, Mariana Vidal, Eduardo Sá, Tatiane Mendes e Gilka Resende. Fotos: Fernanda Chaves.

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A arquiteta Gioconda Perla assumiu, há um ano, o cargo de Cônsul-Geral de Honduras no Rio de Janeiro. Integrante do Partido Liberal, o mesmo do presidente Manuel Zelaya, ela afirma que o golpe de 28 de junho foi uma surpresa. “Pensávamos que isso era uma coisa do passado. É como resgatar um morto do túmulo, com toda a podridão e tudo o que isso implica”, diz. A diplomata recebeu a carta de demissão, via fax, no dia 16 de julho, assinada por Roberto Micheletti, que se auto-intitulou presidente. Seu salário foi cortado, assim como a verba de representação. Apesar disso, Gioconda seguiu trabalhando, pois não reconhece a legitimidade do governo de fato. Nesta entrevista, realizada num café próximo ao Consulado, ela comenta algumas das causas do golpe (mudança na lei de petróleo e aumento do salário mínimo) e garante que, hoje, existe uma ditadura em seu país. Mas, apesar de tudo, está confiante no retorno do presidente Zelaya, em face do enorme apoio manifestado pela comunidade internacional. Por fim, a diplomata faz uma declaração reveladora: não foi procurada por nenhuma das corporações de mídia para dar sua versão dos fatos.

Como tem sido o dia a dia do povo em Honduras? As pessoas estão saindo às ruas? Estão se manifestando? Porque a gente não consegue ver…
Vocês não conseguem ver na televisão, nem vão conseguir ver. Mas as pessoas têm se organizado, especialmente o grupo dos professores – alguns deles, inclusive, foram mortos. Mas, sim, as pessoas estão se manifestando.

O trabalho continua? As escolas continuam? Como está isso?
Não, as escolas não continuam. Há algumas semanas se suspenderam as aulas.

Então o país não está numa situação de normalidade?
Não. Alguém disse pela rádio que não havia crise, mas não é verdade porque o país está numa convulsão total. Muita gente está ameaçada.

E a energia desse povo mobilizado, você acha que continua mesmo com toda essa repressão?
Eu creio que sim. Eu creio que, inclusive, à medida que vai passando o tempo a gente vai organizando forças cada vez maiores e isso vai dando impulso e as pessoas vão se tornando mais seguras, vão se juntando a essa onde de repúdio ao que está acontecendo.

A gente vem tendo informações pela internet da resistência hondurenha e acompanhado, também, via Telesur, que o presidente Zelaya tenta retornar. Também soubemos que o governo golpista estaria implantando uma ditadura lá…
Sim, um sistema de terror. Porque, por exemplo, quando o presidente Zelaya tentou regressar, nesta vez que estava na Nicarágua, e quis entrar pela fronteira, havia milhares de pessoas o esperando, mas não foi possível chegar até a fronteira porque foram reprimidos. Conheço pessoas que tiveram suas casas ameaçadas, gente que foi despedida de seu trabalho, então há todo um sistema de terror.

Seriam nove mortos e mais de dois mil presos, você confirma essa informação?
Na realidade, é bem difícil confiar no que sai na imprensa. Porque, por exemplo, eu havia recebido dos meus amigos de Honduras uma notícia de que havia sido seqüestrada uma pessoa, de que foi maltratada e obrigada a dizer onde estão as pessoas ligadas ao presidente Zelaya. Então, essas coisas não saem à luz, entende? Não são publicadas todas as coisas que estão ocorrendo em Honduras.

Quais as suas principais fontes de informação?
Meus amigos que estão lá dentro de Honduras e os que estão fora de Honduras, mas perto das fronteiras, perto do presidente. Alguns ministros, algumas pessoas conhecidas que estavam no governo e tiveram que sair acompanhando o presidente e todas as pessoas do povo que escrevem e passam os correios comuns. Essas são as minhas fontes de informações.

Você está acompanhando as notícias que saem na mídia brasileira?
Nem sempre, trato de seguir pelas agencias internacionais e as notícias dos meios de Honduras. Estou há uma semana sem ler as brasileiras.

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Você chegou a ser ameaçada?
Eu fui despedida pelo governo atual. Apesar de eles terem feito uma promessa pública de que não despediriam as pessoas que não estão, digamos, na cúpula do governo. Mas é a maior demissão em massa. Por exemplo: no meu caso, que sou a Cônsul-Geral de Honduras aqui no Rio de Janeiro, fui despedida, suspenderam meu salário, suspenderam a verba de representação. Ou seja, não se pode pagar a minha sala, não se pode pagar os telefones, a residência, uma forma que me parece sutil, mas uma forma de reprimir. De evitar que nós não nos pronunciemos, não denunciemos o que conhecemos e sabemos.

(CLIQUE EM "LEIA MAIS" PARA CONFERIR A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA)

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