terça-feira, 4 de agosto de 2009

Eduardo Gumarães: Collor sabe

Collor sabe

por Eduardo Guimarães, no blog Cidadania.com

As palavras do primeiro presidente legitimamente eleito depois da ditadura militar (que renunciou ao mandato para não ser cassado), Fernando Collor de Mello, na segunda-feira, no Senado, contêm uma lição que essas forças políticas que imaginam que o caminho que estão tomando as levará a algum lugar fazem questão de não aprender.

Collor soltou alguns aperitivos de tudo que esse verdadeiro arquivo vivo das relações de bastidores do poder com a mídia tem para revelar. Afinal, ele já foi um dos ungidos pelos barões midiáticos – quando enfrentou Lula nas urnas, em 1989. Muito foi aprendido ali.

Não me deixo enganar pelo que Collor está pretendendo. Ele sabe muito bem do inconformismo crescente da sociedade com as manipulações grosseiras da mídia. Sabe que esse setor social pode resgatar sua imagem.

A mim não resgata. Não acredito que este Collor seja tão melhor do que aquele que foi um dia. Faltam-me provas. O que vejo é que o ex-caçador de marajás decidiu uma manobra que não tem por que temer, pois ninguém neste país conseguirá condená-lo pelas acusações que lhe foram feitas, até porque muitas vestais midiáticas acostaram-se com ele um dia, trocando segredos de “alcova”.

Contudo, Collor tem, sim, instrumentos para se redimir dos esquemas dos quais participou. Isso se disser tudo que sabe e se aceitar sua responsabilidade naqueles fatos. Isso se disser, com todas as letras, os detalhes que disse que sabe sobre as relações da mídia com políticos que conjunturalmente ela decide apoiar, mas que, amanhã, poderá converter em alvos.

Sarney, Collor, todos foram muito úteis aos Frias, aos Marinho, aos Civita et caterva. Hoje, não são mais. Amanhã, Serra, FHC, Jereissati e tantos outros que, hoje, por uma eventualidade, estão do lado “certo”, também poderão deixar de ser.

Cada vez mais os políticos estão entendendo isso. E a sociedade, que certamente apoiaria um jornalismo de ética não-seletiva, tampouco apoiará esses meios de comunicação.

Eu, por exemplo, apoiaria vigorosamente a mídia se ela usasse para os bandidos da oposição os mesmos métodos que usa para os da situação, contanto que usasse a denúncia com responsabilidade e não para assassinar reputações de desafetos sem dispor de nada mais do que meras suposições.

Não apóio o que a mídia faz porque faz pela metade ou sem justificativa, e faz só contra políticos que, inocentes ou culpados, sejam de um único lado, poupando aqueles contra os quais pesa tanto quanto pesa contra estes.

Quanto a Collor, ele pode ter feito tudo o que fez, mas nunca conseguiram condená-lo. Foram ineptos, provavelmente. A mídia, inclusive, foi conivente com ele. Mas, pelo que sei, ele pagou pelos seus erros. Talvez não tenha pago tudo que deveria, mas o preço que lhe impuseram sem o amparo correspondente de provas, certamente fez jus ao que se poderia exigir em termos de punição.

Se ele mudou tanto assim? Não sei. Para mim, continua sendo um político no qual jamais votaria, a menos que dissesse tudo que diz que sabe sobre a mídia (25 casos escandalosos) e sobre aqueles que se envolveram na grande farsa que foi sua eleição em 1989.

Contudo, acho um absurdo que todos esses que no mínimo votaram em Collor em 1989 venham agora cobrar de Lula, vítima do ex-presidente e dos que o apoiaram naquele ano, que num evento público despreze um senador legitimamente eleito pelo voto popular.

Se eu fosse Fernando Collor, se tivesse feito tudo que ele fez e tivesse essa oportunidade de me redimir, não pensaria duas vezes. Ele ganharia meu respeito se contasse ao Brasil os detalhes das construções e desconstruções midiáticas de reputações de políticos. Seria de um didatismo inédito na história democrática de nossa jovem nação.

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