terça-feira, 14 de julho de 2009

Sarney e Parreira x Getúlio e Pelé

por Rodrigo Vianna, em Escrevinhador

Meu pai costumava dizer que o Pelé é o Pelé por dois motivos: porque foi um gênio, e porque soube parar na hora certa, no auge. Ninguém viu Pelé definhar, encolher em público, tropeçando nas pernas, na idade ou na bola.

Fico a pensar nisso quando leio as notícias sobre Carlos Alberto Parreira e José Sarney. Os dois estão longe de ser gênios, eu sei. Mas podiam ter entrado para a história de forma mais digna.

Pelo Sarney, nunca tive simpatia. Fez um governo medíocre, manipulou a opinião pública durante o Plano Cruzado, ajudou o Centrão na Constituinte, em troca de um ano a mais de mandato. E quando ganhou o ano a mais, não sabia o que fazer com ele. O Brasil naufragava no caos, na inflação, na anomia. E deu no que deu: deu em Collor.

Ainda assim, Sarney podia ter entrado para a história cmo o homem da transição, o presidente que teve sangue frio para concluir a longuíssima transição brasileira. Mas, aí, ele não seria o Sarney, dirão vocês. Têm razão.

Mesmo assim, fico a pensar: não apareceu ninguém para recomendar que ele permanecese em São Luiz, escrevendo seus romances, e tentando consolidar sua "biografia"? O presidente do Senado poderia ser o Tião Viana, a essa altura. Ou o Romero Jucá. Os dois estariam sob bombardeio da oposição, que tem como único objetivo atingir o governo Lula. Mas quem está lá apanhando feito ratazana prenhe é o Sarney.

Azar do Sarney. Em vez de ser lembrado como ex-presidente da transição, será lembrado como presidente do Senadão das passagens, das falcatruas, da desmoralização...

Não tenho nada contra o Parreira. Pelo contrário. Quando ele dirigiu meu time, em 2002, vivemos tempos estranhamente tranquilos

Parreira trouxe um pouco de racionalidade ao caldeirão corinthiano. Montou um time que valorizava a posse de bola, e tinha paciencia de Jó ( e de Gil, Ricardinho, Kleber, entre outros) para trocar passes até que o espaço se abrisse na defesa adversária.

No Corinthians, Parreira ganhou Copa do Brasil e Rio-São Paulo. E foi vice do Brasileiro em 2002. Até na derrota, na final contra o Santos, ele trouxe racionalidade à torcida corinthiana - que reconheceu a superioridade e a categoria do time comandado por Robinho e Diego.

Na seleção, muita gente implicava com ele em 1994. Conheço gente que nem comemorou aquela Copa: "jogamos futebol burocrático, e só ganhamos de pênalti, numa final sem graça, que terminou zero a zero com a Italia".

Não concordo. Aquela Copa foi importante para que o Brasil readiquirisse confiança. Depois de perder jogando bem em 82 e 86, a gente precisava ganhar - até para não ter uma recaída no velho complexo de vira-lata. Parreira soube comandar um time apenas mediano. Fora Romário, eram dez jogadores comuns. E ganhamos. Méritos dele, em boa parte.

Em 2006, xinguei muito Parreira, que parecia um autista na beira do campo naquela derrota pra França. Mas, isso não me faz esquecer os méritos do cara. Por isso, não entendo porque ele foi entrar nessa fria: dirigir o Fluminense a essa altura da vida? Pra que?

No domingo, depois de apanhar do Santo André (!), conduzindo o Fluminense à zona de rebaixamento, vi Parreira numa coletiva constrangedora. Foi encurralado por repórteres iniciantes.

Parreira precisava disso?

Vá já ao blog do Rodrigo para ler o final deste post. Está ótimo.


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