Charge do Latuff , condenando a política de segurança pública do Rio de Janeiro, foi usada no cartaz que convocou a sociedade carioca para participar do ato que lembrou os 16 anos da "chacina da Candelária".
por Conceição Lemes
23 de julho de 1993. Policiais militares executaram oito meninos que dormiam próximo à Igreja da Candelária, no centro do Rio Janeiro. O massacre ficou conhecido como a "chacina da Candelária".
Até hoje o motivo não foi esclarecido. Um aventado seria o apedrejamento de um carro da polícia feito por meninos em situação de risco, na rua, um dia antes. Eles teriam se manifestado após a prisão de um traficante que vendia cola de sapateiro. Outra causa possível foi o atropelamento da mulher de um policial que fugia de um arrastão cometido por menores. Um dos sobreviventes do ataque foi testemunha-chave do processo na época, onde quatro PMs foram condenados.
Desde então, movimentos sociais do Rio de Janeiro se unem todos os anos para lembrar a morte dos oito meninos. Este ano foi na sexta-feira, 24 de julho. Eles fizeram uma caminhada e um ato público em defesa da vida para celebrar os 20 anos da Convenção Internacional da Criança e do Adolescente, os 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente e para se manifestar contra a redução da maioridade penal.
Nessa mesma semana, na terça-feira, 21, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República divulgou um estudo inédito sobre o risco de morte entre adolescentes no Brasil.
Entre as regiões metropolitanas, a do Rio de Janeiro é onde há mais assassinatos na adolescência. De cada mil jovens, 4,9 são vítimas de assassinato antes de completar 19 anos.
Foz do Iguaçu, no Paraná, é a cidade que registra o maior índice -- 9,7: cerca de dez jovens entre mil adolescentes morrem assassinados. O valor é mais de três vezes superior à média nacional. Em seguida, vêm Governador Valadares, em Minas Gerais, com 8,5, e Cariacica, no Espírito Santo, com 7,3.
O estudo avaliou 267 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. O objetivo da pesquisa, desenvolvida em conjunto pelo governo federal, Unicef e Observatório das Favelas, foi o de medir o impacto da violência nesse grupo social, monitorar o fenômeno e avaliar a aplicação de políticas públicas. A estimativa é que, no perído de 2006 a 2012, ocorram mais de 33 mil assassinatos entre jovens de 12 a 18 anos.
"Isso significa que teremos 13 mortes diárias por assassinatos de adolescentes", ressaltou Carmen Oliveira, subsecretária dos Direitos da Criança e do Adolescente da SEDH. "Considerando a preocupação brasileira com a gripe suína, em que cada morte é contabilizada dia a dia, é importante que a sociedade tenha a mesma indignação e preocupação com essas vidas perdidas na adolescência."
A coordenadora do Programa de Redução da Violência Letal do Observatório de Favelas, Raquel Willadino, traçou um perfil dos adolescentes que mais morrem por homicídio no Brasil: são meninos, negros e moradores de favelas ou de periferias dos centros urbanos. Segundo ela, há ainda forte relação com o tráfico de drogas.
A pesquisa indica que, para adolescentes do sexo masculino, o risco de ser assassinado é 11,9 vezes maior se comparado ao de mulheres na faixa de 12 a 18 anos.Também que os adolescentes negros tem 2,6 vezes mais risco de serem assassinados dos que os brancos.
"No Brasil", alerta Conceição Oliveira no seu blog, "se produz um verdadeiro extermínio da juventude negra."
Clique aqui para acessar o documento completo do estudo.
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