quinta-feira, 30 de julho de 2009

A contraofensiva

www.desacato.info, 29/07/2009

A coordenação da contraofensiva oligarco-imperial na América Latina

Por: Jair de Souza, Brasil

O golpe de estado militar em Honduras é um claro indicador da contraofensiva oligarco-imperialista na América Latina, depois de uma década de avanços vigorosos das forças populares em nosso continente. No entanto, este golpe não foi uma ação isolada dos militares pró-estadunidenses e das oligarquias hondurenhas. Tratou-se, mais concretamente, de apenas um lance dentro de uma série de outras iniciativas perfeitamente concatenadas e coordenadas tanto a nível regional como mundial. Vejamos isto com um pouco mais de detalhes.

Imediatamente após o desfecho do golpe, os países membros da ALBA (Aliança Bolivariana para a América) reagiram diplomaticamente com muita energia nos diversos foros internacionais existentes (OEA, CICA, UNASUR, ONU, etc.), fato que forçou a aprovação de condenas e sanções unânimes ao golpe de estado em todas estas instâncias. Nem mesmo os EUA e os governos dos países a eles subordinados (Colômbia, Peru, México, Costa Rica, Panamá) encontraram condições de avalizar formalmente a ruptura inconstitucional ocorrida em Honduras.

Mas, recuperado o fôlego, o império se pôs a agir. A primeira providência foi tratar de ganhar tempo, até que se pudesse alcançar uma correlação de forças mais favorável aos golpistas. Para tal propósito, a chefa da diplomacia imperial (Hillary Clinton) apelou aos serviços de um vassalo tradicional (o presidente da Costa Rica, Oscar Arias), que já havia prestado ao império serviços semelhantes na década de 1990 e, por isso, foi galardonado com o Prêmio Nobel da Paz. Num primeiro momento, o presidente legítimo Manuel Zelaya se deixou envolver nesta trama e perdeu vários dias em negociações estéreis com os golpistas, até dar-se conta dos verdadeiros propósitos dos promotores das “negociações”.

Ao mesmo tempo, a encarregada de assuntos latinoamericanos da chancelaria do estado neo-nazista de Israel, Dorit Shavit, lançou a acusação de que a agrupação de resistência libanesa Hisbolah estava operando bases terroristas em território venezuelano. Imaginem só: uma organização política que está enfrentando-se no Líbano com a quarta maior potência militar do planeta, estando em condições materiais infinitamente inferiores às do estado nazi-sionista, e mesmo assim encontra forças, recursos, homens e disposição para desenvolver operações em países localizados a muitos milhares de quilômetros de onde estão lutando por sua sobrevivência!

Mas, pensando bem, quem precisa saber que isto seria algo irracional, ilógico, inviável e irrealizável? O importante é repetir a mentira o máximo de vezes possível até que a mesma fique assentada na mente dos milhões de pessoas do mundo que só têm acesso às informações através dos meios de informações corporativos associados nesta empreitada (a esmagadora maioria dos meios de comunicação de propriedade privada em todo o planeta). Era uma medida para desviar o foco de atenção do golpe em Honduras e criar condições para os passos seguintes.

Bem, Honduras não é o único nem o principal alvo desta contraofensiva. Então, volta à cena o computador do assassinado líder das FARC, Raúl Reyes. O governo narco-paramilitar do presidente Álvaro Uribe da Colômbia divulga um vídeo no qual aparece um dos comandantes das FARC (Mono Jojoy) fazendo revelações que comprovariam que as FARC contribuíram com recursos financeiros para a campanha presidencial de Rafael Correa, no Equador (outro desafeto das oligarquias e do imperialismo).

Logo as FARC, totalmente acossadas pelas forças militares e paramilitares colombianas, assim como pelas forças estadunidenses (militares e mercenárias) estacionadas em território colombiano! As FARC que não têm condições de realizar uma simples comunicação telefônica sem ser detectada pelos sofisticados radares estadunidenses são capazes de fazer vultosas transferências de recursos sem deixar marcas. Mas, aí está o vídeo, por fim!

De acordo com o conceituado jornalista colombiano Jorge Enrique Botero, o vídeo em questão não passa de uma burda montagem. Ou seja, diante de centenas de pessoas, Mono Jojoy diz algo assim: “O governo narcoparamilitar de Uribe quer criar desavenças com os governos progressistas dos países vizinhos e, para isso, está divulgando acusações como esta que vou ler: /´As FARC contribuíram com muitos milhões de dólares para a campanha presidencial de Rafael Correa, no Equador´./ Isto é mais uma manobra deste governo narcoparamilitar para tentar justificar sua política de agressão aos países vizinhos e de subordinação ao imperialismo estadunidense”.

O governo de Uribe corta a introdução e a conclusão, e o que temos? A prova de que as FARC deram dinheiro para a campanha de Correa. Simples e claro, não? Agora é só fazer com que esta parte do vídeo seja exibida milhares de vezes por todas as televisões amigas, neste continente e no mundo. Que melhor justificativa para a decisão de Álvaro Uribe de autorizar a instalação de mais quatro bases militares dos Estados Unidos na Colômbia, bem juntinho das fronteiras com Equador e Venezuela?

Calma, que ainda falta muito. De repente, o governo narcoparamilitar da Colômbia captura armas de fabricação sueca em acampamentos guerrilheiros das FARC. A Suécia já vendeu armas a Venezuela. Conclusão lógica: A Venezuela forneceu as armas para os guerrilheiros das FARC. Ah, os guerrilheiros também usam armas fabricadas por Israel.

Além disto, eles possuem inúmeras armas fabricadas pelos Estados Unidos. Vamos aplicar a mesma lógica: Israel e os Estados Unidos apoiam a guerrilha colombiana e fornecem armas para suas ações. Parado aí! Israel e Estados Unidos são países amigos de Uribe. As armas só podem ter sido compradas no mercado paralelo. Já as suecas, só podem ter sido fornecidas pela Venezuela, já que o governo da Venezuela não é aliado de Álvaro Uribe. Perfeito o raciocínio, concordam? Mais uma justificativa para a instalação das bases dos Estados Unidos.

As autoridades estadunidenses acusam o governo da Venezuela de não cooperar na luta contra o narcotráfico. Os Estados Unidos são os maiores consumidores de drogas estupefacentes do mundo e a Colômbia a maior produtora. Mas o problema é a Venezuela. Nos últimos meses, as forças de segurança venezuelanas prenderam em seu território mais de uma dezena de grandes capos das máfias de narcóticos colombianas e os entregou às autoridades da Colômbia.

Milhares de toneladas de cocaína fabricada na Colômbia foram apreendidas pela Venezuela. Mas, estranhamente, nos Estados Unidos as grandes quadrilhas que distribuem as drogas por todo seu imenso território nunca sofrem golpes importantes. Na Colômbia, apesar do tal Plano Colômbia, a produção de estupefacentes só tem crescido. Porém, a culpa, já sabemos, é da Venezuela, ou melhor, de Hugo Chávez. A verdade é que estes detalhes não são importantes. Os meios de comunicação estão aí para deixar claro que o culpado é Hugo Chávez, e isto basta.

Tratamos de expor as manobras mais exploradas recentemente nesta contraofensiva do império contra as forças populares da América Latina. Muitas outras aparecerão, à medida da necessidade de seus mentores. Devemos ficar preparados.

Postado também no blog vi o mundo que está aqui

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