Bancos recuam e preparam juro menor
Instituições privadas reconhecem erro no debate com governo e preveem perda de cliente se não mexerem em taxas
Segmento de maior concorrência é o de empresas; Santander anunciou ontem redução de taxa a lojistaSHEILA D’AMORIM
EM SÃO PAULO
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO
Depois da polêmica criada na discussão sobre redução do custo dos empréstimos, os bancos privados já indicam que vão aderir à rodada de corte nos juros iniciada pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal. Eles esperam, no entanto, a "poeira baixar" para oferecer taxas e tarifas mais competitivas.
O diagnóstico dos bancos é que, se não fizerem nada para reduzir as taxas, vão perder clientes para instituições públicas, sobretudo no atendimento a empresas.
Isso porque as pessoas jurídicas têm a cultura de operar com mais de três bancos e costumam "fazer cotações" antes de tomar empréstimos.
Na semana passada, declaração do presidente da Febraban, Murilo Portugal, indicando que a redução dos juros dependia da adoção de medidas do governo irritou o ministro Guido Mantega (Fazenda). Para a equipe econômica, nenhuma medida será adotada até que os bancos privados reduzam os juros.
O presidente da Febraban se desculpou em telefonema ao secretário-executivo do ministério, Nelson Barbosa. Internamente, os banqueiros concluíram que erraram no encaminhamento da questão e que deveriam "ter oferecido" alguma ação em vez de apenas "cobrar o governo".
Diferentemente do atendimento ao consumidor, os segmentos de grandes e de médias empresas são os de maior concorrência.
O Santander reduziu ontem os juros para micro e pequenas empresas -foi o primeiro banco privado após o HSBC a mexer nas taxas.
No Santander, os juros para os lojistas "adiantarem" faturas de cartões caiu do intervalo de 2,54% a 3,27% ao mês para entre 1,5% e 2%.
"Mas isso não tem nada a ver com a ação do BB e da Caixa. É resultado de anos de estudo do funcionamento das microempresas. Agora temos diagnóstico mais preciso de risco", disse Pedro Coutinho, vice-presidente do Santander.
TEMPO
Diante do constrangimento criado pela Febraban no governo, a estratégia agora é não alimentar mais a polêmica, esperar um tempo e agir para retomar as discussões.
A avaliação é que, para os juros caírem de forma prolongada, é preciso debater a estrutura atual do "spread", a diferença entre o que o banco paga para captar o dinheiro e o que cobra do clientes.
Os depósitos compulsórios (parcela do dinheiro captado retida no Banco Central) têm um peso significativo para os bancos, mas se sabe que esse instrumento tem funções de regulação da demanda e de proteção ao sistema financeiro em momentos de crise.
Por outro lado, os bancos querem discutir como facilitar a portabilidade, que permite levar histórico de relacionamento de um banco para outro, além da implementação do cadastro positivo, central que ajudará a avaliar o perfil dos clientes.
Aqui se faz, aqui se paga
Editoriais
A batalha espanhola
Capacidade da Espanha de superar agravamento da crise econômica com austeridade e reformas será decisiva para o destino da Europa e do euro
Depois de três meses de trégua, a crise europeia voltou à cena. A ação do Banco Central Europeu no início do ano -€ 500 bilhões injetados no mercado- foi suficiente, por certo, para conter o risco de iminente colapso dos bancos. Não resolveu os problemas, mas comprou tempo para que os países pudessem realizar seus ajustes.
Desde então se tornou comum considerar que o estado da crise passou de agudo para crônico -o que tem um fundo de verdade. Os desequilíbrios, no entanto, permanecem, e a recessão que se abate sobre a maior parte da zona do euro mantém vivos os riscos de ruptura financeira.
O principal foco de problemas no momento é a Espanha, que vive as consequências do estouro da bolha imobiliária. Em relação ao tamanho de sua riqueza, os problemas são maiores que os vividos nos últimos anos pelos norte-americanos. No auge da euforia, a construção civil chegou a representar 13% da economia espanhola, enquanto nos EUA esse setor nunca passou de 6,5%.
As perdas bancárias estão longe de terminar. Até o ano passado, a suposição era a de que a limpeza dos bancos custaria 5% do PIB espanhol, mas esse número já se aproxima de 10% (cerca de € 100 bilhões). Será difícil escapar de aportes adicionais do governo e, provavelmente, também da União Europeia (UE).
O bloco reforçou no mês passado os fundos de resgate. Nesta semana, o encontro dos ministros das Finanças dos países do G20 e a reunião do FMI talvez resultem em um acordo global para aumentar os recursos deste último.
Mas muitos não estão seguros -e com razão- de que a Europa já tenha colocado o suficiente de seu próprio dinheiro para credenciar-se a pedir contribuições alheias.
A economia espanhola, por sua vez, continua a contrair. A última projeção do FMI aponta para uma queda do PIB de 1,8% neste ano. A taxa de desemprego já supera 24%. Neste ambiente, cortes de gastos tornam-se mais difíceis. No ano passado, a meta de deficit fiscal de 6% do PIB foi estourada em 40%. A dívida pública, que era das mais baixas da Europa antes da crise, já ameaça superar a marca de 90% do PIB.
Para a Europa, a batalha da Espanha -pela dimensão de sua economia e de seus problemas- decidirá a guerra. Se a receita de austeridade e reformas estruturais mostrar-se eficaz para restaurar o crescimento, será possível falar num ponto de inflexão da crise. Do contrário, o futuro do euro permanecerá indefinido.
O curto prazo não autoriza otimismo. O segundo trimestre será difícil. As eleições na França podem comprometer temporariamente a capacidade decisória da UE, e o risco de aprofundamento da recessão ainda não foi afastado.
Fernando Rodrigues muda de assunto e foge da CPI do DEMóstenes, na próxima coluna ele vai dar receita de bolo de laranja
Fernando Rodrigues
Acesso ainda sem regra
BRASÍLIA - Falta menos de um mês para o dia 16 de maio. É quando entra em vigor a Lei de Acesso a Informações Públicas. Por força constitucional, a legislação deve ser regulamentada por meio de um decreto da presidente da República.
Dilma Rousseff deixou para cuidar do assunto na última hora. Há duas razões possíveis. A primeira é porque o tema não é a prioridade de fato do governo, apesar do discurso público. A segunda, ou também, porque há muitas divergências sobre como organizar e colocar à vista todas as informações produzidas dentro da administração pública.
Uma polêmica pendente é a respeito de salários. Os cerca de 500 mil servidores públicos federais terão seus nomes divulgados com o valor exato da remuneração que cada um recebe, mês a mês? Ninguém sabe. Dilma Rousseff arbitrará -apesar de o tema já ter sido analisado preliminarmente pelo Supremo Tribunal Federal, que decidiu a favor da transparência.
Outra dúvida importante foi pacificada, mas para pior. As empresas estatais, embora submetidas à Lei de Acesso, continuarão sem oferecer a transparência devida. A desculpa é a de sempre: por estarem competindo no mercado, não divulgarão certos dados sob risco de ajudar concorrentes privadas.
Nos Estados e nas cidades, a situação é pior. Embora a Lei de Acesso seja clara, vários governadores consideram que a regra não é autoaplicável. Ou seja, as Assembleias Legislativas teriam de aprovar legislações locais. A prevalecer essa lógica, o país demorará uma vida até a transparência pública disseminar-se em todos os níveis de governo.
Com tantos obstáculos à frente, o atraso de Dilma Rousseff em baixar uma regulamentação é apenas o mais visível. O que já está evidente era também algo fácil de prever: há um longo caminho pela frente, sem certeza de sucesso, até que a Lei de Acesso pegue no Brasil.
Folha mente, engana, omite e teme a CPI do DEMóstenes. Inventou que o governo não queria a Comissão e agora aborta essa tentativa. É de chorar de tanta tristeza! Vai ser corrupta no inferno!
CPI do Cachoeira avança depois de recuo do governo
Palácio do Planalto aborta tentativa de atrasar investigações no Congresso
Relações de empresário com políticos e negócios de construtora que cresceu no setor público serão foco principal DE BRASÍLIA
Líderes governistas e da oposição apresentaram ontem no Congresso o pedido de criação da CPI do caso Cachoeira, abortando movimento iniciado dias antes para atrasar as investigações.
O objetivo da CPI será investigar os negócios do empresário Carlos Cachoeira e suas relações com políticos e outros empresários. Cachoeira é acusado de explorar jogos ilegais e foi preso pela Polícia Federal em fevereiro.
Aliados da presidente Dilma Rousseff apoiaram a instalação imediata da comissão para reverter o desgaste causado nos últimos dias por articulações feitas para frear o impulso pela criação da CPI.
Dilma está preocupada com os riscos que as investigações do caso Cachoeira criam para a imagem do governo e dos partidos que a apoiam no Congresso, mas muitos petistas querem usar a CPI para atingir a oposição.
Escutas telefônicas feitas pela PF nos últimos três anos mostram que Cachoeira tinha influência nos governos de pelo menos três Estados e relações com políticos de seis partidos, do PT ao PSDB.
A oposição deseja que o foco principal das investigações seja a construtora Delta, que cresceu nos últimos anos com contratos no setor público e recebeu R$ 3,6 bilhões do governo federal desde 2003.
A PF desconfia que parte dos recursos recebidos pela empresa foram transferidos para Cachoeira e depois repassados a políticos durante a campanha eleitoral de 2010.
A oposição quer que a CPI examine as relações da empresa com o ex-ministro José Dirceu, que prestou serviços de consultoria para a Delta depois que saiu do governo, afastado por causa de seu envolvimento com o mensalão.
Mas as investigações da PF indicam que a empresa também tinha relações com a oposição. Segundo um relatório do Ministério Público Federal obtido pela Folha, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), usou o cargo para defender interesses de Cachoeira e negociar uma obra para a Delta em 2011.
No governo, a ordem é blindar tudo que possa arranhar a imagem do Planalto na CPI. Integrantes do governo trabalham para indicar parlamentares afinados com o governo para a comissão.
O pedido para que a CPI seja instalada foi apoiado por 340 deputados e 67 senadores. Depois que todas as assinaturas do pedido forem conferidas, o documento será lido em sessão do Congresso.
A comissão só poderá ser instalada depois que os partidos indicarem seus integrantes. O ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), investigados pelo Congresso no passado, deverão fazer parte da CPI.
A deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), que preside interinamente o Congresso, prometeu agilizar a criação da CPI. "Se a Casa optou por fazê-la, evidentemente que ela tem que ser feita", disse.
A deputada substitui o presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), que pediu licença médica de 15 dias para se recuperar de uma cirurgia cardíaca a que se submeteu no fim de semana.
Discursos calorosos da oposição e até de governistas também contribuíram para o recuo governista ontem. "Isso não pode terminar em pizza", afirmou o líder do DEM, deputado ACM Neto (BA).
Brasil é 11º em impunidade de assassinato de jornalistas
De 2002 a 2011, 5 mortes não foram solucionadas DE SÃO PAULO
O Brasil é o 11º país do mundo em que os assassinatos de jornalistas mais ficam impunes, mostra levantamento divulgado ontem pelo CPJ (Comitê para Proteção de Jornalistas), sediado nos EUA.
De acordo com o "Índice da Impunidade", elaborado anualmente pelo órgão, cinco mortes de jornalistas que ocorreram entre 2002 e 2011 ainda não resultaram em nenhuma condenação no país.
Duas delas aconteceram no ano passado. A mais recente é a do dirigente petista e editor do jornal "O Serrano", Edinaldo Filgueira, que recebeu seis tiros em junho. O crime aconteceu em Serra do Mel (252 km de Natal), no Rio Grande do Norte.
Segundo o órgão, também não foi esclarecida a morte do apresentador de TV e radialista Luciano Leitão Pedrosa, de Pernambuco. Ele também foi alvo de tiros em abril do ano passado. Antes de ser morto, relatou ameaças.
O indicador leva em conta o percentual de casos não solucionados de mortes de jornalistas em relação à população do país. Só entram no levantamento países em que ao menos cinco crimes não tenham gerado condenação.
O pior país é o Iraque, onde 93 mortes no período não foram esclarecidas. Ele é líder desde a primeira edição do índice, em 2008. Entre latino-americanos, além do Brasil, também aparecem a Colômbia, com oito mortes impunes, e o México, com 15.
A imprensa corrupta brasileira trabalha incessantemente contra o PT e ouve declarações da quadrilha do PSDB. Dá espaço para todos os tucanos falarem as mentiras de sempre, como se alguém pudesse acreditar em Sergio Guerra
Durante encontro, governadores tucanos falam sobre Carlinhos Cachoeira e pedem CPI "sem interesses partidários"
Rafael Moro Martins
Do UOL, em Curitiba
Presente a um encontro que reuniu sete dos oito governadores do PSDB em Curitiba, nesta terça-feira (17), o presidente nacional do partido, o deputado federal Sérgio Guerra (CE), disse esperar que a CPI mista (Comissão Parlamentar de Inquérito) proposta por partidos da base aliada para investigar o bicheiro Carlinhos Cachoeira seja “limpa, aberta e sem interesses partidários”.
“Esperamos que o PT e o governo tenham capacidade de desenvolver uma CPI, pois até agora só souberam impedi-la. Desde a CPI do Mensalão que não se deixa comissão alguma funcionar”, criticou, em entrevista coletiva realizada no Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná.
Antes, na abertura da entrevista, Guerra saiu em defesa de Marconi Perillo (GO), suspeito de envolvimento com Cachoeira. “Temos convicção quanto à integridade do governador. Perillo é um exemplo de uma liderança efetiva e desenvolveu um PSDB forte em Goiás. Entre nós, não há o que esclarecer”, falou.
Cachoeira foi tema da primeira pergunta da entrevista, dirigida a Perillo e ao governador do Tocantins, Siqueira Campos. Ambos negaram que o bicheiro tivesse influência em seus governos. “Nunca recebi pedidos de Cachoeira para cargos no governo. Não há nenhuma pessoa indicada por ele nas gerências, que obedecem a critérios de meritocracia”, falou Perillo.
“Jamais alguém teria a ousadia de me procurar para discutir assunto que dissesse respeito a ilegalidades. Estou absolutamente tranquilo. Quero tranquilizar meus colegas e meu presidente (Sérgio Guerra) quanto a isso”, garantiu o goiano.
“Não existe nenhum contrato em meu governo com empresas ligadas ao Cachoeira. Uma vez, fui apresentado a Cachoeira pelo [ex-senador] Ataídes Oliveira (PSDB-TO), após um encontro fortuito. Mas nunca mais nos encontramos, não temos nenhum relacionamento”, afirmou Campos.
O encontro também serviu para os tucanos realizarem projeções para as eleições municipais deste ano. “Analisamos a situação Estado a Estado. Hoje, temos cerca de 780 prefeitos, e pretendemos eleger 1.000 prefeitos em outubro. No Paraná [que tem 399 municípios], esperamos ficar com 100 prefeituras”, falou Guerra.
Pacto federativo
O evento reuniu em Curitiba os governadores Geraldo Alckmin (SP), Antonio Anastasia (MG), Beto Richa (PR), Simão Jatene (PA) e Anchieta Júnior (RR), além de Perillo e Campos. Único governador tucano ausente, Teotonio Vilela Filho (AL) alegou compromissos em seu Estado.
Na Carta de Curitiba, divulgada ao final do evento, os tucanos falam em “enfrentamento da falência federativa”, apontam “a perigosa omissão da União diante do compromisso pelo financiamento dos serviços públicos” e defendem “agenda emergencial e sincera com o governo federal para um reposicionamento nacionalista de temas como a redução de encargos e do comprometimento dos Estados com o pagamento da dívida”.
“Há uma concentração abusiva na arrecadação de impostos a favor da União. Ano passado, o governo federal arrecadou R$ 1 trilhão. Minas, que tem 10% do PIB brasileiro, não chegou a R$ 40 bilhões em tributos estaduais, e isso se repete em outros Estados. Enquanto isso, recebemos novos encargos, e por isso é imprescindível que a União aponte fonte de receita”, disse Anastasia.
“A centralização dos recursos na União é um problema histórico, mas que se agravou nos últimos anos. A saúde está subfinanciada [pelo governo federal]. Os parceiros do SUS, como as Santas Casas, estão abandonando o sistema”, lamentou Alckmin. “Falência da federação é a falência da saúde, da educação”, bradou Jatene. Em meio às reclamações sobre a falta de dinheiro, porém, ouviu-se poucas sugestões para solucionar o problema.
Uma delas, mencionada na entrevista coletiva, é desvincular parte da arrecadação estadual de gastos obrigatórios (educação e saúde, por exemplo) para investimentos em infraestrutura, de modo semelhante ao que hoje faz o governo federal com a Desvincunlação das Receitas da União (DRU).
“(Mas) isso sequer está na Carta de Curitiba”, admitiu Richa. “Avaliamos de forma genérica a necessidade de recursos para investimentos. Estamos discutindo de forma mais profunda a questão no Confaz. Um exemplo prático: parte da arrecadação com IPVA pode ser desvinculada para financiar investimentos em rodovias”, explicou o paranaense. Para isso, porém, seria necessário aprovar uma emenda constitucional no Congresso Nacional.
Os governadores também pediram mudanças no indexador da dívida dos Estados. “O valor do indexador ficou distorcido, o que tornou a dívida impagável e onera o dia a dia, por causa do comprometimento da receita corrente líquida com o pagamento. Temos reunião na próxima quinta-feira, na Câmara dos Deputados, para tratar do assunto”, disse Anastasia.
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